sábado, 13 de fevereiro de 2021

QUEM DE FATO’’ SUSTENTA O (DES)GOVERNO BOLSONARO?

 FRENTE ATIVISTAS DE ESQUERDA BRASIL

1) OS EUA E O IMPERIALISMO

É um fato já notório para muitos brasileiros que os EUA exercem aqui, no nosso País, uma relação de COLONIZADOR. Porém, não podemos culpar somente os EUA. É mais que notório que os maiores culpados são os brasileiros traidores da Pátria, que aqui dentro são lacaios do IMPERIALISMO, a troco de dinheiro e outras benesses. Demonstrar e provar o que dizemos é o objetivo mais importante deste nosso estudo. Outro objetivo é criarmos uma consciência no nosso povo de que os EUA não são vizinhos bonzinhos, parceiros amistosos, nem defensores da democracia e do bem estar entre os povos. São exploradores que tem por objetivo roubar nossas riquezas para que eles possam ostentar uma vida de bilionários para suas elites, sugerindo que são ricos porque são mais desenvolvidos ou mais inteligentes que os outros. Eles são, na realidade, grandes ladrões, exploradores e malandros, que vivem às custas do empobrecimento e ignorância do seu próprio povo que vive na extrema pobreza (grande parte) também, e dos povos do mundo inteiro, sejam brasileiros, latino americanos, africanos e asiáticos.

Para termos mais uma noção de como os Estados Imperialistas agem, trazemos um exemplo através de uma reportagem da página do Jornal Carta Campinas, em um artigo sobre PIRATARIA INGLESA, cujo link aqui colocamos para verificação, denúncia e estudo: https://cartacampinas.com.br/2020/07/corte-da-inglaterra-promove-pirataria-com-ouro-que-pertence-a-populacao-da-venezuela/

”Com efeito, a medida inglesa nada mais é do que pirataria moderna, expediente que a Coroa de Sua Majestade conhece muito bem, desde a época em que financiava mercenários para saquear galeões espanhóis repletos de ouro roubados da América Latina.” (UCHÔA, 2020)

O escritor uruguaio Eduardo Galeano em seu célebre livro ‘’As Veias Abertas da América Latina’’ mostra de forma muito bem definida essa questão da dominação do Imperialismo na América Latina, desde a época dos Europeus quando a descobriram, e a invadiram para cometer os diversos genocídios e holocaustos contra os povos originários que aqui viviam, e roubar tudo o que fosse precioso. Ele diz:

‘’É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu, ou mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até os dias de hoje nos distantes centros de poder.  Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, do exterior, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo. Para cada um se atribuiu uma função, sempre em benefício do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento, e se tornou infinita a cadeia de sucessivas dependências, que têm muito mais do que dois elos e que, por certo, também compreende, dentro da América Latina, a opressão de países pequenos pelos maiores seus vizinhos, e fronteiras adentro de cada país, a exploração de suas fontes internas de víveres e mão de obra pelas grandes cidades e portos (há quatro séculos já haviam nascido dezesseis das 20 cidades latino-americanas atualmente mais populosas). Para os que concebem a História como uma contenda, o atraso e a miséria da América Latina não são outra coisa senão o resultado de seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas aqueles que ganharam só puderam ganhar porque perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já foi dito, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos. Na alquimia colonial e neocolonial o ouro se transfigura em sucata, os alimentos em veneno. Potosí, Zacatecas e Ouro Preto caíram de ponta-cabeça da grimpa de esplendores dos metais preciosos no fundo buraco dos socavões vazios, e a ruína foi o destino do pampa chileno do salitre e da floresta amazônica da borracha; o nordeste açucareiro do Brasil, as matas argentinas de quebrachos ou certos povoados petrolíferos do lago de Maracaibo têm dolorosas razões para acreditar na mortalidade das fortunas que a natureza dá e o imperialismo toma. A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominadas de fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga.” (GALEANO, 1996, pág. 14)

Dentro das informações governamentais, temos por exemplo, a declaração de Henry Kissinger (diplomata estadunidense que atuou na política externa dos EUA na América, entre 1968 e 1976) que foi publicado em jornais brasileiros.

Certa feita, os jornais brasileiros publicaram que Henry Kissinger teria dito em uma conferência, após sua saída do governo, que o Brasil desenvolvido seria uma ameaça para a segurança de seu país. Embora houvesse o desmentido de praxe, o que Kissinger queria dizer com isso? Por que o desenvolvimento do Brasil poderia ser uma ameaça para a segurança nacional norte-americana? Como se sabe, Kissinger foi dirigente do National Security Council (NSC) no primeiro mandato de Nixon (1913-1994) e acumulou essa função com a de secretário de Estado no segundo governo daquele presidente. Em 1974, o memorando secreto NSSM-200, do NSC, desclassificado em 1989 por força da lei de liberdade de informação, fornecia as evidências básicas para interpretarmos as palavras de Kissinger. A economia norte-americana era cada vez mais dependente de recursos naturais do exterior para garantir o seu desenvolvimento, e isso foi oficializado no NSSM-200 emitido pelo governo norte-americano. O NSSM-200 fixava uma política para garantir o fluxo contínuo de materiais para o desenvolvimento da economia norte-americana: “A localização de reservas conhecidas de minérios de mais alto teor da maioria dos elementos favorece uma dependência crescente de todas as regiões industrializadas de importações dos países menos desenvolvidos. O problema real de suprimentos minerais reside, não na disponibilidade física básica, mas nos temas econômico-políticos relativos ao acesso a eles, os termos de exploração e divisão dos benefícios entre os produtores, consumidores e os governos dos países de origem. […] “Sejam quais forem as medidas que se tomem para resguardar-se de uma interrupção nos fornecimentos, a economia norte-americana requererá grandes e crescentes quantidades de recursos minerais do exterior, especialmente dos países menos desenvolvidos. Este fato amplia o interesse dos Estados Unidos na estabilidade social, política e econômica dos países fornecedores.” [Paulo Romeu Braga – Analista de Informações, ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)] (BRAGA, 2002)

Ou seja, o que o documento (memorando) intitulado NSSM-200 mostra é: UMA CONFISSÃO DE QUE OS EUA NÃO ADMITE QUE OS PAÍSES A ELES SUBORDINADOS TIVESSEM e continuem a ter o DOMÍNIO SOBRE SEUS PRÓPRIOS RECURSOS NATURAIS. Ex. É por isto, que os EUA tentam de diversas maneiras derrubar o governo de Nicolás Maduro na VENEZUELA, para roubar o PETRÓLEO do povo venezuelano. E é por isto que o BRASIL ao sofrer o golpe de 2016 (orientado pelos EUA) perdeu todo o domínio sobre o Petróleo que se encontra na camada PRÉ-SAL.

A intromissão dos EUA no Brasil acontece de fato, após a Segunda Guerra Mundial, onde a Inglaterra devendo diversos favores (acordos) de guerra aos EUA, cede os seus territórios coloniais na América Latina para os EUA, e o Brasil estava dentro desse acordo, pois antes da Segunda Guerra Mundial o Brasil era área de influência do Imperialismo da Inglaterra.

1.1) A TENTATIVA DE GOLPE EM GETÚLIO VARGAS EM 1954 FOI FRUSTRADA PELO SEU SUICÍDIO.

Na década de 1940, (GOVERNO DE GETÚLIO) o governo norte-americano, interessado no estudo dos minerais estratégicos para a defesa continental, enviou ao Brasil três ilustres técnicos: Charles Will Wright, especialista em minerais estratégicos, do U.S. Bureau of Mines, Stephen R. Capps e William Drumn Johnston Jr., geólogos conceituados do U.S. Geological Survey, para colaborarem com seus colegas brasileiros nas determinações de nossas reservas minerais. Em 1941, (GOVERNO DE GETÚLIO) os Drs. Wright e Johnston passaram a chefiar as pesquisas na América do Sul. Frank Gray Pardee, do Serviço Geológico do Estado de Michigan, foi comissionado pelo U.S. Bureau of Mines para dar assistência à Embaixada Americana no Rio de Janeiro. John Van Nostrand Dorr II, assistido por sua esposa Mary Elizabeth Dorr, paleontologista, e pelo engenheiro C. Buckey, topógrafo, estudaram minuciosamente o depósito manganesífero de Urucum, em Mato Grosso. Em 1942 (GOVERNO GETÚLIO) Buckey realizou, na Divisão de Geologia e Mineralogia, um curso sobre topografia para fins de geologia, introduzindo o método de levantamento a prancheta, pouco divulgado no País. William Pecora, também do U.S. Geological Survey, estudou pormenorizadamente os depósitos niquelíferos do Brasil, especialmente os da Serra da Mantiqueira, em São José do Tocantins, Goiás. Rápida passagem pelo Brasil tiveram, em janeiro de 1942, (GOVERNO DE GETÚLIO) o Dr. Elmer W. Peherson, chefe da Divisão Econômica do U.S. Bureau of Mines, e o Dr. Donnel Foster Hewett, chefe da Divisão de Metais do U.S. Geological Survey e a maior autoridade dos Estados Unidos em manganês. O prof. W. D. Johnston continuou no Brasil estudando os depósitos de cromita, os pegamatitos produtores de tantalita, berilo etc., tendo apresentado à Academia Brasileira de Ciências uma interessante contribuição sobre a gênese dos depósitos estratificados de cromita, na sua opinião, provenientes de uma verdadeira sedimentação rítmica em câmara magmática. Posteriormente, uma turma numerosa de outros técnicos aqui aportou, subordinada ao magnata Nelson Rockefeller, coordenador do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). Rockefeller havia conseguido esse cargo de dirigente do OCIAA no governo Eisenhower (1890-1969), depois de convencê-lo de que os Estados Unidos precisavam olhar com mais carinho a América Latina. Nelson Rockefeller tinha grandes negócios aqui e através do Instituto de Assuntos Inter-Americanos. [Paulo Romeu Braga – Analista de Informações, ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)] (BRAGA, 2002)

Quando ocorreu o “Golpe de 1954”, os Estados Unidos já haviam montado uma ampla estrutura de segurança exclusivamente para cuidar da América Latina. A base para a fundamentação dessa decisão adveio das reuniões de consultas dos chanceleres americanos, que geraram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), assinado em 1947 no Rio de Janeiro. Uma das ambiguidades do TIAR é que ele poderia ser usado contra os governos que o haviam assinado, com exceção dos Estados Unidos. A primeira missão naval dos Estados Unidos na América Latina se instalara no Brasil em 1922. Até 1942 os oficiais brasileiros eram treinados na Alemanha ou com os franceses, que mantiveram uma missão no Brasil entre 1919 e 1940. A Segunda Guerra mundial deu a Washington uma justificativa para expandir mais sua influência sobre as forças brasileiras. O planejamento militar era coordenado por uma Comissão Militar Mista Brasil/Estados Unidos. […] Em decorrência, no acordo de cooperação militar formalizado durante a Segunda Guerra, o Brasil veio a ocupar um importante papel como grande fornecedor de matérias-primas e minerais estratégicos para o desenvolvimento da economia e segurança norte-americana. Finda a Guerra, já estava definida a função que a América Latina teria dentro da zona de influência global dos Estados Unidos. Em 1949, o Departamento de Estado havia decidido que a América Latina deveria constituir-se em reserva estratégica para garantir o poderio econômico e militar dos Estados Unidos dentro do novo arranjo mundial que deu origem à Guerra Fria. […] Em 1949, o Pentágono ajudou o Brasil a fundar e equipar uma cópia do U.S. National War College, a Escola Superior de Guerra (ESG). Militares norte-americanos permaneceram no corpo docente da ESG até 1967. A Comissão Militar Mista sobrevivera a guerra e, em 1954, foi registrada nas Nações Unidas como agencia permanente, destinada a cuidar das vendas de armamentos e da assistência militar. A participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália propiciou estreito relacionamento e amizades prolongadas entre oficiais brasileiros e norte-americanos. O relacionamento pessoal entre Castelo Branco e Vernon Walters veio a configurar-se, em 1964, como um importante trunfo para os norte-americanos. Vários oficiais brasileiros que haviam estado na campanha da Itália foram enviados aos Estados Unidos para treinamento, de onde voltaram com novas ideias sobre desenvolvimento industrial e organização política do país. Os oficiais, influenciados pelos acontecimentos da Segunda Guerra e decididamente opostos a Getúlio Vargas, a quem consideravam como chefe de um regime neofacista, conspiravam contra Getúlio Vargas defendia uma economia nacionalista estatizante e antes que implementasse seu plano foi deposto pelos oficiais da FEB alinhados com os industriais locais, a oligarquia, a classe média e as empresas multinacionais. O marechal Dutra, que sucedeu a Vargas em 1946, abriu a economia ao capital estrangeiro, criou a ESG e estabeleceu a Comissão Mista Brasil/Estados Unidos. [Paulo Romeu Braga – Analista de Informações, ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)] (BRAGA, 2002)

A Carta Testamento de Getúlio Vargas é uma prova candente da exploração do Brasil por “capitais estrangeiros”, conforme podemos ler nos trechos escolhidos do último documento escrito pelo ex. presidente do Brasil.

“Mais uma vez AS FORÇAS  E OS INTERESSES CONTRA O POVO COORDENARAM-SE.

[…] DEPOIS DE DECÊNIOS DE DOMÍNIO E ESPOLIAÇÃO DOS GRUPOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS INTERNACIONAIS, […]

A CAMPANHA SUBTERRÂNEA DOS GRUPOS INTERNACIONAIS ALIOU-SE À DOS GRUPOS NACIONAIS REVOLTADOS CONTRA O REGIME DE GARANTIA DO TRABALHO.

A LEI DE LUCROS EXTRAORDINÁRIOS FOI DETIDA NO CONGRESSO. […]

QUIS CRIAR LIBERDADE NACIONAL NA POTENCIALIZAÇÃO DAS NOSSAS RIQUEZAS ATRAVÉS DA PETROBRÁS E, MAL COMEÇA ESTA A FUNCIONAR, A ONDA DE AGITAÇÃO SE AVOLUMA.

A ELETROBRÁS FOI OBSTACULIZADA ATÉ O DESESPERO. […]

OS LUCROS DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS ALCANÇAVAM ATÉ OS 500% AO ANO.

NAS DECLARAÇÕES DE VALORES DO QUE IMPORTÁVAMOS EXISTIAM FRAUDES CONSTATADAS DE MAIS DE 100 MILHÕES DE DÓLARES POR ANO. […]

LUTEI CONTRA A ESPOLIAÇÃO DO BRASIL. LUTEI CONTRA A ESPOLIAÇÃO DO POVO.  […] 

Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.’’ (Getúlio Vargas- Rio de Janeiro, 23/08/1954)

1.2) O GOLPE DE 1964

”A política intervencionista dos Estados Unidos em relação aos países da América Latina não é de agora: ela tem pelo menos 150 anos. […] Essas intervenções, brancas ou armadas, segundo nos revela a História, muitas vezes ainda bem recente, se manifestam de vários modos, desde a simples corrupção particular, usada na compra de presidentes, ministros, deputados, generais, jornalistas, em dinheiro sonante ou sob a forma de concessões comerciais, publicidade, etc., até a corrupção generalizada sob a forma de aliança para o Progresso, com a qual se pretende comprar o país inteiro. Podem apresentar-se ainda sob a forma de golpes de Estado, militares, mais ou menos violentos, para derrubar presidentes eleitos pelo voto popular ou de puro e simples desembarque de Marines” (BASBAUM, 1977, Pág. 101, Cáp. VI)

Desde 1963, o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) fornecia material impresso, apoio operacional e dinheiro a candidatos a governador, deputados e senadores anticomunistas e contrários a João Goulart. (CARTA CAPITAL, 12/02/2014)

Através de empresas como Texaco, Esso, Coca-Cola, Bayer e IBM, o dinheiro dos EUA ajudou a eleger ainda mais de 150 deputados na Câmara que fizeram frente ao governo Jango. (CARTA CAPITAL, 12/02/2014) [como hoje muitos deputados foram comprados para comporem um rolo compressor]

“UM ANO ANTES DO GOLPE JÁ SE SABIA DA PRESENÇA, ATRAVÉS DA EMBAIXADA AMERICANA, DA CIRCULAÇÃO DE DÓLARES E TAMBÉM DA COMPRA DE REDAÇÕES DE JORNAL.’’  (CARTA CAPITAL, 12/02/2014)

‘’Entre 1962 e 1964 o IBAD financiou mais de 200 filmetes de propaganda contra o governo João Goulart”, explica João Vicente. (filho de João Goulart). (CARTA CAPITAL, 12/02/2014)

“E temos ainda gravações da Casa Branca que mostram o Kennedy, antes mesmo do (Lyndon) Johnson, falando com o (então embaixador norte-americano no Brasil) Lincoln Gordon: ‘Pô, mas estamos acusando o Jango de comunismo, e o Partido Comunista no Brasil é incipiente’. Ao que Johnson responde: ‘Não importa, agora já está montado e ele vai ser acusado da mesma forma’.” (CARTA CAPITAL, 12/02/2014)

Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu os setores politicamente mais mobilizados à esquerda no espectro político, como por exemplo o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Milhares de pessoas foram presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de tortura foi comum, especialmente no Nordeste. O líder comunista Gregório Bezerra, por exemplo, foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife.  (FGV CPDOC)

A junta baixou um “Ato Institucional” – uma invenção do governo militar que não estava prevista na Constituição de 1946 nem possuía fundamentação jurídica.  (FGV CPDOC)

Seu objetivo era justificar os atos de exceção que se seguiram. ao longo do mês de abril de 1964 foram abertos centenas de inquéritos policiais-militares (IPMS) chefiados em sua maioria por coronéis, esses inquéritos tinham o objetivo de apurar atividades consideradas subversivas. Milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos suspensos e funcionários públicos civis e militares foram demitidos ou aposentados. Entre os cassados, encontravam-se personagens que ocuparam posições de destaque na vida política nacional, como João Goulart, Jânio Quadros, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo. E AMPLOS SETORES DE CLASSE MÉDIA PEDIRAM E ESTIMULARAM A INTERVENÇÃO MILITAR, como forma de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise econômica. (FGV CPDOC) [como ocorrido recentemente, no golpe contra Dilma]

O golpe foi recebido com alívio pelo governo norte-americano, satisfeito de ver que o Brasil não seguia o mesmo caminho de Cuba, onde a guerrilha liderada por Fidel Castro havia conseguido tomar o poder. Os Estados Unidos acompanharam de perto o desenrolar dos acontecimentos, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido, através da secreta “Operação Brother Sam”, dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais.

Uma ideia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à ordem capitalista e à segurança do país não viria de fora, através de uma guerra tradicional contra exércitos estrangeiros; ela viria de dentro do próprio país, através de brasileiros que atuariam como “inimigos internos” – para usar uma expressão da época. Esses “inimigos internos” procurariam implantar o comunismo no país pela via revolucionária, através da “subversão” da ordem existente – daí serem chamados pelos militares de “subversivos”. Diversos exemplos internacionais, como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e principalmente em Cuba, serviam para reforçar esses temores. Essa visão de mundo estava na base da chamada “Doutrina de Segurança Nacional” e das teorias de “guerra anti-subversiva” ou “anti-revolucionária” ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas. (FGV CPDOC)

Porém, como sabemos, os motivos verdadeiros para o golpe foram:

1) A Lei do Controle das Remessas de Lucros;

2) A Lei da Reforma Agrária;

3) A lei do Monopólio Estatal do Petróleo.

É por isso que 1964 representa um marco e uma novidade na história política do Brasil: diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões, desta vez militares não apenas deram um golpe de Estado, como permaneceram no poder.

1.3) O GOLPE DE 2016

O POVO BRASILEIRO tem um importante contingente de entreguistas em toda as esferas das classes dirigentes. Ao mesmo tempo, o Povo Brasileiro tem um grande contingente de patriotas entre as classes populares, o que é o mais importante dentro de uma Nação.

Mesmo antes de 1500, já era amplamente praticada a interferência de um país mais poderoso sobre outro ingênuo, ou menos poderoso. Sempre foi propósito das relações exteriores em interferir na vida política interna de outros países, e os chefes de Estado sempre procuraram inventar maneiras de subordinar outros países menos desenvolvidos e com governos pouco avisados de modo a obterem proveitos em seus próprios interesses, declaradamente ou usando de subterfúgios para conseguirem informações, furtando segredos e se intrometendo nos assuntos internos do governo-vítima.

Caso um país não tenha condições de segurar e esconder suas informações secretas, estratégicas, facilmente poderá ser vítima de espionagem por outros competidores, os quais poderão usar seus serviços de inteligência, espionagem, fornecendo informações falsas, ou patrocinando propagandas mentirosas, com o objetivo de descrédito, que são táticas muito utilizadas contra países indefesos. Outras vezes, o próprio país competidor se acha tão esperto que pode achar uma maneira mais curta de influir sobre os rumos do país-vítima conseguindo alguém, um habitante do país-vítima, ou um grupo deles dispostos a efetuar UM GOLPE DE ESTADO, os quais podem ser encorajados por uma quantia bem gorda de dinheiro, ou a certeza de proteção, ajuda externa e guarida, em caso de ser pego em flagrante, etc. A maneira mais comum e mais fácil de um governo competidor afetar, influir, ou destruir o outro, é construir um relacionamento especial com certos grupos de pessoas ambiciosas dentro do país-vítima. 

Por exemplo, foi revelado dia 01/07/2020, através de reportagem esclarecedora da Agência Pública, o envolvimento de agentes do FBI com os procuradores da Lava jato e a PF (Polícia Federal): ‘’O FBI E A LAVA JATO’’ https://apublica.org/2020/07/o-fbi-e-a-lava-jato/

“uma agente do FBI, que agia junto com os procuradores da Lava Jato, foi revelada por reportagem da Agência Pública e The Intercept Brasil. O nome é Leslie Rodrigues Backschies. Dois anos antes do Golpe Parlamentar de 2016, Leslie foi designada pelo FBI para ajudar nas investigações da Lava Jato. Em diálogos revelados, também mostram ilegalidades defendidas pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba”. (CARTA CAMPINAS, 01/07/2020)

A atuação de Leslie no Brasil foi considerada “um trabalho tremendo” e “crítico para o FBI” pelos seus supervisores. Atualmente, Leslie comanda a Unidade de Corrupção Internacional do FBI em Miami aberta apenas para investigar casos de corrupção na América do Sul, o Miami International Corruption Squad.  (CARTA CAMPINAS, 01/07/2020)

Mas Leslie não atuou sozinha na Lava Jato. Em outubro de 2015, diz a reportagem, Leslie fez parte da comitiva de 18 agentes norte-americanos que foram a Curitiba se reunir com procuradores e advogados de delatores sem passar pelo Ministério da Justiça, órgão que deveria, segundo a lei, intermediar todas as matérias de assistência jurídica com os EUA, segundo revelaram Agência Pública e The Intercept Brasil. (CARTA CAMPINAS, 01/07/2020)

2) O QUE É O IMPERIALISMO E COMO ELE DESTRÓI A SOBERANIA DOS POVOS?

Segundo Vladimir Lenin, o “Imperialismo é a fase superior do Capitalismo’’, que por ele é definido como: ‘’Se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, dever-se-ia dizer que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo. Essa definição compreenderia o principal, pois, por um lado, o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital das associações monopolistas de industriais, e, por outro lado, a partilha do mundo é a transição da política colonial que se estende sem obstáculos às regiões ainda não apropriadas por nenhuma potência capitalista para a política colonial de posse monopolista dos territórios do globo já inteiramente repartido.’’  (LENIN, 1984)

Mas as definições excessivamente breves, se bem que cômodas, pois contêm o principal, são insuficientes, já que é necessário extrair delas especialmente traços muito importantes do que é preciso definir. Por isso, sem esquecer o caráter condicional e relativo de todas as definições em geral, que nunca podem abranger, em todos os seus aspectos, as múltiplas relações de um fenômeno no seu completo desenvolvimento, convém dar uma definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes: 1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios (e, na prática eliminou a livre concorrência, tão cara à classe burguesa.), os quais desempenham um papel decisivo, (tipo ditadura do capital) na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse “capital financeiro” da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes. O imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trusts internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países capitalistas mais importantes. (LENIN, 1984)

O Imperialismo destrói a soberania dos povos de diversas maneiras, entre elas podemos citar algumas, como:

1) O Imperialismo compra os políticos (e financia os partidos) de determinado país, para que esses agentes públicos tornem-se defensores dos interesses privados, e negligencie os interesses do povo. (Ex. O ex. presidente Fernando Henrique Cardoso [PSDB] e a Privataria Tucana que aconteceu na década de 1990. Um exemplo atual: O Senador Tasso Jereissati [PSDB] e a operação que está sendo feita para privatizar a água potável dos aquíferos e entregar o monopólio de uso para a Coca-Cola, igual fizeram nos países africanos.)

2) Infiltra agentes imperialistas dentro dos países, para que essas pessoas espionem e trabalhem para destruir as empresas públicas e os setores da economia que são concorrentes das empresas multinacionais de países capitalistas. (Ex. Operação Lava Jato e a destruição das empresas nacionais que detinham obras no mercado externo. Espionagem da Petrobras pelos EUA durante o governo Dilma Rousseff, antes do golpe de 2016)

3) Utiliza as ferramentas jurídicas de determinado país, comprando a burguesia local (Legisladores) para que as leis sejam mudadas, de forma que favoreça a privatização e a entrega de riquezas (empresas, indústrias, terras, etc..) e minerais preciosos (Nióbio) para os países Imperialistas. (Ex. Reforma da Previdência, Privatização da empresa Vale do Rio Doce)

4) Utiliza a Democracia burguesa como fachada de Democracia real, enganando a maioria da população, implantando uma ditadura do capital disfarçada, onde o povo sempre será lesado em seus direitos básicos e impedido de utilizar os recursos naturais (como água), além de outras riquezas de interesse privado sejam cooptadas (roubadas) pelos países imperialistas. (Ex. Dívida Pública, Roubo do Petróleo – Pré-Sal).

3) COMO O GOVERNO BOLSONARO É SUSTENTADO PELO IMPERIALISMO?

Os documentos oficiais que irão comprovar esse fato só serão divulgados para conhecimento público daqui há 20 ou 30 anos (quando a maioria dos envolvidos já tiverem morrido), como eles sempre fazem, mas na atualidade, existem inúmeras evidências que mostram como o (des)governo Bolsonaro é sustentado pelas forças do Imperialismo norte-americano que atuam dentro do Brasil, controlando e orientando as instituições públicas brasileiras (Polícias, Justiça, Tribunais, Partidos Políticos, etc..), para que se faça a defesa dos interesses econômicos dos EUA, e a pátria brasileira juntamente com o povo brasileiro sejam prejudicados e roubados.

Já deu para compreender que essas mesmas instituições citadas estão propositadamente cegas, surdas e mudas, quando o assunto é qualquer crime cometido por Bolsonaro e família, pois enquanto o (des)governo estiver dando lucros e entregando as riquezas nacionais a burguesia internacional norte-americana e ao governo dos EUA, qualquer crime poderá ser cometido pelo presidente fascista, que não resultará em sua queda pelo sistema.

Nos últimos dias tem sido veiculado na mídia independente, diversos tipos de reportagens que revelam essa prostituição governamental de forma muito clara e esclarecedora, para quem quiser ver, quem realmente está mexendo as cordas que movimentam o boneco de ventríloquo presidencial e as medidas tomadas pelo seu (des)governo.

A reportagem abaixo mostra a visita de um agente norte-americano ao TRF-4 em dezembro de 2019 (quando Bolsonaro já era presidente). O mesmo tribunal que condenou (em 24 de janeiro de 2018) o ex. presidente Lula sem provas, para que ele não pudesse se candidatar ao cargo de presidente da República, beneficiando desta forma a eleição fabricada de Bolsonaro. Lembre-se que o Juiz Gebran Neto na época afirmou: ‘’Não há necessidades de provas concretas, bastando indícios para confirmar a sentença condenatória.’’

Agora questione-se: Você acha que um agente da Embaixada norte-americana em Brasília, iria se deslocar até um tribunal de importância para o golpe, como foi o TRF-4 no Sul do país, se não houvesse interesses maiores por detrás desta visita? Ou você acredita na desculpa deles, dizendo que tem interesse em conhecer o funcionamento do Poder Judiciário brasileiro?

O presidente do TRF-4 (Juiz Thompson Flores) afirmou considerar importante que órgãos como a Embaixada dos EUA se aproximem da Justiça e dos tribunais brasileiros, o que, segundo ele, possibilita uma maior integração e articulação entre as instituições. (CONSULTOR JURÍDICO, 03/12/2019)

 Em outra reportagem da Agência Pública que saiu recentemente, mostra como os EUA estão infiltrados dentro do território brasileiro controlando as instituições para benefício próprio, e fazendo a evasão de divisas para o seu governo.

Com base na lei americana Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), o Departamento de Justiça investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a Petrobras e a Odebrecht. (AGÊNCIA PÚBLICA/THE INTERCEPT BRASIL, 02/07/2020) (VIANA, 2020)

A leitura que se faz desse parágrafo é: Com base na invasão dos EUA no Brasil, e controle das instituições brasileiras através do golpe de 2016, os EUA utilizou a sua lei, que não se aplica no Brasil, para multar empresas brasileiras competidoras comerciais no mercado econômico internacional, e roubar bilhões de dólares do governo brasileiro. Tudo isto com o aval positivo da operação Lava Jato, comandada pelos procuradores de Curitiba, ou devemos dizer: ‘’agentes do Imperialismo disfarçados de servidores públicos!’’

Agora questione-se: Os EUA condenam empresas brasileiras por suposta corrupção. E por acaso, a corrupção que as empresas norte-americanas praticam, poderão ser julgadas e condenadas pelo Departamento de Justiça do Brasil? Claro que não né meu povo! Nós fomos condenados e roubados, por que fomos invadidos e colonizados, por isso o invasor utiliza todo tipo de artífice ilegal para dilapidar toda a economia brasileira desde 2016. O documentário independente ‘’Destruição a Jato’’ (ver link abaixo, nas referências bibliográficas) mostra essa relação de destruição da economia brasileira pela Operação Lava Jato, de forma muito esclarecedora.

Outra reportagem muito importante que tem a ver com a recente votação e aprovação da privatização da água no Brasil. E adivinha quem está metido nesse meio? EUA, claro! Eles têm muitos interesses na privatização dos recursos naturais do Brasil. PRIVATIZAÇÃO = ROUBO DA NAÇÃO!

Tudo indica que os golpes desferidos na América Latina, com a coordenação geral dos EUA, têm também como fator motivador, os mananciais de água na Região. Em 2016, logo após o golpe no Brasil, o governo dos Estados Unidos iniciou negociação com o governo Macri sobre a instalação de bases militares na Argentina, uma em Ushuaia (Terra do Fogo) e outra localizada na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). Um dos objetivos na instalação destas bases, tudo indica, foi o Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo. O Aquífero, localizado na parte sul da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) coloca a região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo. Os EUA sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância, por isso seu interesse em intensificar o domínio político e militar na região, além do acesso à água existente em abundância no Canadá, garantida por acordos como o do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, entre EUA, Canadá e México). (DIÁLOGOS DO SUL, 18/12/2019) (CARDOSO, 2019)

A água potável vai ser entregue aos norte-americanos e o povo brasileiro vai sofrer na seca e morrer de sede. Lembrem disso, quando forem comprar aquela Coca Cola bem gelada, ‘’Made in USA’’. Isto vai sair muito caro para você que está lendo essa publicação, e talvez você nem possa pagar! Pense muito nisso. É a sua sobrevivência futura que está em jogo.

O Projeto de Lei 4162, de 2019 (https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/140534), que autoriza e obriga a privatização da água em todo o território nacional. Esse PL foi votado pelo Senado Federal em 24 de junho de 2020. A fotografia deste painel é importante para você ver e divulgar a frente o nome dos políticos e os partidos a serviço dos EUA, que votaram contra você e o seu direito ao acesso a água!

E para aqueles que ainda não visualizaram com os exemplos acima que revelam claramente que quem está à frente das decisões políticas no Brasil é o IMPERIALISMO e os EUA, fica uma prova visual definitiva da subserviência e falta de patriotismo dessa burguesia brasileira prostituída.

De fato, o mandatário atual da República em nenhum momento oculta do conhecimento público as verdadeiras forças que sustentam o seu (des)governo, assim como não se cansa de lamber as botas e as bolas daqueles que o mantém no poder.

4) A PERCEPÇÃO ERRÔNEA DAS REDES SOCIAIS

As redes sociais, infelizmente, não são redes de aprendizado, muito menos lugar preferido para o compartilhamento de informações verdadeiras e científicas. Ao contrário, as redes sociais são utilizadas pelos inimigos da classe trabalhadora contra o nosso povo.

Em grande parte, elas ajudam a desinformar, através da disseminação de noções falsas sobre a realidade brasileira. Com raras e felizes exceções, as redes sociais ajudam a fazer o esclarecimento e a divulgação de fatos verídicos e realmente importantes. Mas, no geral, essa ferramenta foi criada de forma pensada, para servir aos propósitos da classe dominante mundial, como redes auxiliares de desinformação que objetivam nos manter submissos à opinião disseminada pela mídia em geral, como por exemplo, a Rede Globo e outras Redes Golpistas de Televisão, que também possuem páginas nessas mesmas redes sociais.

Em função disso, nossas Redes Sociais, que deveriam ser lugar privilegiado de disseminação do conhecimento e da ciência, acabam sendo um amontoado de noções falsas que encobrem a realidade da situação brasileira, dificultando aos seus usuários, um pouco por comodismo, a procurarem (pesquisarem) o que se passa realmente, sendo comprovado pela Ciência.

Em consequência, somos iludidos, e acabamos por ser também disseminadores de falsas noções e percepções. E por ingenuidade, acabamos por aumentar o véu de nebulosidade que esconde a correta interpretação da realidade brasileira.

A enquete que fizemos na rede social Twitter provou na prática essa interpretação superficial que a grande maioria das pessoas estão tendo sobre a nossa realidade. O sistema faz de tudo para enganar, entorpecer, e ocultar os verdadeiros controladores que promovem a tragédia social em nosso país, desde que o Capitalismo foi implantado como Sistema Político e Econômico. Por que é de interesse dos grandes capitalistas, que a população seja vendada e bloqueada no conhecimento, de forma que não consiga visualizar os verdadeiros culpados, causadores de todas as explorações, e mazelas do nosso povo. Então, a população passa a visualizar enviesadamente os criminosos secundários que executam as ações, e não percebem quem são os principais criminosos, que se ocultam atrás do véu do próprio sistema.

Essa tática de engabelar o povo é fundamental para os controladores do Sistema Capitalista, pois eles sabem que a percepção errada do povo, fará com que a sua luta seja infrutífera e fracassada, por que não há como planejar e vencer um inimigo que não se conhece.

RESPOSTA CORRETA: IMPERIALISMO/EUA

A Burguesia local (que são os ricos, os donos dos meios de produção, os políticos profissionais, os latifundiários, os donos das mídias de comunicação, os quadros elevados da Justiça e das forças armadas, etc..) sempre fará o jogo dos imperialistas, pois é através desse jogo que ela (burguesia) obtém a sua riqueza, mais precisamente roubando o Estado (corrupção e sonegação de impostos) e explorando a mão de obra do povo.

Os Militares (forças armadas e forças coercitivas auxiliares) são o braço armado do Imperialismo, utilizados para atuar sempre contra a população, caso essas enxerguem a realidade e a verdade dos fatos, e se rebelem contra o sistema. As cúpulas das forças armadas são preenchidas sempre por militares oriundos da burguesia (da classe dominante), que usam as patentes mais baixas (soldados, sargentos, cabos, etc..) que fazem parte do povo, para agir coercitivamente (prender, torturar, matar) contra o próprio povo.

Então, dentro desta ótica, os golpes de Estado são aplicados pelos Militares (como em 1964) e pela Burguesia (como em 2016), com a compactuação dessas duas classes, sempre contra o povo, e sempre planejados e orientados (de fora) pelos interesses externos do Imperialismo e dos EUA.

Quando o vírus nos trancou em casa, as telas nos deixaram sem casa

 A cultura do ‘home office’ e das ‘lives’ e dos ‘meetings’ pedalou a nossa porta 

ELIANE BRUM – EL PAIS

23 DEZ 2020 - 15:02


Encerro 2020, o ano que anuncia que o tempo das pandemias chegou, com estranhos sintomas. A ideia de fazer mais uma live, mais um meeting pelo Jitsi, Zoom ou Google, ou mesmo pelo WhatsApp, me deixa fisicamente enjoada. Escrever, como faço agora, enquanto as notícias e as mensagens pipocam num canto da tela, me deixa tonta e exausta. Amigos me pedem encontros de Natal, happy hours de Ano-Novo. Quero. Mas não consigo. Que o excesso de telas cansa e pode causar transtornos e até doenças, sabemos. A experiência atual, porém, vai muito além disso. O home office, as lives e os meetings mudaram o conceito de casa. Ou talvez tenham provocado algo ainda mais radical, ao nos despejar não apenas da casa, mas também da possibilidade de fazer da casa uma casa.

A maioria dos que tiveram a chance de ficar entre paredes durante a maior parte do ano para se proteger do vírus vive, como eu, uma experiência inédita na trajetória humana: a de estar 24 horas dentro de casa e, ao mesmo tempo, não ter nenhuma casa. A pandemia nos levou ao paradoxo de nos descobrirmos sem teto debaixo de um teto. Mais do que sem teto, nos descobrimos sem porta. Sem porta, não há chave para nenhum entendimento.

Sim, aqueles que têm a chance de trabalhar no sistema de home office, o que significa trabalhar a partir da sua casa, são privilegiados num planeta encurralado pelo vírus. Pensar sobre a desigualdade no tempo das pandemias é pensar sobre quem pode desempenhar suas funções profissionais “remotamente” e quem não pode. A maioria dos que não podem trabalhar remotamente é composta pelos mesmos que têm mais chances de figurar em todas as piores estatísticas: os mais pobres, os negros, as mulheres.

Afirmar que a pandemia expõe e agrava a desigualdade social, de raça e de gênero é uma obviedade que várias pesquisas comprovaram ao longo de 2020. A iniquidade abissal do Brasil —e, em menor escala, da maioria dos países do planeta— impõe como privilégio aquilo que é um direito básico, o de ser capaz de se proteger de uma ameaça. Assim, é como privilegiada que discuto aqui a experiência de nos descobrir sem casa, uma experiência que não é apenas subjetiva. Apesar das paredes de concreto que nos cercam, nos sentir sem casa é uma experiência bem concreta.

O que é uma casa?

O que é uma casa? Essa pergunta entrou na minha vida de jornalista junto com a imposição de Belo Monte ao rio Xingu e aos seus povos. Para os ribeirinhos expulsos de ilhas e da beira do rio para a construção da hidrelétrica, casa era uma ideia concretizada a partir de uma experiência de viver e de ser floresta. Para os funcionários da Norte Energia SA, a empresa concessionária da usina e outras terceirizadas a seu serviço, assim como para os advogados que consumavam a “negociação” em que nunca se negociou nada, porque tudo foi imposto, casa era algo referenciado na experiência de viver em cidades do centro-sul do Brasil.

Como quem detinha —e detém— o poder era a empresa, o valor da indenização e de outras compensações foi determinado à revelia da experiência cultural e também objetiva de quem vivia um conceito expandido do que é uma casa, um conceito arquitetônico diverso do que é uma casa, um outro tipo de material para criar uma casa. Enfim, para quem vivia uma experiência inteiramente diversa de fazer casa que foi esmagada pelos tecnocratas. Não apenas por ignorância, mas porque, ao ter o poder de determinar que o que era casa não era casa, ou que o que era casa não era uma boa casa, o valor monetário da indenização e também as compensações seriam muito mais baixos ou, em alguns casos, inexistente.

Testemunhar essa violência implantou a questão do que é casa definitivamente na minha cabeça, e eu a expandi para outros territórios objetivos e, principalmente, subjetivos. Em minha experiência como jornalista, já escrevi reportagens sobre um homem que fez uma casa dentro de uma grande árvore, em plena zona urbana de Porto Alegre. Já contei de uma família que fez casa embaixo de um viaduto, convertendo o cotidiano numa experiência onde cabia preparar o café da manhã, arrumar e levar os filhos para a escola todos os dias para garantir que tivessem educação formal. Já testemunhei o que se tornou uma das reportagens mais impactantes da minha vida, na qual um grupo de crianças de rua fez casa nos esgotos da cidade. Chamavam a si mesmos de Tartatugas Ninja, como no filme que então estreava nos cinemas.

Conheci também experiências diversas de casa com diferentes povos indígenas. Algumas coletivas, como a dos Yanomami, outras unidades familiares, sendo que também aí há diferentes entendimentos sobre qual é a teia de relações que constitui o que cada etnia chama de família. As humanidades são variadas e experimentam diferentes formas de tecer relação com a natureza. Ou, no caso da minoria branca e dominante —essa que chama sua experiência de civilização e equivocadamente a considera universal ou até mesmo superior—, romper com a natureza.

Andando pelos tantos Brasis em busca de histórias para contar, vi as pessoas inventarem todo o tipo de casa, até as invisíveis, quando é necessário fantasiar paredes nas esquinas movimentadas de cidades gigantes como São Paulo, para fazer limite simbólico entre a família e o mundo sempre ameaçador para os que pouco têm além do próprio corpo. E, claro, já entrei em mansões e também em palácios. Parte do encanto de ser jornalista é a possibilidade de ter acesso a lugares aos quais jamais teríamos em outras profissões.

Apesar da diversidade de experiências, há algo comum a essas tantas construções do que é uma casa, algo para além das diferenças de tamanho, de material, de arquitetura, de contexto e de geografia. É a ideia da casa como o lugar onde cada um faz seu espaço próprio, o lugar que cada um reserva para si ou para a família ou para o grupo. É a ideia da casa como refúgio. É a ideia da casa como proteção contra chuva e contra sol excessivo, contra animais que podem querer nos converter em jantar, contra aqueles que não conhecemos e por isso não sabemos se querem ou não nos fazer mal. É a ideia da casa como espaço de abrigo e de descanso, como um mundo dentro do mundo onde fazemos aquilo que é mais importante, como nos alimentar, nos reproduzir e amar.

Se há ‘office’, não há ‘home’

Quando a casa deixa de representar esse conjunto de significados, não importa a forma que ela tenha, há um distúrbio. Pode ser porque o abusador mora nela —seja ele o pai, um padrasto ou um tio que molesta, seja um marido ou companheiro violento. E então a casa já não garante mais segurança, proteção e abrigo. Seja porque a casa foi invadida e saqueada, seja porque algo violentamente disruptivo aconteceu desde dentro e a casa passa a guardar uma memória com a qual temos dificuldade de lidar. A casa então já não pode mais ser refúgio. A casa então se descasa, porque sozinhos ou acompanhados somos, de qualquer modo, casados, no sentido de que fizemos casa. E fazer casa é preciso.

Se tornar descasado, no sentido de sem casa, é o que está acontecendo hoje com aqueles que, desde março, fazem home office, expressão em inglês para apontar que a casa, no sentido de lar (home), se tornou também o escritório (office), no sentido de local de trabalho. A expressão home office, porém, é ardilosa. A experiência cotidiana mostra que, se há office, não há home.

Quando o trabalho invade a casa no modo 24(horas)X7(dias) por semana, perdemos a casa. E com ela o descanso, o refúgio, o remanso. E também o espaço de intimidade que só será alcançado pelos de fora se quisermos abrir a porta. Perdemos principalmente a porta. E uma casa sem porta não é uma casa. Mesmo que essa porta seja invisível, caso dos moradores de rua, essa barreira concretizada pela imaginação cumpre o papel simbólico de fazer borda, dar limite. No modo pandêmico, ao contrário. Mesmo que materialmente exista uma porta de madeira ou mesmo de ferro, grossa e cheia de fechaduras complicadas, seguidamente precedida da porta do prédio e ainda da porta externa do edifício, como hoje vive parte da classe média urbana, ainda assim não há porta nenhuma porque já não há limite para o que invade a casa pelas telas —todas as telas— desde dentro.

Essas muitas portas e fechaduras que se multiplicaram para supostamente nos manter seguros só são capazes de botar algum limite nos assaltantes clássicos. Hoje, porém, há outro tipo de assaltante, que pode nos roubar algo muito mais importante, até mesmo insubstituível e seguidamente irrecuperável do que bens materiais. A invasão contemporânea é aquela que nos rouba o tempo e sequestra o espaço da vivência dos afetos, da intimidade, dos prazeres e das subjetividades. Tempo no sentido definido pelo grande pensador Antônio Cândido (1918-2017), tempo como o tecido das nossas vidas, como tudo o que temos, como algo não monetizável. Esse assalto, a médio e longo prazo, pode provocar muito mais estragos no corpo-mente de cada um do que o que convencionamos chamar de assalto.

A tecnologia, e de forma totalmente transtornante e veloz, a Internet, já haviam nos tirado de casa quando em casa. Talvez o primeiro ataque tenha sido o telefone, mas lembro que não era educado telefonar para a casa das pessoas depois de certa hora da noite, em geral cedo, e antes de certa hora da manhã, tampouco na hora das refeições, que costumavam ser feitas na mesma hora em todas as casas. E jamais um chefe ligaria para a casa de um subordinado no fim de semana ou feriado se não fosse literalmente um caso de vida e morte. Mesmo no jornalismo, só éramos perturbados na nossa folga se literalmente caísse um avião ou houvesse um massacre em algum lugar que exigisse uma viagem imediata. E, ainda assim, com um pedido de desculpas por perturbar nossa privacidade e interromper nosso descanso logo na introdução.

A Internet mudou as convenções sociais muito rapidamente, antes que a maioria sequer pudesse compreender a Internet e antes que mesmo seus criadores fossem capazes de entender seu impacto. A Internet, como quase tudo, se fez e se faz na própria experiência. Assim como as pessoas acham que podem escrever nas redes sociais o que lhes vêm a cabeça, sem filtros ou freios, apenas porque o outro supostamente estaria à sua disposição ou, com frequência, seria seu saco de pancada, também se tornou corriqueiro mandar mensagens de WhatsApp a qualquer hora ou por qualquer motivo ou mesmo sem motivo algum. Ninguém enviaria 10 cartas para alguém no mesmo dia, mas quase todos acreditam ser perfeitamente “normal” enviar mensagens e memes e vídeos e links numa só manhã, confundindo poder com dever.

Essa é justamente uma época em que, dos cidadãos aos governantes, todos acreditam que, porque podem, devem. Ou, mais provável, o questionamento sobre dever ou não fazer ou dizer algo foi deletado e, assim, o único verbo a ser exercitado é o “poder”. O tempo da Internet, que é o tempo da velocidade, eliminou para muitos a etapa obrigatória da reflexão. Estamos todos pagando um preço altíssimo por essa mudança brusca e ainda subdimensionada que encolheu ou mesmo eliminou o tempo dedicado à ponderação antes da ação ou reação. Seu impacto é a corrosão de todas as relações, a começar pelos governantes, que passaram a se comunicar pelas redes sociais, conectados diretamente com seus eleitores, em alguns casos com seus fiéis, mas desconectados do ato de responsabilidade que é governar.

Tudo se complica infinitamente mais quando o mundo do trabalho invade a casa. Com a comunicação facilitada e imediata permitida pela tecnologia, os limites que antes eram determinados pela carga horária da jornada passaram a ser ultrapassados ou mesmo ignorados. A precarização das condições de trabalho, o apagamento das fronteiras entre vida privada e profissional, o devoramento do tempo, e com ele, a corrosão da vida, já tinham se tornado uma questão crucial da nossa época.

Com o home office, as condições de trabalho se precarizaram ainda mais. A vida foi transtornada com maior rapidez do que no acontecimento da Internet. Ainda que veloz, a internet foi ao menos progressivamente veloz. Já o home office se impôs literalmente da noite para o dia, determinado pelas necessidades de quarentena ou lockdown. E, para muitos, com o home office do companheiro ou companheira e também com as crianças sem escola.

As crianças, por sua vez, foram convocadas a compreender o incompreensível: que a casa deixou de ser casa para se tornar o lugar de trabalho onde os pais se tornam ainda menos acessíveis e, por todas as razões, com menos paciência e disponibilidade. Os pais estão totalmente presentes e, ao mesmo tempo, quase que totalmente ausentes. Quase que inteiramente em outro lugar, mesmo que inteiramente dentro de casa. Os impactos dessa experiência sobre as crianças de todas as idades estão sendo muito mal dimensionados. É muito difícil para as famílias cuidarem de algo que os pais nem sequer entendem e com o qual também sofrem muito. Também os pais sentem que lhes faltam ferramentas para lidar com a casa transtornada pela pandemia.

Sintomas de “descasamento”

Acompanhando minha própria experiência, assim como a de amigos e conhecidos, percebi que, no início, ficar em casa foi bem interessante. O álibi perfeito para quem já não suportava mais viajar e correr de um lado para o outro, de um mundo pro outro. Para quem vive em cidades grandes, o deslocamento para o trabalho costuma ser estressante, custoso e demorado. Assim, as pessoas acreditaram que, de imediato, ganhariam no mínimo uma hora a mais de tempo para si. Muitos se iludiram que leriam todos os livros empilhados na cabeceira e finalmente ficariam atualizados com os filmes e séries. Trabalhar de pijama ou moletom também soou confortável. A casa oferecia ainda o bônus de manter longe colegas de trabalho chatos e chefes abusivos.

Muita gente já dizia que não voltaria mais ao escritório ou ao consultório ou para o que fosse porque estava provado que era possível e melhor trabalhar de casa. Principalmente, várias empresas começaram a fazer as contas de quanto poderiam economizar quando cada funcionário virasse uma ilha em caráter definitivo. Muitas dessas empresas, inclusive, pouco dispostas a pagar os custos dessa ilha que é, afinal, a casa da pessoa. Defendem, portanto, que deveria ser problema de cada indivíduo pagar as contas de luz, internet etc., mesmo que os custos tenham aumentado pelas necessidades profissionais de uso.

E então começou o império do Big Brother, e a rotina passou a ser determinada pelo agoniante, às vezes enlouquecedor, ruído das mensagens entrando pelo Whatasapp ou dos e-mails se enfileirando na tela. Claro, se pode “emudecer” o som das mensagens, mas quem vai emudecer o chefe, o fornecedor, o fulano que ficou de dar notícias sobre prazos, o sicrano que vai enviar informações importantes, o beltrano que precisa de documentos? As horas foram invadidas além de qualquer precedente. Como emudecer ou mesmo desligar os celulares na hora de dormir se pessoas queridas estão sozinhas no meio de uma pandemia e podem precisar de ajuda a qualquer momento?

Se antes era impossível marcar um número muito grande de reuniões por dia, porque havia o tempo do deslocamento, agora as pessoas estão em casa. Tornou-se possível triplicar o número de encontros (ou desencontros), às vezes sem hora para acabar. As lives e os meetings, que permitiram que o mundo se conectasse para traçar estratégias para enfrentar a pandemia, fazer vaquinhas de solidariedade ou apenas conversar, se tornaram fáceis demais e por isso mesmo excessivos demais. Todos querem fazer meetings e lives por qualquer motivo. Tudo vira imediatamente performance. As horas que se acreditava liberar ao eliminar o tempo de deslocamento entre o trabalho e a casa foram engolidas... pelo trabalho. E outras que não estavam lá foram adicionadas. A desculpa social de “não vou estar em casa” ou “dei uma saidinha” desapareceu. Todos agora sabem onde cada um está. Em casa.

Essa foi a sequência alucinante de acontecimentos que pedalaram a porta da casa. Sem porta, logo a casa deixou de ter paredes e, sem paredes já não fazia mais sentido nenhuma estrutura. Nos tornamos sem porta e com janelas demais, mas um tipo de janelas pelo avesso, na qual somos observados desde dentro, em vez de contemplar o exterior. Reproduzimos a experiência excruciante dos animais confinados em zoológicos, criados em cativeiro.

A tecnologia que nos uniu, essencial para enfrentar essa pandemia, também nos escravizou. Não importa onde estivermos, as telas nos acompanham. No bolso, na bolsa, na mão, no pulso. Os mais sensíveis sentiram primeiro e sofreram mais. Uma amiga passou a não enxergar o que estava na tela. Ou melhor, enxergava, mas um borrão. Nenhuma doença foi constatada. Os relatos em geral apontavam sintomas que impossibilitavam seguir diante da tela. Há pessoas com enxaquecas que nunca antes haviam tido enxaquecas. Gente que se orgulhava de dormir como um cadáver que passou a ter insônia ou sono interrompido. Eu mesma passei a sentir enjoo diante da tela, mas enjoo seletivo. Reuniões de trabalho e meetings com muita gente me provocam náuseas, mesmo quando adoro todos que estão na tela.

Me sinto um corpo que não suporta mais tanta exposição. Minha capacidade subjetiva ainda não encontrou caminhos para criar paredes e portas na minha mente, fazer um refúgio onde não há nenhum, fazer de mim a casa que perdi. Tudo e todos entram casa adentro, na hora que bem entendem, pela tela do computador, pela tela do celular, pela tela do tablet. Informações que não pedi, vídeos que não me preparei para ver, comentários que preferia não ouvir. Gente desconhecida de repente está na minha sala ou mesmo na minha cama. E já não é mais tão fácil desligar todas essas telas porque o trabalho depende delas, as informações que eu realmente preciso dependem delas, a certeza do bem-estar de pessoas que amo e que fazem quarentena sozinhas dependem delas, a vida social depende delas. Nunca socializei tanto quanto nessa pandemia e não sou exatamente alguém que gosta de conversar o tempo todo. Sinto falta de estar realmente sozinha, de estar realmente em silêncio, de estar realmente no meu tempo e no meu ritmo.

Uma porta para importar o que importa

Esses sentimentos e sintomas, porém, são apenas a barbatana que desponta acima da superfície. Abaixo dela, há um tubarão inteiro. Obcecados por planejar a volta de algo que andam chamando de “normal”, esquecemos de olhar para a profundidade da transformação que nossa vida está sofrendo. Somos resultado, como espécie, de um longo processo de evolução e de adaptação, pelo menos dois milhões de anos desde o Homo erectus. Mas, como humanos contemporâneos, nossa existência sofreu uma brutal transformação com a internet e, em 2020, com a primeira pandemia na época das telas.

Nosso corpo não processa uma mudança tão monumental em tão pouco tempo. Desde que o novo coronavírus apareceu, a principal preocupação dos vários setores da sociedade é com os custos financeiros da pandemia. É urgente falar muito mais dos custos psicológicos, das crianças que só conhecem paredes e têm medo de outras crianças porque aprenderam que são ameaças, dos velhos confinados em solidão, dos adultos submetidos a uma pressão inédita e a um nível de convivência também inédito. Esse custo é alto e suas sequelas poderão durar uma vida.

Tratamos a pandemia como uma anomalia, mas a real anomalia é o mundo que criamos dentro do mundo. Ou melhor: o mundo que a minoria dominante dos humanos criou dentro do mundo, submetendo todos os outros, subjugando a maioria. O custo desse mundo ameaça nossa existência no planeta, isso que chamamos crise climática. A pandemia é consequência da corrosão da vida causada pelo capitalismo neoliberal, ao destruir o habitat de outras espécies, e pelo modo de produção em que as mercadorias circulam ampla e velozmente pelo globo, assim como muitos de nós a bordo de aviões altamente poluentes.

A segunda onda de covid-19 mostrou que anomalia produz anomalia. Nosso modo de vida é insustentável, o que fizemos com as outras espécies agora pode nos matar. É uma fantasia perigosa acreditar que é possível voltar à anomalia que chamamos de normal e seguir tocando a vida como se cada ato não tivesse consequências em cadeia.

Em 2020, perdemos definitivamente a casa. Que, além de perder a porta, se tornou também uma prisão, a pior espécie de prisão, aquela que foi criada pelos nossos atos. E o que é uma prisão senão um lugar em que estamos confinados mas não temos privacidade, em que somos acessados a qualquer hora, em que cada gesto é controlado e monitorado, onde as visitas são reguladas e não pode haver toque? O que é uma prisão senão um lugar em que não temos escolha sobre o que pode ou não entrar? Um lugar em que estamos a mercê de todas as outras forças?

Do lado de fora, nas ruas, há três tipos de experiências. A daqueles a quem foi arrancado o direito fundamental de se proteger, porque seu trabalho não pode ser feito em casa e os empregadores e o Estado não os bancam. A daqueles que fazem serviços essenciais, como os profissionais de saúde. E a da maioria de pessoas, que poderia fazer quarentena mas não faz, porque não se importa com a vida de todos os outros, e assim contribui de forma decisiva para a ampliação da contaminação e pelo maior número de vítimas. Esse grupo numeroso de boçais é cínico a ponto de empunhar a bandeira da liberdade, conceito que corrompem ao convertê-lo em liberdade de matar.

Para enfrentar a pandemia é preciso enfrentar a emergência climática e estancar a extinção das espécies. Para enfrentar a emergência climática e estancar a extinção das espécies teremos que criar muito rapidamente uma vida realmente sustentável. Para criar uma vida realmente sustentável temos que nos tornar outro tipo de gente.

Diante da magnitude do desafio, podemos começar organizando a casa. Para organizar a casa é preciso recuperar a casa, essa que é refúgio. E então parar de destruir a casa comum que é o planeta. Não é coincidência que no momento em que enfrentamos as consequências da destruição de nossa casa comum também enfrentamos a experiência subjetiva de perder a possibilidade de fazer casa da casa. É o mesmo nó. Para sair dele, precisamos recuperar a porta, e com ela a possibilidade de voltar a importar —colocar para dentro, deixar entrar— apenas o que realmente importa. A porta da casa é a única saída.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora de ‘Brasil, construtor de ruínas: um olhar sobre o país, de Lula a Bolsonaro’ (Arquipélago). Site: elianebrum.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter, Instagram e Facebook: @brumelianebrum