Internacionalmente assistimos a
um recrudescimento de forças fascistas que, como nos anos 30 do século passado,
aproveitam-se de mais uma das crises do sistema capitalista (2008) para
disputar o poder nos vários cantões do mundo. A crise capitalista não só impede
o crescimento dos recentes governos de esquerdas que surgiram nas últimas
décadas, como alinha às corporações internacionais com os movimentos fascistas
para retomar o poder nestes estados. Esta aliança também serve para reverter
nas velhas potências da Europa e na América do Norte, as ações de bem-estar
social existentes ou, como no caso dos EUA, as que estivessem sendo debatidas,
a exemplo do sistema de Saúde Pública. O Brasil não passa imune a esses
eventos. Hoje discute-se no mundo a “Lava Jato” como mais uma ferramenta do
neoliberalismo, como foram as primaveras árabes e outros movimentos.
O Brasil em consequência do
colocado acima, passa por um momento triste de sua curta história democrática.
O país vive um estado de exceção, onde suas instituições públicas perderam a
iniciativa e a capacidade de produzir bem-estar para sua população. Retornamos
aos idos tempos da Idade Média (Trevas), onde àqueles que diziam representar
Deus detinham o poder da vida e da morte sobre os demais mortais. Hoje, uma
ínfima parcela da população age como se estivessem não só acima do bem e do
mal, pior, agem como se fossem o próprio Deus, longe do alcance das leis
humanas e/ou qualquer código de convivência humana. Onde, em nome das
corporações destroem as recentes conquistas sociais e de soberania nacional,
nos levando de volta aos tempos de colônia do império, “sofá onde todo mundo
senta / onde a gente sempre põe mais um” como colocado na música do
Premeditando o Breque, “Bem Brasil”.
Aqui no Estado do Rio, não é
novidade para ninguém a situação de abandono/destruição em que se encontram
todas as áreas de atuação do governo. O Estado encontra-se falido econômica e
socialmente.
Dentre outros, destacamos três
ações que levaram o Estado a atual situação de caos. A primeira foi a
transformação do Estado em um grande laboratório de aplicação das políticas
neoliberais. Políticas estas que descapitalizaram o Estado e acabaram com suas
indústrias e capacidade de inovação, a Petrobras é o maior exemplo. A segunda
foi o desdobramento do “Mensalão” na nova farsa da “Lava Jato”, que destruiu o
pouco que restava de produtivo no Estado. A terceira ação, anterior às duas,
foi a tomada do aparelho do Estado pela política tradicional pelo MDB, depois
PMDB e hoje, MDB outra vez, mas sempre com o velho e pernicioso “chaguismo”. O
partido se encastelou em todos os órgãos do Estado a ponto de, como exemplo, o
Tribunal de Contas do Estado que teve quase todos seus conselheiros presos. Na
Assembleia e no Congresso Nacional, temos os “cunhas”, “piccianis” e “moreiras”
como seus representantes.
Dificilmente algum futuro governo
irá reverter este quadro durante seu mandato, menos ainda em seus dois
primeiros anos, se a intenção for de reverter o quadro. Se a intenção for a de dar
continuidade à política de então, as coisas ficarão pior ainda em seu primeiro
ano.
É com esse quadro que se
apresentam as eleições de 2018, onde não temos qualquer garantia de retorno à
normalidade no pós eleição.
O PT surgiu com a intenção de
fazer política de forma diferente dos partidos tradicionais, à esquerda ou à
direita. Nasceu da base e teve todo seu processo de crescimento/desenvolvimento
de forma horizontal. As propostas nasciam nos núcleos e eram discutidas a cada
instância superior até chegar às Plenárias Nacionais e aos Congressos
Nacionais. Existia uma forte participação popular e as atuações nas
organizações de bases eram mais importantes do que as ações no Partido, pois o
que era encaminhado nascia destas organizações.
Porém, à medida em que crescíamos
e alcançávamos os espaços institucionais, fomos nos afastando da base. Fizemos
o Orçamento Participativo, inovamos no transporte público, na educação e muito
mais, mas não derrotamos o sistema, pois perdemos a capacidade de mobilização
popular e “deixamos” passar algumas oportunidades como a discussão da
regulamentação da Comunicação, entre outras. Deixamos de ser diferentes e
segundo o sociólogo Wanderlei Guilherme dos Santos, os partidos de esquerda se
transformaram em partidos de cartel.
Por outro lado, a mídia do
sistema trabalhou e trabalha arduamente pela criminalização da política e o fim
das organizações populares, forçando ainda mais o fosso entre a base e as
instâncias superiores de organização e decisão. No linguajar sindical/político,
“perdemos nossas garrafas”.
Por isso, tem-se a clareza que
não podemos assumir o governo do Estado se for para trabalhar em sua engrenagem
como está. A máquina nos engolirá outra vez e sairemos menores. Precisamos sim resgatar
e inovar na participação popular. Sem a participação popular, decidindo ombro a
ombro com o governo onde serão aplicados os recursos, não avançaremos.
Precisa-se deixar claro para a população que a nossa definição de
custo/benefício não é a mesma que nos coloca o “mercado”, onde melhorar
salários e condições de trabalho são custos e não investimentos. Queremos sim, mais
investimentos. Queremos mais participação popular, mais saúde, e que nossos direitos
e deveres sejam respeitados, que nos atendam. Mas temos que ter claro que não
será nessa engrenagem atual. Temos que mudar a engrenagem e acreditamos que
somente ouvindo a todos, em especial as mulheres e a juventude, é que poderemos
mudar, resgatar. Apanhar muito no começo até que consigamos resgatar a
população defendendo o que, conosco, ser o melhor para todos.
O Governo da Márcia deve ter como
fermento de sua receita, o respeito e atenção àqueles que estarão governando/pensando/vivendo
juntos conosco.
Sérgio Mesquita
Sec. de Formação do PT-Maricá