domingo, 28 de janeiro de 2024

CRÔNICA DE UMA ANGÚSTIA PLANETÁRIA.

 Do face do João Lopes...

"O caos social, climático e econômico que vivemos não se traduz em estatísticas: são dramas terríveis que podiam ser evitados. Sabemos o que precisa ser feito e há recursos suficientes… mas seguimos como expectadores, submetidos a estúpidos bilionários"

Por Ladislau Dowbor -  22/01/2024 - Outras Palavras 

Uma visão geral dos nossos problemas, como humanidade, não é um exercício surrealista. Tanto progresso tecnológico, mas tanta violência e destruição, tanto sofrimento. E tantas narrativas sobre quem são os bons e quem são os maus. De que lado você está? A única certeza é que sou corintiano. O resto virou um caos.

(Ladislau Dowbor)

Eu sou economista. Minha principal área de interesse é linguística, falo vários idiomas, leio a Bíblia em hebraico, Dostoiévski em russo, Dante em italiano, Jorge Amado em português brasileiro e assim por diante. Sim, e Keynes em inglês, claro. Entrei na economia porque senti a necessidade de entender nossa bagunça. Isso foi em 1963, no dramaticamente desigual Nordeste do Brasil. Com tanto sofrimento e miséria diante dos opulentos magnatas da cana-de-açúcar, não pude deixar de sentir o absurdo. Quão profunda é a nossa capacidade de fingir que não vemos? Não foi porque estudei economia que fiquei indignado: a indignação me levou a esses estudos. Encontrei as respostas? O que descobri foi uma mistura de justificativas, em nome dos mercados livres – pode-se justificar qualquer coisa com um tanto de matemática e modelos – e construções idealistas. Eu ainda estou procurando. Não estamos todos?

Fiz o dever de casa, estudei com bons banqueiros na Suíça, com especialistas em planejamento na Polônia, ajudei países em diversos continentes, até trabalhei como consultor do Secretário Geral da ONU. Assisti à descolonização, à ascensão dos direitos das mulheres, à erosão do apartheid na África do Sul, a tantas esperanças. E atualmente me aferro às dramáticas estatísticas, a desigualdade, a fome, o desastre climático, a perda de biodiversidade e toda esta violência. Mas essas coisas não são estatísticas para mim, tenho 82 anos e ainda não suporto ver uma mãe com filhos dormindo na calçada de São Paulo, a cidade mais rica da América Latina, enquanto as pessoas atarefadas e os carros circulam de um lado para o outro. Que tipo de animal nós somos? Homo sapiens?

Assisto às horríveis notícias sobre a calamidade que ocorre na Palestina/Israel. Será essa uma questão de lados? Bem, cada um dos lados tenta fazer veicular na mídia as coisas mais horríveis que o “outro lado” fez, e temos a possibilidade de escolher bebês, crianças, mulheres, numa demonstração de barbárie de ambos os lados, um campeonato de notícias. Dependendo de quem é o dono da notícia, teremos mais barbárie de um lado ou de outro. E depois temos os comerciais, com rapazes sorridentes, moças lindas e as oportunidades que não devemos perder. Não olhe para cima. O que é isso tudo? Cada um de nós viveu a sua própria história e ela pesa.

Nasci em 1941, na fronteira espanhola, de nascimento seria catalão. Durante a guerra, na Europa, ninguém podia escolher o local de nascimento, cada um nascia onde quer que os seus pais tenham sido empurrados. Os meus pais, poloneses, um engenheiro e uma médica, escaparam à invasão alemã em 1939 através da fronteira sul e chegaram a França. Não eram judeus, mas se tivessem permanecido na Polônia o meu pai teria terminado, como engenheiro mecânico, em trabalhos forçados em fábricas alemãs.

Depois os alemães invadiram França, por isso os meus pais fugiram para sul, para a fronteira espanhola, mas esta foi fechada por causa de outra guerra, a tragédia espanhola a que o mundo assistiu com curiosidade, discutindo que lados tomar, no final dos anos 1930. Assim, nasci na fronteira espanhola, na França, de pais poloneses.

Como família, estávamos presos nos Pireneus, meus pais e quatro filhos. Eu me lembro, provavelmente tinha quatro anos, quando íamos para o campo com minha mãe colhendo pissenlit, um tipo de erva que se podia usar para comer ou fazer chá. Muitas gangues buscaram a sobrevivência na confusão geral, meu pai foi pego por milícias armadas, torturado, mas sobreviveu. É impressionante como produzimos milhares de filmes glorificando guerras, soldados heroicos, belos tanques, bombas. Vende bem. Temos que fazer uma pesquisa profunda para encontrar um filme sobre o que significa para as famílias viverem numa guerra. A miséria, o frio, a fome, a insegurança e a angústia permanentes. Angústia, em francês, é uma palavra mais forte. Não me fale sobre guerras. Mudamo-nos para o Brasil porque os meus pais, tendo vivido as duas Guerras Mundiais, perderam a confiança na Europa e na sua barbárie cultural. Sou, portanto, atualmente um economista brasileiro.

Somos bons em pensamento mágico. Os dramas simplesmente desaparecerão? Na história, sempre deixamos as coisas apodrecerem a tal ponto que a insegurança, as frustrações e a ganância evoluíram para formas ideais de libertação de pressão, através do ódio, da violência e da guerra. Acabei de ler um livro lindo, As Cruzadas Vistas pelos Árabes [The Crusades Seen by the Arabs], de Amin Maalouf. Não anticristão, apenas pesquisa sólida nos documentos do Oriente Médio daquela época, por volta do século XIII. As batalhas, as destruições, os 

massacres, os estupros, as humilhações. Por cristãos tementes a Deus, por xiitas, por sunitas ou entre si. Os dois séculos de guerras bárbaras foram seguidos pelas invasões mongóis. Mais massacres. Queimar livros não foi uma invenção nazista, na época já era um esporte para todos os lados.

Chegamos em 2024. Acabamos de sair da guerra do Afeganistão, com resultados trágicos para todos. E a guerra do Iraque, com a confusão que vemos atualmente. E o drama da Líbia. No momento em que escrevo, temos a Ucrânia, claro – Zelensky queixa-se de que o conflito na Palestina nos distrai –, mas a trágica guerra do Iêmen está fora dos noticiários, não são europeus brancos que estão a morrer. E temos os massacres no Sudão, claro, a África é muito

instável. Que curiosos os golpes de Estado no Mali, no Níger e em Burkina Faso! Por que eles simplesmente não respeitam a democracia? Bom, eu trabalhei nessas regiões sete anos. Já vi milhares de pessoas morrerem de cólera. Não temos as tecnologias para garantir água potável? Bem, Bezos precisa fazer uma viagem ao espaço. Seria ele um estúpido? Zuckerberg é idiota? Larry Fink? Prefiro considerá-los high tech assholes Sim, sei bem que esta não é uma categoria econômica. Mas eles não veem o que acontece com o mundo?

Os humanos adoram narrativas. Pode-se justificar praticamente qualquer coisa, e a humanidade é impressionantemente propensa a acreditar em praticamente qualquer coisa. Se há uma narrativa da qual temos que nos livrar é a de que você pode egoisticamente buscar a sua própria prosperidade, sem dar a mínima para o que acontece com os outros, e o resultado será uma contribuição para o bem comum. É como se a ganância individual resultasse em prosperidade geral. Bem, isso não acontece. A dura realidade é que estamos destruindo o nosso mundo pelo

poder e para a riqueza de uns poucos felizes. Você tem que ser um estúpido em Wall Street ou na ‘City’ para acreditar que “a ganância é boa”. Não é apenas um desastre para o ambiente que nos sustenta, é um desastre para a humanidade e, portanto, para a democracia. Bilhões de pessoas frustradas em todo o mundo acreditarão em quem quer que se aproveite da sua frustração e do seu ódio. O mundo não carece de demagogos.

Como podemos acreditar na narrativa da “externalidade”? É coisa que se ouve e lê em cada esquina. Sim, produzimos armas, mas é só para a segurança das pessoas – e não somos nós que puxamos o gatilho. Só produzimos as armas e respondemos a exigências legítimas. O mundo está se afogando em dívidas abusivas? Bem, aqueles que contraem dívidas deveriam ser mais responsáveis. Shaxson vai direto ao ponto: “Precisamos de financiamento, mas a medida da contribuição desse financiamento para a nossa economia não é se ele vai gerar bilionários e grandes lucros, mas se será capaz de nos fornecer serviços úteis a um custo razoável” (p.12).1 Mas estamos perante gigantes financeiros, e eles financiam tudo o que lhes trará mais

dinheiro, sejam lá quais forem os dramas sociais ou ambientais que essas atividades produzam. Eles são seguros, grandes demais para falir. Assegurados pelos nossos impostos, quando necessário. Em poucos anos as externalidades serão internas para todos e já estamos sentindo isso.

Marjorie Kelly, como tantos economistas hoje em dia, separa o setor financeiro (PIB do setor financeiro) e o crescimento do resto da economia (PIB do setor real), “que é a economia real de empregos e gastos em bens e serviços. Quando separamos estes dois, vemos que cerca de um terço do PIB está sendo extraído pelas finanças. E essa extração é muito maior do que já foi no passado” (p.147).2 Calculei os números correspondentes para o Brasil e cheguei aproximadamente ao mesmo número: mais de 30% do PIB drenado pelo rentismo financeiro improdutivo.3 Este mundo era para ser um em que os capitalistas lutam para ganhar o seu dinheiro, servindo-nos cada vez melhor. Em contraste, a Oxfam apresenta o quadro real: “Nos termos atuais, os países de rendimento baixo e médio-baixo serão forçados a pagar quase meio bilhão de dólares todos os dias em juros e reembolsos de dívidas entre hoje e 2029. 

Países inteiros estão à beira da falência, com os mais pobres os países gastam hoje quatro vezes mais no pagamento de dívidas a credores ricos do que em cuidados de saúde”.4 Isto representa mais da metade dos países mais pobres do mundo, 2,4 mil milhões de pessoas.

Se demorarmos muito para engolir as narrativas, quem pode nos ajudar são os think tanks, atualmente uma enorme rede de formação de opinião. Shaxson nos traz “a organização ideológica mais influente”, a Atlas Economic Research Foundation, bem como “a Templeton Foundation, financiada por Wall Street, as redes do magnata dos fundos de hedge Robert Mercer (um apoiador de Steve Bannon e Breibart News), e o que alguns chamam de “Kochtopus” – o nexo tentacular de ligações políticas e financeiras financiadas pelos irmãos bilionários Charles e David Koch. Os membros da Atlas incluem o American Enterprise Institute, o igualmente influente American Legislative Exchange Council (ALEC), o Cato Institute, a Freedom Foundation, a Heritage Foundation e, no momento em que este artigo foi escrito, mais de 180 outras instituições. E essas são apenas as redes de financiamento nos Estados Unidos: a Atlas encheu o mundo com 475 instituições parceiras – e a aumentar” (p.127). Seriam todos cegos?

O sistema tornou-se disfuncional. Os interesses dominantes são atualmente globais, sejam eles financeiros, de comunicação, de informação, de comércio de mercadorias ou de comércio de informação privada. Mas não temos capacidade de regulação global, exceto pelas enfraquecidas instituições internacionais herdadas do pós-Segunda Guerra Mundial, há 80 anos. Ainda temos autoridades que verificam as nossas bagagens nos aeroportos internacionais, enquanto os fluxos econômicos reais são apenas entradas virtuais em computadores. E tantas finanças desonestas e paraísos fiscais, tantas vendas ilegais de armas, tantos oligarcas navegando na confusão institucional e jurídica global.

Sim, sabemos o que deve ser feito, temos isso nos ODSs, no ESG, no Global Green New Deal, no Pacto Global, entre outros. Mas estamos desamparados, apenas observando o mundo descendo pelas corredeiras e se aproximando das cachoeiras. Apenas para lembrar que as tecnologias que dominamos e os recursos financeiros que desperdiçamos são mais do que suficientes para garantir que temos o suficiente para todos, sem destruir o nosso futuro. A ganância é para estúpidos. E constatar como estamos à deriva em meio a essa catástrofe em câmera lenta é repugnante.

LADISLAU DOWBOR

Economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP. Foi consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios, além de várias organizações do sistema“S”. Autor e co-autor de cerca de 45 livros, toda sua produção intelectual está disponível online no website.

Impressões sobre o Seminário Reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresa

Mesas:

Revolução da Inteligência Artificial e seus impactos na sociedade

Bioeconomia como estratégia de desenvolvimento

Realizadas em 23.01.24 

 

Objetivo

Transmitir minhas impressões sobre o Seminário Reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas, em especial, sobre as mesas que aconteceram no dia 23.01: Revolução da Inteligência Artificial e seus impactos na sociedade e Bioeconomia como estratégia de desenvolvimento.

 Justificativa

Buscar a socialização das percepções adquiridas durante as palestras proferidas, bem como abrir discussão com os companheiros/as da DITEC sobre os meus entendimentos, no sentido de equalizar o pensamento/conhecimento entre e com todos/as integrantes da Diretoria.

 As Palestras

- Revolução da Inteligência Artificial e seus impactos na sociedade

Coordenação: Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep

Palestrantes: Edmundo Souza – UFRJ/COPPE; Virgílio Almeida – UFMG; Anderson Souza – UFG; Fábio Borges – LNCC; Eliza Reis – ABC.

- Bioeconomia como estratégia de desenvolvimento

Coordenação: Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep

Palestrantes: Rodrigo Rollembrerg – MDIC; Ana Euler – EMBRAPA; Henrique Pereira – INPA; Paulo Renato Cabral – SEBRAE.

 Metodologia

Tentar juntar em um texto os vários tópicos colocados nas falas de cada palestrantes, a partir das anotações que fiz em cada palestra. Agrupando as anotações em cinco blocos: conceitualização/definição; desvantagens; vantagens/o que fazer; minha intervenção; conclusão.

Identifiquei 3 linhas de agrupamento com os totais a seguir:  3 pontos de conceituação/definição, 18 negativos, e 20 positivos. Segue abaixo um resumo das anotações.

Revolução da Inteligência Artificial e seus impactos na sociedade

Resumo

Dois palestrantes fizeram falas que poderiam ser entendidas como um esboço de definição do que seria uma Inteligência Artificial. A IA seria uma nova revolução industrial, uma nova onda ou um novo iluminismo. O que ponho em discussão ao final.

No ponto desvantagens, houve um grande número de coincidências como a perda do emprego; o pouco ou a falta de investimentos na Educação e na Ciência; as “Fakes News”; preocupação com o impacto nas eleições; o avanço das IAs sobre o trabalho intelectual; os riscos em relação ao aumento das desigualdades; a percepção pública negativa, em contrapartida aos donos do meios de produção e do setor financeiro; os erros e inconsistências que ainda aparecem nas produções de IAs; o atraso do Brasil no campo de desenvolvimento e regulação das IAs; a falta de competividade; os baixos valores das bolsas de pesquisa e desenvolvimento; a perda de cérebros para o exterior, entre outros.

Como pontos positivos ou o que fazer, temos várias coincidências também. Abro com a fala de que ainda somos nós que fazemos. A necessidade de um grande pacto social que deve ser somada às falas de criação de uma política de regulação com participação das universidades e sociedade; políticas públicas que não visem a substituição dos humanos; trabalhar com o trinômio IA – Humano – Robótica; IA no meio ambiente, agricultura, educação e indústria; estreitar a IA com a academia; retenção de cérebros. Temos ainda a necessidade de gerar força de trabalho com criticidade; aumento dos investimentos, também em recursos humanos; entender as IAs como novas janelas de oportunidades; investir em um pensamento mais generalista; as IAs são uma realidade, e são de grande capilaridade; combater o analfabetismo digital; IA para além dos profissionais de TI; pensamento para além da caixinha; divulgar os trabalhos de cientistas, em especial, qual o papel do cientistas e o que fazem.

 A intervenção

Foquei minha intervenção em quatro pontos, apesar da vontade de ir um pouco além.

O primeiro foi a quase que unânime fala dos palestrantes de que o Brasil deveria melhorar sua competitividade/inovação, como também foi a preocupação com o aumento da desigualdade. Por conta dessa dualidade – vivemos em um sistema que incentiva a competitividade e a desigualdade. Propus que o Brasil inovasse buscando o desenvolvimento de sua IA com cooperação e não para a competitividade, pois a possibilidade de aumento da desigualdade será certa se o desenvolvimento for focado na competição. Deviríamos trabalhar mais a cooperação e mudar o modelo de produção do sistema.

O segundo ponto foi na mesma linha acima, mas no campo da Educação. Iniciei falando que senti falta da Cultura em todas as falas, pois todos os processos de mudanças também são culturais, em especial os de dominação e de independência, se não forem pelas armas. Se vamos investir na Educação, que seja além da digital. Que se invista em um outro modelo de produção do conhecimento, pois o que está posto é para atender o modelo de produção do sistema, que depende da desigualdade e da competitividade.

O terceiro ponto, foi quanto à necessidade da regulamentação. Lembrei que somos capazes de produzir excelentes estatutos e Leis, mas somos péssimos em fazer cumprir os mesmos. Dei o exemplo do Marco Civil da Internet, que mesmo depois de quase destruído na Câmara Federal, é considerado um dos melhores do mundo porque foi amplamente discutido com a sociedade. Hoje, temos uma comissão no Senado que não sabemos quem são e qual o conhecimento para tal responsabilidade, e sequer se tem terraplanista em sua composição. Não resolvemos a questão das redes sociais e queremos regulamentar a IA.

Termino dizendo que a mesma tecnologia que mata, é a que salva. A tecnologia que permite o “fake News” é a mesma que transmite a boa informação. E que hoje, ainda somos nós, humanos, que decidimos o como usar as tecnologias.

Conclusão

Acredito que o impacto da IA, está mais para a prensa de Gutemberg do que para a revolução industrial, bem como longe do Iluminismo, que buscava a razão, pois ainda não temos IA com razão ou mesmo ética. Uma nova onda, pode ser, só não sabemos se tsunami.

Ficou patente entre os palestrantes “técnicos” – a exceção, Elisa, é socióloga - a existência de um certo afastamento entre a academia e o dia a dia da população. Especialmente quando ainda se referem a tríplice hélice, como se ela funcionasse harmonicamente, quando na realidade o governo e a universidade atendem a necessidade da indústria. Na realidade, atendem ao modelo de produção capitalista, onde o sistema (na hélice – indústria) demanda as Leis para que o governo promova e influencia nos currículos educacionais, para que suas necessidades sejam atendidas. A discussão hoje seria a hélice quíntupla, onde a sociedade, em iguais condições com o governo, indústria e universidades discutiriam sempre levando em consideração os impactos ambientais, onde as pás seriam:  sociedade – ambiente – universidade – governo – indústria.

A questão da ética foi tocada na fala da Elisa e do Edmundo, se não me engano, mas não foi a tônica, quando na minha opinião, seria uma das questões primordiais. Não dá mais para engolir, por exemplo, a Monsanto lançar um produto que aumenta a produção leiteira em uns 20l por vaca, e vacas e humanos adoecerem, nascerem defeituosos, e a empresa dizer que: cientificamente o processo está certo, o problema foi na tecnologia aplicada... RIDÍCULO e desrespeitoso, uma vez que os cientistas e os desenvolvedores das tecnologias são humanos que erram e acertam.

Outro ponto foi quanto ao desenvolvimento das IAs: senti uma concordância implícita, de que não passariam de máquinas treinadas, quando as discussões sobre atingirem ou não consciência e ética fervilham. No momento são treinadas e a minha preocupação está em qual modelo de sociedade estão sendo treinadas... se nesse modelo em que vivemos, com certeza irão existir Elysiuns, e depois SkayNets...

Precisamos abandonar os quadrados impostos pelo sistema, com ênfase em sua fase neoliberal. O palestrante Anderson Souza, que defendeu explicitamente a tríplice hélice, foi o único “técnico” que defendeu a questão do ser generalista, encaminhada também pela Elisa, quando falou em sair do quadrado. O olhar deve ser mais humano, como era a Economia até o final do século XVIII - Economia Político Científica, hoje só Economia onde só leva em conta se o número é azul ou vermelho. Somente com uma visão contextualizada poderemos realmente avançar científica e tecnologicamente na direção do bem-estar da população, e não apenas de uma minoria.

Obs:

·   O palestrante Virgílio comentou que o governo dos EUA, em 2023, investiu 250 bi de dólares em pesquisas sobre a IA. Lembro que neste mesmo período, o mesmo EUA, investiu 850 bi de dólares em armamento. Qual a prioridade do sistema?

    Como ficará a questão da proteção dos dados individuais e dos bancos de dados nacionais com resultados das pesquisas desenvolvidas nas diversas áreas? Serão de livre acesso? A questões de segurança nacional, como ficará? Uma vez que as IAs se desenvolvem capturando estas e outras informações?

·        A Universidade de Goiás criou a graduação em IA tendo o SISU como a porta de acesso.

 Bioeconomia como estratégia de desenvolvimento

 Resumo

Apesar de não ser a “minha praia”, mas por acreditar na linha generalista, a nossa preocupação deve principalmente estar nas consequências, nas externalidades boas ou ruins de nossas atitudes - tanto as profissionais quanto as de relacionamento.

Lembrando Keynes, que define o economista mestre como aquele que, entre outros saberes, deve ter algum conhecimento em matemática, filosofia, história e ser um estadista. Devemos ter alguma atenção sobre as demais áreas do conhecimento, em especial, sobre aquela que impacta em todas as vidas... a ambiental. Portanto, com outro olhar, seguem minhas impressões sobre o colocado pelos palestrantes.

 Após a abertura do Rodrigo Rollemberg, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apresentando a linha de ação e números financeiros, assistimos às falas dos representantes da EMBRAPA, INPA e SEBRAE.

 Nada de novo no front da EMBRAPA, para além da capacidade da empresa e de seus resultados. Com foco na região amazônica mostrou seus avanços, projetos e sua atuação no resgate e manutenção da biodiversidade da floresta e de seus povos. Por parte do INPA a mesma linha. A surpresa, para minha pessoa, veio na apresentação do SEBRAE, em especial no projeto INOVA (Inova Amazônia, Cerradoa, Pampa, ...), onde trabalha o empreendedorismo junto à população local com ênfase nos produtos gerados a partir da floresta, sem renunciar à manutenção da biodiversidade e a cultura local. Onde surpreendeu a representante da EMBRAPA, quando foi apresentado o número de 60% dos projetos inscritos tinham mulheres em seus comandos, contra o número nacional de 20%, como lembrou a Euler (EMBRAPA).

Foi apresentado como exemplo uma cooperativa de mulheres que vende suas saboarias e shampoos e outros produtos na avenida Paulista e no mundo. Mas a grande sensação que causou certo alvoroço, foi um chá proveniente de uma árvore africana, usado em ritual de passagens da vida criança para adolescência e adulta, que após pesquisa por um brasileiro, descobriu em uma árvore brasileira os mesmos componentes do chá. O alvoroço foi quando o palestrante informou que o chá “resetava” a mente... todos queriam experimentar...

Brincadeiras à parte, o produto não é vendido em farmácias, é usado por psicólogos e afins e pelo exército americano, para tratamento de seus veteranos traumatizados.

Encerrando, a novidade para mim foi esse trabalho do SEBRAE, devido à minha implicância com a utilização do termo empreendedorismo dado pela mídia em subserviência do sistema capitalista.

Há braços.

Sérgio Mesquita