Tristezas e
Alegrias comungam o mesmo espaço e tempo
Em pouco mais de
48h encontrei-me na música “Encontros e Despedidas”, de Milton e Brant. Naquela
estação do interior onde, entre a chegada e a partida do trem, sorrisos, vivas
e choros. O abraço da chegada e o adeus da partida.
Ao tomar
conhecimento do assassinato dos cinco jovens no condomínio Minha Casa Minha
Vida, de Itaipuaçu, o Carlos Marighella, tristeza e preocupação tomaram conta
de meu corpo. Lembrando Garcia Marquez, mortes anunciadas. Previsíveis neste
Brasil envolto no caos e na falta de conhecimento e respeito às leis. Um país
onde os criminosos possuem código de conduta e aqueles que deveriam zelar pelas
leis e segurança, praticamente, não as respeitam nem possuem quaisquer condutas
morais ou éticas. Que fique registrado aqui, existem as exceções nas pontas da
corda, mas infelizmente, do lado das pessoas que deveriam ser “do bem”, cada
vez menos, por conta do Golpe e seu incentivo ao fascismo.
O que aconteceu
no Carlos Marighella poderia ocorrer em qualquer área de empobrecidos do país.
Mas em Maricá, a “coisa” torna-se emblemática, pois o município tem se
apresentado como o de maior crescimento econômico e gerador de empregos no
Estado do Rio de Janeiro. Mas ao contrário do que muitos pensam e comemoram,
“Maricá ser uma ilha”, a solução está exatamente em NÃO ser uma ilha. Não nos
adianta viver “em prosperidade”, cercados de pobreza e/ou de violência. Como
também não nos adianta viver em prosperidade se não tivermos a população
empoderada e participativa, em vez de tutelada.
Ainda de cabeça
cheia por conta dos assassinatos, vou à formatura das primeiras turmas do
Instituto Federal Fluminense, campus
avançado Maricá. O trem da chegada, pois o da partida já foi acima.
Vendo aqueles
estudantes inflados pelo orgulho, juntos com seus familiares e amigos, igualmente
inflados, resolvi “vampirizá-los” tomando emprestado um pouquinho daquela
energia de luz e animar-me para o evento. Maricá conseguiu trazer o IFF para o
município e, estamos prestes a entregar sua nova sede em Ubatiba, com
capacidade para 1200 alunos. E mais: este ano o Ensino Médio/Técnico poderá ser
mesclado com o Ensino Superior, um verdadeiro avanço para cidade. Uma grande
valia no empoderamento de nossa população. Ensino de qualidade e “gratuito”.
Solenidade bem
organizada, só alegria e felicidade dos presentes. Mas o clímax do evento, na
minha opinião, foi o fechamento da solenidade, através da fala do Magnífico
Reitor Jeferson Azevedo. Não foi uma fala política partidária e/ou eleitoral, e
sim, uma fala com muita política, voltada à formação moral e profissional dos
estudantes presentes.
O Reitor começou
expondo a importância de se ter cursos como IFF no município, pois não só
cuidam dos que lá estão, lucra o município como um todo, pois o saber e a
formação humanista que acompanham os cursos técnicos espalham-se além dos muros
do Instituto. Segundo o Reitor, há um alargamento das fronteiras municipais
pelo saber.
Na segunda parte o
Reitor fala diretamente aos então já formados. Quase de costas para a plateia,
olhando nos olhos de seus ex-estudantes, informa que aquele curso não havia
sido “gratuito”, pois cada familiar e demais presentes haviam pago a
“mensalidade” do curso. “Cada um dos 14 milhões de desempregados, hoje, no
Brasil, também pagou para que vocês estudassem”, disse. Em seguida destacou a importância
das escolhas que fariam a partir daquela data, como profissionais e como
pessoas; das escolhas que podem dar certo ou errado, devido uma decisão
equivocada ou por conta da ganância. Ilustra o discurso com o acidente, hoje
esquecido, em Mariana (MG), causado pela mineradora Samarco e fala aos alunos
dos milhares de pescadores que ficaram sem seus sustentos por causa da poluição
do Rio Doce. “Eles, também, custearam seus estudos”, concluiu. Uma verdadeira
aula de cidadania.
Ao encerrar a
solenidade, um pouco mais recomposto, fui agradecer o
Reitor pelas palavras e pedi um abraço, prontamente, atendido.
A aula do Reitor Jeferson
Azevedo deve servir de exemplo para a atuação dos membros do governo junto à
população, pois todos temos responsabilidades em aprender e a trocar
experiências. Precisamos fazer entender que tudo tem um custo, e este custo é
dividido por todos. Vamos alargar nossas fronteiras, dividindo
responsabilidades, custos e dividendos.
No dia seguinte,
conversando na Secretaria sobre a formatura e a fala do Reitor, Délcio Teobaldo
comenta que o teor do discurso segue a mesma linha do raciocínio “leitmotiv” (interdependências sociais)
expresso no poema “Moça tomando café”, do poeta modernista Cassiano Ricardo:
Num salão de Paris
a linda moça, de olhar
gris,
toma café.
Moça feliz.
Mas a moça não sabe,
por quem é,
que há um mar azul,
antes da sua xícara de café;
e que há um navio
longo antes do mar azul…
E que antes do navio
longo há uma terra do Sul;
e antes da terra um
porto, em contínuo vaivém,
com guindastes
roncando na boca do trem
e botando letreiros
nas costas do mar…
E antes do porto um
trem madrugador
sobe-desce da serra a
gritar, sem parar,
nas carretilhas que
zunem de dor…
E antes da serra está
o relógio da estação…
Tudo ofegante como um
coração
que está sempre
chegando, e palpitando assim.
E antes dessa estação
se estende o cafezal.
E antes do cafezal
está o homem, por fim,
que derrubou sozinho a
floresta brutal.
O homem sujo de terra,
o lavrador
que dorme rico, a
plantação branca de flor,
e acorda pobre no
outro dia… (não faz mal)
com a geada negra que
queimou o cafezal.
A riqueza é uma noiva,
que fazer?
que promete e que
falta sem querer…
Chega a vestir-se
assim, enfeitada de flor,
na noite branca, que é
o seu véu nupcial,
mas vem o sol,
queima-lhe o véu,
e a conduz loucamente
para o céu
arrancando-a das mãos
do lavrador.
Quedê o sertão daqui?
Lavrador derrubou.
Quedê o lavrador?
Está plantando café.
Quedê o café?
Moça bebeu.
Mas a moça, onde está?
Está em Paris.
Moça feliz.
Há braços,
Sérgio Mesquita
Sec. de Ciência, Tecnologia e Comunicações