sábado, 30 de setembro de 2017

O RACISTA FUNCIONAL

Não sei se existe o termo e, caso exista, tenha o mesmo entendimento que o construo aqui. 
Analfabeto Funcional é aquele sujeito, que ,no máximo faz umas contas e sabe assinar seu nome. Pode até pensar que sabe ler e escrever com desenvoltura, mas não sabe.
Forçando um paralelo, o Racista Funcional seria aquele que pode até acreditar não ser racista, mas é fruto do meio em que nasceu e se desenvolveu. Pode até acreditar não ser racista, mas...
Usando-me como exemplo, cresci ouvindo várias gracinhas de meu falecido pai. Sempre brincalhão e espirituoso. Uma dessas graças era a que ele não se considerava racista. Não gostava de preto, mas gostava de uma pretinha. Fruto de seu meio, pois era filho de português. Por outro lado, o vi chorar como criança a morte de um amigo negro, policial, que ao não sacar a arma por conta de haver crianças no local, levou três tiros no peito. Dizia ter perdido seu irmão negro.
Como eu, “branquinho”, muitos foram criados nesse “senso comum”. Não éramos racistas, mas tínhamos nossos preconceitos incutidos. A diferença se faz quando, do seu crescimento como pessoa, você se percebe reproduzindo atitudes que vão de encontro com o seu nível de formação. Você começa a se questionar e questionar o seu entorno. Dependendo do grau, de um momento para o outro, torna-se um militante, que de vez em quando, “escorrega” em suas atitudes, fruto de toda uma conjuntura, que ao perceber fica com cara de bunda.
Como já colocado, é muito fácil reclamar do “politicamente correto”, achar um absurdo as críticas em relação a marchinha “Cabeleira do Zezé” e outras. A época da Secretaria de Cultura, em uma apresentação do Tributo a Geraldo Vandré, no Col. Pedro II em São Cristóvão, ouvi que era preciso trocar um verso da música “Cantiga Brava” que versava: O terreiro lá de casa / Não se varre com vassoura, / Varre com ponta de sabre / E bala de metralhadora.// Quem é homem vai comigo / Quem é mulher fica e chora.... pois era machista. Alguém discute que na época o Vandré era um militante de esquerda? Que suas músicas animaram e ainda animam a militância política? Mas a frase hoje é questionada e, de novo, por não ser mulher, nunca ter sentido a discriminação e não ter sofrido os desrespeitos por que sofrem e continuam a sofrer, fico na obrigação de aceitar a situação de mudança, pois por não ter ideia do que é ser mulher, tenho o dever moral de não achar que é besteira - coisa de mulher.
Faço esse preâmbulo, por conta da Moção, que apoiei, em relação a manchete do jornal O Maricá, na IV Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, realizada hoje em Maricá. A matéria retratava uma série de crimes acontecidos em Ponta Negra como “Jovem do crime faz terror em Ponta Negra, que tem um final de sema ‘negro’”.
Poderia considerar o autor da matéria um Racista Funcional. Mas a partir do momento que esse mesmo autor se coloca na defensiva, e como estratégia, ataca quem questionou o título, se perde e acaba por assumir um posicionamento que, além de racista, é agressivo, na mesma “onda” da violência que o Brasil com a homofobia, racismo, intolerância religiosa e o desmontar do Estado.
Um bom exercício, antes de qualquer crítica, é se colocar nas situações que tenhamos que opinar. A vida é curta, e como tal, é para ser vivida e apreciada.


Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá