Ainda na linha Oscar Wilde, seguimos pelas coincidências (ou
seriam inspirações?) da vida. Recentemente, morreu o grande escritor italiano,
Umberto Eco. Antes de nos deixar para criar sua arte em outras paragens,
escreveu “Número zero”, um romance que desnuda, ou denuncia como a mídia age.
O romance trata do lançamento futuro de um jornal de nome “Amanhã”.
Segundo seu editor, no dia seguinte os jornais publicam o que todos já viram na
televisão no dia anterior. Nada é novidade. A ideia é colocar uma publicação
que, no dia seguinte, o amanhã, publicará especulações sobre o acontecido no
dia anterior, que poderão acontecer no amanhã. Fará especulações sobre as
possíveis consequências do fato noticiado. Mas não somente isso. Será um jornal
que publicará a verdade doa a quem doer. Essa será a principal marca do jornal.
Vou apenas reproduzir um trecho, que tem tudo a ver com o
título. Leiamos:
“...os americanos já não precisam dos partidos que podiam
manobrar e os deixaram nas mãos dos magistrados, ou talvez, poderíamos
arriscar, os magistrados estão seguindo um roteiro escrito pelos serviços secretos
americanos, mas por enquanto não vamos exagerar... O ‘Amanhã’, porém, vai
imaginar e fazer uma série de previsões. E esse artigo de hipóteses e insinuações
eu confio ao senhor Lucidi, que precisará ser hábil para, dizendo ‘é possível’
e ‘talvez’, contar de fato o que depois de fato aconteceria. Com alguns nomes
de políticos, bem distribuídos entre os vários partidos, ponha as esquerdas no
meio também, dê a entender que o jornal está coletando outros documentos, e
diga isso de um modo que faça morrer de medo aqueles que lerem nosso número 0/1”
Uma explicação, o primeiro número seria o zero, mas todos os
números seguintes seriam zero “/” alguma coisa. Outra informação, o jornal
nunca seria lançado. Seu dono, através do medo do que seria o número seguinte
do “Amanhã”, na realidade, espera ser comprado pelos membros do Clube. Além de receber
uma grana para não publicar o jornal, passaria a ser sócio do Clube... vale a
leitura.
Voltando a nossa realidade. Alguma parecença com nossa
mídia? Com os “supostamente”, “ouviu dizer”, “talvez”? Não é exatamente isso
que nos é passado diuturnamente pelos meios de comunicação, especulações?
Perceberam a última lista do Janot, o Procurador Geral? Os cursos nos EUA que
nosso juizinho, aquele que gosta de uniformes de cor preta, andou fazendo?
Nesse caso, o que temos é a arte imitando a vida. Uma vez
que Umberto Eco, na realidade denuncia uma prática internacional, usada pelos
donos das corporações para dominar velhos e novos quintais, sem disparar tiros.
Apoiados na mola mestra, o motor do capitalismo, a corrupção.
E tem gente que estuda para bater panela em apoio a Cunha e Temer.
Sérgio
Mesquita
Secretário
de Formação do PT-Maricá/RJ