quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O QUE NÃO ACONTECE HOJE

“O que mais me custa a aceitar é o apetite camaleônico de alguns que os leva a adaptar-se com demasiada facilidade ao que lhe é imposto. Fiz jornalismo durante três anos. Recordo-me ainda da autocensura que éramos obrigados a fazer, por forma a fazer passar o que pretendíamos. Mas a situação ajudou-nos a escrever nas entrelinhas, o que não acontece hoje”.
José Saramago

O QUE NÃO ACONTECE HOJE

Normalmente inicio meus textos com o título e depois alguma citação. Inovei. A partir da citação, o Título. Na realidade, o texto será uma tentativa de uma carta aberta, aos profissionais da mídia oficial. Em especial, àqueles que deveriam ser especiais, os jornalistas e os “comentaristas”, que por conta de suas “camaleonices”, viraram animadores de plateia.

Mentem ou escondem a verdade, mesmo que no dia de amanhã, precisem desmentir ou expor a verdade sem qualquer rubor em suas faces. Da mesma forma que a corrupção cresceu por conta do sentimento de impunidade, a mentira e manipulação virou notícia por conta desse mesmo sentimento. Nunca foi tão fácil criar, esconder ou supervalorizar uma situação, de maneira que fique em total acordo com o pensamento da empresa, e não com a notícia, o fato em si.

Saramago explicita que tinha que fazer autocensura e pensar, desenvolver linhas de pensamento, de maneira que, como colocado no texto, nas entrelinhas, outra visão fosse transmitida. Hoje, essa preocupação é inexistente, a entrelinha não existe mais. O que existe são manchetes, títulos e “lides”, que expressam uma única opinião, a do empresário, acionista, que apoia ou é contra o governo. Uma única verdade.

O problema é que chegará o momento, em que as imagens e tintas não esconderão a realidade. A televisão e o jornal continuarão a noticiar o mar de rosas ou uma pretensa desgraceira, mas os cidadãos irão olhar para o lado e verão a realidade que estará em cada esquina, em suas portas. E quando falamos em cidadãos, podem ser qualquer um, inclusive os jornalistas e “comentaristas” responsáveis pelo atual circo de notícias, os camaleões. Aqueles que esqueceram e os que nunca aprenderão a usar as entrelinhas para exporem uma outra versão. Hoje, 08.12, comemorei meu aniversário – acontece nessa mesma data há 59 anos. Comentei com os amigos, que pela primeira vez eu ficava mais velho e meu tempo para aposentadoria aumentava em razão superior ao aumento de minha idade. Antes, diminuía na mesma proporção. Vai ter como esconder isso?

É certo que a classe dominante, os donos da “bufunfa” já estão pensando em como viver em um planeta que destroem, e em como não serem incomodados pelos demais mortais. Devem estar pensando em seus Elysiuns ou em novas construções de muros, mais para a realidade dos dias de hoje. Devem estar preocupados também, em como irão viver em um mundo automatizado, cheios de robôs, mas sem qualquer espaço para o cidadão comum. Mais muros? Mais controle de natalidade, disfarçado na distribuição de leite em pó, como na década de 60 e 70? Ou teremos a nossa mídia escondendo dos “afortunados” a desgraceira e, dos desgraçados, o mundo colorido que existe do outro lado do muro. De novo a manipulação e a mentira.

O parágrafo acima foi colocado para que esses jornalistas e “comentaristas” que se acham privilegiados, sócios do clube, do andar de cima, caiam na real. Pois quando olharem para o lado e sentirem a realidade, se descobrirão cunhas, cabrais, constantinos e moros. Meras ferramentas que nunca serão aceitos no andar de cima, no clube. Quando isso acontecer, já não terão as cores para se adaptarem à nova realidade. Suas “camaleonices” estarão carcomidas pelos excessos que cometeram. Irão entrar em depressão? Andar pelos cantos escuros das ruas, para não serem reconhecidos por aqueles que tripudiaram? Não sei! A única certeza que tenho, é que comparar esses seres aos camaleões é sacanagem. Minha e de Saramago.
Te abraço.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá