Antes da leitura do texto abaixo, três explicações:
1 – Retirado do livro “Mulheres da Letras”, Ed. Litere-se;
2 – O livro chega em minhas mãos pela escritora Kelly Crisntiny,
que possui um conto no livro (coletânea de escritoras). Kelly foi funcionária
da Cultura enquanto lá estive, e com ajuda de outros companheiros, a
convencemos a procurar um emprego que não dependesse dos humores da política e
investir em sua arte, a escrita;
3 – O conto a seguir, é próximo a nossa linha de trabalho
enquanto Ciência e Tecnologia, em Maricá. Linha essa, em crescimento no mundo,
mas ainda em gesta em Maricá. Acreditamos na Tecnologia como ferramenta de
resgate do bem viver na e com a sociedade. Passado, presente e futuro (intergeracionalidade)
em iteração e interação. A tecnologia como ferramenta e não fim.
O POTE DO TÉDIO – Elisângela Medeiros
A Família Nunes era bem de vida. Tinham três filhos, dois meninos e uma
menina. Saíram da periferia e conseguiram alcançar estabilidade financeira com
muito trabalho e criatividade. Os patriarcas da família passaram por muitas
dificuldades na infância. Pobreza, alimentação restrita e brinquedos só os que
criavam, babavam nas vitrines das lojas ou sonhavam em ter os brinquedos que
viam nos comerciais de TV.
Quando casaram, prometeram um ao outro que seus filhos não iriam passar
por nenhuma dificuldade. Presenteavam-lhes com tudo que desejassem, e sem
perceber os afastavam um dos outros. Um dia sua mãe deu um basta... Sumiu com
todos os eletrônicos da casa, pois com esse veneno nas mãos não conversavam nem
brincavam como crianças normais. Elas procuraram o dia inteiro até cansar. As
crianças acharam a vida sem celular um verdadeiro tédio e foram dormir mais
cedo, esperando que a noite passasse logo e seus pais mudassem de ideia,
devolvendo no dia seguinte os eletrônicos.
O caçula foi o primeiro a acordar. Ao chegar à cozinha, havia um pote
de plástico transparente cheio de papéis coloridos escrito com letras
garrafais: “Pote do Tédio”. Ele já ia pegar e mamãe disse:
- Não, não, não! Esse pote só pode ser aberto na presença dos três
irmãos!
O mais novo correu e chamou os outros:
- Maninhos, corram que tem surpresa na cozinha!
Com um pulo ligeiro, os dois saíram correndo e viram o “Pote do Tédio”
que mais parecia o pote do mistério. Mamãe disse que só poderiam abrir depois
do café, depois de escovarem os dentes e ainda teriam de abrir juntos na
varanda. Que café ligeiro os três tomaram, escovaram os dentes e se arrumaram
correndo. O caçulinha era o guardião do pote, já que o havia descoberto
primeiro que os mais velhos. Na varanda, os três abriram o pote com o coração
acelerado! O que havia naqueles papeizinhos coloridos? O mais velho foi o
primeiro a pegar o papel laranja, abrir e ler o que estava escrito... “ESCONDE-ESCONDE”.
De olhos arregalados descobriram o mistério... O pote é de
brincadeiras: pula corda, amarelinha, pique-pega, adedonha, forca...
Era brincadeira que não faltava mais! Algumas eles nem conheciam. E
assim se passaram três dias sem lembrarem-se dos eletrônicos. No sábado pela manhã
quem levou um susto foi a mamãe... para fazer o café tinha um pote escrito... “POTE
DA FAMÍLIA”.
O mesmo pote: transparente, com tampa, cheio de papeizinhos coloridos.
Mamãe correu e foi acordar papai...
- Papai acorda... Tem uma surpresa na cozinha deixada pelas crianças!
Quem pulou da cama foi o papai... Não era dia das mães, dos pais, nem
Natal... Que surpresa era essa?! Ao chegar à cozinha, o “POTE DA FAMÍLIA”
estava lá convidando os dois para abri-lo... Papai abriu, mas quem pegou o
papel primeiro foi a mamãe... E ao abrir estava escrito... “JOGO DE TABULEIRO”.
Os outros papéis diziam: assistir filme à tarde com pipoca, andar de
bicicleta, brincar na pracinha, jogar bola, e assim por diante. Papai e mamãe
perceberam que as crianças estavam precisando de atenção e que dinheiro não é
tudo na vida. Sempre que o tédio batia, os potes do tédio e da família eram
abertos, e a alegria reinava naquela casa cheia de amor e paz.
- PRESENTE + PRESENÇA
A Tecnologia como ferramenta de convivência e endoculturação dos
saberes tradicionais de cada comunidade.
Sérgio Mesquita
Sec. de Ciência, Tecnologia e
Comunicações de Maricá-RJ
Lindo Conto !!!
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