O título desse texto é inspirado no livro “O leopardo” de Giuseppe
Tomasi di Lampedusa. Escritor do século XIX que retrata a política na Itália e
as influencias da Revolução Francesa e a luta de Garibaldi por sua unificação.
A frase do título é o resumo do que pensava a nobreza em decadência que não
queria a República, mas sabia que dependia de uma aliança com a rica burguesia
de então.
É notório que foi isso exatamente o que o PT fez ao longo
desses anos em Brasília, mudou tudo para deixar como estava. Fez com excelência
a distribuição de renda, recuperou a indústria petrolífera e naval do país, gerou
empregos, dinamizou o mercado interno e levou nossas relações comerciais e
políticas para muito além das fronteiras do EUA. Deixamos de ser cucarachas e
passamos a ser respeitados como um parceiro importante para o equilíbrio
político nas Américas, África e no mundo Árabe. Mudamos tudo e nos tornamos um
país capitalista confiável, quem tinha já muito passou a ganhar muito mais. Até
aí, na paz com as grandes corporações internacionais, apesar das empresas
brasileiras começarem a disputar mercado lá fora.
“Mas a vida é cheia de surpresas”, como os Melhores do Mundo
apesentavam em seu show contando a história de Joseph Climber. Veio o pré-sal e
a acertada decisão de declará-lo nosso, como bem coloca Márcio do Valley em seu
texto “Os EUA por trás dos golpes, as garras da águia”. A partir de 2006 a
imprensa que aceitava o PT, virou sua inimiga feroz, o judiciário esqueceu toda
e qualquer noção de legalidade e passou a julgar a todos e todas – do PT –
politicamente, de forma descarada a ponto de não caber o dito popular “aos
amigos tudo, aos inimigos à Lei”, pois a Lei no STF de hoje, é letra morta.
Hoje, o título acima não cabe mais, pois está sendo adaptado
para algo mais ou menos assim: “Algo deve mudar, para que tudo fique COMO ANTES
DE 2002”. Já cansei de dar exemplos que justifiquem o novo título. Estou
cansado de dizer que hoje, a Lava Jato, como foi o Mensalão, nunca quiseram acabar
com a corrupção. Sempre tiveram o objetivo de tirar o PT de Brasília e devolver
os grandes empreendimentos para as corporações internacionais. Destrói-se as
empresas nacionais a partir do falso expediente da luta contra a corrupção.
Porque se assim fosse, metade do Congresso provavelmente estaria deposto e
preso, mas aos amigos, nem a Lei.
Encerrarei esse texto, com dois exemplos que justificam o
colocado acima, um sobre o Mensalão, e outro sobre a Lava Jato.
Vou reproduzir trecho do livro “A Outra História do Mensalão”
do Paulo Moreira Leite, onde reproduz editorial da Folha, à época da cassação
ou não do Zé Dirceu pelo STF, na página 37:
Para Folha de São Paulo, foi “um mau passo” (Editorial,
18/12/2012, pg 2) “STF extrapolou suas funções ao determinar, pela via
judicial, a perda de mandatos conferidos pela vontade popular. Mais razoável
seria, como argumentaram os Ministros vencidos, atribuir aos demais
representantes eleitos pelo povo a responsabilidade de cassar seus pares”. Em
outro trecho, o jornal questionou: “Com a decisão de ontem, como evitar que, no
futuro, um STF enviesado se ponha a perseguir parlamentares da oposição? Algo
semelhante já aconteceu no passado, e a única garantia contra a repetição da
história é o fortalecimento institucional”.
Vejam bem, a Folha participou ativamente da farsa do
Mensalão. Seu posicionamento, posso estar errado, não foi pela manutenção do
Estado de Direito, e sim por um temor futuro, de poder estar do outro lado e
ter um STF fazendo o que não lhes interessa, como acontece hoje. Não se
enganem. Agora Lava Jato.
A prisão daquele que nunca me enganou, o ex-PSDB
arrependido, hoje “new” PT, Delcidio Amaral. Corrupto deste a época de FHC (foi
quem o colocou com o Cerveró na Petrobras), hoje, como dizem os populares, por
estar no PT, foi preso pelo juiz Moro que, a exemplo do que aconteceu no
Mensalão, rasga as Leis de acordo com ”seus” interesses. Um parêntesis, bem
feito para o Senador e, para o PT que o aceitou, fecha o parêntesis. Cito como
exemplo o texto de Bruno Milanez (Doutorando e Mestre em Direito Processual
Penal. Especialista em Direito Penal e Criminologia. Prof. De Direito Penal e
Advogado Criminalista), publicado no sítio “JusBrasil” que, resumidamente,
deixa claro de quanto foi ilegal a prisão do Senador.
A partir dos votos dos Ministros do STF, Bruno cita o
Ministro Eros: “... No caso que hora cogitamos, esse falso princípio estaria
sendo vertido na máxima segundo a qual ‘não há direitos absolutos’. E, tal como
tem sido em nosso tempo pronunciada, dessa máxima se faz gazua apta a arrombar
toda e qualquer garantia constitucional. Deveras, a cada direito que se alega o
juiz responderá que esse direito existe, sim, mas não é absoluto, porquanto não
se aplica ao caso. E assim se dá o esvaziamento do quanto construímos ao longo
dos séculos para fazer, de súditos, cidadãos. Diante do inquisidor não temos
direito. Ou melhor, temos sim, vários, mas como nenhum deles é absoluto, nenhum
é reconhecível na oportunidade em que deveria acudir-nos.” (Voto do Ministro
Eros Grao no Julgamento do HC 95.009/STF).
“canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/261756295/prisao-cautelar-de-senador-pode-ate-ser-bem-intencionada-mas-e-inconstitucional”
Encerrando. Depois do exposto, alguém ainda acredita que o
Golpe não já foi dado? Que o que discutimos agora é seu aprofundamento, até
onde vai? O Ministro Eros já deixou claro, não existe mais Estado de Direito.
Nossa mídia que apoiou a ditadura e seus assassinatos está aí, mais uma vez,
como em 54, 64, Anistia, Diretas, Collor e FHC, defendendo seus interesses,
submissas as grandes corporações internacionais e que se dane o povo.
Não eximo de responsabilidade, aqueles como eu, que são do
PT. Pois o PT não teve coragem de combater a mídia e realizar as reformas que
deveria pelo menos tentar. Mudamos para deixar como está. Mas isso não pode
fazer com que eu, e você que passeia em Copacabana, na Paulista e na Liberdade,
quando convocados pela Globo, Cunha e Aécio, permitamos que se acabe com o
Estado de Direito. No fascismo do Moro, nos destemperos do Barbosa e aliados,
ninguém terá direito, tendo ou não votado e “x” ou “y”. Tenho pena do futuro de
meus filhos e prováveis netos. Se não no fascismo político, lhes restarão o
fascismo fundamentalista religioso... que merda. Mas a luta continua e de
cabeça erguida. Não passarão!
Te abraço,
Sérgio Mesquita