Começo esse texto sem negar as enormes melhorias
que aconteceram no país desde as eleições de 2002. A ideia é discutir a que
preço conquistamos essas mesmas melhorias e o que fazer daqui para frente.
O PT e a esquerda em geral, parece ou fingem não
entender que as forças que realmente detém o poder no Brasil - os donos do capital
- estão com a “faca e o queijo” na mão. Pior, “faca e queijo” cedidos a eles
por conta do nosso abandono das ruas e acreditar que as redes sociais poderiam
substituir a política. Grande engano, as redes podem marcar eventos e expor as
mentiras de nossa mídia. Mas a política de verdade não é feita nas redes e
muito menos nos interiores dos gabinetes e corredores de Brasília. Ela é feita
olho no olho, ombro a ombro, como “nos antigamente”. Ao abandonarmos o olho no
olho, deixamos de priorizar as relações horizontais e passamos a adotar as
relações verticais, o tal “centralismo democrático” que não prioriza as
discussões na base do partido, revivendo em alguns momentos o pior do
“stalinismo”.
Passamos a apostar nos projetos pessoais mais do
que nos projetos (planejados e/ou executados) de transformação das cidades e
seus cidadãos. As ações passaram a visar a manutenção dos cargos e mandatos a
qualquer custo, mesmo que esse custo venha a ser o abandono dos princípios políticos
que nos norteavam. Abrimos mão da discussão com a militância ao implantarmos o
PED e deixar de lado os Núcleos e Setoriais, que até então eram a alma do
Partido. Expulsamos parlamentares e deixamos que outros saíssem sem uma
discussão aprofundada sobre o que realmente estava acontecendo, quais os reais
interesses. Essa “nova” visão do Partido trouxe nomes da oposição para a
legenda, negociou votos para o Rodrigo Maia na Câmara ou mesmo, a sobrevivência
à Lava Jato.
Por outro lado, os reais donos do poder - os donos
do capital, perceberam que o mesmo estava em disputa, em jogo. Parcela do PT
passa a disputar o poder “por cima”, através de acordos que nos colocaram
permissivos ao uso abusivo das doações financeiras. Entendido isso, os donos do
capital passam a atuar estrategicamente na desconstrução da imagem do PT e de
suas principais lideranças. Usam e abusam da falta de normatização da mídia e
fecham acordo com uma classe até então “ignorada” politicamente, os juízes,
promotores e procuradores, o Judiciário. As corporações estrangeiras também se
colocam partícipes dessa estratégia, calando o governo americano em relação ao
Golpe. São pelo menos 12 anos de massacre midiático que desembocaram no
julgamento da AP 470, o Mensalão. Julgamento que arranhou, mas não impediu a
vitória eleitoral do PT no Governo Federal, porém o Congresso Nacional começou
a ser reconfigurado. Na reeleição da Dilma, a Lava Jato tentava terminar o que
o Mensalão não conseguiu. De novo mantivemos o Governo Federal, mas o Congresso
se transformou no pior Congresso da história brasileira. Nem a Ditadura obteve
tal vitória. De lá para cá, o Brasil tem sua imagem e sua recente história destruída
e achincalhada internacionalmente. Nossos “homens” da justiça, comprometidos
com o “andar de cima”, rasgam as Leis, a Constituição e qualquer vestígio de
moral pública ou individual. Voltamos a ser vistos, como uma República das
Bananas como no início do século XX. Nada do que relatado aqui, incomoda os
donos do poder, aqui e muito menos nas corporações estrangeiras de olho em
nossas riquezas, em especial o petróleo. No dicionário deles, moral e
princípios não existem para além de servi-los.
Hoje, no ano de 2016, mesmo depois de tudo que
aconteceu, mesmo com o impeachment da Dilma em vias de ser aprovado definitivamente
no Senado, o Partido continua dividido. Parte insiste nos acordos com o “andar
de cima”, e parte tenta reviver as ruas. Mas os dias são outros, os mais
empobrecidos continuarão fora das ruas, e a classe média que antes formava alguma
opinião a nosso favor, hoje, com boa vontade, está dividida por conta do
massacre midiático e cultural do projeto neoliberal. Os movimentos de 2013 não
serviram de aprendizado, nem para a classe dominante, apesar de terem se
apropriado do movimento e, muito menos, para parte da esquerda que não entendeu
a mensagem colocada pela juventude. Mesmo as ocupações das escolas em São Paulo,
com seu caráter totalmente horizontal, conseguiu abrir os olhos de alguns
parlamentares e dirigentes políticos/sindicais.
Fato mesmo, é que a juventude já mandou o recado -
o modelo está esgotado e não os representa mais. Precisamos mudar nossa forma
de fazer política ou teremos pela frente um bom tempo de governos fascistas
esquizofrênicos (que defendem o livre mercado). Precisamos construir juntos com
a juventude uma nova forma de fazer política.
Abaixo, após o poema do Bertold, segue o texto do
companheiro Marcos de Dios. Até porque, nada é imutável.
Sérgio
Mesquita
Secretário
de Formação do PT-Maricá
NADA É
IMPOSSÍVEL MUDAR
Bertold
Brecht
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
A crise política vivida na América Latina e pela
sociedade brasileira está interligada a uma disputa interna entre frações das
classes dominantes pelo controle do aparelho do Estado. A disputa é dada entre grupos “desenvolvimentistas”,
que pensam o estado nacional e grupos “financistas” que defendem o livre
capital, o livre mercado. Ambos capitalistas. No outro lado da moeda, temos os
partidos de esquerda, burocratizados e verticalizados, estranhando setores da
sociedade, das classes populares, que estão gestando uma nova concepção de
valores morais e familiares. Construtores de uma nova ética social baseada na
verdade, na horizontalidade e respeito à autoridade constituída pelo diálogo
conflituoso das relações interpessoais e o bem estar do Planeta. Construindo
uma nova institucionalidade em todos os campos (família, escola, trabalho, política,
economia, nas relações de Amizade e Amorosas,...), e lutando para romper com o
papel que temos enquanto nação na divisão internacional do trabalho, nos
imposto desde o período colonial. Construir uma nova unidade de esquerda,
baseada não na uniformidade, pois respeitará as diferenças, formulará e
discutirá horizontalmente as propostas programáticas que irão nos mover em
direção a uma organização plural e democrática na sua radicalidade. Resistir
através da transformação da realidade que nos cerca e principalmente, deixar de
lado momentaneamente os interesses do meu grupo político em nome de um Projeto
Maior, possibilitador da esperança construída coletivamente para uma sociedade
mais solidária, humana, sustentável e como consequência, mais Justa e Amorosa.
Marcos de Dios
Prof. De Filosofia e História
Secretaria de Formação PT-Maricá