terça-feira, 28 de junho de 2016

Seriam os estudantes paulistas islandeses?

O caso da Islândia é realmente emblemático e, para os financistas, a notícia não deve ser espalhada pelo mundo não. Como explicar a todos que é possível sim a um país anoitecer falido e amanhecer, no dia seguinte, sem dívidas e com sua soberania resgatada?
Da mesma forma que o dinheiro que circula hoje no mundo é virtual, não tem seu lastro em ouro como “nos antigamente”, as dívidas que existem a partir dele também são virtuais. E como tais, podem ser apagadas pela tecla “delete”. Todo o processo financeiro desregulado é um processo criminoso que atenta contra a vida humana, contra a soberania de países e pessoas e deve ser “deletado”.

Mas se formos deixar para os Congressos atuais, eleitos por uma falsa democracia, como colocaram Saramago e Hobsbawm em seus escritos, nunca será apertada a tecla “delete” da dívida. Pelo contrário, se for apertada, será para apagar a maioria da população que é considerada estorvo para o sistema atual, que só precisa de 20% da mesma para se manter. Os demais 80% representam números - não pessoas - vermelhos em suas planilhas.

 O povo da Islândia deu uma aula de democracia para o mundo. A verdadeira democracia, horizontal, onde todos podem opinar e decidir. O governo foi demitido, banqueiros presos, bancos nacionalizados, dívida anualada e o país voltou à sua normalidade. FMI, a Comunidade Européia e demais entidades financista, preferiram ficar caladas para não chamar atenção para o caso.

Fazendo uma rápida comparação, os estudantes paulistas fizeram a mesma coisa que o povo da Islândia durante as ocupações das escolas públicas. Exerceram a democracia e enfrentaram a máquina do governo paulista e o enquadraram, como os islandeses fizeram com seu sistema financeiro.

Nosso problema, principalmente nas esquerdas, é a existência de um forte patrimonialismo cultural que cega seus quadros. Enquanto mantermos as instâncias de decisão partidárias e das organizações civis verticalizadas, nunca chegaremos perto do que os islandeses e os estudantes paulistas fizeram. Há pouco tempo, ouvi queixa de um membro da Frente Brasil Popular quanto aos movimentos que surgiam contra o Golpe, sem que a Frente avaliasse ou validasse os mesmos. O problema está exatamente aí, porque teríamos de validar ou não as manifestações contra o Golpe? Temos é que incentivá-las, porque se não, as mesmas podem cansar. Temos é que discutir com elas como atingir a um objetivo comum e não para o que, internamente, a Frente ache o correto. Enquanto agirmos assim, corre-se o risco do movimento esfriar e o roteiro do golpe ser levado até o fim, como hoje acontece. Lula acabará preso, Dilma fora e a direita puxando nova eleição presidencial, como querem as corporações.

Se o modelo está esgotado, não adianta lutar por dentro dele. Que comêssemos a botar em prática um novo modelo (que pode até ser um resgate de práticas anteriores), mas tem que ser horizontal e respeitar o povo nas ruas.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá/RJ


https://youtu.be/lNt7zc6ouco