terça-feira, 9 de junho de 2020

NOVO NORMAL, OU COCÔ ENFEITADO?

Não me importo com padrões.
Os princípios da normalidade são estabelecidos
por homens anormais, capitalistas, corrompidos e inconstantes.


A princípio, também gostei da possibilidade do pós pandemia nos levar a um mundo novo, e continuo gostando desta possibilidade. Novos paradigmas de relacionamento, atenção com o Ambiente, e um novo enxergar sobres as reais necessidades, individuais e coletivas. Porém, com o andar da carruagem e a cabeça pensando melhor, após leituras, “lives” e muito debate com os amigos, a ficha cai.  Para que isso fosse possível, não devemos esperar pelo retorno da normalidade e nem de um Novo Normal, termo badalado nos dias de hoje. Precisamos é de uma sacudida geral, espanar a poeira dessa tal normalidade, que pelo menos a quatro séculos nos explora a favor de uma pequena minoria. Pequena mesmo! Segundo o relatório Oxfam, de 2019, 26 pessoas acumulam a mesma riqueza que a metade da população mundial, algo como 3,5 bilhões de pessoas (26 x 3.500.000.000).

Desejar uma nova normalidade, na prática, é aceitar mais uma reinvenção do sistema, na busca de contornar a sua enésima crise, sem resolver a sua causa primeira – prática histórica. Depois de todos os medos, mortes e privações será este o nosso desejo? Mudar para deixar tudo como está, lembrando Giuseppe di Lampedusa em seu livro, “O Leopardo”, denuncia.

É preciso estar atento e forte, como na música de Gil e Caetano. Pois os donos do poder estão trabalhando o seu (nosso) novo normal. E pelo o que as redes nos tem denunciado, este novo normal começa a ter como apelido o termo “Capitalismo de Segurança”, em substituição ao atual, Financeiro, que substituiu o Industrial, que substituiu o Mercantil. O recheio do bolo é o mesmo, a cobertura muda, ou, como colocado no título, o cocô se apresenta mais cheirosinho.

O perverso do Capitalismo de Segurança, é sua aposta na potencialização do nosso sentimento de proteção individual e de proteção aos demais da possibilidade de você transmitir o vírus, ao praticarmos o isolamento social. Quase metade da população do mundo, se isolou na expectativa de findar a pandemia. Os donos do poder, através da mídia, nos passam a ideia de estarmos em uma guerra contra o vírus, militarizando os termos usados na busca do tratamento, além das ameaças de se colocar os exércitos nas ruas e mudar as leis, como colocam Trump e seus vassalos.

As manifestações públicas, as provocadas pela pandemia e as demais, como as recentes, provocadas pelo assassinato do Floyd no EUA, começam a ser tratadas como atos de terrorismo, para em seguida, deturpando a ideia inicial da ONU e a proposta de implantação do chip ID2020 nas pessoas, o usar para o controle das mesmas. O Isolamento Social, passa a ser normalizado para ser pensado como futuros confinamentos ou prisões domiciliares em massa, pelo “novo” Capitalismo de Segurança.

Por essas e outras, me recuso a usar o termo “novo normal”.

Há braços.

Sérgio Mesquita
Secretário de Ciência e Tecnologia e Comunicações de Maricá-RJ
Diretório Municipal PT/Maricá