(...)
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples
grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação.
Não morre um povo!
(...)
(Miguel Torga)
Esse texto
foi pensado a partir de um momento da história do Sr. Antônio Coutinho. Um Zé
Ninguém, não aquele do Wilhelm Reich que se anula perante o sistema, mas naquele
que paga por mais de 500 anos de uma existência ainda colonial. Aquele, que por
mais que o país tenha avançado socialmente, ainda nos lembra, através de seu
suor e fome, que a realidade ainda é dura.
Porém a curta
história do Sr. Antônio aconteceu quase que paralela a de outro senhor. Este
famoso, sem fome, mas acima de tudo cidadão. Falo do Chico Buarque e dos
molequinhos que se acham acima do bem e do mal. Seu Antônio nos comprova a
partir de sua dor, que o povo brasileiro ainda é bondoso. Chico, infelizmente,
não por ele, mas por aqueles que o confrontaram, mostra o outro lado da moeda.
O lado do egoísmo e da ignorância. Do sentimento que mantém o capitalismo vivo,
mesmo que incoerente.
De um lado,
Sr. Antônio desmaia por conta do calor e fome. Por sorte, em frente ao Recanto
do Petisco, em Niterói, do meu amigo e companheiro de décadas de TVE, Gilberto
Ribeiro. De imediato socorrido pelo Gilberto, por mim, Marcos de Dios, Rogerinho
e pela Sandra, nossa desconhecida que estava em outra mesa, e também percebeu a
queda do seu Antônio. De pronto o colocamos mais confortável e Gilberto, de
imediato, trouxe uma garrafa de água gelada. Ao identificarmos que o problema era
fome, Gilberto trás uma porção de bolinho de feijoada e um mate gelado. Ao
abrir a quentinha, o cheiro do quitute toma conta do entorno e, ao senti-lo,
seu Antônio abre um sincero sorriso, revelando a falta de muitos de seus dentes.
Avisamos para comer devagar e ele sorri. Nesse tempo, Sandra retorna com duas
bolsas de compras, com comida para ele levar para casa. Ainda sorrindo, seu
Antônio separa mais da metade da poção, colocando-a em um dos sacos de compras
e nos avisa: é para os de casa. Levamos seu Antônio até nossa mesa, entregamos
nossos trocados para que ele pudesse pagar os dois ônibus para sua casa, e
ficamos conversando até que se sentisse melhor para seguir seu caminho, como
seguiu. Nos entreolhamos emocionados e voltamos a nossa discussão política.
Do outro lado
da baia, outros como nós, possivelmente mais abastados do que nós , aliás...
muito mais abastados . Mostraram-se grandes abestados, ignorantes e grosseiros.
Não por que pensam diferente de nós. Isso é democracia, é bom. Mas é fato que,
a falta de leitura diversificada, a falta de democracia na mídia e a sede de
poder de nossa direita escravagista, acabam por transformá-los em ignorantes
sem causa. Quase um exército de reserva. Não para trabalhar com salário
aviltado, como desejam para o povo, mas para atacar as pessoas nas ruas. Como
não sobrevivem aos fatos, só lhes restam à agressão.
Nossa mídia,
em especial a Globo, de tanto incentivar a ignorância através de suas
manipulações e mentiras, estão conseguindo tirar uma das principais características
do povo brasileiro. A sua alegria e solidariedade.
Para eles, do
andar de cima, pesa mais a questão da alegria. Sempre foram mais egoístas e
focados na obtenção de bens e poder, o mundo foi criado para atender suas
necessidades. Para os do andar de baixo, pesa mais o fim da solidariedade. Seja
por questões culturais ou de necessidade, a solidariedade no andar de baixo é
infinitamente superior ao do andar de cima. Em relação à alegria, perdemos
todos, independente do andar.
Uma das
grandes características, identificadas por aqueles que nos visitam, está na
nossa alegria de viver e no carinho demonstrado pelo abraço fácil e o beijo no
rosto. Muitas vezes, motivo de estranheza. Hoje, muito para além do
politicamente correto, acabaremos por nos vigiar, mudar nossas vestimentas e
tolher nosso sorriso e carinho. Pois àqueles que só se interessam pelo capital,
se possível, nos quererão mortos.
O azar desses
ignorantes esta na nossa arte e cultura, que insiste no caminho contrário como
bem nos guiava Gonzaguinha:
(...)
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser
Sempre desejada
(...)
Eu fico com a pureza da resposta
das crianças
É a vida, é bonita, é bonita.
Encerramos o texto desejando a todos ótimas Festas neste findar e
começo de ano. E que 2016 venha rico em carinho, alegria e solidariedade.
Marcos de
Dios, professor de Filosofia e História, PT-Maricá
Rogério
Altameiro, Metroviário, DM PT-Maricá
Sérgio
Mesquita, Servidor Público, Sec. Formação PT-Maricá
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