“Sem um fim social o saber será a
maior das futilidades.”
Este texto tem como
objetivo, compartilhar com os membros do governo Fabiano Horta as impressões
sobre as palestras que ocorreram no sábado, dia 28.07.18, durante o Summit no
Hackingin Rio.
De 27 a 29.07,
aconteceu na cidade do Rio de Janeiro o “Hackin in Rio”, composto por três grandes
eventos voltados à recuperação socioeconômica do município. Soluções para o Rio,
em que as equipes, durante os três dias do evento, discutiram e apresentaram propostas
criativas e econômicas (Hackathon); o Rio Summit, compostos por palestras que envolviam
tecnologias, experiências como “start ups”, conceitos sobre Cidades
Inteligentes e Humanas e outras tecnologias; o Rio Fórum que promoveu encontro
entres “investidores anjos” e “start ups”.
Participei do Rio
Summit e, por questões e razões pessoais, apesar de ter adquirido o ingresso
para os três dias, só pude participar no sábado, dia 28.07. Mesmo tendo perdido
2/3 do evento (custeado por mim), sinto-me na obrigação de compartilhar com os
companheiros minhas impressões. Principalmente por causa de algumas das
palestras que foram ao encontro da linha de ação da Secretaria de Ciência e
Tecnologia.
Podemos dizer de forma
não depreciativa, que a Ciência e a Tecnologia estão na “moda”. São várias as
opções de ferramentas e soluções baseadas em novas tecnologias, que podem
promover uma melhor qualidade de vida para a população. Eventos como o Hackin\
Rio, espalham-se pelo país.
Desde ações da ONU como
a Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, através de
simples aplicações em sala de aulas de tecnologias não digitais ou não eletrônicas,
buscam-se alternativas para um mundo melhor. Uma busca que pressupõe mais tempo
para o ócio, por um viver mais compartilhado e humano.
Por outro lado, temos a realidade dura da vida. Vivemos em um
sistema que visa números (lucros) e não pessoas. Vivemos no Capitalismo e trabalha-se
para seu “deus mercado”. Daí a abertura deste documento com uma citação do
mestre Paulo Freire: “Sem um fim social o saber será a maior das futilidades.”
De nada adiantará para o grosso da
população das cidades - que abrigarão 90% da população mundial até 2050 - em
especial aquelas mais desassistidas, empobrecidas, se a tecnologia for aplicada
somente para atender o seu lado comercial.
Que cidade queremos? Com carros que voam? Ou
aquela em que sua população não só tem o seu direito do ir e vir garantido, como
o seu direito ao lazer, à educação, saúde e, principalmente, ao convívio com os
demais moradores?
Nada contra os carros voadores, mas a partir
das experiências do hoje, pode-se vislumbrar uma pequena parcela da população
com seus carros voadores – este quadro já está dado em relação aos
proprietários de helicópteros em São Paulo – enquanto o grosso da população
amontoa-se no trânsito, sem tempo para um simples aperto de mão, ou um olhar de
carinho. Vivemos em uma Cidade Sustentável, Inteligente e (Inclusiva) Humana?
Não nos adianta o simples comprar e instalar tecnologias, se
não tivermos mapeadas as respostas à três simples perguntas: Por que? Para quem?
Como?
Maricá tem dados
suficientes sobre o município e sua gente, que nos permitam começar a pensar em
um “big date”? Sabemos qual o quantitativo de crianças fora da escola? Qual a
faixa etária de seus pais? Qual a porcentagem dos que trabalham e dos que não
trabalham? Há quanto anda a água de nossos poços? Quantas consultas médicas não
foram realizadas? Quanto de imposto não foi arrecadado?
Uma cidade inteligente
e humana só existirá se as ferramentas utilizadas pelo governo visarem o bem-estar
das pessoas; investir na inclusão de seus moradores e moradoras. Este bem-estar
perpassa pela saúde, educação, transportes, trabalho, moradia, segurança,
governança e muito mais. Este bem-estar poderá ser atingido se, por exemplo,
uma diretora de escola, ao identificar que um determinado aluno apresenta
muitos atestados médicos, e após pesquisar em seu computador, identificar que o
mesmo mora em uma área carente de serviços como água e esgoto. Estas
informações compartilhadas podem levar o governo à execução de uma política
pública na região e diminuir os gastos com a Saúde; permitir que aqueles
estudantes não faltem mais às aulas, melhorando o rendimento escolar. Este
mesmo problema poderia ser identificado pelo médico que atendeu àquela criança,
a partir do mesmo acesso às informações que a diretora teve.
Outro exemplo (no meu
entendimento), está na fala do representante da Claro, na Summit, quando propôs
a aplicação, no Rio, de uma solução de monitoramento de áreas de tiroteios e
ações criminosas. Os índices de criminalidade irão diminuir com certeza no
local. Porém, os “bandidos” irão sair do Rio e se esconder, onde? Qual a
semelhança deste monitoramento tecnológico para as implantações das UPPs? Para
onde foram os bandidos depois das UPPs?
Temos, na sétima arte,
uma excelente denúncia de um mundo que aplica a tecnologia pela tecnologia, sem
ética, sem virtudes e sem o objetivo da inclusão da sociedade: o filme Elysium.
A elite morando em um condomínio no espaço, sem doenças e o grosso da população
vivendo no grande lixão em que se transformou a Terra. Essa situação fictícia
se dá pela aplicação da tecnologia de forma inclusiva, com ética ou pela má aplicação
da tecnologia?
Maricá está, com
acerto, conectando os próprios da Prefeitura via fibra. A questão é com que
intensidade estamos discutindo, internamente e/ou com a população, os dados que
navegarão nessa grande rede, bem como a partir de que base de dados vamos
coletar essas informações. Estes pontos foram debatidos no Summit e colocados
como essenciais para se medir o avanço da cidade na direção de sua
sustentabilidade, inteligência e humanidade (inclusiva). Hoje temos uma novo
ISO, o ISO 37122 (ainda não publicado), com 28 conjuntos de indicadores que
definem uma cidade sustentável, inteligente e humana (inclusiva). Precisamos
ter em vista estes indicadores a cada ação e projeto do governo.
Temos o Plano Nacional
de Internet das Coisas – PNIoT (mistura o português com o inglês – “viralatismo”?)
e Juazeiro do Norte foi a primeira cidade a criar uma Lei Municipal de Inovação
e Smart City. São vários os exemplos de ações que podem servir de base para colocar
Maricá “na fita”, mas não pode ser somente com a Ciência e a Tecnologia. Deve
ser uma ação conjunta de governo, a partir de um planejamento que defina as
prioridades de ações e onde chegar.
“Tornamo-nos deuses na tecnologia,
mas permanecemos macacos na vida.”
Arnold Toynbee
Sérgio Mesquita
Secretário de Ciência e
Tecnologia e Comunicações
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