“O anti-intelectualismo tem sido uma ameaça
constante
se insinuandona nossa vida política e cultural,
alimentado pela falsa noção de que a democracia
significa que ‘a minha ignorância
é tão boa quanto o seu conhecimento’".
Lendo a
biografia do Frei Betto, escrita pelo Américo Freire e Evanize Sydowm, deparo com
um artigo do Alceu Amoroso Lima, escrito no Jornal do Brasil, ainda no início
do Golpe de 64, de que me aproprio do título,
neste texto.
Chamou-me
a atenção, não só o primor do texto, mas principalmente em como se encaixa a
frase de Marx: “A História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda
como farsa”. O que afirmo, sem qualquer dor na
consciência, que vivemos uma situação mais assustadora. Combinamos a tragédia
com a farsa em um mesmo momento.
Alceu
(cheio de intimidade), fala das demissões de
homens como Anísio Teixeira (educação), Josué de Castro (sociologia), Celso
Furtado (economia), como exemplos de atos de Terrorismo Cultural, pois aliena a
população de seus saberes. Também, argumenta que
quando a Polícia baixa instruções para sanear a população, em especial a Ação
Católica - AC, repetindo Mussolini na Itália, trata-se de Terrorismo Cultural.
Todos
sabemos da importância da Educação e a defendemos. Mas é na Cultura que são
expressos os saberes e “modus vivendi” da
população em dado território. Portanto, são irmãs univitelinas, a combinação
perfeita do agridoce no molho. Por isso o Terrorismo Cultural é mais eficaz que
as bombas, pois acabamos de passar por mais uma eleição que, diferente das
demais, o ataque foi Cultural. Incentivaram-se e desacreditaram-se crenças;
atacaram-se os saberes e os laços que pudessem unir a população em seus
objetivos comuns. Retrocedemos séculos nas áreas do saber e da ciência, e o
governo ainda não começou.
Pois
quando uma candidatura investe na mentira – mentirinhas políticas, como dizia Maluf
– está atacando a Cultura. Quando investe contra civilizações como as negras e
indígenas, está atacando a Cultura. Quando se coloca como programa cultural para
o estado do Rio de Janeiro, abrir as escolas para aulas de corte, costura e
cerâmica para as mães dos alunos, é Terrorismo Cultural. Quando interpretações
da Bíblia, por grupos fundamentalistas, são mais importantes
que a política e ciência, trata-se de Terrorismo Cultural. Quando se quer calar
os professores, é Terrorismo Cultural.
Somos
atacados culturalmente há anos pelas classes dominantes: a margarina e óleo de
soja são melhores que a manteiga e a gordura do coco. Produzir fuscas é mais
importante do que produzir os caminhões da FNM. O horário das novelas é mais
importante que o horário do futebol. Estradas são mais importantes que
ferrovias e por aí vai. Pequenos grandes exemplos de manipulações que confirmam
todo o ataque de contracultura.
Por isso
o paralelo dos dias de hoje com nosso passado recente, conhecido como “anos de
chumbo”, o golpe de 64. Você trabalhará melhor ganhando um salário menor, sem
férias, 13º e com a aposentadoria chegando no pós-morte.
E você,
que saiu de amarelo, não vai convencer ninguém de que foi enganado. A campanha
política de seu candidato, te deu a ilusão de que poderia ser racista,
homofóbico, misógino e outros adjetivos, sem que houvesse consequências para
você e seus próximos. Em Estado de Exceção, não existe exceção. Que o digam
Carlos Lacerda, Juscelino, Castelo e, nos dias de hoje, Sérgio Cabral (que não
é classe dominante, é filho de sambista), e seu próprio candidato (que também
não é classe dominante), com medo de seu vice...
Por isso,
nos dias de hoje, a História se repete, com a tragédia e a farsa convivendo em
um mesmo espaço de tempo.
Sérgio Mesquita
Sec. Formação do PT-Maricá/RJ