Hoje, dia 15.10, e não poderia ser em outro dia, a
Prefeitura de Maricá levou até o condomínio Carlos Marighella (MCMV) em
Itaipuaçu, o evento “Libertação de Livros”, como pré-lançamento do Festival Internacional
de Utopia, que será realizado em 2016, no município. O evento foi organizado pelas
secretarias Executivas de Políticas Sociais e Adjunta de Políticas Especiais,
responsáveis pelo Festival.
Dia do Mestre, Condomínio recém-ocupado e mais de 1000
livros para serem distribuídos para seus moradores, em especial para a
criançada que, além dos livros, contou com a presença da Secretaria de Cultura
que trouxe música, teatro, dança e tatuagem (tinta lavável). A Secretaria de
Saúde também esteve presente com seus funcionários medindo a pressão e falando
sobre os programas da Secretaria. Uma bela festa de abertura para um evento que
promete ser de responsabilidade.
O título desse texto tem a haver com abertura do evento.
Pedro Geromilich, um dos organizadores, falando à criançada, iniciou
perguntando se algum deles gostava de castigo. Resposta unânime, ninguém
gostava de ficar de castigo. Pedro continua e ensina a criançada que, quando acabamos
de ler um livro e o guardamos em uma estante ou gaveta, estamos colocando o
livro de castigo, pois ninguém mais o lerá. Do mesmo jeito que criança gosta de
brincar, livro gosta de ser lido. Por isso, quando não emprestamos, trocamos ou
damos nossos livros para que outros os leiam, eles ficam de castigo. Pronto!
Descobri ter um monte de livros de castigo, doidos para brincar. E agora? Tenho
que “desapegar”. Livro guardado é informação que não circula, não brinca, e
informação que não circula, não gera conhecimento, não gera saber. E nós sem os
saberes para trocar ou dar, não somos ninguém, não crescemos e nem produzimos,
ficamos de castigo como os livros nas estantes.
Umpf. Arhf, Argh, pow, blang... tenho que tomar uma atitude.
Há algum tempo, resolvi doar meus livros, procurei então a
diretora do Joana Benedicta, e expus minha intenção. Ela adorou, mas não tinha
espaço físico para recebe-los – não que sejam muitos. Voltei para casa e como
minha literatura não impressionava meus filhos ainda jovenzinhos, a ideia não
se esvaiu. Porém um belo dia, toda a família leu “Os últimos soldados da guerra
fria”, do Fernando Moraes e a filha me pergunta se eu tinha “Os Miseráveis” do
Victor Hugo, alguma coisa do Machado ou Euclides. O sorriso veio fácil. O
fiozinho da esperança deles começarem a ler meus livros – liam os deles somente
– fez com que a vontade passasse.
Depois veio a inauguração da Praça do CEU e sua Biblioteca,
e a coceira recomeçou e se mantém. O problema é que de vez em quando, algum
livro escapa do castigo e não volta e muitos são lembrados e revistos por mim quando
vou escrever algum texto, preparar uma apresentação, palestra ou debate. Não
tenho o menor pudor, abuso deles sem qualquer parcimônia e esqueço que estão de
castigo.
Perceberam a discussão “demigo” para comigo que causou a
Pré-Abertura do Festival Internacional de Utopia de Maricá? Imagine quando for
à vera.
Te abraço,
Sérgio Mesquita
Sec. de Formação
do PT