quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

NÃO VOU ME ADAPTAR


“Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?”
Nando Reis

Sem qualquer sutileza, pego emprestado título e versos da música do Nando Reis. Nada cai tão bem para retratar o momento em que o mundo e o Brasil, em especial, passam. Lembrando Marx, desta vez como farsa.

Primeiro vamos deixar claro para quem ainda não entendeu: no período de 2002 a 2016, em nenhum momento participamos ou tivemos um governo socialista. Tivemos sim, um governo capitalista que tentava se afastar da corrente neoliberal e se aproximar do “Estado do Bem Estar Social”, internacionalmente conhecido como “welfare state”. Melhoramos e muito a vida da população sem que fossem mexidas as estruturas de poder e as que mantinham o andar de cima, muito acima. O andar de baixo passou por experiências antes tidas como impensáveis. O país cresceu, mas a outra metade do dever de casa não foi feita – a conquista das mentes -, nem a “recuperação” nos foi permitida: fomos reprovados.

É certo que poderia ser diferente se o dever fosse completo, mas o grande problema foi acreditar na possibilidade de se manter acordos com o andar de cima, na alegria ou na tristeza, sem o apoio massivo da população – nas ruas e não em pesquisas. Deu divórcio sem direito a divisão dos bens, pois perdemos na velha/nova “justiça” patrimonialista.

Outro problema está na tal da “mosca azul” que picou muitos do que poderiam estar na linha de frente, na defesa de princípios até então inegociáveis. Abriu-se mão destes princípios e a prioridade passa a ser a manutenção de cargos na estrutura achando que a luta seria facilitada. Mesmo depois do impeachment, a tática foi mantida. Abrimos mãos de possíveis vagas no Congresso e nos Estados nas eleições de 2018, em nome de aliança com pessoas que nos atacavam e continuaram a fazê-lo. Não entendemos ou ignoramos o porque de nossa luta coletiva e passamos a tratar da sobrevivência no sistema político. Nossos governos foram republicanos para além da conta. O “coiso” assume, e seus primeiros atos são na direção de acabar com os “petralhas” no governo, uma “caça as bruxas” como no período da guerra fria nos EUA. Servidor público, professor, toda e qualquer organização de caráter popular é atacada – literalmente, bem como os mais elementares dos direitos conquistados. A Justiça, aliviada, ultrapassa a atuação passiva do período da ditadura e passa a atuar ativamente no e pelo golpe.

Nos aproximamos de mais uma eleição, agora de caráter municipal (20). O que faz a maioria da esquerda? Mantém a mesma linha de ação e de maneira cordata, como gado, segue para o matadouro, acreditando que o povo caminhará automaticamente ao seu lado e os acordos serão mantidos. Por tratar-se de uma questão municipal, algumas alianças e/ou acordos podem até serem respeitados, mas acredito que na prática, muitos ruirão. Pior, alguns companheiros acham que o “coiso” não se mantém, o que não é impossível tamanha a quantidade de merdas que estão fazendo, mas na mão de quem ficaria o governo? Com certeza não será na nossa e, não vejo qualquer possibilidade de fingirem uma “coalisão”. O “rodo” vai continuar e com possibilidades de piora.

O que fazer neste menos de dois anos de governo? Para quem não se preocupou até o momento, quase nada poderá ser feito, até porque as instituições foram retomadas e eles nunca perderam o poder. Para quem teve preocupação, e a questão é local, deve conversar muito interna e externamente com a população, caso contrário, pode-se morrer na praia...

Retomando a letra da música, encerro o texto com uma estrofe, que pode caber àqueles que buscam a manutenção dos cargos como tarefa essencial para continuidade da luta, que ao acordarem se verão representados na estrofe...

“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia”

Nando Reis

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá-RJ

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