terça-feira, 25 de novembro de 2014

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”

Inicio pedindo licença ao velho e bom escritor, hoje falecido, José Saramago, para tomar emprestado o título de um dos seus livros. Utilizo-me da “cegueira” e não da “lucidez”, outro de seus livros, apesar do assunto ser a Política, tão bem tratada na “lucidez”. Explico.

A cegueira de que tratamos é consequência da “sanha” com que nossa mídia, nossa “democrática” mídia, vem tratando a política nacional na busca de satisfazer seus interesses e os interesses daqueles que ela representa. Seu objetivo é uno e seu foco é doentio. Doente a ponto de perder qualquer vestígio de ética ou reparar no entorno, nas consequências que poderão advir de seus atos, compartilhados por uma direita igualmente cega.

Doze raivosos anos para desconstruir o PT – que tem ajudado – no intuito de, além do poder, voltar a ter o controle da máquina estatal. Nem que, para isso, precisem destruir as instituições que definem o Estado Democrático, desqualificando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, como também investem no desacreditar da política, mola mestra de qualquer sociedade que tenha a intenção de se considerar civilizada. Pensam eles nas possíveis consequências de seus atos ou não conseguem mais tirar os “antolhos”, já enraizados em seus corações e mentes?

Investiram pesados na operação “Lava Jato”. Manipularam, inventaram e agora, que ficou claro para todo, que mesmo antes do golpe civil militar a corrupção já existia, cresceu exponencialmente durante aquele período ditatorial e, hoje, continua firme e forte, não sabem mais como parar o que iniciaram. Não sabem como abafar dos escândalos, cada vez mais escabrosos, o nome do Aécio e dos membros do PSDB e PMDB. Acreditavam que ficariam somente no PT. Mas não interessa! O objetivo supremo é tirar o PT de Brasília e os antolhos não permitem ver outra coisa.

Relatórios apontam o número de até 250 parlamentares envolvidos de alguma forma no escândalo. Seja recebendo propina ou tendo a campanha “ajudada” pelas empresas envolvidas. Tentam colar os nomes de Lula e Dilma, tentam um golpe sem armas, apoiados nos favores de um Judiciário também comprometido, por conta de alguns de seus membros.

O que a cegueira não os deixa ver é que no “frigir dos ovos”, podem não sobrar candidatos e/ou partidos. Pode não existir mais a Política. Civilização sem Política é barbárie, é o caos. E nesses momentos é que se fabricam os salvadores da pátria.

Não irão apoiar o que sobrar da extrema esquerda e só sobrarão aqueles da outra extremidade, a direita reacionária. Apoiarão os bolsonaros da vida na próxima eleição. Pois serão eles que cairão no colo de uma mídia que, em recente passado, ajudou a assassinar muita gente para ter suas regalias e o crescimento de seus “negocin” a ditadura. Marinhos e civitas pulando de alegria em seus caixões, enquanto seus seguidores estarão fumando charutos cubanos regados a scotch.

Na realidade, quem tem que lutar para que não deixem que se coloquem os antolhos, somos nós, os mais de cem milhões de brasileiros que vão votar mais à frente. Porque, se depender deles, a mídia e seus representados, só nos restarão os bolsonaros, malafaias e outros elementos que desconhecem o verdadeiro valor da palavra DEMOCRACIA.

Que a Polícia Federal continue a fazer seu trabalho com a tranquilidade que nunca teve. Que o Judiciário lembre que o Brasil é bem maior do que o mundo privilegiado em que vivem. Que o PT pare de compor com a classe dominante, pois para eles somos inimigos e, como inimigos tentarão sempre nos destruir, nunca conciliar. Continuar compondo após doze anos de governo, é entregar para o bandido a próxima eleição.
Te abraço.

Sérgio Mesquita

domingo, 23 de novembro de 2014

QUEM NÃO SE COMUNICA...

Ao longo de nossa história, como seres pensantes, desde o tempo das cavernas que a comunicação é importante e, se não dita nossos rumos, nos dá uma ideia do que esperar. A comunicação foi importante em todas as lutas da raça humana, em especial naquelas que se colocavam e se colocam contra as injustiças. Simón Bolívar levava, junto com suas tropas, uma “prensa”; Solano Lopes, o “ditador” paraguaio massacrado pela Tríplice Aliança, que na realidade era quádrupla (Brasil, Uruguai e Argentina – sob comando da Inglaterra), editava jornal  nos campos de batalha com charges sobre os soldados brasileiros, escravos em busca da alforria.
Durante toda a nossa história, existiu informação e contrainformação. E no final, valia a história dos heróis vencedores contra a covardia da malta dos vencidos. O problema é que a situação não mudou. Desde os idos tempos até os dias de hoje. Normalmente quem detém o território físico, detém a informação. Foi-se o tempo em que a religião era a detentora, depois os reis. Com a chegada da burguesia, ela passou a dominar as terras e as comunicações. O Deus continuou inatingível fisicamente, mas desceu do Céu para a Terra. Hoje, quem domina as comunicações é o tal deus mercado.
Como já disse anteriormente, a “luta continua” e a informação é hoje a arma mais importante, mais que a própria bomba. Quem determina qual guerra lutar e onde, é a tal da comunicação afinada com o deus mercado. Quem a detém, sem sujar as mãos de sangue – no máximo suja de tinta – é quem realmente toma as decisões. Não é mais a política de Estado, pois quem define quais serão os políticos do Estado, são os donos dos meios de comunicação através da “prevalência” dos seus interesses pessoais e dos grupos ou corporações dos quais fazem parte ou representam.
Hoje no Brasil, vivenciamos na carne esse poder. A eleição presidencial, que estava definida em primeiro turno, foi para o segundo, e a vitória do PT veio apertada, quase deu Aécio. Mas mesmo ele é produto dessa mídia e engana-se quem lê e acredita ser ele um novo líder. Bastaram menos de um mês e ninguém mais sabe dele. Continuam as faltas no Senado e faltam suas explicações quanto ao aparecimento de seu nome e do PSDB na operação “Lava a Jato”. A verdade nua e crua é que a mídia conseguiu levar a eleição para o segundo turno e quase a venceu. No final, valeu a força de uma velha militância, já cansada e sem entender com clareza o que está acontecendo internamente.
Inspirado no ditado, ”para os amigos, tudo; para os inimigos, a Lei”, podemos dizer que hoje, para os amigos, tudo; para os inimigos, as mentiras, as manipulações, e não a Lei. Basta vermos as manipulações no julgamento da AP 470 e o que acontece hoje na “Lava a Jato”.
Encerro aqui com uma simples pergunta aos nossos camaradas do “establishment”. Quando iremos reagir a essa situação? Quando vamos nos organizar para combater esse poder? Por que não investimos na Lei das Mídias? Vamos ou não regulamentar essa pouca-vergonha que é a comunicação brasileira nas mãos de poucos? Há anos, durante um treinamento sobre imprensa sindical, ouvi do Vito Giannotti no começo dos anos 90: se a CUT organizasse a imprensa sindical, seus sindicatos filiados, nossa tiragem seria muitas vezes maior que toda a tiragem privada. Copiando o Vito, se o PT se organizar sua comunicação será bem maior e mais eficiente. Para dentro e para fora principalmente, pois não nos basta falar para nós mesmos. O que nos falta? Perder a próxima eleição para acordar?