domingo, 25 de setembro de 2016

Se os Tubarões fossem homens...

Utilizo-me no título deste texto, de forma desavergonhada, Bertold Brecht. Uso seu texto “Se os tubarões fossem homens”, como também, o reproduzo ao final desse meu texto.

Mas antes, viajo mais um pouco na “maionese”. Depois que foi apresentada pelo governo GOLPISTA do Temer e do PSDB, as mudanças no Ensino Médio, veio à minha cabeça, outras estripulias que a classe dominante vem nos empurrando paulatinamente. Como o Golpe, com seu roteiro próprio, porém paralelo ao do Golpe ainda não completado – falta impedir a candidatura do Lula.

Entre os vários pontos necessários para o bom andamento do Golpe, destaco aqui três, não mais, mas importantes também. Primeiro, “conquistar” os corações e mentes da maioria dos profissionais da mídia (que pode acontecer por convencimento ou medo); segundo, dar o Golpe sem a coisa antipática das armas e o parlamentar tradicional. É preciso travesti-lo do embasamento jurídico; Terceiro, fazer a cabeça da juventude pela ausência de pensamento ou discussão – qualquer discussão. Agora vamos às coincidências, ou se preferir a teoria da conspiração.

Começa em nossa “democrática e ética” mídia, a discussão sobre a necessidade ou não da exigência de um diploma – papel – que de ao profissional de Jornalismo o status de Nível Superior. Como os sindicatos da categoria entraram na luta de forma corporativa, e não para discutir o principal problema da categoria que é o monopólio da Comunicação, não a “perderam” oficialmente, mas a perderam de fato. Digo isso devido a pasmaceira da categoria em relação aos mandos e desmandos de seus patrões. Ninguém mais se posiciona, Conselho de Comunicação, entidades representativas e outras que envolvem a categoria. Fazem barulho, mas sem qualquer encaminhamento de luta, de fato, contra a postura dos donos das mídias. O resultado é a manutenção do emprego, dos trocados no final do mês, à ética e democracia.

Na questão da Justiça, do Estado de Direito, começaram por atacar a política através de sua criminalização a qualquer custo. Depois, por não ter havido reação ao contrário por parte dos políticos, passaram a atacar as próprias Leis, em especial a Constituição de 88. A estratégia acirrou no Mensalão, quando juízes declaram em seus votos não terem encontrado culpas a imputar aos condenados, mas os condenariam assim mesmo. De novo, sem reações. Agora temos a Lava Jato, que tem a mão de Deus guiando advogados e procuradores, na “republiqueta de Curitiba”. Que por se considerarem o próprio Deus, declaram a Lava Jato acima das Leis que regem os simples mortais. O Estado de Exceção implantado com apoio da mídia.

Para finalizar, até o dia de hoje, 25 de agosto de 2016, o ataque à Educação, como se fosse o último baluarte de resistência da Democracia. Acreditam no “ser de luz”, Alexandre Frota, e mudam a Educação Média. Atacam os professores e alunos, ao reduzirem a necessidade da formação de mestres e de um currículo mais amplo e reflexivo para a juventude. Encerram com os projetos de alfabetização, reduzem a necessidade de formação dos professores e capam o Ensino Médio. Na realidade, preocupados com uma das muitas máximas de Paulo Freire, “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Querem acabar com qualquer possibilidade de transformação do mundo em algo diferente do que planejaram para eles. Pois não passamos de intrusos, nos espaços feitos para eles, criados pelas leis feitas por eles, para atender as necessidades deles.

Segundo minha impressão, após assistir a palestra do Nildo Ouriques (https://www.youtube.com/watch?v=QJziflgyHdk), nossas Universidades já são “sem partido”. Falta agora, apresentar para nossa juventude, a “escola sem partido”. E estão trabalhando com afinco para tal.

E o que fazem a maioria de nossos políticos – de qualquer coloração? Tratam da manutenção de seus carguinhos, como fossem ser esquecidos pelas corporações que usaram e abusaram deles, como usaram e abusaram do Barbosa, e agora usam e abusam do Sérgio Moro e sua republiqueta.

Encerro aqui reproduzindo do Bertold “Se os tubarões fossem homens” ou, como fazer uma escola sem partido. Sim... o projeto é antigo, as reações é que arrefeceram.


Sérgio Mesquita
Sec. Formação do PT-Maricá-RJ

SE O TUBARÕES FOSSEM HOMENS

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.
Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos
Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.

A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .

Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

Bertolt Brecht