domingo, 4 de novembro de 2018

TERRORISMO CULTURAL



“O anti-intelectualismo tem sido uma ameaça constante
se insinuandona nossa vida política e cultural,
alimentado pela falsa noção de que a democracia
significa que a minha ignorância
é tão boa quanto o seu conhecimento".


Lendo a biografia do Frei Betto, escrita pelo Américo Freire e Evanize Sydowm, deparo com um artigo do Alceu Amoroso Lima, escrito no Jornal do Brasil, ainda no início do Golpe de 64, de que me aproprio do título, neste texto.

Chamou-me a atenção, não só o primor do texto, mas principalmente em como se encaixa a frase de Marx: “A História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. O que afirmo, sem qualquer dor na consciência, que vivemos uma situação mais assustadora. Combinamos a tragédia com a farsa em um mesmo momento.

Alceu (cheio de intimidade), fala das demissões de homens como Anísio Teixeira (educação), Josué de Castro (sociologia), Celso Furtado (economia), como exemplos de atos de Terrorismo Cultural, pois aliena a população de seus saberes. Também, argumenta que quando a Polícia baixa instruções para sanear a população, em especial a Ação Católica - AC, repetindo Mussolini na Itália, trata-se de Terrorismo Cultural.

Todos sabemos da importância da Educação e a defendemos. Mas é na Cultura que são expressos os saberes e “modus vivendi” da população em dado território. Portanto, são irmãs univitelinas, a combinação perfeita do agridoce no molho. Por isso o Terrorismo Cultural é mais eficaz que as bombas, pois acabamos de passar por mais uma eleição que, diferente das demais, o ataque foi Cultural. Incentivaram-se e desacreditaram-se crenças; atacaram-se os saberes e os laços que pudessem unir a população em seus objetivos comuns. Retrocedemos séculos nas áreas do saber e da ciência, e o governo ainda não começou.

Pois quando uma candidatura investe na mentira – mentirinhas políticas, como dizia Maluf – está atacando a Cultura. Quando investe contra civilizações como as negras e indígenas, está atacando a Cultura. Quando se coloca como programa cultural para o estado do Rio de Janeiro, abrir as escolas para aulas de corte, costura e cerâmica para as mães dos alunos, é Terrorismo Cultural. Quando interpretações da Bíblia, por grupos fundamentalistas, são mais importantes que a política e ciência, trata-se de Terrorismo Cultural. Quando se quer calar os professores, é Terrorismo Cultural.

Somos atacados culturalmente há anos pelas classes dominantes: a margarina e óleo de soja são melhores que a manteiga e a gordura do coco. Produzir fuscas é mais importante do que produzir os caminhões da FNM. O horário das novelas é mais importante que o horário do futebol. Estradas são mais importantes que ferrovias e por aí vai. Pequenos grandes exemplos de manipulações que confirmam todo o ataque de contracultura.

Por isso o paralelo dos dias de hoje com nosso passado recente, conhecido como “anos de chumbo”, o golpe de 64. Você trabalhará melhor ganhando um salário menor, sem férias, 13º e com a aposentadoria chegando no pós-morte.

E você, que saiu de amarelo, não vai convencer ninguém de que foi enganado. A campanha política de seu candidato, te deu a ilusão de que poderia ser racista, homofóbico, misógino e outros adjetivos, sem que houvesse consequências para você e seus próximos. Em Estado de Exceção, não existe exceção. Que o digam Carlos Lacerda, Juscelino, Castelo e, nos dias de hoje, Sérgio Cabral (que não é classe dominante, é filho de sambista), e seu próprio candidato (que também não é classe dominante), com medo de seu vice...

Por isso, nos dias de hoje, a História se repete, com a tragédia e a farsa convivendo em um mesmo espaço de tempo.

Sérgio Mesquita
Sec. Formação do PT-Maricá/RJ