Jamil Chade
Se Jair Bolsonaro causou
constrangimento e indignação em sua participação na ONU, coube a uma mulher
despontar como a antítese do presidente negacionista. Num discurso no mesmo
púlpito que foi usado pelo brasileiro, a primeira-ministra de Barbados
abandonou o texto que havia sido preparado por seu serviço diplomático e
chacoalhou a Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Mia Amor Mottley subiu
ao pódio, na sexta-feira, determinada a dizer o que líderes queriam evitar
escutar. E imediatamente foi elevada a uma espécie de celebridade diplomática,
com comentários de que, finalmente, o mundo tinha uma líder....
"Quem se levantará em nome de
todos aqueles que morreram durante esta terrível pandemia? São milhões. Quem se
levantará em nome de todos aqueles que morreram por causa da crise
climática?", questionou.
"Quantas mais variantes do
covid-19 devem chegar, quantas mais, antes que um plano de ação mundial de
vacinação seja implementado"? disse Mottley. "Quantas mais mortes
devem ocorrer antes que 1,7 bilhão de vacinas em excesso na posse dos países
avançados do mundo sejam compartilhadas com aqueles que simplesmente não têm
acesso?"
"Temos os meios para dar a cada
criança deste planeta um comprimido. E temos os meios para dar a cada adulto
uma vacina". E temos os meios para investir na proteção dos mais
vulneráveis em nosso planeta contra uma mudança no clima. Mas optamos por não
fazê-lo", disse a primeira-ministra. "Não é porque não temos o
suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos".
A primeira-ministra ainda atacou
líderes que usam da mentira como instrumento de poder. Segundo ela, se o mundo
ataca as plataformas para garantir o pagamento de impostos, é inconcebível que
não se toque na questão da fake news.
A primeira-ministra também alertou
para a falta de ação no campo ambiental. "Quantos mais aumentos globais de
temperatura devem ocorrer antes de acabarmos com a queima de combustíveis
fósseis? E quanto mais o nível do mar deve subir em pequenos estados insulares
antes que aqueles que lucraram com o armazenamento de gases de efeito estufa
contribuam para as perdas e danos que ocasionaram, em vez de nos pedir que
excluamos o espaço fiscal que temos para o desenvolvimento para curar os danos
causados pela ganância de outros"?
Ela ainda completou: "se
conseguirmos encontrar a vontade de enviar pessoas à lua e resolver a calvície
masculina, poderemos resolver problemas simples como deixar nosso povo comer a
preços acessíveis"."
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