O comentarista Weden, em texto de sua
autoria publicado no blog do Luis Nassif, ancorado no portal de notícias GGN,
cujo link forneço ao final, fala sobre o imenso capital político de Lula,
sustentando que talvez não seja na presidência que ele poderá dar sua melhor
contribuição em favor do país. Na opinião de Weden, numa conjuntura política em
que se tem um legislativo reacionário e a necessidade de um presidencialismo de
coalisão para obtenção governabilidade, o presidente eleito, qualquer que seja,
se torna apenas um sócio do poder e, às vezes, nem isso.
Weden nos chama a atenção para um fato:
“Hoje as esquerdas estão reduzidas a 1/6 do Congresso. Com isso, direitos de
cidadania e trabalhistas estão correndo sérios riscos. E outros tantos que
precisam ser conquistados estão infelizmente adiados.”
Constatada essa realidade política,
Weden sugere que “Lula poderia ser um inestimável puxador de votos para as
esquerdas na próxima legislatura.”
Absolutamente perfeita a lógica do
Weden.
De fato, talvez a melhor estratégia
política a ser adotada pelo PT para as eleições de 2018 fosse colocar a eleição
presidencial em segundo plano, um objetivo secundário. O momento poderia ser
adequado para mirar outro alvo, tão importante quanto, que vem sendo
negligenciado pelo partido desde as eleições de 2002, quando conquistou o poder
federal. Desde então, o foco em manter a presidência custou ao partido perdas
muito importantes, não somente no legislativo, como em mandatos municipais e
estaduais.
Como partido, o PT se manteve
razoavelmente estável na Câmara dos Deputados desde a eleição de Lula, em 2002,
embora reduzindo suavemente a bancada em cada eleição. Todavia, sofreu uma
redução acentuada em 2014. De fato, foram eleitos 91 deputados federais
petistas em 2002, 89 em 2006, 86 em 2010 e 70 em 2014.
No Senado, sua bancada permaneceu mais
estável. Em 2002, nas eleições para renovação de dois terços do senado, sendo
disputadas, portanto, 54 das 81 vagas, o PT elegeu 10 senadores. Em 2006, para
renovação de um terço, 27 das 81 vagas, foram eleitos 2 senadores petistas. E
assim sucessivamente, 11 senadores em 2010 (eleição de 2/3) e 2 em 2014
(eleição de 1/3).
No conjunto das forças progressistas,
porém, o tombo foi ainda mais retumbante. As eleições passadas para o
legislativo, em 2014, produziram o congresso certamente mais obscurantista das
últimas décadas e possivelmente o pior da história do Brasil. Congresso que se
apresenta com uma tessitura política engendrada a partir de um conservadorismo
que se poderia considerar honesto, mas é manchado ao se aliar, por mero
oportunismo político, à pior espécie do conservadorismo fundamentalista
religioso e à fatia mais abjeta do patriamonialismo político.
A conclusão resulta, primeiro, da
observação pura e simples das práticas que, desde então, passou a pautar as
ações do Congresso, que, por exemplo, em nada se envergonha de eleger, para
presidi-lo, um político que sabidamente representa o mais vil patrimonialismo político.
Ou, ainda, que nomeia um pastor evangélico retrógrado, e por isso mesmo contra
qualquer avanço nos direitos dos homossexuais, para presidir a Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o que representa um insulto a todo e
qualquer eleitor que se posicione favoravelmente à supremacia dos direitos
humanos.
Segundo, da análise de levantamento
realizado pelo Diap logo após as eleições e que já prenunciava o que viria.
Numa contagem mínima e otimista, o Diap concluiu que foram eleito 30 deputados federais
representantes da bancada da segurança, mais 52 representando os evangélicos e
outros 190 pela bancada corporativa.
Tem-se, pois, nada mais, nada menos, do
que 272 deputados federais inclinados ao conservadorismo, ao obscurantismo e à
redução dos direitos e liberdades individuais. Como são 513 deputados federais
que formam a Câmara dos Deputados, isso significa que 53% de sua composição é
hoje formada por políticos que atuam na contramão dos avanços civilizatórios.
O horror, o horror!
Um congresso dessa qualidade precisa
ser urgentemente defenestrado e renovado.Impõe-se ampliar o número de
parlamentares com ideias arejadas sobre a questão social, não somente em
relação à mitigação da desigualdade de renda e riqueza, importante por óbvio,
mas também quanto a questões sensíveis envolvendo direitos das minorias, como
os preconceitos em geral e notadamente o racial, direitos homoafetivos, a
questão do aborto e outros. São assuntos que, com essa composição congressual,
somente serão colocados em pauta com o objetivo de cassar conquistas, jamais
para avançar.
Com um congresso abjeto, como o atual,
de pouco ou nada adianta conquistar a presidência. Fica-se amarrado à lógica
fisiologista de produzir governabilidade a qualquer custo, com a única
alternativa de lutar contra a sanha oposicionista e sucumbir, pois, sem maioria
no Congresso e sem o apoio da imprensa, não há chance de vitória.
O segundo governo Dilma, sob a coação
desse Congresso obscurantista, é um exemplo perfeito de como é possível à
oposição paralisar por completo a materialização do projeto político eleito
pelo povo.
Vive-se um momento paradoxal da
política nacional. Dilma foi obrigada a se render ao inimigo. Doravante, e até
o final de seu mandato, qualquer conquista social, se houver, será mínima. O
que deveria ser o ministério de um partido, o PT, é hoje, em essência, o
ministério de um segundo partido, o PMDB, que por sua vez põe em prática uma
cópia suavizada da proposta de poder de um terceiro partido, o PSDB.
Trata-se de uma insanidade política e
uma violação ao direito democrático de opção popular. O povo escolheu o PT, não
foi o PMDM e nem o PSDB.
O momento, assim, é de olhar para a
eleição legislativa com mais carinho. A esquerda precisa ser reforçada.
Muito melhor para o povo a existência
de um legislativo progressista fiscalizando um eventual executivo conservador,
do que um executivo progressista manietado por um legislativo reacionário.
E não é impossível que o PT, mesmo sem
Lula candidato, ganhe a eleição presidencial. Mesmo a derrota talvez seja
positiva. Nada como a comparação para dissipar mentiras e possíveis dúvidas.
Deixe o conservadorismo desmiolado mostrar o seu trabalho e ele se derrotará
sozinho.
Lula, em São Paulo, se candidato a
deputado federal, por exemplo, levaria com ele para Brasília, talvez, mais uns
quinze deputados. Tiririca, com pouco mais de um milhão, elegeu outros cinco.
Liberado da eleição presidencial, seria capaz, ainda, de auxiliar na conquista
de cadeiras no senado e ajudar a eleição de deputados federais em outros
estados.
A guerra política pode ser vencida de
muitas maneiras. Talvez a batalha direta pela presidência não seja assim tão
importante nessa guerra que se trava no país entre progressistas e
reacionários.
É hora de pensar o legislativo.Link para o texto do Weden: http://jornalggn.com.br/blog/weden/o-capital-lula
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