Confesso ter levado um susto inicialmente. Posteriormente,
após conversas com companheiros mais próximos, o susto transformou-se em
respeito pela honestidade do companheiro de longas caminhadas juntos, Quaquá.
Quem o conhece sabe bem que, como coloca no texto, não tem a boca para guardar
sua língua. E provoca.
O texto casa bem com a entrevista do Lula, que quando
questionado sobre a manutenção de uma aliança que acabou trocando de lado e
apoiando o Golpe, se o mesmo não poderia se repetir? E Lula banca com maestria
o pragmatismo eleitoral. Com verdades que, muitas vezes, são ignoradas pela
esquerda dita pura. Os fatos são colocados à mesa. Não existe vitória eleitoral
sem as alianças. E mesmo que fosse possível, não existiria governo. Fica claro
que, em nosso atual sistema de governo, a fala do Lula é só verdade.
Quaquá, que teve mais tempo para escrever seu artigo, fez uma
rápida “mea” culpa (do partido) e aponta como uma das causas, que concordo, o
abandono das organizações populares e termos perdido toda uma geração de
militantes, que poderiam ir às ruas no combate ao Golpe. Pura verdade, mas não
como muitos colocam, que a culpa está em nossa burocratização. A culpa está em
nossa institucionalização! Acabamos por nos “patrimonializar”.
O problema que identifico, entre outros, está na questão do
incentivo a imagem de um “herói da pátria”, com a criação de mais um “ismo”,
como foi o getulismo e o brizolismo. Quando o sufixo perde sua raiz, é como
tiro na água no jogo de batalha naval. Essa é uma das preocupações.
Outra preocupação está no como incluir as organizações civis
e populares através da política, e não pelo clientelismo. Concordo quando é
apontado o erro de não se ter preparado a grande massa de beneficiários dos
programas sociais para o sentimento de pertencimento dos mesmos, e da política
de afastamento das organizações civis e populares, para priorizar os acordos
por cima. Na minha opinião, esse foi o grande motivo que nos levou a não ter a
população nas ruas, para além do que sobrou da militância. Muitas das pessoas que
hoje estão nas ruas, por onde passa a Caravana do Lula, podem não ter ido as ruas
antes do leite ter derramado.
Lembro da primeira reunião de secretários do governo Fabiano
Horta em Maricá, sucessor do Quaquá, quando em um exercício de Planejamento, ponderei
como força externa negativa para o governo, o próprio sistema de governo, que
privilegia a corrupção e os arranjos. Não apanhei, mas foram vários elogios ao
sistema e duas adesões ao meu posicionamento. Meses depois, a continuação do
golpe em Brasília ganhava força por conta do sistema.
O fato é que para podermos realizar as reformas que
defendemos, inclusive a política, temos que ter o povo nas ruas, brigando e
muito. Quando a PM tentou invadir a escola do MST, a Florestan Fernandes, seus
integrantes e alunos foram para o enfrentamento e a PM recuou. As mesmas corporações
que apoiaram o golpe aqui, tentam fazer o mesmo na Venezuela. O povo foi para
as ruas e Maduro se mantém no governo. A estudantada em São Paulo atrasou o
projeto do Alkmim em fechar as salas de aula. Não por serem formados na
política, mas por entenderem que o modelo atual está esgotado e se faz
necessário inventar um novo, fizeram as ocupações. Saramago, em 94 já
questionava a fala de Churchill, acreditava que poderia existir algo melhor que
a democracia, entendida hoje como o menos pior dos sistemas.
Na realidade, o que me põe em dúvida é o que apresentaremos
de novidade, de maneira a poder ter alguma esperança e sentir o cheirinho da
chuva em meio aos bolsões de calor, lembrando Ignácio de Loyola Brandão em seu
livro “Zero”.
Essa preocupação não vejo em nenhum lado da dita esquerda
brasileira, muito pelo contrário. Cada vez mais a citação do Yanis Varoufakis
em seu livro “O Minotauro Global”: Os
políticos que queriam fazer diferente perceberam que era tarde demais. E assim
eles recuaram, preferindo manter-se vivos do que viverem mortos politicamente,
faz sentido.
Sei bem como age o Quaquá e sei mais ainda o que foi feito em
Maricá, mesmo que não muito ao modo petista de governar. A cidade cresceu,
melhorou seus índices e, de fato, existe distribuição de renda e crescimento
econômico, como aconteceu no Brasil no período petista em Brasília. Mas é
preciso ter a clareza de que o que acontece com o país, não só vai refletir em
Maricá, como também pode acontecer em Maricá, pois vivemos em um Estado de
Exceção, golpista.
Tenho certeza que a solução não passa pela simples
possibilidade de se vencer a eleição. Pois a mesma seria certa nas MCTP (mesmas
condições de temperatura e pressão). O problema é que não temos como afirmar se
ocorrerão e se ocorrerem, se Lula será candidato. Se for eleito, se conseguirá
governar.
Não estamos discutindo como organizar a população e as
organizações civis para nosso sustento nas ruas, e isso me preocupa. Pois
estamos com o foco somente nas eleições. Se nada mudar, não adiantará criar um
novo partido (reformista e burguês) ou acabar com o velho espírito petista. O
poder continuará nas mãos deles.
Sérgio
Mesquita
Secretário
de Formação do PT-Maricá
Nenhum comentário:
Postar um comentário