domingo, 21 de novembro de 2010

O VOTO COMO ALEGORIA
Impressiona a fome de alguns em não permitir a diplomação do Tiririca. Tudo bem. A Lei exige que o candidato não seja analfabeto? Ele provou que não é.... Aliás, se diploma fosse sinônimo de austeridade, ética e cidadania, teríamos um excelente Congresso. Infelizmente a realidade se mostra diferente. Acredito que a cruzada contra a diplomação do Tiririca seja mais de cunho segregacional que legal.
Foram próximos 1,5 milhões de votos. Conscientes? De brincadeira? Ou um recado?
Particularmente, Tiririca não teria meu voto. Por qualquer motivo que me apresentem, acho um erro este tipo de voto. Sempre existirão opções, mesmo que poucas.
Já tivemos outros exemplos e nenhum deles deu em alguma coisa, pelo menos, não lembro. Juruna, Enéias, Clodovil, Macaco Tião e muitos outros. Até Mulher Melancia concorreu nesta última Eleição. Votos que tiveram seus 15 minutos de fama e nada mais. Sem qualquer efeito prático.
Agora o que realmente vem me preocupando...
O problema é que, este tipo de voto só vem confirmando o (auto) isolamento do cidadão do processo político. Aos poucos a ideologia, a ética e a política deixam de fazer parte da disputa eleitoral. Porque?
Segundo Eric Hobsbawn, em seu livro “Globalização, Democracia e Terrorismo”, o processo de privatização do Estado, iniciado desde da década de 70 (século passado), vem tirando das mãos dos governos as decisões e rumos a serem tomados, em benefício do bem estar da população.
Com a privatização dos serviços públicos, a lógica do “custo x benefício” muda do bem estar social para o lucro empresarial (mercado). O governante ou candidato, pode ter boas intenções e ideias e, ser eleito em consequência delas. Mas, na hora de governar, se o lucro estiver no oposto de sua campanha, é lá que a empresa detentora do serviço (público) irá trabalhar.
Como a lógica do mercado precisa cada vez menos da participação do cidadão, e mais do consumidor, o processo eleitoral vem mudando da disputa política ideológica para a disputa da melhor produção midiática. Por isso, em países de voto não obrigatório como os EUA, presidentes são eleitos com próximos 25% do total de votos possíveis. No Brasil, fica-se assustado com índices de abstenção próximo aos mesmos 25% (onde o voto é obrigatório). Nas atuais democracias liberais, bastam os mesmos 25% para se eleger Executivos e Parlamentos.
Por conta do exposto, vamos defender o fim da contagem de votos, a que se resume o atual processo? Claro que não! Nem eu e, com certeza, Hobsbawn defende algo perto disso.
Sempre afirmei e reafirmo que a democracia é muito difícil. Fácil é a ditadura – “baixa o pau e pronto” - seja feita a “minha” vontade.
Hoje, o processo ditatorial vem mascarado pela democracia de mercado. Não precisa-se mais “descer o pau”. Basta descaracterizar a Eleição. O poder econômico é quem decide quem participa ou não dos benefícios democráticos – leia-se do mercado. Processo ainda mais perverso que a ditadura explícita.
Por isso temos os “Tiriricas” (com e sem diplomas) dirigindo a nossa vida, enquanto representantes do povo. A consciência desta situação, talvez evitasse os 1,5 milhões que ele teve.
Te abraço.
Sérgio Mesquita.