quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O PT E O CACHORRO CORRENDO ATRÁS DO RABO


Essa foi, infelizmente, a impressão, a imagem, com que retornei à Maricá, após o encerramento da reunião do DR do Rio de Janeiro, neste domingo 27.11. Não por se tratar do DR do RJ, mas por se tratar do PT como um todo. O Rio é mais um espelho do que acontece no Brasil por inteiro. Vi e sei de muita gente preocupada em como tratar do futuro do Partido, mas vi muita gente que ainda não caiu a ficha ou recusa-se a deixar cair. No conjunto da obra, muitos querem continuar correndo atrás do rabo.

Falas contundentes e concordantes quanto à necessidade da autocrítica, mas sem fazê-las, admitiu-se um erro aqui e acolá, e ouviram-se perguntas como, “só nós erramos?” Até reduziram a história do partido e seus possíveis erros aos seus últimos 14. Em especial nos dois últimos anos da Dilma. Parece que esqueceram a década de 90, em especial no Rio de Janeiro.

Maurício, presidente da CUT, expos uma verdade. O militante do PT, sindicalista, não participa mais do Partido e vice-versa, mas sem uma proposta efetiva de como mudar isso. Nem mesmo os novos núcleos e movimentos que surgiram na onda das ocupações das escolas, apresentaram nas redes sociais ou em seus textos, o que fazer para convencer a população voltar para as ruas conosco. Não pelo leite derramado, mas pelo olho na panela.

E como faremos uma nova política, uma vez que o modelo atual, “fez água”? Não percebi nenhum movimento nesse sentido. Mais me pareceu um encontro para reclamar divisão de poder e possíveis cargos, que poderão ou não existirem mais à frente. Outro ponto não tão unanime, está no absurdo (minha opinião) das eleições no Partido (PED) terem sido adiantadas em seu calendário. Elegeremos uma direção e depois faremos um Congresso, onde não necessariamente a direção possa estar alinhada com as diretrizes do Congresso. Um dos poucos momentos de maior atualidade foi quando colocaram que o Partido não deveria continuar a propor ações e encaminhamentos como se ainda governo fosse. Muito justo, pois perdemos postos, verbas e poder de influencia. Temos que desapegar.

O consenso ocorreu na fala do Quaquá, abrindo a reunião e na apresentação de uma Moção ao Lula, no final, que pedia sua candidatura à presidência nacional do Partido. Todos, inclusive eu, temos a clareza de que seu nome poderá unir o partido, e sua candidatura a presidente em 18, aplacar um pouco a ira de parte classe dominante. Apesar de em minha humilde opinião, achar que ele também tenha responsabilidades na situação em que nos encontramos atualmente. Mas, me preocupam duas coisas. A primeira, é que não deve ser de bom tom propor uma Frente de Ampla de Esquerda, já com indicação de um nome para concorrer. Mesmo que saibamos que o nome do Lula será um nome consensual. Não é de bom tom. A segunda está na criação de mais um “ismo”, o “Lulismo”. A História nos mostra que todos os “ismos” quando personalizados, não tem vida longa. A exceção do Maxismo, por não tratar-se de um movimento criado por ele ou para ele, mas sim por sua obra. Quando personalizamos e a personalidade se ausenta, por qualquer motivo, o movimento fica órfão e tudo pode acontecer inclusive sua total descaracterização. O Brizolismo não nos deixa mentir.

A questão colocada na reunião e por Lula nacionalmente, de que devemos nos preocupar mais com os cargos legislativos em detrimento dos cargos executivos, me parece justa. Aqui em Maricá, o companheiro Rogerinho colocava que Jandira deveria ser uma candidata laranja – acabou um laranjão. A nossa candidatura a Prefeito do Rio, deveria usar de seu tempo para denunciar o golpe e fortalecer a necessidade de elegermos vereadores. Nem uma nem outra. Eleger deputados é sim importante, mas para manter o status quo do modo atual de fazer política, de nada nos adiantará. Pois no frigir dos ovos, quando acontece um golpe, de nada adianta ter ou não a maioria, golpe é golpe. Termos congressistas sem bases nas ruas, estaremos de novo participando de jantares e sendo chamados de ladrões. O Partido tem que se inventar (não adianta se reinventar), de modo que a população venha para dentro de suas instâncias de decisão. Não porque assim desejamos, mas porque a população entenderá, a partir de nossas ações, que o espaço é dela e para ela, nós somos só a ferramenta.

A vontade de escrever esse texto, teve “start” a partir de uma das primeiras falas na reunião, que apontou como um dos nossos erros, o Partido não ter discutido os papéis de Lula ou Dilma. Repito o colocado acima – personalismo. O erro foi o Partido não ter discutido qual o seu papel, e como Lula e Dilma se colocariam a partir desse papel.

Encerro, sem ter uma fórmula também, mas na certeza de entender que, como está não teremos existência efetiva. Um companheiro em Maricá me disse uma vez, “ocupamos um espaço feito para eles, pelas Leis feitas por eles, para atender as necessidades deles. Somos intrusos”. Acredito que só deixaremos de ser intrusos, se ao retomarmos o espaço, levarmos para as suas instâncias de decisão os movimentos sociais e a sociedade civil, a população. Mas para isso, é preciso inventar uma nova maneira de fazer política. A estudantada já nos mostrou por onde começar, primeiro com as quase 200 ocupações em São Paulo contra o desmanche das escolas. Hoje, com as mais de 1000 ocupações pelo Brasil contra a PEC da Maldade. Seja qual for o caminho, o começo nos é o mais difícil hoje, o caminho da horizontalidade nas decisões do Partido.

Sérgio Mesquita

Sec. de Formação de Maricá-RJ

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