“O que mais
me custa a aceitar é o apetite camaleônico de alguns que os leva a adaptar-se
com demasiada facilidade ao que lhe é imposto. Fiz jornalismo durante três
anos. Recordo-me ainda da autocensura que éramos obrigados a fazer, por forma a
fazer passar o que pretendíamos. Mas a situação ajudou-nos a escrever nas
entrelinhas, o que não acontece hoje”.
José Saramago
O QUE NÃO ACONTECE HOJE
Normalmente inicio meus textos com o título e
depois alguma citação. Inovei. A partir da citação, o Título. Na realidade, o
texto será uma tentativa de uma carta aberta, aos profissionais da mídia
oficial. Em especial, àqueles que deveriam ser especiais, os jornalistas e os
“comentaristas”, que por conta de suas “camaleonices”, viraram animadores de
plateia.
Mentem ou escondem a verdade, mesmo que no dia de
amanhã, precisem desmentir ou expor a verdade sem qualquer rubor em suas faces.
Da mesma forma que a corrupção cresceu por conta do sentimento de impunidade, a
mentira e manipulação virou notícia por conta desse mesmo sentimento. Nunca foi
tão fácil criar, esconder ou supervalorizar uma situação, de maneira que fique
em total acordo com o pensamento da empresa, e não com a notícia, o fato em si.
Saramago explicita que tinha que fazer autocensura
e pensar, desenvolver linhas de pensamento, de maneira que, como colocado no
texto, nas entrelinhas, outra visão fosse transmitida. Hoje, essa preocupação é
inexistente, a entrelinha não existe mais. O que existe são manchetes, títulos
e “lides”, que expressam uma única opinião, a do empresário, acionista, que
apoia ou é contra o governo. Uma única verdade.
O problema é que chegará o momento, em que as
imagens e tintas não esconderão a realidade. A televisão e o jornal continuarão
a noticiar o mar de rosas ou uma pretensa desgraceira, mas os cidadãos irão
olhar para o lado e verão a realidade que estará em cada esquina, em suas portas.
E quando falamos em cidadãos, podem ser qualquer um, inclusive os jornalistas e
“comentaristas” responsáveis pelo atual circo de notícias, os camaleões.
Aqueles que esqueceram e os que nunca aprenderão a usar as entrelinhas para
exporem uma outra versão. Hoje, 08.12, comemorei meu aniversário – acontece
nessa mesma data há 59 anos. Comentei com os amigos, que pela primeira vez eu
ficava mais velho e meu tempo para aposentadoria aumentava em razão superior ao
aumento de minha idade. Antes, diminuía na mesma proporção. Vai ter como
esconder isso?
É certo que a classe dominante, os donos da
“bufunfa” já estão pensando em como viver em um planeta que destroem, e em como
não serem incomodados pelos demais mortais. Devem estar pensando em seus
Elysiuns ou em novas construções de muros, mais para a realidade dos dias de
hoje. Devem estar preocupados também, em como irão viver em um mundo
automatizado, cheios de robôs, mas sem qualquer espaço para o cidadão comum.
Mais muros? Mais controle de natalidade, disfarçado na distribuição de leite em
pó, como na década de 60 e 70? Ou teremos a nossa mídia escondendo dos
“afortunados” a desgraceira e, dos desgraçados, o mundo colorido que existe do
outro lado do muro. De novo a manipulação e a mentira.
O parágrafo acima foi colocado para que esses
jornalistas e “comentaristas” que se acham privilegiados, sócios do clube, do andar
de cima, caiam na real. Pois quando olharem para o lado e sentirem a realidade,
se descobrirão cunhas, cabrais, constantinos e moros. Meras ferramentas que
nunca serão aceitos no andar de cima, no clube. Quando isso acontecer, já não
terão as cores para se adaptarem à nova realidade. Suas “camaleonices” estarão
carcomidas pelos excessos que cometeram. Irão entrar em depressão? Andar pelos
cantos escuros das ruas, para não serem reconhecidos por aqueles que
tripudiaram? Não sei! A única certeza que tenho, é que comparar esses seres aos
camaleões é sacanagem. Minha e de Saramago.
Te abraço.
Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá