John Adams foi o primeiro vice-presidente dos
Estados Unidos, tendo George Washington como presidente, e seu segundo
presidente, governando no período de 1797 a 1801. Iluminista e republicano,
está inserido num contexto histórico que representa o início do fim de uma
longa tradição, cujo berço é Grécia clássica e seu filho dileto é o senado
romano, na qual o pensamento filosófico e a arte da oratória ainda eram fortes
na política. Tempos nos quais não havia esperança para um candidato a político
alienado da razão, das verdades e das condições históricas de sua própria
época, como hoje parece ser apanágio necessário de parcela considerável dos
políticos brasileiros.
Adams disse uma obviedade que, proferida pela boca
de um pensador que experimentou o poder, ganha densidade: “Existem duas
maneiras de conquistar e escravizar uma nação. Uma é pela espada, a outra é
pela dívida”.
E disse outra que merece profunda e necessária
reflexão pelos brasileiros, que estamos numa grave turbulência democrática:
"Democracia nunca dura muito e logo se desperdiça, exaure, e mata a si
mesma. Nunca houve até agora uma democracia que não tenha cometido
suicídio."
As palavras chave aqui são espada, dívida e
escravidão.
A sociedade ocidental experimenta, como forma de
organização política, a democracia submetida ao estado de direito, entendida a
democracia como o direito do cidadão de participar do poder político, em
oposição às ditaduras e tiranias, e o estado de direito como o cabedal jurídico
que limita a atuação estatal ao garantir os direitos e liberdades individuais,
impedindo o despotismo e o esmagamento do cidadão pelo peso do Estado.
Não se pode discordar da afirmação de Churchill de
que a democracia é o pior dos regimes políticos, porém não existe nada melhor.
De fato, a democracia dá voz potencial a todos os cidadãos na escolha do
próprio destino, sendo que a participação nos rumos da coletividade é um dos
principais fatores de elevação da autoestima. Mesmo para quem advogue o
socialismo, a democracia deve ser considerada indispensável como meio de
alcançar a felicidade comum, caso contrário pode-se repetir a farsa que foi a
experiência soviética.
A democracia, como forma de governo, encontrou um
sistema econômico que aparentemente com ela forma um par perfeito na direção
dos negócios públicos e privado: o capitalismo. Baseado na propriedade privada,
nenhuma pessoa que defenda o liberalismo, entendido como a liberdade de
autodeterminação da própria vida, pode ser contra o capitalismo sem incorrer
numa contradição em termos.
Ainda assim, democracia e capitalismo parecem estar
fracassando no objetivo de estender à humanidade a qualidade de vida que
deveria ser um efeito necessário do desenvolvimento humano. Por quê?
A resposta parece ser: democracia e capitalismo
degeneraram por excesso de liberdade deste último.
Praticamente todas as ações humanas estão sujeitas
a alguma restrição de liberdade individual, pois tal restrição é absolutamente
necessária à manutenção da saúde do tecido social. Seria impossível viver numa
sociedade que não penalizasse o homicídio, a apropriação indevida do patrimônio
alheio e a violação da liberdade sexual, apenas para ficar nesses exemplos.
A democracia e o capitalismo, como produtos da ação
humana, não podem ficar de fora dessa restrição nas respectivas atuações. E, na
verdade, estão de fato sujeitos a diversas restrições.
O problema é que o capitalismo consegue escapar
dessas amarras e, livre, corrompe a democracia.
Enquanto o capitalismo manteve-se essencialmente
territorial, ainda era possível exercer sobre ele algum pouco controle, ante a
necessidade do capital, e muitas vezes do próprio capitalista, de permanecer no
local da produção. Obrigado a estar no local, devia alguma submissão às leis
locais, ainda que mínima. Tal possibilidade de controle, ainda que bastante
rarefeita, não mais existe. Atualmente, desvinculado de qualquer território
específico, nenhum país é capaz de lhe restringir a liberdade.
A primeira vítima dessa liberdade é justamente a democracia.
A primeira vítima dessa liberdade é justamente a democracia.
Historicamente, os ricos sempre foram senhores do
Estado, num primeiro momento como monarcas e, posteriormente, como eleitores
privilegiados. Salvo poucas exceções, ou os ricos estão no poder diretamente ou
o poder é exercido pelos escolhidos da riqueza. A estreiteza da relação
riqueza-governo é de tal ordem que se chega a justificar a existência do Estado
como instituição garantidora da propriedade, nada mais.
Democracia real, portanto, sempre foi e continua a
ser uma utopia longínqua.
Mesmo quando se fala em democracia clássica grega,
isso guarda pouca relação com o que se entende hoje por democracia popular. O
comparecimento à praça da Ágora era exclusividade de cidadãos homens nascidos
de pais atenienses, uma casta de privilegiados. Mulheres e estrangeiros
residentes eram excluídos da democracia. Além disso, havia servidão e
escravidão em Atenas, obviamente sem direito algum, o que por si contraria o
sentimento que temos hoje em relação aos fins e objetivos da democracia.
Contudo, num único e breve momento da história, que
não chegou a cem anos, um espirro histórico em quase cinco mil anos de
civilização, uma parte da própria elite, talvez entediada pela mesmice,
inaugurou uma nova forma de pensar que hoje designamos por Iluminismo.
Os iluministas eram membros altamente
intelectualizados da elite, pensadores que puseram a razão acima dos temores
mitológicos que até então dominavam a humanidade. Durante esse período,
Nietzche chegou a decretar a morte de Deus. O filósofo só não previu que,
tratando-se de um ser todo-poderoso, no final do século seguinte, Ele
ressuscitaria, e com bastante disposição para angariar fundos, nas igrejas
pentecostais.
Essa facção diletante e aborrecida da elite
europeia começou a pensar em coisas como o abandono das barbaridades da Idade
Média, do obscurantismo religioso e das arbitrariedades do Estado. Iniciou um
processo de valorização do ser humano, visando à construção de uma nova
sociedade, fundada axiologicamente no altruísmo social e na dignidade da pessoa
humana. Havia um quê de utilitarismo no objetivo pretendido por essa elite de
intelecto entendiado que ousou desafiar as repugnâncias de sua época. Não era,
propriamente, o bem do indivíduo que se buscava, mas da sociedade. Afinal, uma
sociedade com uma carga menor de carências individuais é certamente capaz de
gerar um ambiente menos perigoso para circular, possivelmente com um grau de
felicidade geral maior e mais cheirosa e bonita de se ver.
Embora o ciclo do pensamento iluminista tenha
durado pouco, encerrando-se no despertar do século XIX, ecos dessa forma
racionalista de pensar, pressupondo a valorização do ser humano, persiste até
os dias de hoje e foi consagrada em instrumentos históricos notáveis, como a
constituição americana e a carta dos direitos humanos. Nossa constituição é
recheada de valores iluministas.
Esse espirro histórico durante o qual uma fração da
parcela rica da sociedade foi confrontada com sua obrigação moral de cuidar dos
desvalidos veio a causar, tempos depois, reforçada pela influência de outros
eventos históricos importantes, como a ascensão das ideias de Marx e as grandes
guerras, um pequeno, mas significativo relaxamento na sofreguidão pelo lucro.
Por um breve momento, repentinamente parecia que a sociedade humana tinha encontrado o caminho para o florescimento de grande parte dos indivíduos, um arranjo saudável entre a busca pelo lucro e a necessidade de excluir a experiência humana da miséria abjeta.
Por um breve momento, repentinamente parecia que a sociedade humana tinha encontrado o caminho para o florescimento de grande parte dos indivíduos, um arranjo saudável entre a busca pelo lucro e a necessidade de excluir a experiência humana da miséria abjeta.
Durante esse piscar de olhos, nós parecíamos
realmente ser a espécie mais inteligente do planeta.
A legislação trabalhista protetiva ganhou impulso,
um patamar salarial mínimo é garantido, estipula-se um máximo de horas para o
trabalho, o Estado passa a conceder assistência social aos desfavorecidos, o
acesso a uma educação fundamental é garantida, assim como o acesso à saúde
básica, além de outras iniciativas vocacionadas à eliminação da condição de
vida degradante.
Um pouco depois disso, em meados do século XX, ao
bem-estar da população veio agregar-se uma outra concessão do capital: a
redução da miséria pelo incremento na renda. Foi a época dos baby boomers
americanos e dos Trinta Gloriosos da França. Nesse momento histórico também se
inclui os cinquenta anos em cinco de Juscelino, no Brasil.
Entretanto, quando tudo indicava que a democracia e
o capitalismo iriam cumprir o desígnio para o qual estavam predestinados, de
conduzir a humanidade ao paraíso na Terra, salvar o planeta da miséria, eis que
se inicia um desagradável retrocesso e se reacende a fogueira quase apagada da
degradação da condição humana. Perdem-se totalmente ou são mitigadas as
conquistas históricas do desenvolvimento civilizatório iniciado a partir do
final do século XIX.
A América Latina viu-se arrebatada por ditaduras,
no Oriente Médio inicia-se um processo de desestabilização política que ainda
continua, a Europa ser torna um fantasma do que chegou a ser do que poderia
ainda ser.
Quem é o culpado? Quem estragou a festa da
civilização?
O culpado mais provável é a ressurgência da ótica
do poder absoluto que dominava o cenário na época da barbárie humana, dos
faraós, czares e imperadores. Retorna a vontade do rico de usar o seu poder de
forma absoluta, inquestionável, acima do bem e do mal. Poder absoluto que,
hoje, se traduz na perspectiva do lucro a qualquer preço, pensamento bárbaro
similar à conquista total e da terra arrasada, que se colocou no passado e se
coloca no presente acima dos interesses da humanidade. Esse espírito deletério
é representado por algo que é celebrado e olhado de forma positiva até por quem
é sua vítima: a globalização da economia.
A globalização não é um movimento recente, as
grandes navegações do século XVI já representavam esse intuito, e tampouco é
culpada pelo problema, trata-se apenas de ferramenta extremamente útil para
alcançar o real objetivo: lucratividade desmedida, poder sem limites.
A globalização é atualmente a maior responsável
pela renovação da escravidão em roupagens modernas. Hoje o senhor do escravo
não precisa mais construir senzalas e nem necessita morar na casa grande. Ele
obtém o trabalho gratuito pagando, por exemplo, cinquenta centavos de dólar por
uma camisa numa fábrica em Bangladesh, que emprega costureiras por 20 dólares
mensais. A corporação fashion americana ou europeia pode afirmar, assim, que
não é ela a responsável por pagar esse salário miserável a um trabalhador seu.
Certamente.
Numa sociedade saudável, a globalização seria
ótima, desde que entendida como a liberdade plena de deslocamento do ser humano
no planeta, pessoas e seus patrimônios. No despertar da humanidade, a
globalização era um fato, inexistiam fronteiras e impedimentos ao tráfego
humano.
Nossa sociedade, porém, está muito longe de ser
saudável. Alguém já afirmou que somente uma pessoa muito doente pode se dizer
perfeitamente adaptada a essa sociedade degenerada. Nesse sentido, a
inquietação, o inconformismo, é que seria sinônimo de inteligência e saúde
mental.
A globalização, vista sob seu aspecto meramente
econômico, admite apenas a liberdade de tráfego para o capital. Pessoas
continuam locais e impedidas de atravessar fronteiras, vide o exemplo trágico
dos refugiados, alvo da “piedade” europeia muitas vezes traduzida no
afundamento de seus barcos.
Atualmente, o poder político real não está mais nas
mãos dos presidentes das nações. Voltamos à era dos faraós, dos reis, dos
imperadores. A única diferença é que, hoje, eles sentam em tronos incógnitos.
Não se sabe mais quem são os reis e onde estão os seus castelos, porque eles
perderam o ancestral orgulho de estar no comando. A nova onda do imperador é
não ser admirado, somente temido. As invocações da genealogia e da heráldica
tornaram-se anacrônicas e até perigosas para os soberanos num mundo apertado
por sete bilhões de pessoas, em grande parte faminta, no qual matar milhares,
em caso de convulsão, não é mais assim tão glamoroso. Hoje, nossos novos
monarcas se apetecem somente pelo poder e pela riqueza. Alguns poucos, menos
cerebrais, à isso acrescentam a vontade da fama.
Os novos reis não possuem um local definido, uma
área geográfica, para a ação imperial. No antigo modelo, cada nação
representava um pedaço do planeta dominado por seu próprio rei. O poder do rei
estava adstrito ao território da nação. Isso é passado. Na atual divisão do
poder, território nada mais significa. O comando não mais se divide entre
nações e seus territórios, mas entre corporações e seus ramos de negócios. A
economia está fatiada e cada uma das fatias representa um reino específico
comandado por poucos monarcas absolutos. Há quem sustente que temos atualmente
147 reis, cada um deles comandando as corporações que encabeçam e que, em
desdobramento, dominam todas as demais (http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=rede-c...).
O poder dos novos reis emana tanto das riquezas do
passado, decorrentes da acumulação primitiva, como das riquezas modernas,
obtidas por empreendedorismo e oportunismo. Munidos da força dessas riquezas,
manipulam a política como meio de controlar os sistemas monetário e financeiro,
ou seja, a toda a economia. Não se trata de uma conspiração, mas de orientação
identitária a partir de uma ideia contida no senso comum, de que a riqueza deve
ser mantida nas mãos de quem as detém e ampliada ao máximo, independentemente
das consequências. Embora não seja uma conspiração, em toda a plenitude da
palavra, isso não significa que não se reúnam ocasionalmente para traçar
diretrizes comuns. Fazem isso com frequência regular no Fórum Econômico de
Davos, na reunião de Bilderberg e em outros grupos menores, mas não menos
importantes, como a sociedade Skull & Bones, além de outros, alguns dos
quais talvez nem chegue ao conhecimento do público.
Como todo rei, eles precisam de um exército. Esse
exército, atualmente, se chama Estados Unidos da América.
Os Estados Unidos não são "o" império,
como muitos pensam. São apenas o soldado do imperador, a interface do poder, a
máscara com a qual é encenado o teatro farsesco da democracia e da liberdade.
São também a espada de que nos alertava John Adams, com a qual é imposta a
vontade absoluta dos reis a todos os países.
Os Estados Unidos, como braço armado dos
imperadores, submete a economia mundial à vontade do poder de quatro modos
distintos: (a) corrompendo os governos nacionais, (b) mediante a concessão de
empréstimos condicionados a exigências futuras virtualmente impossíveis de
cumprir, concedidos por instituições como Banco Mundial e FMI, (c) assassinando
políticos de países estrangeiros que incomodem ou (d) pelo velho, tradicional e
eficaz método de invasão armada.
Independentemente do método, o objetivo é o mesmo:
fragilizar a nação-alvo e obrigá-la ao cumprimento da agenda corporativa. Um
interesse presente é a venda de ativos do colonizado. A privataria tucana
praticada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso não possui outra
explicação. Um intuito marcadamente presente é o controle de recursos naturais,
principalmente o petróleo. Outras vezes, o desejo é instalar bases militares
americanas no país. Enfim, a submissão das demais nações é interessante sempre
e pelos mais variados motivos, mas principalmente por interesse em recursos
minerais ou de proteção aos produtos das corporações internacionais.
Embora na superfície se tratem de solicitações
americanas, o interesse subjacente, e principal, é das corporações. Apenas como
exemplo, a guerra do Iraque favoreceu empresas de construção e petrolíferas,
tendo o governo americano arcado com a totalidade do prejuízo. Na privatização
brasileira, foram corporações que se beneficiaram do sucateamento de nossas
estatais.
Constitui fato histórico reconhecido que o governo
dos Estados Unidos atuou para desestabilizar governos de países soberanos,
muitos deles pacíficos e amigos dos americanos, inclusive através de
assassinatos políticos.
Foi assim em 1949, quando o governo americano
auxiliou o golpe de estado que conduziu Husni al-Za'im ao comando da Síria.
Alçado ao poder, Za'im implementou ações em benefício de corporações do
petróleo.
Em 1953, os americanos, com apoio dos ingleses,
derrubaram Mohammed Mossadegh, que fora democraticamente eleito presidente do
Irã. Mossadegh ousou nacionalizar a indústria de petróleo iraniana, até então
controlada por uma corporação britânica, porque entendia que essa riqueza
mineral deveria beneficiar primeiramente o povo iraniano. Em seu lugar,
ascendeu Mohammad Reza Pahlavi, um tirano autoritário, porém simpático ao
poderio americano. Reza Pahlavi permaneceu no poder até 1979, quando uma
revolução iraniana, liderada pelo Aiatolá Khomeini, o depôs.
Como agiram os americanos nesse episódio? Enviaram
um emissário, munido de milhões de dólares, para corromper os adversários
políticos de Mossadegh. Mossadegh, um democrata eleito, foi retratado pela
imprensa como um tirano, enquanto Reza Pahlavi, um monarca absolutista
despótico, era fantasiado de liberal.
Conduzido pela desonestidade da imprensa e por
políticos corruptos totalmente desvinculados dos interesses do Irã, o povo
aderiu ao golpe a auxiliou na queda de Mossadegh. Tiro no próprio pé, movido
pela ignorância e pela fraude.
O modelo utilizado no Irã, contra Mossadegh,
torna-se padrão para a derrubada discreta de governos incômodos: envio de
poucos emissários americanos, preferencialmente um homem só, com acesso
ilimitado a dinheiro, para corromper a imprensa e políticos locais.
O modus operandi é relatado por John Perkins, no
livro Confissões de um Assassino Econômico, ele próprio tendo sido um desses
agentes infiltrados.
Em 1954, na Guatemala, o governo de Arbenz Guzmán,
eleito democraticamente presidente em 1951, desejava realizar uma ampla reforma
agrária no país, em benefício de seu povo. Isso, porém contrariava amplamente
os interesses de uma corporação americana do ramo de frutas. O governo dos EUA
enviou emissários para corromper os políticos da oposição. Novamente a imprensa
mundial agiu, passando a imagem de que Arbenz era um agente soviético. Arbenz
foi deposto, sendo substituído por uma ditadura militar que atendia aos
interesses da corporação prejudicada. Esse é considerado o primeiro dos vários
golpes militares patrocinados pelos americanos na América Latina, Brasil
inclusive.
Em 1963, no Iraque, o general Abd al-Karim Qasim,
que havia liderado um golpe contra monarquia e proclamado a república, foi
deposto e preso com apoio dos americanos. Qasim era nacionalista, o que sempre
desagrada as corporações. De 1963 a 1968 há uma sucessão de golpes e
assassinatos no poder iraquiano, sempre com suspeitas de participação dos
americanos, até se estabilizar a presidência nas mãos de Ahmed Hassan al-Bakr
do Partido Baath, auxiliado por um jovem político, que se tornará seu
vice-presidente em 1979 e, finalmente, dez anos depois, passará a comandar o
país, Saddam Hussein.
Saddam se tornaria marionete dos EUA em suas tentativas de derrubar o governo do Irã, iniciadas em 1980, novamente por interesses no petróleo.
Saddam se tornaria marionete dos EUA em suas tentativas de derrubar o governo do Irã, iniciadas em 1980, novamente por interesses no petróleo.
Em 31 de março de 1964, João Goulart,
democraticamente eleito vice-presidente do país e que assumiu de forma
constitucional a presidência após a renúncia de Jânio Quadros, também sob a
pecha de agente soviético e que também pretendia realizar uma reforma agrária
no país, foi deposto por um golpe militar apoiado financeiramente pelo governo
dos Estados Unidos. Como sempre, em seu lugar assumiu uma ditadura militar, que
vigorou até 1984, vinte anos após.
Em 1981, Jaime Roldós, eleito democraticamente
presidente do Equador em 1979, morreu num acidente de avião. Existem fortes
suspeitas de que o acidente tenha sido obra do governo americano. Roldós, assim
como Mossadegh no Irã, desejava, e estava adotando ações para esse fim, que o
petróleo equatoriano beneficiasse o povo do Equador, o que desagradou as
corporações do petróleo. Afirma-se que, não sendo possível desinstalar Roldós
pela corrupção, restou a opção de simular um acidente de avião.
Hugo Chavez, eleito democraticamente para
presidente da Venezuela em 1998, reelegendo-se em 2000 e novamente em 2006, foi
duramente combatido pelo governo americano, com apoio integral da imprensa
venezuelana. O discurso de Chavez era anti-neo-liberalismo e contrário à
geopolítica americana. Em sua primeira eleição, Chavez encerrou um ciclo de 43
anos no poder de um conluio de políticos corruptos que englobava os três
maiores partidos venezuelanos. Chavez utilizou o imenso poderia da Venezuela no
petróleo como uma arma contra os americanos. Novamente um político nacionalista
pretendendo utilizar o petróleo para ajudar o próprio povo. O percentual de
venezuelanos classificados como pobres despencou de quase metade da população,
49,4% no ano de 1999, para menos de um terço, 27,8% no ano de 2010. A história
revela que esse comportamento não agrada às corporações. Por isso, em 2002, com
a imprensa totalmente contrária a Chavez, um golpe de estado o depôs, com
fortes indícios de participação ativa dos americanos, que imediatamente
reconheceram a legitimidade do governo golpista. Entretanto, ante a reação
mundial negativa, o golpe foi um fracasso e, três dias depois, Chavez voltou ao
poder.
Os exemplos de intervenção americana direta e
indireta poderiam continuar por longo tempo, como no golpe do Chile em 1973, na
Argentina em 1976, na morte de Omar Torrijos do Panamá em 1981, na tragédia do
Afeganistão, na invasão do Iraque em 2003, na Nicarágua e em El Salvador na
década de 1980, Camboja, Vietnã e etc e etc...
Brasil. 2002. Um partido criado pelos trabalhadores
e com origem nitidamente socialista elege o seu candidato para a presidência da
república. O político de origem sindicalista e sem formação acadêmica, Luis
Inácio Lula da Silva, após três tentativas infrutíferas, finalmente sobe a
rampa do Palácio do Planalto, não sem antes se comprometer formalmente a não
instalar um governo comunista no país, num documento denominado Carta aos
Brasileiros, nítida concessão às corporações.
Lula surpreende os conservadores, pois sob seu
governo a economia avança admiravelmente. De fato, no período de 2003 a 2010, o
PIB brasileiro apresenta um aumento anual médio de 4% ao ano, enquanto o
representante da elite neoliberal, o acadêmico laureado Fernando Henrique
Cardoso, nos oito anos anteriores, obteve somente 2,3% ao ano. No último ano do
governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, a taxa de desemprego era de
10,5% da população economicamente ativa. Lula a reduz para 5,3%. A arrecadação
tributária bate recordes em cima de recordes, não por aumento da tributação,
mas como reflexo de um incrível incremento no mercado interno. Lula liquida a
dívida brasileira com o FMI e aumenta as reservas de US$ 37,6 bilhões para US$
288,5 bilhões . A taxa de juros Selic cai de 25% ao ano para 8,75% ao ano. O
Brasil atravessa sem grandes danos a maior crise econômica desde 1929, que foi
a crise de 2008. O salário mínimo, que teve redução real (descontada a
inflação) no governo FHC de cerca de 5%, consegue aumento real de cerca de 54%
nos oitos anos do governo petista.
Enfim, Lula surpreendeu positivamente durante os
oito anos de seu mandato. Contudo, somente obteve paz no primeiro mandato, de
2003 a 2006. A partir do final do primeiro mandato, todavia, passou a ser alvo
de crítica feroz da grande imprensa e dos políticos de oposição, principalmente
do próprio PSDB.
O que mudou?
Muitas coisas podem ter provocado essa mudança de
atitude. Uma delas, talvez a mais relevante, foi o anúncio da descoberta de
imensas jazidas de petróleo na camada do pré-sal, ocorrida justamente em 2006.
Segue-se à descoberta o anúncio do governo petista de que essas jazidas de
petróleo seriam resguardadas para o interesse nacional, inclusive com a
possibilidade de criação de uma estatal específica para elas, a Petrosal, o que
desagrada às grandes corporações de petróleo do mundo.
Petróleo, nacionalismo, interesses corporativos,
ação desestabilizadora. A história se repete.
Um governo cujo sucesso, até então, e embora com um
certo ar blasé, era reconhecido pela imprensa, numa reviravolta passa a ser
alvo de uma campanha difamatória impiedosa dessa mesma imprensa. Ilícitos que,
quando comprovados em governos passados, sequer mereciam manchetes, passaram a
ser estampados na capa de jornais e revistas por meras suspeitas.
Adotou-se a prática da escandalização do banal, da
manipulação dos fatos e da culpabilidade por dedução lógica.
O escândalo do mensalão transforma uma prática
corriqueira em todos os partidos, incorreta, porém usual, de utilização das
sobras do caixa 2 de campanhas para a conquista de apoio político, é manejado
para parecer compra de votos. Se foi comprovada a compra de votos para votar a
emenda da reeleição da Fernando Henrique Cardoso, obviamente interessado nessa
emenda, e nada respingou na reputação de FHC, no mensalão afirma-se a compra de
votos para aprovação de leis de interesse público, como leis da previdência e
outras, sem que se pare para pensar porque um partido iria adotar tal prática
para aprovação de projetos de interesse nacional. E ainda que se comprovasse o
pagamento, e isso não foi provado, o erro estaria no partido que compra ou no
político que precisa ser comprado para aprovar tais leis?
Sem conseguir evitar a reeleição de Dilma pelo PT,
mesmo com o mensalão, a escandalização avança, provocando dissensões no próprio
tecido social. Amigos deixam de se falar, parentes se dividem, pessoas brigam
nas ruas por conta de opiniões contrárias, cadeirantes são agredidos por se
manifestarem a favor do PT, velórios são vilipendiados pelo ódio político,
pessoas públicas são agredidas em restaurantes em função de exercerem cargo no
governo, sair à rua com uma estrelinha do PT aos poucos vai se transformando
numa aventura mortal.
Nada impede a imprensa e um setor menos intelectualizado
do PSDB de prosseguir nessa sanha acusatória. O governo se vê envolvido numa
trama que envolve a grande mídia, um partido (PSDB) que representa os
interesses neoliberais desejado pelas corporações, parcela do Ministério
Público Federal e do judiciário federal simpáticos ao PSDB, com alguns de seus
componentes inclusive tendo sido nomeados pelo próprio Fernando Henrique
Cardoso.
A corrupção sistêmica, que Fernando Henrique
Cardoso, recentemente, reconheceu existir desde o seu governo, e que soube e
que nada fez pois sabia que isso seria mexer num vespeiro incontrolável, é
atribuída ao único partido político que em toda a história brasileira agiu de
forma republicana e deixou as instituições funcionarem no combate à corrupção.
Como se diz, o PT torna-se vítima de seu próprio
republicanismo.
O povo, conduzido como massa de manobra, não
percebe as discrepâncias no discurso oposicionista da moralidade seletiva e se
agita contra o partido que forneceu as melhores condições jamais experimentadas
pelos trabalhadores e pela parcela menos desfavorecida do país.
Contudo, por mais insana que se apresente a conduta
da oposição tucana e da imprensa, não parece provável que assumiriam a
possibilidade de causar uma ruptura social no país se não houvessem interesses ocultos
muito mais sólidos.
A imprensa parece estar cavando a própria
sepultura, ao enterrar sua credibilidade em toneladas de lama desveladas
rapidamente pela internet. Um ato de suicídio dessa magnitude não pode
representar um mero interesse em se livrar de um partido incômodo. Deve existir
algo mais.
Quais são os verdadeiros interesses ocultos por
trás desse movimento de desestabilização do governo brasileiro?
A equação possui governo de tendência socialista,
petróleo, nacionalismo, escandalização pela imprensa e um partido político que
atua de forma contrária aos interesses do próprio país.
Todas as vezes em que esses elementos estiveram
presentes na mesma equação, os Estados Unidos da América atuaram em desfavor do
governo nacional rebelde aos interesses das corporações.
Não há motivo algum para supor que agora fariam
diferente.
Na eleição americana do ano 2000, Al Gore foi
nitidamente alvo de uma fraude eleitoral que conduziu Bush filho ao poder.
Poderia ter iniciado uma disputa jurídica acirrada para obtenção de recontagem.
Republicanamente, porém, abdicou dessa disputa em nome da paz política dos
Estados Unidos.
No Brasil, Aécio Neves, coloca a própria ambição
política acima de um resultado político justo, honesto e reconhecido pelo seu
próprio partido após realizar dispendioso e inútil esmiuçamento nas urnas
eleitorais. Isso, todavia, não impede Aécio de assumir essa insanidade
vexatória num comportamento que o fez ser apelidado corretamente por Jânio de
Freitas de “taradinho do impeachment”.
Aécio Neves, cuja riqueza pessoal em grande parte é
devida à ação política oligárquica de sua família e à sua própria atuação
política, pois está envolvido na política desde antes de se formar na
faculdade, se vende como um paladino da moralidade e da ética para maquiar o
que é somente mera ambição política, egolatria e mania de grandeza. Se acha no
direito de desestabilizar a nação em nome desses vícios de caráter, sendo
ombreado nesse propósito por pessoa vaidosa que pensa incorporar a figura de
estadista e de sábio político, Fernando Henrique Cardoso, mas que não revela a
grandeza de impedir a luta fratricida que está se iniciando no Brasil.
Todavia, não se vê uma defesa contundente da
democracia pelo “parceiro amigo” do Brasil, os EUA, que seriam capazes de adotar
ações através das próprias corporações donas dos meios de comunicação
brasileiros.
O silêncio dos americanos em relação a assuntos
internos de outros países que com potencial de atingi-los, mesmo
superficialmente, é revelador, pois sempre foi indicativo, não de neutralidade,
mas de incitação, apoio material ou, no mínimo, posição favorável aos
revoltosos.
O Brasil sempre foi um empecilho às corporações por
sua inclinação a um alinhamento com os países sul-americanos e com outras
nações menos privilegiadas.
Isso, por si só, já constitui uma ofensa ao
imperialismo corporativo.
A gota d'água foi a política protecionista do
pré-sal.
É muito possível, pelo que se extrai dos relatos
históricos, que a tentativa de desestabilização do governo do PT, acentuado no governo
da Dilma, possua garras de águia habilmente escondidas.
Garras que manipulam marionetes brasileiras.
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