Em 13.07.20, o El País publicou
a seguinte matéria: “Como o coronavírus vai mudar nossas vidas: dez tendências
para o mundo pós pandemia”. Excelente matéria onde concordo com o colocado lá,
porém com ressalvas. Por quê?
Acabei por lembrar do excelente
livro do Alvin Toffler, “A Terceira Onda”, onde a questão do “home office” já
era tradada ainda no começo da década de 80, quarenta anos atrás. Um dos
problemas colocados foi que, casais que se davam bem, poderiam vir a brigar
mais por conta da convivência ou, a se conhecerem mais por conta desta mesma
convivência. O que é verdade. Vemos isto nos dias de hoje. O que me incomodou
foi que, questões como carga horária a ser prestada, trabalho nos fins de
semana, e outros problemas, não foram levados em conta. Problemas estes que se
repetem/continuam nos dias atuais. A ponto da França, proibir e-mail de
trabalho fora do horário do expediente, como um rápido exemplo.
Participo de grupos de
discussão sobre nova governança das cidades, renda básica – moro em Maricá,
onde mais de 40 mil moradores recebem uma renda em sua moeda local - e o futuro
do trabalho. Não existe incoerência entre os desejos e o que a tecnologia
poderá nos permitir fazer. O problema está em nossas cabeças e, em especial, na
cabeça dos donos das corporações, do empresariado em geral, que no Brasil, em
sua esmagadora maioria, é escravocrata.
Como lidar com pessoas que, ao
menor movimento de “abertura” do isolamento, lota os shoppings, bares e deixam
de promoverem festas as escondidas? Como convencer estas pessoas, onde algumas
voltam a discutir se a Terra é plana, dos benefícios e das responsabilidades
que, a mesma tecnologia que pode nos permitir uma vida longa, também pode nos
matar? Como convencer as corporações, aliadas ao “deep state”, o estado
profundo, seja de qual banda for, em não enxergar o isolamento social como
possibilidade de confinamento/reclusão das populações para que não aconteçam
manifestações? Como convencer ao “deep state” a não usar o chip ID2020,
proposto pela ONU como um chip de identificação pessoal, em um chip de
vigilância? A pandemia não gerou crise financeira, ela foi o alfinete que furou
a bolha que escondia a crise. A crise é mais uma do sistema capitalista que,
até hoje não resolveu a sua primeira crise, ainda no século XIX. O capitalismo
sempre contorna suas crises, e atual não é exceção. O “deep state”, estuda a
substituição do capitalismo financeiro, pelo capitalismo de vigilância. Mais
uma mágica que não discutimos, mas eles estão.
A pandemia, não nos leva só a pensar em mudanças em nossa
vida, para melhorar a nossa qualidade de vida e da manutenção do planeta. Para
nós é fácil! Mas não podemos ignorar que existe um “lado negro da força”, que
continuará desmatando, produzindo plásticos e derivados do petróleo até a exaustão
da fonte e/ou perda de sua lucratividade. A experiencia de isolamento social,
de quase metade da população, está sim, sendo estudada como possibilidade de futuras
confinamentos/prisões domiciliares em massa pelos os defensores do capitalismo,
dos “bonzinhos” aos perversos. O mesmo Hobsbawm citado na matéria, define bem a
democracia ocidental em seu texto “As perspectivas da democracia”, publicado em seu livro
“Globalização, Democracia e Terrorismo”:
“(...) A
política, por conseguinte, continuará. Como continuaremos a viver em um mundo
populista, em que os governos tem que levar em conta ‘o povo’, e o povo não
pode viver sem os governos, as eleições democráticas também continuarão. Hoje
existe um reconhecimento praticamente universal de que elas dão legitimidade e
proporcionam aos governos, paralelamente, um modo conveniente de consultar ‘o
povo’ sem necessariamente assumir qualquer compromisso muito concreto. (...)”. Trocando em miúdos, capitalismo não combina com democracia.
Finalizando, defendemos em Maricá,
que as tecnologias devem ser trabalhadas como ferramenta de resgate das
humanidades. O momento não é de radicalização de soluções, acredito mais nas
soluções híbridas, que envolvam a tecnologia e os olhos nos olhos. Pois não
enxergo a possibilidade de existência de ambientes criativos com você isolado
em quarto. E não devemos ignorar que existem no mundo, aqueles que pensam
diferente da gente.
Certo é que a Luta continua, e
continua sendo de Classe.
“Transformar
em insuportável o que hoje é aceitável”
Octávio
Ferraz
Há braços,
Sérgio Mesquita
Diretório
Municipal PT-Maricá/RJ