Milly Lacombe Colunista do UOL - 30/10/2023 13h21
https://www.uol.com.br/esporte/colunas/milly-lacombe/2023/10/30/deus-se-mandou.htm
Milly Lacombe Colunista do UOL - 30/10/2023 13h21
https://www.uol.com.br/esporte/colunas/milly-lacombe/2023/10/30/deus-se-mandou.htm
Texto do jornalista Luís Nassif
Passou pelo show grande parte do repertório intemporal de Chico. Mas o momento mais intenso foi quando Chico e Mônica interpretara “Maninha”, a música que melhor antecipou o que se passaria com o Brasil.
A letra narra a história de dois irmãos, após o abusador ter entrado em suas vidas, a saudade da vida perdida, a esperança de um dia ela ir embora.
A música aumentou em vários graus a emoção que já cobria a plateia. Não foi necessária nenhuma explicação, nenhum grito de guerra, mas apenas a solidariedade barulhenta de irmãos que se veem libertados do abusador. E, na saída, a dura realidade batendo de volta.
Se um dia ele vai embora, prá nunca mais voltar, não será por agora. O abusador não é a figura caricata, pornográfica de Bolsonaro e seus filhos, da fada madrinha Michele, com suas maçãs envenenadas de manipulações religiosas, nem a bruxa Damares medindo o dedo de curumins enjaulados.
O abusador, agora, está em cada esquina, depois que uma campanha odiosa de mídia abriu as portas dos túmulos, permitindo que os zumbis escapassem das profundezas e invadissem definitivamente a vida brasileira.
É pior que nos tempos da ditadura.
No início da ditadura você encontrava alguns delatores no seu entorno, mas era como se os porões fossem segregados da sociedade, permitindo a honestos pais de família fingir que não ouviam os gritos dos torturados pelos amigos próximos de Bolsonaro.
Agora, não. O espectro do abusador entrou na cabeça da velhinha rezadeira, do ruralista alucinado, normalizou a atuação dos assassinos reunidos em Clubes de Atiradores e Caçadores, transformou jornalistas em delatores – alguns deles, agora, tentando refazer o caminho de volta à civilização. Fez com que a sobrinha pia, que ia todos os domingos na missa, passasse a desejar a morte de esquerdistas, petistas, comunistas ou qualquer ista injetado em sua cabeça. Jogou no mesmo ambiente médicos imbecilizados, arruaceiros de periferia, vocações assassinas esperando a primeira oportunidade para cumprir a sua sina.
Definitivamente, o abusador não foi embora. Será um árduo trabalho empurrá-los de volta ao túmulo, porque não tem cara, não tem RG, é um sentimento amargo, pútrido, plantado por anos na cabeça do país, como um ectoplasma de Freddy Krueger.
Será uma dura caminhada, mas, pelo menos, sabemos o caminho. E as migalhas de pão jogadas pela estrada, para encontrar o caminho da volta, são as canções de Chico, Milton, Caetano, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Angelino de Oliveira, Adoniran.
Afinal, um país que construiu a mais bela música do planeta, haverá de
encontrar forças para recuperar as lembranças da fogueiras, dos balões, dos
luares dos sertões, e, em um ponto qualquer do futuro, voltar a ter orgulho de
si.
O presente texto é voltado para as companheiras e companheiros do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá – ICTIM, em especial para aqueles e aquelas que trabalham nas três Incubadoras de Inovação Social (em Cultura; Robótica e Sustentabilidade; Tecnologias). Mas vale para o mundo também e compartilharei este texto entre os grupos que participo.
Trata-se de textos retirados do capítulo 12 do livro “Novos Renascimentos: Impactos da Tecnologia na Transformação Completa da Sociedade”, do Prof. Dr. Antônio M. Alberti, do Instituto Nacional de Tecnologia – INATEL, localizado na cidade de Santa Rita do Sapucaí-MG, berço do Vale da Eletrônica Brasileiro. Cidade que também sedia o “HackTown”, que acontece este ano (23), em agosto.
Alberti além de pintor, escultor, músico etc., desenvolveu, entre outras estripulias, uma Internet independente, e faz parte do grupo no Brasil que estuda o 6G, representando o INATEL.
Seu livro pode ser dividido em duas partes: uma mais técnica, porém escrita de maneira para que pessoas “leigas” em TI possam ter ideia do que está sendo exposto. Como por exemplo: tomar ciência que tem maluco estudando programação a partir de mudança da propriedade do “spin”, nos átomos. Loucura, mas houve um tempo em que a Igreja empastelou o laboratório que permitiu a primeira transmissão de rádio do Mundo, realizada pelo padre Roberto Landell em São Paulo, no ano de 1890. Padre Landell disse que poderíamos nos comunicar com pessoas mortas... deu ruim. Em sua segunda parte, a coisa é mais intrigante e puxa pelo cérebro. Filosofia pura onde se discute as possibilidades futuras das aplicações tecnológicas e suas possíveis consequências, todas, por enquanto, ainda de nossas responsabilidades, até que surja a máquina consciente. Discussão também presente no livro.
Vamos ao que acho interessante dividir com o povo das Incubadoras Sociais, que já trabalham bem próximo ao que será exposto aqui.
O capítulo 12, “Novos Renascimentos”, apresenta algumas questões que o autor deixa claro não ter as respostas, mas sim um caminho que poderá ou deveria ser seguido. São três as questões selecionadas: Por que precisamos empreender a mudança? Por que devemos trabalhar o lado humano? Existe empreendedorismo para melhorar o mundo? E uma quarta que é geral, e acho importante colocá-la: A solução é impedir o avanço tecnológico? Vamos aos textos.
Por que precisamos empreender a mudança?
Porque a pandemia de COVID-19 não é o maior desafio que tivemos neste século. Temos que dar o bom exemplo para as IAGs [Inteligência Artificial Generativa]. O mundo está lotado de maus exemplos! Temos problemas importantes de longa data: sustentabilidade, poluição, impactos ambientais, desemprego, crise de relevância, doenças, pandemias, armas químicas, armas biológicas, violência, criminalidade, corrupção, guerras. Como discuti antes, nem precisamos de um levantar das superinteligências para o caos. O mero uso de exército de IAs sem preocupação social e em modelos movidos somente por interesses, sem considerar princípios, já pode ser suficiente para fomentar distopias e cenários apocalípticos. O uso de armas químicas e biológicas. Novas pandemias. Aprisionamento e a perda da liberdade pelo aprisionamento e as distopias tecnológicas. Distopias de todo o tipo. Dominação e manipulação pelos metaversos, monitoramento do físico, proibições, novas roupagens para os modelos velhos.
Por que devemos trabalhar o lado humano?
Creio que os exemplos dados neste livro, ou seja, os desafios e responsabilidades que vêm junto com o empoderamento tecnológico já deixaram que a solução, assim como o problema está no humano em si. Mesmo com o advento das IAGs, são humanos que as irão educar, inspirar e motivar. Pelo menos em um primeiro momento. É claro que no futuro podemos ter IAGs autônomas e conscientes que ajam por conta própria. Mas, até lá são os humanos que devem dar o bom exemplo. Acredito que a liderança criativa, cuidadosa, detalhista, visionária, sistêmica, ética, justa, empática, transparente, livre, amorosa e feliz deve dar o exemplo e puxar a transformação. Só assim os demais seguirão. Temos que oportunizar e emponderar essas lideranças. Formar e torcer para que elas emerjam em todas as cidades de mundo afora.
Existe empreendedorismo para melhorar o mundo?
O empreendedorismo em rede (com suporte de tecnologia, sem cargos, horizontal, cogerido, sistêmico, equilibrado e liderado de forma criativa e situacional) parece ser um dos caminhos. Um empreendedorismo baseado em princípios (e valores) e não puramente em interesse, onde os fins justificam os meios. Um empreendedorismo transparente, onde a máxima “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” saia de cena [Paulo Freire: quando o discurso e a prática se confundem]. Precisamos viabilizar novos modelos de empreendedorismo. Torná-lo próspero em múltiplas dimensões, inclusive a financeira.
É óbvio que o empreendedor que comprar essa ideia enfrentará todo o tipo de problema e concorrência desleal. Terá que ser próspero financeiramente, mesmo com todas as implicações de executar essa mentalidade e novos modelos. O desafio é enorme. O ganho é comprovar que é possível fazer diferente. Liderar, por exemplo. Tornar-se referência em termos de modelo, mentalidade, cultura e justiça organizacional. A meu ver, implantar uma organização com essas características, de fato (e não só no marketing) vai atrair todos aqueles interessados no trabalho do futuro. Em criar futuros de valor. Vai atrair aqueles que desejam prosperidade, em uma organização que os cure dos traumas dos modelos ultrapassados.
Sempre existe um gap entre o que desejamos e o que de fato fazemos. Podemos desejar a utopia, mas na prática empoderar a distopia, o autocrático, o escasso, o não sistêmico, o desiquilibrado o injusto e até mesmo o antiético. O ser humano é naturalmente dual e limitado. Por mais que desejamos mudança, estamos fadados a recaídas o tempo todo em modelos ultrapassados. Não é nada trivial refazer as conexões neurais para novos modelos e mentalidades. Mesmo que se deseje muito, mudar para o melhor pode ser um esforço fenomenal e lento. Muito, mas muito, mais lento do que o avanço exponencial de nossas tecnologias e seus empoderamentos. Esse gap é o que ameaça a humanidade hoje.
A solução é impedir o avanço tecnológico?
Em um mundo altamente tecnológico, todos são empoderados exponencialmente.
Basta alguns mal-intencionados resolverem usar tecnologias extremamente
poderosas para o mal e teremos o caos ou a infelicidade total. A solução é
impedir o avanço tecnológico? Certamente, não. A história está cheia de
exemplos de que isso não funciona. O importante é avançar na conscientização,
novos modelos organizacionais e mentalidades positivas, que favoreçam a utopia
e não o caos.
_________
Encerro aqui, mas ponho, quem sabe um gosto doce ou amargo em nossas bocas, pois como exposto no livro, depende somente de nós. O livro apresenta várias outras discussões, inclusive da possibilidade de novas espiritualidades e divindades a partir das IAGs e do metaverso... Se liga na encrenca.
Outro ponto importante tocado no livro, está na importância da aplicação das Leis Sistêmicas, por todos e todas. São somente três “artigos”, mas mexem com o nosso universo na busca do equilíbrio. Segundo Edgar O. Wilson, “O verdadeiro problema da humanidade é o seguinte: temos emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia divina”. São elas
1 – Ordem
Diz respeito à ordem das coisas, à história, ao respeito e a honra ao que já foi feito, a precedência das ações dos atores, ao posicionamento temporal nos sistemas (...). Desonrar a ordem pode levar ao desequilíbrio sistêmico (...).
2 – Pertencimento
Trata-se do direito de pertencer. Pertencer a algo é uma necessidade básica. Todos pertencem aos mais diversos coletivos: famílias, empresas, escolas, bairro, grupos sociais etc. (...). Não devemos excluir as pessoas nos processos, coletivos e qualquer grupo. Este é um dos maiores desafios da cocriação criativa, da gestão compartilhada, das economias leves, dos novos modelos organizacionais, do empreendedorismo criativo em rede (...).
3- Equilíbrio do Dar e Receber: Reciprocidade
Em todos os relacionamentos estamos sempre dando e recebendo. Sejam carinhos, sejam valores financeiros, sejam entregas, sejam o que for. O desequilíbrio do dar e receber desgasta os relacionamentos (...).
(...) O desequilíbrio sistêmico é ruim para todo o coletivo. As Constelações Sistêmicas são dinâmicas de grupo que buscam resgatar o equilíbrio (...). Max Nolan Shen [79] argumenta que quanto mais equilibrado for um coletivo mais felizes as pessoas serão. E mais, que toda a comunicação deve respeitar as Leis. Ou seja, não deve desrespeitar a ordem, o pertencimento e a reciprocidade. É a chamada Comunicação Afetiva (...).
Há braços.
Mantra da Sec. de Ciência, Tecnologia e Comunicações de Maricá (2017-2020)
Muito se cita o termo “Inez é morta”, mas muitos não sabem o porquê. Inez de Castro casou-se com D. Pedro I as escondidas do então Rei de Portugal, D. Afonso IV. Pulando etapas, D. Afonso IV manda matar Inez, pois a corte não aceitaria o casamento. O pau quebra entre D. Pedro e o Rei, apaziguado depois pela Rainha. D. Pedro I depois de entronado, faz valer o casamento, e o reconhecimento de seus filhos como príncipes. Mas Inez é morta, e sobrou a lenda da Fonte das Lágrimas, criada pelas lágrimas derramadas por Inez, e as algas avermelhadas nesta mesma fonte, que seriam seu sangue. Mas, Inez é morta.
Assistimos agora no Brasil, o surgimento das verdades, que não eram do desconhecimento de muitos, as verdadeiras farsas que envolveram o Mensalão (Joaquim Barbosa) e a Lava Jato (Moro). Mesmo que na época dos processos tenham sido realizados documentários, publicados livros e revistas que apontavam além dos erros dos processos, a manipulação da verdade, o esconder provas e criar provas falsas. A mídia aliada a classe dominante, somados àqueles que se sentem classe média, foram para as ruas comemorar o golpe e suas etapas. A primeira iniciada em 2005 e fechada em 2012 (Zé Dirce, Genuíno, Pizollato, ...), a segunda iniciada com a Lava Jato e fechada com o impeachment da Dilma, e a derradeira com a prisão do Lula e a eleição do Boso. Agora aparecem as verdades, mas Inez é morta.
Ao contrário de Portugal, que “amenizaram” a morte de Inez, com a lenda de uma fonte de água e o reconhecimento do casamento de D. Pedro I. Aqui em terras tupiniquins, guaranis e outras, o país foi roubado e vilipendiado, teve sua soberania estraçalhada e hoje, fica evidente que nossa tão declamada democracia continua em riscos de futuros golpes.
Estamos nas mãos de um Congresso que me leva a sentir saudades de Antônio Carlos de Magalhães, Roberto Campos, Maciel e outros adversários políticos. Que não tinham lá muito apreço pelo Brasil, mas não eram ignorantes “terraplanistas” e negacionistas, como se apresenta hoje a maioria eleita no Congresso.
Mas não fujamos as nossas responsabilidades, não culpemos só as mídias, a classe média, as manipulações religiosas e àqueles togados que mais cometeram crimes do que fizeram justiça. Temos nossa culpa a expiar. Lembrando Frei Betto, a cabeça pensa onde os pés pisam. Se não voltarmos a pisar na lama e continuar acreditando nos acordos feitos nos carpetes refrigerados do Congresso, o que aconteceu nesta última quinzena de maio de 2023 será a tônica nos próximos anos. E aqui, na nossa bela e cobiçada Maricá, iremos descobrir que não somos uma ilha, quiçá um país.
Lendo o livro “Novos Renascimentos: Impactos da Tecnologia na Transformação Completa da Sociedade”, do Prof. Dr. Antônio M Alberti, do Instituto Nacional de Tecnologia – INATEL, deparo-me na seção 10.2, com o parágrafo abaixo, que compara o aprendizado da IAG com o da IA:
Ao invés de extensivamente treinadas (IA) com um conjunto de entrada
de testes, as IAGs devem ser educadas. Ou seja, devem ser capazes de utilizar
aprendizados anteriores para novos problemas. Como faz uma criança. No futuro,
a educação de máquinas será muito mais importante do que o treinamento,
argumenta ele (Bem Goertzel). Assim IAGs poderiam a princípio aprender sobre
qualquer coisa. Creio que esse é um requisito fundamental para avançarmos em
IA.
Tá bom Sérgio... e o brownie com essa encrenca?
Sempre arrumo problema quando faço os seguintes questionamentos: qual o
modelo de sociedade iremos terceirizar para as IAs? Qual o modelo de gente?
Hoje, ao contrário do que coloca Goertzel, educar como a uma criança.
Alguns “pensadores”, da ultradireita, fascistas, defendem que nossas crianças
tenham aula de como fazer “brownies” à aulas de Filosofia, Biologia, Química,
História, Artes, Ed. Física e outros absurdos. Como o famoso “Novo Ensino Médio
– NEM”, aplicado em alguns estados do Brasil, como em São Paulo.
Os seja, muitos dos que defendem as IAs, pensam unicamente em seus
lucros, e não no desenvolvimento das sociedades a partir das IAs. Pensam para
as crianças uma pedagogia diferenciada daquela que propõe Goertzel para a
máquina que, sem forçar muito, é freiriana (P. Freire). Ensinar as máquinas o
“exercício da escuta” para que se eduquem/reeduquem, a partir de seus
“territórios”, no caso dos ensinamentos que servirão de base para a
transformação de seus conhecimentos. É mais ou menos o que Keynes pensava sobre
o economista mestre: 1) Ter algum conhecimento de Matemática, Filosofia, Política
e ser um estadista; 2) Tocar o abstrato e o concreto em um mesmo voo de
pensamento; 3) Saber traduzir símbolos em palavras. Hoje, o que temos depois da
segmentação dos saberes, são economistas que não conseguem ligar o sujeito ao
predicado, e sequer fazem “brownie”.
O sistema fragmentou os saberes, separou os que se complementavam,
fazendo valer para o conhecimento a mesma máxima do poder, dividir para
governar. A discussão hoje é acabar com o mundo do “ou”, transformando-o no
mundo do “e”, como bem coloca Alberti, a inclusão, a transversalidade. E se realmente queremos um país, uma
sociedade avançada, pensante, sem abandonar os estudos e os avanços atuais,
devemos refazer o nosso modelo de produção do conhecimento. Rever nossos
currículos nas três esferas do aprendizado: Fundamental, Médio e Superior.
Talvez assim, poderemos amenizar a grande falta de profissionais que atendam as
atuais e futuras demandas, bem como saber como agir de maneira a não tornar párias
a maioria da população. Dar uma no cravo e outra na ferradura. Hoje, a tônica é
só dar no cravo.
Sérgio Mesquita
Subsecretário de C&T na
Secretaria de Educação de Maricá-RJ
O Brasil tem uma das melhores elites do mundo quando o assunto é
autopreservação.
Ninguém está dizendo que as elites brasileiras são
boas ou que elas têm qualquer preocupação com o desenvolvimento do país. Muito
pelo contrário, inclusive: historicamente, as elites brasileiras sempre
contaram com uma massa de cidadãos miseráveis justamente para ter um exército
de subservientes ao seu dispor. Isso implica em fazer escolhas completamente
prejudiciais para o país em nome dessa autopreservação. O exemplo mais claro
nesse sentido é o processo de desindustrialização do Brasil nos últimos 40 anos,
acompanhado de uma estagnação geral da produtividade empresarial: nossas elites
preferem investir em commodities e em rentismo do que no desenvolvimento
empresarial do país. E fazem isso por uma escolha político-econômica:
produtividade estagnada implica em salários mais baixos na indústria e é fruto
da falta de investimento dos próprios empresários, que no Brasil são
historicamente dependentes do governo – não só para investir, mas também para
impor barreiras protecionistas aos produtos estrangeiros, em geral mais
competitivos que os nosso justamente porque a elite brasileira prefere pagar
baixos salários ao invés de investir em produtividade.
É por isso que programas como o Bolsa Família
fizeram tanta diferença na realidade das classes mais pobres do país. Em um
cenário em que os salários são cronicamente baixos e há pouco ou nenhum
incentivo para a educação de qualidade, a transferência direta de renda por
parte do governo tem seu efeito amplificado na dinâmica econômica do país. O
Brasil tem salários baixos, pouca poupança interna e uma população extremamente
endividada. Enquanto isso, nossas elites seguem vivendo de forma nababesca,
enaltecendo seu próprio mérito e dizendo que “todo mundo pode chegar lá”,
enquanto eles mesmos se encarregam de chutar a escada para que ninguém mais
“chegue lá”. A transferência de renda aumenta um pouco essa esperança fugidia que
o brasileiro insiste em ter em “melhorar de vida”.
De vez em quando, porém, essas elites brigam entre
si. E essas brigas em geral são por poder, ocorrendo quando um grupo invade o
espaço do outro. Dois dos grupos mais privilegiados do Brasil, historicamente,
são o oficialato militar e o “Judiciário Superior”, que inclui magistratura e
Ministério Público, sem desprezar toda uma gama de profissionais de Direito em
áreas tão diversas da sociedade quanto os cartórios (como tabeliões) ou as
delegacias de polícia (como delegados).
Os militares dispensam apresentações. Desde a Proclamação da República, eles se
consideram uma espécie de “Poder Moderador” no país, sempre a serviço das
elites. Foi assim durante a República Velha, quando eles observavam de perto as
transições de poder entre presidentes paulistas e mineiros. Quando o acordo se
quebrou, posicionaram-se rapidamente e passaram a dar suporte a Vargas. Depois,
protagonizaram a redemocratização com Dutra e tentaram tutelar o poder de
diversas formas, tendo papel crucial em crises como a que ocasionou o suicídio
de Vargas e a causada pela renúncia de Jânio Quadros. Quando as elites se
sentiram ameaçadas, usaram os militares para deflagrar um golpe de estado e
instalar um aparato de repressão que durou mais de vinte anos. E, mesmo na
redemocratização, firmaram um acordo com as elites do país para evitar qualquer
punição pelos crimes cometidos na ditadura. Quando viram esse acordo em risco,
decidiram tomar os espaços de poder novamente para si, usando para isso um
enorme aparato de produção de desinformação e, novamente, as elites
conservadoras com as quais eles sempre contaram.
Outra parte dessa elite, por sua vez, é o
Judiciário. O Judiciário no Brasil sempre foi inchado, mas após a
redemocratização, esse inchaço ganhou corpo. Proporcionalmente, o Judiciário
brasileiro é o mais oneroso do mundo: em 2020, custava 1,5% do PIB do país. De
acordo com o própria OAB, o Brasil tem um advogado para cada 164 habitantes.
São 1,3 milhão de pessoas pagando sua anuidade da OAB regularmente. É um número
estarrecedor. Mas ainda mais estarrecedor é o número de alunos nas Faculdades
de Direito: hoje, temos cerca de 1.800 cursos de graduação em Direito
funcionando regularmente, com 700 mil alunos matriculados. Ainda que parte
desses alunos não se forme, estamos falando de um ingresso no mercado de
profissionais formados em Direito na casa da centena de milhar por ano. E a própria
OAB mostra que a média de aprovação nas provas do órgão, que na prática é o que
habilita o profissional a exercer a advocacia, gira em torno de 20 a 30%. Isso
quer dizer que muitos profissionais formados em Direito nunca vão exercer a
profissão, mas vão atuar em outras profissões ligadas ao Direito, especialmente
dentro da máquina estatal.
No governo Bolsonaro, os militares tentaram se
infiltrar em diversas esferas da sociedade. Conseguiram, em grande medida. O
próprio Ministro Dias Toffoli, enquanto Presidente do STF, teve um assessor
militar, que depois se tornou Ministro no governo Bolsonaro (o General Fernando
Azevedo e Silva). Tivemos militares em ministérios tão diversos como
infraestrutura, minas e energia e até na saúde, no meio de uma pandemia. A
impressão é a de que os militares estavam em todos os lugares, referendando e
dando guarida a um governo fascista.
Esse movimento também chegou ao Judiciário. E começou a incomodar,
especialmente quando Bolsonaro tentou influenciar o processo eleitoral,
questionando a democracia. Com suporte dos militares, Bolsonaro insistia que as
urnas eletrônicas, usadas sem problemas desde a década de 90, não eram seguras.
Para piorar, Bolsonaro tinha sérios problemas com o STF à partir do momento em
que a instituição começou a colocar limites em sua máquina de difusão de
mentiras, através do inquérito das fake News.
Essa briga entre os militares e a cúpula do
Judiciário (tem partes do Judiciário bem fiéis ao Bolsonaro, vide Sérgio Moro e
amigos) atingiu o seu ápice na eleição de 2022: enquanto Bolsonaro e os
militares tentavam sabotar o processo de toda forma, o Judiciário deu uma
procuração para Alexandre de Moraes segurar a democracia na unha, impedindo o
que seria a maior fraude eleitoral da história do país.
Nesse cenário todo, ressurge um grande protagonista:
Lula, um homem do povo que sabe transitar bem entre as elites. Os dois governos
dele atestaram essa capacidade de maneira inegável. Mais do que isso: Lula
tinha sido perseguido pela parte do Judiciário que se tornou bolsonarista. Isso
quer dizer que, para a cúpula do Judiciário, lutar por uma eleição justa
significava mais do que a mediação de um processo eleitoral. Com Bolsonaro
tentando tomar para si o poder, através do “Judiciário bolsonarista”, a manutenção
da democracia era questão de sobrevivência.
Lula entendeu muito bem essa lógica, venceu a eleição, tomou posse, sofreu uma
tentativa de golpe e está tentando reconstruir as instituições democráticas do
país. Para isso, tem um trunfo: um Judiciário atuante e com disposição de punir
os militares bolsonaristas que ultrapassaram os limites da democracia. Para
esse processo não virar um justiçamento nos moldes do que o próprio Lula sofreu
na Lava Jato, no entanto, os limites estão bem estabelecidos: não serão as
instituições que serão punidas, e sim as posturas.
Com isso, Lula tenta separar o joio e o trigo dentro
das instituições, ainda que em muitas delas joio e trigo pareçam estar
misturados. Lula não quer a punição dos militares: quer a punição dos bolsonaristas
dentro da caserna. Não quer a punição do agronegócio como um todo, e sim a dos
latifundiários que apoiaram a tentativa de golpe. E o Judiciário parece estar
feliz com essa postura. Prova disso é a operação que prendeu Mauro Cid, coronel
que era ajudante de ordens de Bolsonaro até cinco meses atrás, e outros
auxiliares de Bolsonaro, além de apreender o celular do ex-presidente. Tudo
porque Bolsonaro e Mauro Cid fraudaram suas carteiras de vacinação e as
carteiras de outros familiares para entrarem nos EUA sem problemas.
E as demais elites, como ficam? Elas estão bem,
também. Já se assentaram ao novo arranjo de poder. Bolsonaro vai ficando para
trás, e, embora o bolsonarismo siga incomodando (vide o caso do PL 2630, em que
as big techs se associaram ao bolsonarismo mais rasteiro para obstruir a
pauta), parece cada vez mais certo que essas elites hoje veem Bolsonaro como um
nome tóxico, especialmente porque, com Lula, elas estão enxergando maiores
oportunidades de inserção brasileira no mercado internacional, em que pese a
nossa medíocre competitividade até o momento.
Esse é outro desafio que Lula terá para os próximos anos.
Pausar a pesquisa de IA
Enquanto adiamos as coisas, a vida passa.
Participo
de um grupo no WhatsApp, RenaSCidade, criado no HackTown de 2019 na cidade
mineira de Santa Rita do Sapucaí, com a intenção de se discutir a cidade e a
influência do Hacktown sobre ela, o que aproveitar ou não. Como o grupo começou
cheio de “estrangeiros”, como meu exemplo, morador de Maricá, hoje discute o
Brasil e o mundo a partir das tecnologias presentes e, principalmente, as por
vir. Coisa de malucos belezas, lembrando o Raul Seixas.
Neste
último mês de março (2023), o que predominou foi a questão da Inteligência
Artificial, em especial nas duas últimas semanas, a partir do manifesto que
saiu nas redes pedindo pausa nas pesquisas da IA. Assinado por gente do mundo
inteiro e ainda em coleta de assinaturas.
Participo
do quase consenso do grupo, que entende que, mesmo que aconteça um acordo em se
realizar uma pausa, ou mesmo a suspensão, as pesquisas continuarão em “segredo
de Estado” ou, principalmente, de Estado. Basta lembrar a questão das armas
biológicas, denunciada no imbróglio OTAN x Rússia.
Meu
sogro costumava dizer que o único animal que não prestava no mundo era o
humano. O Planeta não sentiria a nossa falta. O que de certo modo, analisando o
curto espaço de alguns milhares de anos da nossa existência, acho que o lado
negro na Força meio que vem com alguma vantagem. Ao lado da descoberta da
penicilina, dos voos espaciais e de muita coisa boa, deparamos com a fome,
poluição, má educação, doenças quase que produzidas e mais. As “Big Farms,
FinTecs, BigPharm” e outras corporações buscam mais o lucro financeiro do que
mitigar (não escrevo resolver), a fome, a distribuição de renda ou a saúde.
Quando tomamos ciência, como um dos muitos exemplos que, na maioria das grandes
empresas de comunicação, suas diretorias de Jornalismo, são ocupadas por
pessoas ligadas ao marketing, alguma coisa não bate. Este deve ser um dos
motivos que levaram aos signatários do documento pedindo uma pausa na questão
das IAs. Pois está identificado que, mais do que resolver as questões éticas e
humanas, a disputa é pelo mercado, pelo lucro rápido, em especial por conta da
velocidade exponencial do avanço tecnológico, como bem colocou Dado Schneider
no último HackTown em Santa Rita do Sapucaí.
A
consequência desta linha de pensamento, que busca o lucro rápido e fácil, que
cria as sementes suicidas, nossa alimentação transgênica regada por uns 700
venenos agrícolas diferentes, na produção de doenças para vender remédios, ou
remédios de curas parciais (olha o marketing mais uma vez), defende o egoísmo e
não a solidariedade como modo de vida. É a mesma que incentiva o
desenvolvimento da IA, sem se preocupar com as questões éticas e humanas, como
bem chama a atenção o professor do INATEL, Marcos Antônio Alberti.
Alberti,
como eu e outros do RenaSCidade, não acreditamos em uma pausa consensual ou
mesmo imposta. Mas acredito, que o “simples” surgimento deste documento,
acendeu a luz amarela e publicizou uma discussão até então ainda tímida. Cabe
agora não deixar a mesma morrer e, repetindo aqui o mantra que aquecia a
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Comunicações de Maricá, entre os anos de
2017 e 2020: “A Tecnologia como ferramenta de resgate de nossas humanidade”.
Basta não abrirmos mãos de nossas humanidades, para melhorar e muito a nossa
qualidade de vida, que vai muito além das questões financeiras.
Quase
encerro lembrando a participação da Valéria Brandini, no HackInverno, evento
criado pelo RenaSCidade, “on line”, durante a pandemia com o tema: O Brasil tem
Futuro?”. Valéria nos lembra que costumamos discutir e avaliar as situações,
mas acabamos não apresentando soluções que permitissem as futuras gerações a
seguirem avançando. Ela nos lembra que há 200 anos discutíamos que a máquina a
vapor iria tirar nossos empregos. Em tempos recentes seriam os robôs, e hoje a
IA que segundo Harari, deve criar no mundo a Classe dos Inúteis até 2050.
Seguindo com os exemplos colocados por ela, há 70 anos a tela da televisão iria
deseducar nossas crianças, hoje são as telas dos celulares. Sempre acabamos nas
soluções paliativas, que não impactam na essência do problema, impedindo assim
um avanço significativo, para que a próxima geração continuasse avançando.
Antes de ouvir a Valéria, em Maricá, quando na Secretaria de Cultura e depois
na de C&T, questionávamos: Qual a herança estamos deixando para nossos
filhos? Fazíamos a pergunta quando discutindo projetos e, quando aconselhava
aos jovens a repetirem a pergunta sempre que ouvissem “a sentença”, de que eles
eram o futuro do país.
Fato
é que devemos dar um pouco mais de atenção as coisas que nos mantém vivos e
como seres pensantes. Precisamos dos olhos nos olhos, do nosso tempo para o
ócio criativo, de uma qualidade de vida que nos permita o básico. Somente assim
poderemos pensar em um mundo mais justo e solidário. Keynes em 1930 escreveu um
artigo, “Possibilidades econômicas para nossos netos”, onde meio que previa,
dali há 100 anos, que nossa preocupação seria em como gastar nosso dinheiro em
nosso tempo livre, em consequência dos avanços tecnológicos e suas propostas
econômicas. Em 2015 a ONU lança a Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, com ações para serem feitas na prática pelos
diversos governos. Faltam 7 anos para os 100 anos do Keynes e para o prazo da
Agenda. O mundo avançou?
Obrigado
RenaSCidade pela existência.
Sérgio
Mesquita
Servidor
Público.
Por: Revista Prosa Verso e Arte 07/19/2017
– por Antonio Pita – El País/Madri
A partir de seu posto de professor em Leeds (Inglaterra), Bauman teria podido
lançar um olhar complacente ao presente, depois de ter vivido a invasão nazista
de seu país, a Segunda Guerra Mundial na frente de batalha, o antissemitismo e
os expurgos na Polônia comunista. Em vez disso, sua análise em Retrotopia é
taxativa: “É praticamente inevitável que respiremos uma atmosfera de
desassossego, confusão e ansiedade e a vida seja qualquer coisa menos
agradável, reconfortante e gratificante”. Nesse contexto, os cada vez mais
consumidos tranquilizantes e antidepressivos proporcionam alívio, mas também
“contribuem para cegar os próprios seres humanos em relação à natureza real do
seu padecimento em vez de ajudar a erradicar as raízes do problema”.
Neoliberalismo, monocultura, padronização
O aquecimento global já não é ficção
Movidos pelo lucro, a vaidade e o poder
Homens mortos pelo ego antes de nascer
Banda de rock alternativo (2001-2015)
Nos tempos da Grécia Antiga, Atenas com a sua democracia em processo de desenvolvimento e questionamento, por ser sectária, “politiko”, era aquele morador que participa da vida comum da cidade, que frequentava a Ágora, praça onde o povo discutia a cidade. Em oposição ao “politiko”, tínhamos/temos o “idiota”, que é aquele que só pensa em si, só olha o próprio umbigo.
Ser “idiota”, é o papel que se presta uma das maiores empresas de comunicação do Brasil, que em editorial de seu jornal (03.03), questiona o posicionamento do Governo Federal, em relação ao que fazer com os lucros da Petrobras. Questionamento que, não pode e não deve causar surpresa em ninguém neste Brasil. Pois a mais leve pesquisa nos editoriais e manchetes deste jornal, deixará patente que sua linha de pensamento é a mesma desde os anos cinquenta do século passado. Sempre idiotas.
Em ordem cronológica decrescente, temos alguns exemplos das atuações das empresas ligadas ao grupo, sempre dentro de um mesmo padrão, contrária ao grosso da população e sempre favorável aos poucos ricos locais, ou representantes dos ricos de alhures. Pois senão vejamos:
· Apoio irrestrito à eleição do Bolsonaro;
· O Golpe iniciado em 2005 com o “Mensalão” e suas fases posteriores - as condenações de Dirceu e companhia, sem provas - o golpe em Dilma - a farsa das acusações e a prisão do Lula;
· Eleição do Collor e a farsa do caçador de marajás;
· O apoio ao desmanche do capítulo da comunicação na Constituição de 1988;
· Posicionamento contrário ao movimento das Diretas Já;
· Apoio ao Golpe civil militar de 1964 que assassinou, sequestrou e prendeu àqueles que lutaram pela restauração da democracia;
· As “fakes news” contra o Governo Vargas, levando-o ao suicídio;
· Campanha contra o “Petróleo é Nosso” e a criação da PETROBRAS.
São, pelo menos, 70 anos de manipulações contra a existência da Petrobras e, enquanto não conseguirem sua privatização, que ela alimente, exclusivamente, as contas de seus acionistas em seus paraísos.
Até antes do golpista Temer assumir a presidência, após o golpe de 2016 contra Dilma, parte do “lucro” da Petrobras era direcionado, investido, nas questões sociais e culturais, entre outras ações. Outra parte, investida em pesquisa na busca de uma melhor ação e produtividade na questão da extração, refino e distribuição do petróleo (pré sal), ainda outra no desenvolvimento de novas formas de energia renováveis e, claro, uma distribuição de seu lucro entre seus funcionários (PL) e acionistas.
Aqui em Maricá, por exemplo, com a construção do COMPERJ (obra paralisada pelas ações criminosas do Moro, Dallagnol e suas trupes, com apoio da mesma mídia), foi uma das cidades beneficiadas por parte deste lucro, direcionado como contrapartidas. Um dos exemplos foram as ações de urbanismo no bairro de Itaipuaçu, outro exemplo foi a possibilidade de reflorestamento das matas ciliares dos rios que cortam o Município, com alguns milhares de mudas nativas, que seriam plantadas pela Petrobras ao logo das margens destes rios, sem quaisquer custos para os proprietários das terras cortadas por estes rios. O emissário e a rede de coleta de esgoto, que também faziam parte das contrapartidas. Tudo paralisado por conta dos crimes da Lava Jato. E para aqueles municípios impactados diretamente pela extração do petróleo, os “royalties”. Ações consideradas nefastas para aqueles que só se preocupam com seus umbigos, os idiotas.
Pior do que se posicionarem despreocupadamente com a fome, desemprego e a desestruturação da infraestrutura do Brasil, é ainda “ameaçar” o governo com a queda da popularidade de seu presidente, Lula. Queda esta que sabemos poder ser manipulada, pois os mesmos, possuem uma larga experiencia na manipulação da informação, consequência da total desregulamentação das mídias e redes sociais. Preferem o vale tudo, pois se beneficiam politicamente e, especialmente, financeiramente, o cerne da questão.
O que realmente estão querendo passar ao Governo, com este tipo de editorial? Um aviso explícito, de que podem contribuir com mais um golpe contra a soberania e o povo brasileiro?
Transformar em imperdoável o que hoje
é aceitável.
Délcio Teobaldo
Gruvi Quântico
Um mergulho no céu estrelado
Banho frio mantém relaxado
Olha só o relevo, que montanha linda!
Limonada gelada no almoço
Mil beijos com amor no pescoço
Quando se manifesta a beleza dessa vida
Embriagada no egoísmo que lhe embaça a visão
A humanidade enxerga a vida como competição
O concreto toma conta do que era verde
Desequilíbrio, miséria, fome e sede
Essa lógica corrói os seres humanos
Fode o planeta e seus recursos naturais
Ignora o fato da existência de outros planos
E nos afasta de avanços espirituais
Luz, preencha todo o meu ser
E mostre o que podemos ver
Além do que é material, se encontra a alegria
Flui, em tudo uma força maior
Que cria e muda pra melhor
Que só quer ver você dançar
Em sintonia
Criançada na rua brincando
Seu quadril segue um mantra dançando
O barulho da chuva que te lava a alma
Um sorriso, um brinde, um abraço
Gratidão, peito aberto no espaço
Quando a mãe natureza te devolve à calma
Neoliberalismo, monocultura, padronização
O aquecimento global já não é ficção
Movidos pelo lucro, a vaidade e o poder
Homens mortos pelo ego antes de nascer
Na nova era chega à Terra a nova concepção
Respiro fundo, fecho os olhos, de pé permaneço
Abro ao cosmos as janelas do meu coração
Entrego, confio, aceito e agradeço
Luz, preencha todo o meu ser
E mostre o que podemos ver
Além do que é material, se encontra a alegria
Fé! Ô Jah, eu vou seguir com Fé!
Fluindo na força maior
Que cria e muda pra melhor
Em sintonia
“São pessoas que não serão apenas
desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador.
Por A Soma de
Todos Afetos - 9 de julho de 2019
Especialistas e
historiadores como Yuval Noah Harari há muito vêm prevendo que as máquinas
tornariam os trabalhadores redundantes. Esse momento já pode estar aqui. Mas o
que isso traz de ruim?
Em artigo publicado no The Guardian, intitulado O Significado da
Vida em um Mundo sem Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de
pessoas que deve surgir até 2050: a dos inúteis. “São pessoas que não serão
apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador.
“A questão mais importante na economia do século 21 pode muito
bem ser: o que devemos fazer com todas as pessoas supérfluas, uma vez que temos
algoritmos não-conscientes altamente inteligentes que podem fazer quase tudo
melhor que os humanos?”
“A maioria das crianças que atualmente aprendem na escola provavelmente será
irrelevante quando chegar aos 40 anos.”
De acordo com Harari, esse grupo poderá acabar sendo alimentado
por um sistema de renda básica universal. A grande questão então será como
manter esses indivíduos satisfeitos e ocupados. “As pessoas devem se envolver
em atividades com algum propósito. Caso contrário, irão enlouquecer. Afinal, o
que a classe inútil irá fazer o dia todo?”.
O professor sugere que os games de realidade virtual poderão ser
uma das soluções e faz um paralelo com costumes antigos, que, segundo ele, teve
propósito semelhante:
“Na verdade, essa é uma solução muito antiga. Por centenas de anos, bilhões de
humanos encontraram significados em jogos de realidade virtual. No passado,
chamávamos esses jogos de ‘religiões’”
Abaixo leia o artigo
Consequentemente,
até 2050, uma nova classe de pessoas poderá surgir – a classe desocupada.
Pessoas que não estão apenas desempregadas, mas desempregáveis. A mesma
tecnologia que torna os seres humanos inúteis também pode tornar viável
alimentar e apoiar as massas desempregadas através de algum esquema de renda
básica universal. O problema real será, então, manter as massas ocupadas e o
conteúdo. As pessoas devem se envolver em atividades propositadas, ou ficam
loucas. Então, o que a classe desocupada irá fazer o dia todo?
Uma resposta pode
ser jogos de computador. Pessoas economicamente redundantes podem gastar
quantidades crescentes de tempo dentro dos mundos da realidade virtual 3D, o
que lhes proporcionaria muito mais emoção e engajamento emocional do que o
“mundo real” externo. Isso, de fato, é uma solução muito antiga. Por milhares
de anos, bilhões de pessoas encontraram significado em jogar jogos de realidade
virtual. No passado, chamamos essas “religiões” de jogos de realidade virtual.
O que é uma religião, se não um grande jogo de realidade virtual
desempenhado por milhões de pessoas juntas? Religiões como o Islã e o
Cristianismo inventam leis imaginárias, como “não comem carne de porco”,
“repita as mesmas preces um número determinado de vezes por dia”, “não faça
sexo com alguém do seu próprio gênero” e assim por diante. Essas leis existem
apenas na imaginação humana. Nenhuma lei natural exige a repetição de fórmulas
mágicas, e nenhuma lei natural proíbe a homossexualidade ou a ingestão de
porco. Muçulmanos e cristãos atravessam a vida tentando ganhar pontos em seu
jogo de realidade virtual favorito. Se você reza todos os dias, você obtém
pontos. Se você esqueceu de orar, você perde pontos. Se, no final da sua vida,
você ganhar pontos suficientes, depois de morrer, você vai ao próximo nível do
jogo (também conhecido como o paraíso).
Como as religiões
nos mostram, a realidade virtual não precisa ser encerrada dentro de uma caixa
isolada. Em vez disso, ele pode se sobrepor à realidade física. No passado,
isso foi feito com a imaginação humana e com livros sagrados, e no século 21
pode ser feito com smartphones.
Algum tempo atrás, fui com o meu sobrinho de seis anos, Matan,
para caçar Pokémon. Enquanto caminhávamos pela rua, Matan continuava a olhar
para o seu telefone inteligente, o que lhe permitia detectar Pokémon à nossa
volta. Eu não vi nenhum Pokémon, porque não carregava um smartphone. Então vimos
outras duas crianças na rua que estavam caçando o mesmo Pokémon, e quase
começamos a lutar com eles. Parecia-me como a situação era semelhante ao
conflito entre judeus e muçulmanos sobre a cidade sagrada de Jerusalém. Quando
você olha a realidade objetiva de Jerusalém, tudo que você vê são pedras e
edifícios. Não há santidade em qualquer lugar. Mas quando você olha através de
smartbooks (como a Bíblia e o Alcorão), você vê lugares sagrados e anjos em
todos os lugares.
A ideia de encontrar um significado na vida ao jogar jogos de
realidade virtual é, evidentemente, comum não apenas às religiões, mas também
às ideologias seculares e estilos de vida. O consumo também é um jogo de
realidade virtual. Você ganha pontos adquirindo carros novos, comprando marcas caras
e tendo férias no exterior, e se você tiver mais pontos do que todos os outros,
dizendo a si próprio que ganhou o jogo.
Você pode contrariar
dizendo que as pessoas realmente gostam de seus carros e férias. Isso
certamente é verdade. Mas os religiosos realmente gostam de orar e realizar
cerimônias, e meu sobrinho realmente gosta de caçar Pokémon. No final, a ação
real sempre ocorre dentro do cérebro humano. Não importa se os neurônios são
estimulados observando pixels em uma tela de computador, olhando para fora das
janelas de um resort do Caribe ou vendo o céu nos olhos da mente? Em todos os
casos, o significado que atribuímos ao que vemos é gerado pelas nossas próprias
mentes. Não é realmente “lá fora”. Para o melhor de nosso conhecimento
científico, a vida humana não tem significado. O significado da vida é sempre
uma história de ficção criada por nós humanos.
Em seu ensaio inovador, Deep Play: Notas sobre a Briga de Galos
em Bali (1973), o antropólogo Clifford Geertz descreve como na ilha de Bali, as
pessoas passaram muito tempo e dinheiro apostando em brigas de galos. As
apostas e as lutas envolveram rituais elaborados, e os resultados tiveram um
impacto substancial na posição social, econômica e política de jogadores e
espectadores.
As brigas de galos eram tão importantes para os balineses que,
quando o governo indonésio declarou a prática ilegal, as pessoas ignoraram a
lei e se arriscavam a prisão e multas pesadas. Para os balineses, as brigas
eram “jogo profundo” – um jogo confeccionado que é investido com tanto
significado que se torna realidade. Um antropólogo balines poderia, sem dúvida,
ter escrito ensaios semelhantes sobre futebol na Argentina, Brasil ou no
judaísmo em Israel.
De fato, uma seção particularmente interessante da sociedade
israelense fornece um laboratório exclusivo de como viver uma vida satisfeita
em um mundo pós-trabalho. Em Israel, um percentual significativo de homens
judeus ultraortodoxos nunca trabalhou. Eles passam toda a vida estudando
escrituras sagradas e realizando rituais de religião. Eles e suas famílias não
morrem de fome, em parte porque as esposas muitas vezes trabalham, e em parte
porque o governo lhes fornece generosos subsídios. Embora geralmente vivam na
pobreza, o apoio do governo significa que eles nunca faltam para as
necessidades básicas da vida.
Isso é uma renda
básica universal em ação. Embora sejam pobres e nunca trabalhem, em pesquisa
após pesquisa, esses homens judeus ultraortodoxos relatam níveis mais elevados
de satisfação com a vida do que qualquer outra parte da sociedade israelense.
Nos levantamentos globais sobre a satisfação da vida, Israel está quase sempre
no topo, graças em parte ao contributo destes pensadores profundos e desempregados.
Você não precisa ir a Israel para ver o mundo do pós-trabalho.
Se você tem em casa um filho adolescente que gosta de jogos de computador, você
pode realizar sua própria experiência. Fornecer-lhe um subsídio mínimo de Coca-Cola
e pizza e, em seguida, remover todas as demandas de trabalho e toda a
supervisão dos pais. O resultado provável é que ele permanecerá em seu quarto
por dias, colado na tela. Ele não vai fazer qualquer lição de casa ou tarefas
domésticas, vai ignorar a escola, ignorar as refeições e até mesmo ignorar os
chuveiros e dormir. No entanto, é improvável que ele sofra de tédio ou uma
sensação de sem propósito. Pelo menos não no curto prazo.
Portanto, as realidades virtuais provavelmente serão
fundamentais para fornecer significado à classe desocupada do mundo
pós-trabalho. Talvez essas realidades virtuais sejam geradas dentro dos
computadores. Talvez sejam gerados fora dos computadores, sob a forma de novas
religiões e ideologias. Talvez seja uma combinação dos dois. As possibilidades
são infinitas, e ninguém sabe com certeza que tipos de peças profundas nos
envolverão em 2050.
Em qualquer caso, o fim do trabalho não significará
necessariamente o fim do significado, porque o significado é gerado pela
imaginação em vez de pelo trabalho. O trabalho é essencial apenas para o
significado de acordo com algumas ideologias e estilos de vida. Os escravos
ingleses do século XVIII, os judeus ultraortodoxos atuais e as crianças em
todas as culturas e eras encontraram muito interesse e significado na vida,
mesmo sem trabalhar. As pessoas em 2050 provavelmente poderão jogar jogos mais
profundos e construir mundos virtuais mais complexos do que em qualquer momento
anterior da história.
E quanto à verdade?
E a realidade? Realmente queremos viver em um mundo no qual bilhões de pessoas
estão imersas em fantasias, buscando objetivos criativos e obedecendo leis
imaginárias? Bem, goste ou não, esse é o mundo em que vivemos há milhares de
anos.
Yuval Noah Harari é professor na Universidade Hebraica de Jerusalém e é autor de ‘Sapiens: Uma Breve História da Humanidade’ e ‘Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã’