quarta-feira, 25 de julho de 2018

PARA REFLEXÃO E DISCUSÃO PARA AS PROPOSTAS A SEREM APRESENTADAS NA REUNIÃO COM A MÁRCIA TIBURI


Internacionalmente assistimos a um recrudescimento de forças fascistas que, como nos anos 30 do século passado, aproveitam-se de mais uma das crises do sistema capitalista (2008) para disputar o poder nos vários cantões do mundo. A crise capitalista não só impede o crescimento dos recentes governos de esquerdas que surgiram nas últimas décadas, como alinha às corporações internacionais com os movimentos fascistas para retomar o poder nestes estados. Esta aliança também serve para reverter nas velhas potências da Europa e na América do Norte, as ações de bem-estar social existentes ou, como no caso dos EUA, as que estivessem sendo debatidas, a exemplo do sistema de Saúde Pública. O Brasil não passa imune a esses eventos. Hoje discute-se no mundo a “Lava Jato” como mais uma ferramenta do neoliberalismo, como foram as primaveras árabes e outros movimentos.

O Brasil em consequência do colocado acima, passa por um momento triste de sua curta história democrática. O país vive um estado de exceção, onde suas instituições públicas perderam a iniciativa e a capacidade de produzir bem-estar para sua população. Retornamos aos idos tempos da Idade Média (Trevas), onde àqueles que diziam representar Deus detinham o poder da vida e da morte sobre os demais mortais. Hoje, uma ínfima parcela da população age como se estivessem não só acima do bem e do mal, pior, agem como se fossem o próprio Deus, longe do alcance das leis humanas e/ou qualquer código de convivência humana. Onde, em nome das corporações destroem as recentes conquistas sociais e de soberania nacional, nos levando de volta aos tempos de colônia do império, “sofá onde todo mundo senta / onde a gente sempre põe mais um” como colocado na música do Premeditando o Breque, “Bem Brasil”.

Aqui no Estado do Rio, não é novidade para ninguém a situação de abandono/destruição em que se encontram todas as áreas de atuação do governo. O Estado encontra-se falido econômica e socialmente.

Dentre outros, destacamos três ações que levaram o Estado a atual situação de caos. A primeira foi a transformação do Estado em um grande laboratório de aplicação das políticas neoliberais. Políticas estas que descapitalizaram o Estado e acabaram com suas indústrias e capacidade de inovação, a Petrobras é o maior exemplo. A segunda foi o desdobramento do “Mensalão” na nova farsa da “Lava Jato”, que destruiu o pouco que restava de produtivo no Estado. A terceira ação, anterior às duas, foi a tomada do aparelho do Estado pela política tradicional pelo MDB, depois PMDB e hoje, MDB outra vez, mas sempre com o velho e pernicioso “chaguismo”. O partido se encastelou em todos os órgãos do Estado a ponto de, como exemplo, o Tribunal de Contas do Estado que teve quase todos seus conselheiros presos. Na Assembleia e no Congresso Nacional, temos os “cunhas”, “piccianis” e “moreiras” como seus representantes.

Dificilmente algum futuro governo irá reverter este quadro durante seu mandato, menos ainda em seus dois primeiros anos, se a intenção for de reverter o quadro. Se a intenção for a de dar continuidade à política de então, as coisas ficarão pior ainda em seu primeiro ano.

É com esse quadro que se apresentam as eleições de 2018, onde não temos qualquer garantia de retorno à normalidade no pós eleição.

O PT surgiu com a intenção de fazer política de forma diferente dos partidos tradicionais, à esquerda ou à direita. Nasceu da base e teve todo seu processo de crescimento/desenvolvimento de forma horizontal. As propostas nasciam nos núcleos e eram discutidas a cada instância superior até chegar às Plenárias Nacionais e aos Congressos Nacionais. Existia uma forte participação popular e as atuações nas organizações de bases eram mais importantes do que as ações no Partido, pois o que era encaminhado nascia destas organizações.

Porém, à medida em que crescíamos e alcançávamos os espaços institucionais, fomos nos afastando da base. Fizemos o Orçamento Participativo, inovamos no transporte público, na educação e muito mais, mas não derrotamos o sistema, pois perdemos a capacidade de mobilização popular e “deixamos” passar algumas oportunidades como a discussão da regulamentação da Comunicação, entre outras. Deixamos de ser diferentes e segundo o sociólogo Wanderlei Guilherme dos Santos, os partidos de esquerda se transformaram em partidos de cartel.

Por outro lado, a mídia do sistema trabalhou e trabalha arduamente pela criminalização da política e o fim das organizações populares, forçando ainda mais o fosso entre a base e as instâncias superiores de organização e decisão. No linguajar sindical/político, “perdemos nossas garrafas”.

Por isso, tem-se a clareza que não podemos assumir o governo do Estado se for para trabalhar em sua engrenagem como está. A máquina nos engolirá outra vez e sairemos menores. Precisamos sim resgatar e inovar na participação popular. Sem a participação popular, decidindo ombro a ombro com o governo onde serão aplicados os recursos, não avançaremos. Precisa-se deixar claro para a população que a nossa definição de custo/benefício não é a mesma que nos coloca o “mercado”, onde melhorar salários e condições de trabalho são custos e não investimentos. Queremos sim, mais investimentos. Queremos mais participação popular, mais saúde, e que nossos direitos e deveres sejam respeitados, que nos atendam. Mas temos que ter claro que não será nessa engrenagem atual. Temos que mudar a engrenagem e acreditamos que somente ouvindo a todos, em especial as mulheres e a juventude, é que poderemos mudar, resgatar. Apanhar muito no começo até que consigamos resgatar a população defendendo o que, conosco, ser o melhor para todos.

O Governo da Márcia deve ter como fermento de sua receita, o respeito e atenção àqueles que estarão governando/pensando/vivendo juntos conosco.

Sérgio Mesquita
Sec. de Formação do PT-Maricá