quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O POTE DO TÉDIO


Antes da leitura do texto abaixo, três explicações:

1 – Retirado do livro “Mulheres da Letras”, Ed. Litere-se;

2 – O livro chega em minhas mãos pela escritora Kelly Crisntiny, que possui um conto no livro (coletânea de escritoras). Kelly foi funcionária da Cultura enquanto lá estive, e com ajuda de outros companheiros, a convencemos a procurar um emprego que não dependesse dos humores da política e investir em sua arte, a escrita;

3 – O conto a seguir, é próximo a nossa linha de trabalho enquanto Ciência e Tecnologia, em Maricá. Linha essa, em crescimento no mundo, mas ainda em gesta em Maricá. Acreditamos na Tecnologia como ferramenta de resgate do bem viver na e com a sociedade. Passado, presente e futuro (intergeracionalidade) em iteração e interação. A tecnologia como ferramenta e não fim.

O POTE DO TÉDIO – Elisângela Medeiros

A Família Nunes era bem de vida. Tinham três filhos, dois meninos e uma menina. Saíram da periferia e conseguiram alcançar estabilidade financeira com muito trabalho e criatividade. Os patriarcas da família passaram por muitas dificuldades na infância. Pobreza, alimentação restrita e brinquedos só os que criavam, babavam nas vitrines das lojas ou sonhavam em ter os brinquedos que viam nos comerciais de TV.

Quando casaram, prometeram um ao outro que seus filhos não iriam passar por nenhuma dificuldade. Presenteavam-lhes com tudo que desejassem, e sem perceber os afastavam um dos outros. Um dia sua mãe deu um basta... Sumiu com todos os eletrônicos da casa, pois com esse veneno nas mãos não conversavam nem brincavam como crianças normais. Elas procuraram o dia inteiro até cansar. As crianças acharam a vida sem celular um verdadeiro tédio e foram dormir mais cedo, esperando que a noite passasse logo e seus pais mudassem de ideia, devolvendo no dia seguinte os eletrônicos.

O caçula foi o primeiro a acordar. Ao chegar à cozinha, havia um pote de plástico transparente cheio de papéis coloridos escrito com letras garrafais: “Pote do Tédio”. Ele já ia pegar e mamãe disse:

- Não, não, não! Esse pote só pode ser aberto na presença dos três irmãos!

O mais novo correu e chamou os outros:

- Maninhos, corram que tem surpresa na cozinha!

Com um pulo ligeiro, os dois saíram correndo e viram o “Pote do Tédio” que mais parecia o pote do mistério. Mamãe disse que só poderiam abrir depois do café, depois de escovarem os dentes e ainda teriam de abrir juntos na varanda. Que café ligeiro os três tomaram, escovaram os dentes e se arrumaram correndo. O caçulinha era o guardião do pote, já que o havia descoberto primeiro que os mais velhos. Na varanda, os três abriram o pote com o coração acelerado! O que havia naqueles papeizinhos coloridos? O mais velho foi o primeiro a pegar o papel laranja, abrir e ler o que estava escrito... “ESCONDE-ESCONDE”.

De olhos arregalados descobriram o mistério... O pote é de brincadeiras: pula corda, amarelinha, pique-pega, adedonha, forca...

Era brincadeira que não faltava mais! Algumas eles nem conheciam. E assim se passaram três dias sem lembrarem-se dos eletrônicos. No sábado pela manhã quem levou um susto foi a mamãe... para fazer o café tinha um pote escrito... “POTE DA FAMÍLIA”.

O mesmo pote: transparente, com tampa, cheio de papeizinhos coloridos.

Mamãe correu e foi acordar papai...

- Papai acorda... Tem uma surpresa na cozinha deixada pelas crianças!

Quem pulou da cama foi o papai... Não era dia das mães, dos pais, nem Natal... Que surpresa era essa?! Ao chegar à cozinha, o “POTE DA FAMÍLIA” estava lá convidando os dois para abri-lo... Papai abriu, mas quem pegou o papel primeiro foi a mamãe... E ao abrir estava escrito... “JOGO DE TABULEIRO”.

Os outros papéis diziam: assistir filme à tarde com pipoca, andar de bicicleta, brincar na pracinha, jogar bola, e assim por diante. Papai e mamãe perceberam que as crianças estavam precisando de atenção e que dinheiro não é tudo na vida. Sempre que o tédio batia, os potes do tédio e da família eram abertos, e a alegria reinava naquela casa cheia de amor e paz.

- PRESENTE + PRESENÇA

A Tecnologia como ferramenta de convivência e endoculturação dos saberes tradicionais de cada comunidade.

Sérgio Mesquita
Sec. de Ciência, Tecnologia e Comunicações de Maricá-RJ

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

As “identidades” e a invisível luta de classes, por Nuno Ramos de Almeida


“Tentam, por exemplo, resolver o problema da pobreza mantendo os pobres vivos; ou, no caso de uma escola muito avançada, divertindo-os...”
Oscar Wilde

No drama dos imigrantes, uma chave para compreender o estratagema das elites dominantes: querem converter conflito social a mera disputa entre etnias ou gêneros. É outra máscara do eterno esforço para dividir os explorados

A portuguesa Ana Telma Rocha interrompeu um direto da Sky News para expressar a sua revolta. Vive há quase 20 anos no Reino Unido. Serviu nesse país “em 32 empregos diferentes”, segundo confessa. Trabalha 63 horas semanais. Cria riqueza na Grã-Bretanha, mas só serve para trabalhar calada. Na hora de decidir, sobre o seu futuro e a sociedade em que vive, ela não é chamada.

“O que me preocupa é o estado das coisas, o estado da sociedade da qual uma pessoa fez parte durante 20 anos e do nada é apagada, é invisível”, diz.

A operação que permite descartar os imigrantes como se fossem lixo baseia-se numa correlação de forças que faz com que lhes seja negada a voz nas nossas democracias.

As sociedades europeias têm como modelo a Grécia antiga: não a sua elevação filosófica, mas o fato de só os nacionais terem alguns direitos, o resto são metecos, que servem para trabalhar calados.

Aqueles que trabalham têm a força do trabalho, mas a sua fraqueza política baseia-se na divisão. Metade dos pobres da Europa dirigem o seu ódio e rancor para a outra metade dos pobres, por razões tão curiais como não terem nacionalidade, “raça” ou religião que os mandantes de turno garantem que é a certa. Os pobres de todas as “raças”, credos e nacionalidades podem bater-se à paulada, mas o resultado é que ficarão sempre na mesma, pobres e subalternos.

A criação da invisibilidade é uma operação ideológica que se alicerça na privação de poder da maioria da população do planeta. É um poderoso instrumento que permite fazer várias coisas, desde não conceder direitos políticos aos imigrantes nos países europeus, até negar o direito à vida às milhares de pessoas que são literalmente jogadas ao mar para morrerem afogadas no Mediterrâneo. Gente que tem como único crime procurar uma vida melhor para si e para os seus.

Para os pobres se sentirem contra outros pobres e esquecerem que quem fica com a sua parte são os ricos é preciso um processo histórico, econômico, político e conseguir condicionar a forma como os oprimidos, migrantes ou não, veem a realidade.

As migrações são um dos processos que se aceleram com a globalização. Tal como acontecem, no capitalismo globalizado, elas não derivam da liberdade para circular, mas da liberdade de explorar. Os imigrantes – mantidos propositadamente com poucos direitos sociais e nenhuns direitos políticos – são usados como tropa de choque para implodir os poucos direitos conquistados ao longo de gerações pelas classes operárias locais. Esta degradação das condições sociais para a maioria da população é acompanhada por uma outra operação ideológica de relevo: a tentativa de etnização do conflito social.

Quem manda na política define um território e escolhe aqueles que são amigos e aqueles que são inimigos, como explicava Carl Schmitt. Quem consegue tornar hegemônicas essas regras ganha o tabuleiro do confronto político. As elites que mandam no capitalismo vendem-nos, nos países desenvolvidos, como uma divisão entre uma enorme classe média, a que eles também pertenceriam, e uma matilha de imigrantes que habitam nos territórios selvagens dos subúrbios.

Entre as elites autoritárias, do novo populismo de extrema-direita, e as elites com o discurso clássico, apenas muda o tom. Nos primeiros, os imigrantes devem ser controlados pela polícia e não ter apoios sociais; nas elites do bloco central dos interesses, os imigrantes não devem ter direitos, mas devem ter caridade e reconhecimento da sua diferença cultural. Na maioria dos países da Europa os governos reconhecem com mais facilidade a existência de comunidades com culturas próprias que a existência de direitos sociais para toda a gente.

Nessa operação ideológica, em que se divide a sociedade em classes médias e gente de fora, consegue-se fazer desaparecer as classes populares originárias do país e, mais importante, fazem-se desaparecer da vista das pessoas o fato das elites ganharem uma fatia cada vez maior do rendimento mundial.

Transforma-se o conflito social num jogo de sombras em que se opõem comunidades culturais e étnicas diferentes, tornando invisível a luta de classes. Essa estrutura generaliza-se para a sociedade no seu conjunto. Todo o campo da luta social se torna um conflito entre identidades diferentes. A luta das mulheres pela igualdade, dos migrantes pelos direitos políticos e sociais, dos homossexuais pelo direito a não serem discriminados, dos negros contra o racismo deixam de ser lutas universais pela igualdade para passarem a ser apenas políticas identitárias. A ideologia dominante aprofunda divisões e identidades de modo a que nunca haja uma maioria social pela igualdade de todos, e para que toda a luta seja uma continua multiplicação de divisões entre aqueles que não têm nenhum poder.

Blanqui esteve preso 37 anos. Na sua última prisão, nas vésperas da Comuna de Paris, escreveu um enigmático texto chamado “A Eternidade Conforme os Astros”. Páginas esquecidas que o malogrado pensador Walter Benjamin comparava a Baudelaire. Nelas, o homem das muitas conspirações dos iguais remetia para um universo frio e infinito as possibilidades de novas formas de vida e sociedade que triunfassem onde a humanidade tinha tropeçado. “Saberão por certo que o céu obedece às leis da igualdade, e encontra em si mesmo os recursos para escapar à morte. Mas saberão que esse combate da vida contra a morte é um drama que não tem nem começo nem fim, que obriga os que o tomam como modelo a travar um combate indefinidamente repetido, e certo apenas quanto a uma coisa, que nenhum final feliz se encontra no fim do caminho”.

Vendem-nos muitas vezes que a política é a arte do possível. E que qualquer acordo medíocre é melhor que uma divergência de princípios. É desta massa que é feita a atual Europa, onde se promete aos eleitores votarem em candidatos a presidente da Comissão Europeia, mas no fim, o Conselho Europeu resolve mandar fechar esse circo de ilusões e vender os lugares de poder à melhor licitação negocial.

Num livro de Slavoj Zizek, A Europa à Deriva, encontram-se duas citações da obra de Oscar Wilde, A Alma do Homem e o Socialismo: “É muito mais fácil ter-se simpatia para com o sofrimento do que ter-se simpatia para com o pensamento”, acrescentando-lhe uma outra passagem de Wilde em que este defende que o simples horror ao sofrimento e a caridade em relação à pobreza não fazem mais que prolongar as suas causas e aliviar a consciência dos responsáveis por essa situação. “Tentam, por exemplo, resolver o problema da pobreza mantendo os pobres vivos; ou, no caso de uma escola muito avançada, divertindo-os. Mas isso não é uma solução, é um agravamento da dificuldade. O objetivo adequado é tentar reconstruir a sociedade sobre uma base em que tal pobreza venha a ser impossível. E as virtudes altruístas têm, sem dúvida, impedido a realização de tal desígnio”, conclui o autor de A Importância de ser Ernesto.

Não é por acaso que Zizek escolhe o grande provocador britânico para inventariar aquilo que se propõe neste livro. O esloveno coloca-se na posição que mais gosta: a de provocador. Mas sempre vai dizendo algumas coisas fundamentais. A solução para a questão dos refugiados, apesar dos horrores das imagens, não passa pela simples caridade para resolver o problema imediato de centenas de milhares de pessoas; embora esse drama tenha que ser já resolvido, a urgência da ação não nos pode dissuadir de afirmar que essas pessoas são sujeitas de direitos e não apenas objetos de caridade. O autor defende que a resolução da crise humanitária não se faz pela abertura, maior ou menor, das fronteiras, mas por responder aos problemas globais e às suas implicações nos países de origem dos refugiados. Zizek defende, também, que não se pode deixar à extrema-direita o monopólio da proximidade das pessoas e da preocupação sobre a situação criada na Europa com o enorme fluxo de refugiados. É talvez aí o ponto mais polêmico do livro, a ideia que uma posição de abertura de fronteiras aqui e agora, é meramente uma posição simbólica de quem sabe que isso não acontecerá. Slavoj Zizek, num capítulo sugestivamente chamado “Quebrar os Tabus da Esquerda”, atira-se a uma concepção muito difundida da esquerda, dita multiculturalista, segundo a qual “um inimigo é alguém cuja história nunca ouvimos”.

Para o filósofo, “existe um claro limite para este procedimento. Também estaremos prontos a afirmar que Hitler era só um inimigo porque a sua história não foi ouvida? Ou, será que, pelo contrário, quanto mais conheço e ‘compreendo’ Hitler, mais Hitler é o meu inimigo?” E não se fica por aí, há em parte da esquerda a ideia que tudo o que vem dos oprimidos é necessariamente bom. Para além de defender que essas pessoas não sejam oprimidas, deveríamos, segundo essa esquerda, compreender de tal maneira a sua situação e circunstâncias, que tudo o que eles fazem deve ser defendido. Para o autor da Europa à Deriva, as coisas quase nunca são assim. Faz uma crítica similar a Etore Scola no filme Feios, Sujos e Malvados. A miséria não nos faz ser boas pessoas e gente aconselhável. Mas isso só reforça a convicção que se deve combater as causas que levam as pessoas a ser exploradas. No seu pensamento, a contemporização com os aspetos retrógrados da religião, em prol de um multiculturalismo fofo, não existe. Ele recupera a ideia de Marx que “a religião é o ópio do povo” ao defender que “o próximo tabu a ser descartado sem piedade é a equiparação de qualquer referência ao legado emancipatório europeu com o imperialismo cultural e o racismo”. Criticar práticas e concepções culturais do islamismo dos refugiados não significa ser cúmplice da sua opressão. “O próximo tabu esquerdista a deixar para trás é o de obstar a qualquer crítica ao islão como um caso de ‘islamofobia’”. A superação desta situação de profunda desigualdade que se vive no mundo, e a situação de selvageria a que foram levados grande parte de territórios do mundo, a golpes de mísseis, não se corrigem por uma questão de tolerância multicultural, mas resolvendo as questões através de um novo projeto de  universalismo emancipatório. Para Zizek, existem quatro antagonismos que podem permitir que o capitalismo global, que gera os racistas e os fundamentalistas, não se reproduza eternamente: “a ameaça iminente de catástrofe ecológica, a inadequação da propriedade privada para a chamada ‘propriedade intelectual’, as implicações sócio éticas dos novos desenvolvimentos técnico-científicos (sobretudo a biogenética), e , por último mas não menos importante, as novas formas de apartheid, os novos muros e bairros de lata”. É, para o autor, este aspeto final que politiza e dá tom às contradições existentes no sistema.


Balanço de 2019: o império da impostura - 26/12/2019


Afora os grandes empresários que aplaudem calorosamente o ministro Paulo Guedes porque ganham com a crise, o balanço de 2019 na perspectiva das vítimas dos ajustes fiscais, dos que perderam direitos na reforma da previdência e dos resistentes é repudiável.

Instalou-se aqui o império da impostura. Um presidente que deveria dar exemplo ao povo de virtudes que todo governante deve ter, realizou atos acintosos que na linguagem religiosa, bem entendida por ele, são verdadeiros pecados mortais. Pela moral cristã mais tradicional é pecado mortal caluniar certas ONGs, bem o ator Leonardo di Caprio culpando-os de incentivar os incêndios da Amazônia ou difamando o reconhecido educador Paulo Freire e o cientista Ricardo Galvão ou mentir contumazmente mediante fake news e alimentar ódio e rancor contra homoafetivos, LGBTI, indígenas, quilombolas, mulheres e nordestinos. A lentidão no julgamento do massacre de Brumadinho-MG e de Mariana-MG está mostrando a insensibilidade das autoridades. Algo parecido ocorreu com o derrame ignoto(?) de petróleo em 300 praias de 100 municípios do Nordeste.

Não cabe a ninguém julgar sua intenção subjetiva. Isso é coisa para Deus. Mas cabe fazer um juízo sobre fatos e atos, portanto, realidades objetivas e concretas para as quais cabe um juízo ético e teológico. Tal atitude imoral foi entendida por muitos como carta branca para desmatar mais, assassinar lideranças indígenas e a polícia tornar-se mais violenta e até assassina.

Estamos vivendo sob o império da impostura no campo nacional e no internacional. Um psicanalista francês, Roland Gori escreveu um instigante livro “La fabrique des imposteurs” (Paris 2013). Para ele o impostor é aquele que prefere os meios aos fins, que nega as verdades científicas, que distorce a realidade solar, que não se rege por valores porque é apenas um oportunista, que afirma algo e logo depois o nega conforme suas conveniências, que pratica a arte de iludir as pessoas ao invés de emancipá-las pelo pensamento crítico, que despreza o cuidado pelo meio ambiente, que passa por cima das leis, que culpabiliza os pobres e que não demonstra  amor nem  piedade.

O que transcrevi aqui está referido no livro “La fabrique des imposteurs e representa um retrato da atmosfera de impostura reinante nas mais altas instâncias políticas do Brasil.

As medidas contra a educação, a saúde, a ciência, ao meio ambiente e aos direitos humanos concretiza a mais rude impostura contra tudo o que se construiu de positivo nos últimos decênios. Somos conduzidos a um estágio regressivo, anterior ao iluminismo, numa mentalidade fundamentalista com viés fascistóide.

Talvez o ato para nós mais humilhante foi o gesto de vassalagem explícita do atual governante ao presidente dos USA, oferecendo-lhe o que podia sem receber nada em troca. Risível e ridículo foi quando, numa recepção de chefes de estado lhe diz a Trump “I love you” e recebeu apenas 17 segundos de atenção.

A impostura grassa veemente, em primeiro lugar, nos USA onde o presidente Trump, segundo repete Paul Krugman, Nobel de economia, constitui um perigo para a humanidade. Mente a mais não poder e se justifica ao dizer que são “verdades alternativas”. Igual impostura ocorre nos países ultra neoliberais onde o povo se rebela como no Chile, no Equador, na Colômbia, culminando com um golpe de estado contra a população indígena e seu representante na Bolívia, lançando o povo na fome e no desespero.

Perigosa impostura ocorreu na COP25 em Madrid que contra todas as evidências e dados científicos predominaram os negacionistas do aquecimento global, o Brasil incluído. Contra eles o relatório final recolhe a advertência da ONU: ”Se nada fizermos, no final do século, a temperatura pode aumentar de 4-5 graus”. Com estes níveis, a vida que conhecemos não subsistirá. Será um verdadeiro Armagedom ecológico. Nossa espécie correrá perigo.

Não obstante esta atmosfera tenebrosa cabe celebrar a libertação de Lula, vítima da aplicação da law fare, instrumento de perseguição política com o objetivo de prendê-lo. O que ocorreu.

Termino com as palavras severas do prêmio Nobel de medicina de 1974, Christian de Duve: ”A perspectiva não é apenas preocupante: é aterrorizante. Se não conseguirmos conter o crescimento demográfico (poderia dizer o aquecimento global) racionalmente, a seleção natural fará isso por nós irracionalmente, às custas de privações sem precedentes e de danos irreparáveis ao meio ambiente. Tal é a lição que quatro bilhões de anos nos oferece a história da vida na Terra” (Poeira vital 1997,369).

Bem o enfatizava o Papa Francisco em sua encíclica ecológica: ”as previsões catastróficas não se podem olhar com desprezo e ironia”(n,161). A impostura nos faz surdos a estes clamores. Por causa disso, o destino humano dificilmente escapará de uma tragédia.

Leonardo é teólogo e filósofo e escreveu: A saudade de Deus - a força dos pequenos, Vozes 2019.