Para aqueles
que esqueceram, ou fingem terem esquecido, a participação dos EUA em 64 e o
Golpe, acordo MEC-USAID, os assassinatos, os golpes militares na América do Sul
e Central, as interferências nas eleições nacionais, o impeachment da
Dilma, a prisão do Lula e os canalhas Moro e Bolsonaro. E, principalmente, para
aqueles que placidamente, cantam a vitória em primeiro turno do Lula... a
história não acabou. E como dizia Marx, quando a história se repete é como
tragédia ou farsa.
Sérgio Mesquita
Obs: negritos no texto, são meus.
A NOVA GUERRA FRIA NA AL
Carlos Cruz Mosqueira
Tradução: Cauê Seignemartin Ameni
Usando mais uma
vez os argumentos da Guerra Fria, a mídia e os EUA tentam influenciar as
próximas eleições em seu antigo "quintal", como disse Joe Biden
recentemente. Mas a guinada à esquerda na Colômbia está se consolidando à
medida que a candidatura de Gustavo Petro avança.
À medida que os
Estados Unidos continuam a aumentar a pressão diplomática e militar sobre a
Rússia e a China devido a uma suposta intromissão estrangeira no mundo todo,
evidências na América Latina expõem o duplo jogo imperialista. Historicamente
percebida pelos EUA como seu “quintal”, ou seu “quintal da frente”, como
Joe Biden disse mais recentemente, a América Latina é agora uma peça de xadrez
na “nova Guerra Fria”.
No início desta
semana, membros influentes do Congresso dos EUA propuseram um novo projeto de
lei intitulado “Lei de Segurança Estratégica do Hemisfério Ocidental”,
com o objetivo de aumentar a cooperação militar com nações amigas da América
Latina. Isso, de acordo com políticos dos EUA, ajudará a lidar com a ameaça de interferência
chinesa e russa na região.
Mas enquanto a China
e a Rússia estão de fato aprofundando as relações diplomáticas e comerciais em
toda a América Latina, são os EUA cuja história de intromissão antidemocrática
continua até o hoje em dia. Em um documento recente que circula na embaixada
dos EUA em Bogotá, na Colômbia, são feitas promessas de doações de grande e
pequena escala a organizações locais que promovam projetos alinhados com a
postura política do governo dos EUA.
O aviso da
embaixada afirma que eles financiarão grupos que apoiem os “objetivos estratégicos
da embaixada” e que “aumentem… a afinidade com as políticas e prioridades dos
EUA por meio de programação cultural e educacional estratégica na mídia e
plataformas digitais”. O projeto de doação tem um orçamento anual de US$
250.000, pouco menos de um bilhão de pesos colombianos.
Com as eleições
parlamentares e presidenciais colombianas se aproximando e uma coalizão de
esquerda liderando as pesquisas, não é surpresa que a superpotência ocidental
esteja gastando muito. Os EUA têm mais poder de compra do que todos os partidos
políticos do país e estão tentando garantir a lealdade política da população
tradicionalmente ligada à direita que está em pleno declínio.
Esse esforço é,
obviamente, apenas a tática mais recente usada pelos EUA para manter um governo
aliado dentro de uma nação dominada pelo conflito. O governo dos EUA gastou
bilhões ao longo das décadas cooperando com consecutivos governos violentos de
direita.
Além do esforço
para difundir uma afinidade com as posições políticas do governo dos EUA, a
orientação da embaixada para financiamento também pretende priorizar candidatos
com projetos empresariais que incluam “mulheres, afro-colombianos, venezuelanos
em diáspora, comunidades indígenas, LGBTQ+ e outras comunidades vulneráveis”.
Este esforço para “empoderar” comunidades negligenciadas e vulneráveis não é
apenas hipócrita, considerando o importante papel dos EUA no fortalecimento
das forças políticas que abandonam e oprimem essas comunidades; o
financiamento dos EUA para organizações “civis” sempre veio junto com o
financiamento de violentas autoridades militares e policiais.
Pesquisas
mostram que o governo dos EUA (e da União Europeia) tem usado organizações
civis na Colômbia para combater possíveis ameaças à ordem política e econômica
estabelecida desde a década de 1990. Um programa, conhecido como Laboratórios
da Paz, começou como um esforço de base para difundir o conflito nas regiões
mais afetadas. Depois que dezenas de milhões de dólares foram canalizados por
nações ocidentais, ficou conhecido como o “braço social” do Plano Colômbia uma
operação militar apoiada pelos EUA conhecida por suas violentas táticas de contra
insurgência.
Hoje, uma
virada à esquerda na Colômbia, historicamente o aliado estratégico mais próximo
dos EUA na região, representa uma ameaça ao domínio imperialista – mesmo quando
o movimento é liderado pelo candidato de centro-esquerda Gustavo Petro, que tem
evitado criticar abertamente os EUA. A ampla coalizão de esquerda que Petro
lidera, Pacto Histórico, está atraindo as massas em todo o país e parece o
provável vencedor nas eleições de maio, que podem marcar uma ruptura com mais
de duzentos anos de hegemonia do partido liberal-conservador. E embora as
figuras mais destacadas da coalizão pareçam radicais (e são retratadas como
tal na mídia), suas propostas políticas são moderadas.
Petro
dificilmente é um agente russo ou chinês ou representa uma ameaça “comunista”
como dizem por aí. Influenciado e aconselhado por pensadores como Thomas
Piketty, a ameaça de Petro à classe dominante da Colômbia e aos EUA é sua insistência
em uma redistribuição modesta da vasta riqueza do país, muito distante do
Castro-Chavista como a mídia corporativa apoiada pelos EUA o caracteriza.
A tentativa da
embaixada de influenciar as próximas eleições na Colômbia é apenas a mais
recente prova de que o imperialismo continua atuante na região. Em um momento
em que o Ocidente clama tão vagamente por “intromissão” dos outros, não
esqueçamos que foram os EUA que enviaram navios de guerra, ameaçaram invasão e
forçaram a separação do Panamá da Colômbia. Os EUA também pressionaram o
governo colombiano a enviar tropas para defender a United Fruit Company dos
trabalhadores em greve, o que acabou instigando o massacre de milhares de
pessoas na época. Os EUA aconselharam e depois treinaram os militares e
paramilitares colombianos em suas violentas táticas de contra insurgência com
legados que persistem até hoje e são os EUA e o Ocidente que, consistentemente,
ao longo de décadas, apoiaram e defenderam um Estado nefasto para proteger sua
economia e interesses geopolíticos no continente.
Sejamos claros.
A batalha pela Colômbia, e pela América Latina de forma mais ampla, não é entre
as superpotências mundiais, mas entre o governo dos EUA, as classes
dominantes amigas de Washington e as massas oprimidas e exploradas que anseiam
por mudanças: mudanças que não faça um país ser um quintal do outro, mas
uma região independente capaz de ajudar a afastar o mundo do capitalismo
neoliberal – um sistema que não fez nada por nós, e só leva a mais destruição e
desgraça.
Sobre os
autores
CARLOS CRUZ
MOSQUERA
é doutorando e
professor associado na Queen Mary, University of London. Ele é especialista em
analisar o "poder civil" da União Europeia na América Latina e seu
papel na manutenção do status quo neoliberal na região