quinta-feira, 3 de junho de 2021

PENSAR FORA DA CAIXINHA

 PENSAR FORA DA CAIXINHA

Lendo o livro “O tempo de Keynes nos tempos do capitalismo”, do Luiz Gonzaga Belluzzo, deparo com uma descrição, segundo Keynes, de algumas das qualidades necessárias para que seja considerado um economista-mestre. Escrita no prefácio do livro por Sérgio Lírio da revista Carta Capital:

“O economista-mestre tem que possuir uma rara combinação de dons. Ele tem de ser matemático, historiador, estadista, filósofo – em algum grau. Ele tem que compreender símbolos e falar em palavras. Tem que contemplar o particular em termos do geral, e tocar o abstrato e o concreto no mesmo voo do pensamento.”

Segundo Sérgio: “Os atuais comentaristas econômicos, ao menos os brasileiros, já tem dificuldade para unir o sujeito e o  predicado, imagine ‘tocar o abstrato e o concreto’ ao mesmo tempo.”

Imaginemos esta definição, transportada e adaptada na Saúde, na Educação, no Planejamento, enfim, em todas as áreas de atuação, sejam municipais, estaduais ou federal. Não seria mais interessante? Mais participativo?

Keynes nos brindou com esta definição no começo do século XX e lemos e ouvimos nestes tempos atuais, a importância da intersetorialidade, da multidisciplinaridade como movimentos atuais, 2.0, 3.0, ... como a solução para resolver os problemas sociais, econômicos e, em tempos de pandemia, um efetivo resultado contra a expansão da pandemia e o controle da COVID-19. Ou seja, para que reinventar a roda, se ela está aí para, a partir das atualizações necessárias, possamos avançar enquanto governos e sociedades cooperativas? Por que continuamos a nos render ao discurso fácil do individualismo, da meritocracia? Por que permitimos a existência de prefeituras dentro de Prefeituras, estados dentro Estados? Não seria um projeto mais bem realizado com eficiência e eficácia, se fossem de todos e não somente de um, se fosse participativo?

Assisti em uma palestra promovida pelo PNUD e a Petrobras, para os municípios que sofrem impactos diretos dos projetos da Petrobras, que a Prefeitura de Francisco Morato, com seis meses de governo, socializou entre seus funcionários a importância da Agenda 2030 da ONU. E realizou o seu PPA de forma participava com a sociedade. Ao final de seu primeiro mandato, a prefeita foi reeleita com mais de 90% dos votos e seu PPA cumprindo em 90%.

Todos os projetos foram pensados a luz dos indicadores dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 da ONU. O que permitiu a Prefeitura e a população identificar como importantes, naquele momento, ações a serem tomadas. Como a Agenda 2030 é totalmente interdisciplinar, e multidisciplinar e, em seu 17º ODS – Parcerias e meios de implementação, deixa claro que a existência de parcerias, interações e iteração são importantes. Imagine a redução do índice de mortalidade infantil, trabalhando-se somente no campo da Saúde, com bons equipamentos, atendimento e profissionais? Qual seria o impacto na mortalidade pós-natal se continuar a existir fome, não ter Educação, Segurança, Justiça e seus Direitos garantidos? Pode-se baixar o índice da mortalidade pré-natal, mas a falta de alimentação adequada e suficiente, a morte por alta criminalidade e falta de Justiça, deve aumentar com o índice de mortes no município.

Por isso, a definição do economista-mestre, deve ser inspiradora a todas as áreas de relacionamento humano.


Há Braços,
Sérgio Mesquita

 

Tornar imperdoável o que hoje é aceitável.
Délcio Teobaldo

 

 

 

 

segunda-feira, 31 de maio de 2021

A CAMINHO DA IDADE MÉDIA

        Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.

Voltaire 

Nunca uma frase, dita lá pelo século XVI, vem representar tão bem o momento pelo qual passamos em Maricá, no Brasil e possivelmente no mundo. Se não existisse Deus, teria que ser inventado de maneira que sua história nos remetesse a Idade Média, a Idade das Trevas. Somente assim, poderemos tentar entender o que nos acontece hoje, com mais de 450 mil mortes, somente no Brasil, por conta de ações que nos leva a pensar como criminosas no combate (diria incentivo) a COVID-19.

Cito a Idade Média, porque foi o período em que Deus era responsabilizado pelas alegrias da vida, bem como pelas suas tristezas, em especial – as tristezas. Se você era pobre, doente, passava fome ou não tinha como pagar os impostos, a “culpa” era da vontade de Deus. Ele era o responsável, segundo os que não passavam fome, tinham terras e/ou eram nobres, diziam para o grosso da população empobrecida. A vontade de Deus era quem comandava o mundo, não as intrigas entre os nobres e suas guerras por posses.

Hoje, incluído no grupo que cresce geometricamente, daqueles que conhecem alguns CPFs “cancelados”, em consequência do genocídio em andamento no Brasil, fico assustado com as reações da grande maioria das pessoas. Não porque sejam falsas, sei que não são. São reações de sofrimento pela perda recente de um amigo ou amiga, um/a colega de trabalho, um/a parente. Em algum momento, por conta desse governo instalado em Brasília, cada brasileiro/a conhecerá alguém que faleceu por conta da COVID. Caminhamos para esta triste realidade.

Mas o que me faz lembrar o aprendido nas salas de aulas e nos filmes que retrataram a vida dos cavaleiros e suas armaduras na Idade Média? O preocupante fato, pelo menos para mim, de que uma imensa maioria de manifestações de solidariedade, serem jogadas aos ombros de Deus, do Nazareno, do Misericordioso. Ele será quem curará os enfermos, ele que vai cuidar das famílias enlutadas, ele vai nos dar força, ele, ele, ele... Onde fica o “livre arbítrio”? Sufocado como foi por centenas de anos na Idade Média? Não!

Se nos foi permitido o “livre arbítrio”, que o usemos para denunciar o que estão fazendo conosco. Como na Idade das Trevas, os senhores de hoje, estão achando ótimo que nossa tristeza nos imobilize, e como lá, aceitemos que tudo não passa da vontade de Deus, uma vez que transferimos para ele, através de nossas mensagens de solidariedade, e somente a ele o ato da cura, da salvação.

Devemos a cada mensagem, a cada pesar, deixar claro para todos que sabem o porquê e para quem interessa a falta de ação no enfrentamento da COVID. Deixar claro que sabemos quem são os responsáveis aqui e fora do Brasil, que calados, torcem pelo não impeachment do Bolsonaro. Deixar claro que a mídia corporativa, que sempre apoiou golpes e assassinatos, continua com a mesma postura contrária ao bem-estar da população. Sim, para eles, cada morte significa uma despesa a menos, seja com benefícios ou com a Educação e Saúde. Significa bilhões e bilhões de lucro aos bancos e financeiras. Esse é o Brasil do Bolsonaro, do Aécio, Temer e uma infinidade que se acham lordes, senhores feudais, mas que na realidade, não passam de gerentes do engenho.

Professemos nossa Fé, mas não como vassalos, mas como gente que somos. Gente que quer amar, ter uma casa, alimentação, saúde e educação. Gente que quer ter condições de viver dignamente, de cabeça em pé. Nada disso contradiz nossa Fé, seja nos Deuses, seja nas pessoas. Lembrando Saramago - queremos um Direito que nos reconheça e uma Justiça que nos atenda - independente da nossa Fé.

Devemos por direito e necessidade, apontar os responsáveis pelas mais de 450 mil mortes, em especial, daquelas que conviviam conosco. Devemos isso a elas.


Há braços.
Sérgio Mesquita


“Transformar em imperdoável o que hoje é aceitável”
Délcio Teobaldo