“A verdade é que a única coisa que me espanta são os
humanos”.
É com esta frase que a morte termina de narrar sua história
no livro “A menina que roubava livros”: espantada com os humanos. Como coloca
durante sua narrativa, serviu a vilões, viu coisas ruins e coisas belas, mas
resume toda a sua experiência, seu “viver”, em um único sentimento, o espanto
com os humanos.
Escrevo isto agora porque, apesar de ter lido o livro há
algum tempo, só vi o filme hoje. E apesar da máxima, verdadeira, de que o filme
nunca é igual ao livro, não sei. O fato é que o filme me tocou e fiquei meio
que emocionado ao final, ao ouvir a morte encerrando sua narrativa. Quem me
conhece sabe o que quero dizer, olhos um tanto quanto marejados.
O fato primeiro é que adoro livros e o livro é quase o
personagem principal da história, onde, como dizem, podemos viajar sem nos
locomover. No caso da história, não só ajudava a menina a sobreviver ante o
caos, como também a ajudou a crescer para entender ou tentar entender o mesmo.
Coisas que a literatura faz sem que percebamos.
O ponto, porém, não é o livro e sua magia. O ponto é o
espantar que podemos causar à própria morte através de nossos atos. Este foi o
motivo que me levou a escrever este texto. A capacidade irracional que, nós racionais,
temos de nos ferir e ferir o entorno por onde passamos.
Talvez, esta capacidade de espantarmos a própria morte é
que nos leva a presenciar o que estamos presenciando nestes momentos pré e pós-eleitoral.
Como do nada, são colocados para fora nossos preconceitos, raivas e desprezo
para com o próximo. Nossa irracionalidade à frente do racional, como bem
aconteceu durante a II Guerra, palco da história.
Até quando vamos sobreviver a nós mesmos? Não sei! Mas
assumo como meu papel neste mundo procurar sempre pelo bem estar do próximo,
seu crescimento e cidadania. Não vejo outra maneira de tirarmos da morte seu
espanto. E quando ela chegar para nós, e todos estarão em seus braços um dia,
que venha sem espanto, quase com pena de executar seu trabalho.