O caso da Islândia é realmente emblemático e, para os financistas, a
notícia não deve ser espalhada pelo mundo não. Como explicar a todos que é
possível sim a um país anoitecer falido e amanhecer, no dia seguinte, sem
dívidas e com sua soberania resgatada?
Da mesma forma que o dinheiro que circula hoje no mundo é virtual, não
tem seu lastro em ouro como “nos antigamente”, as dívidas que existem a partir
dele também são virtuais. E como tais, podem ser apagadas pela tecla “delete”.
Todo o processo financeiro desregulado é um processo criminoso que atenta
contra a vida humana, contra a soberania de países e pessoas e deve ser
“deletado”.
Mas se formos deixar para os Congressos atuais, eleitos por uma falsa
democracia, como colocaram Saramago e Hobsbawm em seus escritos, nunca será
apertada a tecla “delete” da dívida. Pelo contrário, se for apertada, será para
apagar a maioria da população que é considerada estorvo para o sistema atual,
que só precisa de 20% da mesma para se manter. Os demais 80% representam
números - não pessoas - vermelhos em suas planilhas.
O povo da Islândia deu uma aula
de democracia para o mundo. A verdadeira democracia, horizontal, onde todos
podem opinar e decidir. O governo foi demitido, banqueiros presos, bancos
nacionalizados, dívida anualada e o país voltou à sua normalidade. FMI, a
Comunidade Européia e demais entidades financista, preferiram ficar caladas
para não chamar atenção para o caso.
Fazendo uma rápida comparação, os estudantes paulistas fizeram a mesma
coisa que o povo da Islândia durante as ocupações das escolas públicas.
Exerceram a democracia e enfrentaram a máquina do governo paulista e o
enquadraram, como os islandeses fizeram com seu sistema financeiro.
Nosso problema, principalmente nas esquerdas, é a existência de um
forte patrimonialismo cultural que cega seus quadros. Enquanto mantermos as
instâncias de decisão partidárias e das organizações civis verticalizadas,
nunca chegaremos perto do que os islandeses e os estudantes paulistas fizeram. Há
pouco tempo, ouvi queixa de um membro da Frente Brasil Popular quanto aos
movimentos que surgiam contra o Golpe, sem que a Frente avaliasse ou validasse
os mesmos. O problema está exatamente aí, porque teríamos de validar ou não as
manifestações contra o Golpe? Temos é que incentivá-las, porque se não, as
mesmas podem cansar. Temos é que discutir com elas como atingir a um objetivo
comum e não para o que, internamente, a Frente ache o correto. Enquanto agirmos
assim, corre-se o risco do movimento esfriar e o roteiro do golpe ser levado
até o fim, como hoje acontece. Lula acabará preso, Dilma fora e a direita
puxando nova eleição presidencial, como querem as corporações.
Se o modelo está esgotado, não adianta lutar por dentro dele. Que
comêssemos a botar em prática um novo modelo (que pode até ser um resgate de
práticas anteriores), mas tem que ser horizontal e respeitar o povo nas ruas.
Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá/RJ
https://youtu.be/lNt7zc6ouco