sábado, 2 de janeiro de 2021

NÃO SEJAMOS APENAS UM TIJOLO NO MURO[1]

Se dará resultados? Não sabemos.
O que sabemos é que o método clássico não
está dando os resultados!
José Mujica
 

Ontem, 30.01, fui brindado com dois presentes. O primeiro, ainda cedo, foi ter recebido nas redes a matéria de José Mujica[2], aquele velhinho simpático que foi guerrilheiro Tupamaro, e há pouco tempo, presidente e senador do Uruguai. Homem que deveria servir de exemplo para muitos de nós. Logo mais a noite, o segundo presente, um show do Roger Waters e suas músicas engajadas na luta por um mundo melhor. Por conta disso, o título deste texto foi inspirado nos dois, pois estamos transformando o mundo, ou somos apenas mais um tijolo no muro?

Sempre que esta discussão começa, “ensinar a pescar ou dar o peixe”, lembro do Betinho e sua frase “quem tem fome tem pressa”. Na época, ficava radicalmente do lado do ensinar a pescar. Depois com o tempo, passei a entender que, com fome, ninguém tem como se concentrar e aprender alguma coisa, a clássica frase “saco vazio não fica em pé”. Devemos sim, aplacar a fome, retirar as pessoas da extrema pobreza. Mas o que Mujica discute, é a necessidade do ensinar a pensar, a entender o porquê de sair do estado de pobreza extrema. E não qual atitude tomar primeiro. Ele entende que a urgência está presente, “quem tem fome tem pressa”, mas em paralelo, como tenho repetido, vem o momento do “sem pressa, mas sem pausa”, como colocou o falecido escritor português, José Saramago. Vem o momento do ensinar a pescar, do ensinar que o público é de todos e por todos deve ser cuidado, que você não só tem deveres, mas também tem direitos, como o de participar publicamente das instâncias de decisão dos governos.

Dar o peixe e não ensinar a pescar, nos lembra Giuseppe de Lampedusa, “tudo deve mudar, para que tudo fique como está”. Deixar como está, é como sermos apenas um tijolo em um muro de milhões de tijolos. Não impactaremos e nem mudaremos a vida de ninguém.

Um terceiro presente, não citada anteriormente, na realidade deveria ser o primeiro, foi a conversa minha com o Prefeito Fabiano Horta (Maricá-RJ), recentemente, em seu gabinete. Ele disse como gostaria que fosse este segundo mandato. Cita alguns feitos, como o Passaporte para o Futuro, a Moeda Social e a Renda Básica, os Vermelhinhos com a Tarifa Zero, a manutenção dos empregos da população no processo da pandemia, e outras ações. Ele tem a certeza que é o momento do empoderamento da população. O momento do saber o porquê de cada atitude tomada pelo governo, e o papel de importância que a população deve ter na participação e nas decisões do governo. O momento de, sem pausa, aprender a pescar.

Mujica quando critica as esquerdas em seu artigo, o faz principalmente por conta da falta de complementação dos projetos. Não basta tirar da extrema pobreza, do poder viajar de avião e fazer os saudosos churrascos com os amigos e amigas. Não devemos ser um agrupamento de indivíduos, o capitalismo faz isso com excelência. Devemos sim, ser cidadãos conscientes de nossos deveres e direitos.

Umas das ferramentas que pode despertar o sentimento de sermos seres que dependemos da vida em sociedade, é a solidariedade. Não aquela assistencialista, mas a Solidariedade na economia, nos saberes, na produção e distribuição de bens e serviços, que sejam essenciais para uma melhor qualidade de vida, que atenda a todos e não a pequenos grupos “escolhidos”. Ouçamos o velhinho que se manteve íntegro ao longo de sua vida.

Que venha o Orçamento Participativo, que se dê voz aos Conselhos Municipais, que sejam realizadas mais Audiências Públicas e, neste momento pandêmico, que também venha a Vacina.

Há braços.

Sérgio Mesquita

Diretório Municipal do PT-Maricá 



[1] Inspirado na músicaAnother Brick In The Wall”, do Pink Floyd;

[2] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/08/12/esquerda-tende-a-cair-no-infantilismo-diz-mujica.htm?cmpid=copiaecola