domingo, 25 de dezembro de 2016

A embaixadora dos golpes – Liliana Ayalde

Muitos vão achar que não passa de coincidência e, eu não ficaria assustado, se entre essas pessoas encontrássemos nomes como o do Kim, do Rodrigo Constantino e do mais novo intelectual brasileiro, guru do governo Temer, Alexandra Frota.  Por suas atuações seria de estranhar se não achassem mera coincidência. Mas a embaixadora Liliana Ayalde foi enviada para o Paraguai a época do golpe parlamentar em Lugo e depois, enviada ao Brasil, após o escândalo de espionagem da Dilma, ficando até o desenrolar do golpe e a entrega da presidência ao vampiro, golpista e usurpador, Temer.

O problema é que existem mais pessoas que pensam como os citados acima. Foram essas pessoas que foram para as ruas de amarelo e hoje, estão se descobrindo “ferrados” como eu. Agora irão trabalhar mais e receber bem menos de aposentadoria, perderão como se operários fossem as justezas da CLT, como o horário de 8h de trabalho, as férias de 30 dias corridos e muito mais.

O problema é que a direita e a esquerda ainda não entenderam que vivemos um golpe mais perverso do que foi em 64, com todos os assassinatos e torturas. A direita, como fez em 64, vai procurar os “comunistas” e tentar recuperar o status perdido. E a esquerda o que fará? Como se comportará aquela esquerda que, como a classe média, acredita que basta ganhar as eleições com Lula para tudo voltar a ser como antes. Ambos os lados não entenderam que as ditaduras de 60 e 70, tiveram o apoio e o interesse das corporações, mas os golpes eram pensados nos governos. Hoje os golpes não possuem mais a figura do Estado, da fronteira. No máximo, como coloca Márcio Valley, o Estado, como os EUA, não passam de exércitos das corporações, meros braços armados das corporações, a serviço das mesmas.

Em 64 você sabia por que estava na luta, e hoje? Por conta do poder das mídias, as corporações subornam e matam mais pessoas do que as ditaduras do século passado. A partir da falácia da luta pela democracia, do “regime change”, as intervenções nesse século são sempre pelo bem do povo e por sua liberdade, mas na prática sabemos não ser.

Moniz Bandeira, em seu livro “A Desordem Mundial”, no capítulo que fala da farsa da Revolução Laranja na Ucrânia, onde Obama apoiou os nazistas com dinheiro e armas para levar o país para a OTAN, nos brinda com o seguinte texto:

“O cientista político Albert Alexander Stahel, professor de Estudos Estratégicos da ETH Zurich (Instituto Federal de Tecnologia) e da Universidade de Zurique, ao comentar que a violenta deposição de ViKtor Yanukovych pelo Parlamento desestabilizou e fragmentou a Ucrânia, com os separatistas em Dombass a lutarem contra as milícias e o exército de Kiev, escreveu que, com base nesse e em outros casos, se podia concluir que a política de regime change dos EUA não levou a democracia a nenhuma parte. Pelo contrário, provocou guerras civis e caos, em todos os países onde os Estados Unidos tentaram promover a mudança do regime, a pretexto de promover a democracia – acentuou o professor Albert Alexander Stahel -, citando, entre outros exemplos: Afeganistão, em interminável guerra desde 2001, lastreada pelos negócios das drogas; Iraque, onde a guerra ainda perdurava, desde 2003, com a origem ao Estado Islâmico; Tunísia, que se tornou instável após a derrubada do ditador Zine al-Abidine Ben Ali, com o fortalecimento do islamismo radical; Egito, onde, após a derrubada de  Hosni Mubarak, a Irmandade Mulçumana elegeu Mohammed Mursi para a presidência, da qual o marechal Abd al-Fattah as-Sisi o derrubou com um golpe militar, e o exército passou a combater os islamitas radicais da península do Sinai; Síria, onde os EUA com a Turquia e a Arábia Saudita fomentaram protestos contra Bashar al-Assad e apoiaram com recursos e armas as organizações salafistas – Jabhat Al-Nusra e Estado Islâmico, em uma guerra que produziu mais de 279.000 mortos, até o começo de 2016, e mais de 4,5 milhões de refugiados, entre março de 2011 e fevereiro de 2016; Líbia, transformada em um Estado falido, brutal guerra civil, após a destruição do regime de Muammar Gaddafi pela guerra aérea da OTAN (EUA, Inglaterra e França), a respaldar as milícias islamitas. Segundo o professor Albert Alexander Stahel, melhor seria se Washington usasse o dinheiro investido em tais operações de regime change para resolver seus próprios problemas e restaurar a sua infraestrutura, que quase não mais funcionava, e seus sistemas de educação, saúde e previdência ruins”.

Ainda no livro, segundo Victoria Nuland, secretária-assistente dos EUA, o país gastou U$ 5 bilhões para levar a “democracia” nazista para a Ucrânia...

O exemplo acima demonstra bem o poder das corporações. No Iraque a questão se tornou clássica, onde uma das empreiteiras que foram reconstruir o país, era do vice do Bush. O governo americano pagou a indústria armamentista, pagou os mercenários e depois, ainda pagam a reconstrução do país. Tudo para que as corporações de energia (petróleo) possam explorar os campos e... venderem o óleo para o governo americano.

O golpe no Brasil não foi tão diferente das Primaveras Árabes, tivemos nuances como aconteceu no Paraguai e, terminamos na mão de um usurpador golpista. Em 2013, também tivemos o ensaio de uma primavera, mas para nossa sorte ou azar, a enorme maioria de nosso empresariado é tão bandida e burra, que acabam por atrapalhar o projeto das corporações, como aconteceu na época do Collor.

Agora diz você... com um quadro desse, se deixarem o Lula concorrer, isso nos bastará?

Feliz 2017

Sérgio Mesquita

Secretário de Formação do PT-Maricá/RJ

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Entrega dos certificados de conclusão do Curso de Direitos Humanos – Prefeitura de Maricá.

Turma: Casa da Mãe Joana

Pediram-me para vir aqui e representar a “gangue” da Casa da Mãe Joana, ser seu orador nesse evento. E aí me pergunto, falar sobre o que? Sobre o que muitos do que estão aqui já sabem, que o curso foi um sucesso? Que o pessoal do pedagógico, os docentes e administrativos foram fantásticos? Que nós aprendemos muito? Saímos mais respeitosos para com o próximo? É tudo verdade, mas não vou falar sobre isso não. Vou citar uma das belas metodologias porque passamos e apresentar uma preocupação, que pode estar passando ao largo, da maioria dos movimentos que lutam por direitos.

O grande barato do curso, é que fomos apresentados a várias formas de discriminação, a partir da troca de papéis. Eu tive que representar um juiz que tentava justificar seu auxílio moradia para uma desempregada, e também fui um pastor conservador que descobria e recebia a notícia do casamento de seu filho homossexual. Foram várias as situações que tivemos que passar, “sentir na pele”, o outro lado. Não aquele que estamos acostumados a defender, mas o que combatemos. Viche...

Na Casa da Mãe Joana, e pelas apresentações realizadas na aula do sábado, dia 17.12, podemos afirmar que o curso idealizado a partir da emenda parlamentar da deputada Benedita da Silva, foi eficiente e eficaz. Paradigmas e preconceitos se desmancharam. Os depoimentos prestados ao longo do curso, e em especial na última terça, dia 20.12, deixou claro que, sem qualquer exceção, todos que o iniciaram e o estão encerrando, estão vendo os seus entornos com um outro olhar. Um olhar mais amigo, um olhar de respeito. Entendendo, que os Direitos Humanos, vão muito além das mentiras exibidas na Rede Globo.

Mas o que me animou mesmo a estar aqui na frente foi a oportunidade de falar de uma prática da qual devemos lutar muito para manter e melhorar, antes de qualquer outra luta. Falo da prática democrática, que é muito citada, cantada e atualmente, decantada. Sem termos a firmeza da prática democrática, qualquer outra luta será para inglês ver. Àqueles que brigam pelo resultado, acabarão por cansar, mas continuarão na luta. Já aqueles que dependem da luta para sua sobrevivência pessoal, continuarão a gritar e a balançar bandeiras que, mesmo que justas, só servirão a propósitos egoístas.

Nenhuma luta, seja da minoria ou maioria, produzirá frutos verdadeiros, se buscada em um ambiente não democrático ou pretensamente democrático, como no Brasil que vivemos hoje, e no mundo em geral. Quando a democracia passa a ser tratada como mero folclore, como um faz de conta, quem perde é a sociedade, o cidadão. E quem ganha é a barbárie, o caos.

Vou citar aqui fragmentos de textos de dois autores que se preocuparam com essa faceta da democracia, Hobsbawn e Saramago. O primeiro entre os anos de 2007 e 2009, e o segundo, em uma entrevista dada em 1993. Ambos, infelizmente, já falecidos.

Hobsbawn nos colocava o seguinte:

Mas aí está precisamente o problema. O ideal da soberania do mercado não é um complemento à democracia liberal, e sim uma alternativa a ela. É, na verdade, uma alternativa a todos os tipos de política, pois nega a necessidade de decisões políticas (...) A política, por conseguinte, continuará. Como continuaremos a viver em um mundo populista, em que os governos têm de levar em conta “o povo”, e o povo não pode viver sem os governos, as eleições democráticas também continuarão.  Hoje, existe um reconhecimento praticamente universal de que elas dão legitimidade e proporcionam aos governos, paralelamente, um modo convincente de consultar “o povo” sem necessariamente assumir qualquer compromisso mais completo.

Saramago, mais direto como todo bom português, nos colocava:

Um dos dramas de nosso tempo é que há um poder – o único poder que existe no mundo, que é o financeiro – que não é democrático! E as pessoas não reparam nisto, apesar de estarem sempre a falar de democracia. Tanto mais que sabemos que os governos, indireta ou diretamente, estão ali para executar políticas que não são suas.

Cada um, de maneira própria, nos alertava sobre os perigos da pretensa democracia em que vivíamos no século passado e que hoje, cada vez mais, se desmancha no ar.

Hoje mais do que nunca, precisamos de todas as formas de lutas e representações civis, sejam de maiorias ou minorias. Mas que essas lutas por nossos direitos de escolha, por nossos direitos humanos, tenham como pano de fundo, o exercício da democracia. Que as decisões tomadas, partam de práticas democráticas horizontalizadas e não verticais como assistimos hoje.

Ao contrário do Churchill, Saramago não achava a democracia o menos pior dos sistemas. Mas tinha a certeza que não era o melhor, e que é nosso papel não nos contentar com isso e inventar alguma coisa melhor. Também colocava que direitos humanos e globalização econômica, são incompatíveis.

E para acabar com o sofrimento de todos, o meu e o de vocês, outra vez abuso do Saramago em outra citação sobre os diretos humanos: Não nos cansemos à toa com mais propostas. Tudo está ali. Façam-no. Cumpram-no.

Fora Temer, boa noite e a Luta Continua!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O QUE NÃO ACONTECE HOJE

“O que mais me custa a aceitar é o apetite camaleônico de alguns que os leva a adaptar-se com demasiada facilidade ao que lhe é imposto. Fiz jornalismo durante três anos. Recordo-me ainda da autocensura que éramos obrigados a fazer, por forma a fazer passar o que pretendíamos. Mas a situação ajudou-nos a escrever nas entrelinhas, o que não acontece hoje”.
José Saramago

O QUE NÃO ACONTECE HOJE

Normalmente inicio meus textos com o título e depois alguma citação. Inovei. A partir da citação, o Título. Na realidade, o texto será uma tentativa de uma carta aberta, aos profissionais da mídia oficial. Em especial, àqueles que deveriam ser especiais, os jornalistas e os “comentaristas”, que por conta de suas “camaleonices”, viraram animadores de plateia.

Mentem ou escondem a verdade, mesmo que no dia de amanhã, precisem desmentir ou expor a verdade sem qualquer rubor em suas faces. Da mesma forma que a corrupção cresceu por conta do sentimento de impunidade, a mentira e manipulação virou notícia por conta desse mesmo sentimento. Nunca foi tão fácil criar, esconder ou supervalorizar uma situação, de maneira que fique em total acordo com o pensamento da empresa, e não com a notícia, o fato em si.

Saramago explicita que tinha que fazer autocensura e pensar, desenvolver linhas de pensamento, de maneira que, como colocado no texto, nas entrelinhas, outra visão fosse transmitida. Hoje, essa preocupação é inexistente, a entrelinha não existe mais. O que existe são manchetes, títulos e “lides”, que expressam uma única opinião, a do empresário, acionista, que apoia ou é contra o governo. Uma única verdade.

O problema é que chegará o momento, em que as imagens e tintas não esconderão a realidade. A televisão e o jornal continuarão a noticiar o mar de rosas ou uma pretensa desgraceira, mas os cidadãos irão olhar para o lado e verão a realidade que estará em cada esquina, em suas portas. E quando falamos em cidadãos, podem ser qualquer um, inclusive os jornalistas e “comentaristas” responsáveis pelo atual circo de notícias, os camaleões. Aqueles que esqueceram e os que nunca aprenderão a usar as entrelinhas para exporem uma outra versão. Hoje, 08.12, comemorei meu aniversário – acontece nessa mesma data há 59 anos. Comentei com os amigos, que pela primeira vez eu ficava mais velho e meu tempo para aposentadoria aumentava em razão superior ao aumento de minha idade. Antes, diminuía na mesma proporção. Vai ter como esconder isso?

É certo que a classe dominante, os donos da “bufunfa” já estão pensando em como viver em um planeta que destroem, e em como não serem incomodados pelos demais mortais. Devem estar pensando em seus Elysiuns ou em novas construções de muros, mais para a realidade dos dias de hoje. Devem estar preocupados também, em como irão viver em um mundo automatizado, cheios de robôs, mas sem qualquer espaço para o cidadão comum. Mais muros? Mais controle de natalidade, disfarçado na distribuição de leite em pó, como na década de 60 e 70? Ou teremos a nossa mídia escondendo dos “afortunados” a desgraceira e, dos desgraçados, o mundo colorido que existe do outro lado do muro. De novo a manipulação e a mentira.

O parágrafo acima foi colocado para que esses jornalistas e “comentaristas” que se acham privilegiados, sócios do clube, do andar de cima, caiam na real. Pois quando olharem para o lado e sentirem a realidade, se descobrirão cunhas, cabrais, constantinos e moros. Meras ferramentas que nunca serão aceitos no andar de cima, no clube. Quando isso acontecer, já não terão as cores para se adaptarem à nova realidade. Suas “camaleonices” estarão carcomidas pelos excessos que cometeram. Irão entrar em depressão? Andar pelos cantos escuros das ruas, para não serem reconhecidos por aqueles que tripudiaram? Não sei! A única certeza que tenho, é que comparar esses seres aos camaleões é sacanagem. Minha e de Saramago.
Te abraço.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá







quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O PT E O CACHORRO CORRENDO ATRÁS DO RABO


Essa foi, infelizmente, a impressão, a imagem, com que retornei à Maricá, após o encerramento da reunião do DR do Rio de Janeiro, neste domingo 27.11. Não por se tratar do DR do RJ, mas por se tratar do PT como um todo. O Rio é mais um espelho do que acontece no Brasil por inteiro. Vi e sei de muita gente preocupada em como tratar do futuro do Partido, mas vi muita gente que ainda não caiu a ficha ou recusa-se a deixar cair. No conjunto da obra, muitos querem continuar correndo atrás do rabo.

Falas contundentes e concordantes quanto à necessidade da autocrítica, mas sem fazê-las, admitiu-se um erro aqui e acolá, e ouviram-se perguntas como, “só nós erramos?” Até reduziram a história do partido e seus possíveis erros aos seus últimos 14. Em especial nos dois últimos anos da Dilma. Parece que esqueceram a década de 90, em especial no Rio de Janeiro.

Maurício, presidente da CUT, expos uma verdade. O militante do PT, sindicalista, não participa mais do Partido e vice-versa, mas sem uma proposta efetiva de como mudar isso. Nem mesmo os novos núcleos e movimentos que surgiram na onda das ocupações das escolas, apresentaram nas redes sociais ou em seus textos, o que fazer para convencer a população voltar para as ruas conosco. Não pelo leite derramado, mas pelo olho na panela.

E como faremos uma nova política, uma vez que o modelo atual, “fez água”? Não percebi nenhum movimento nesse sentido. Mais me pareceu um encontro para reclamar divisão de poder e possíveis cargos, que poderão ou não existirem mais à frente. Outro ponto não tão unanime, está no absurdo (minha opinião) das eleições no Partido (PED) terem sido adiantadas em seu calendário. Elegeremos uma direção e depois faremos um Congresso, onde não necessariamente a direção possa estar alinhada com as diretrizes do Congresso. Um dos poucos momentos de maior atualidade foi quando colocaram que o Partido não deveria continuar a propor ações e encaminhamentos como se ainda governo fosse. Muito justo, pois perdemos postos, verbas e poder de influencia. Temos que desapegar.

O consenso ocorreu na fala do Quaquá, abrindo a reunião e na apresentação de uma Moção ao Lula, no final, que pedia sua candidatura à presidência nacional do Partido. Todos, inclusive eu, temos a clareza de que seu nome poderá unir o partido, e sua candidatura a presidente em 18, aplacar um pouco a ira de parte classe dominante. Apesar de em minha humilde opinião, achar que ele também tenha responsabilidades na situação em que nos encontramos atualmente. Mas, me preocupam duas coisas. A primeira, é que não deve ser de bom tom propor uma Frente de Ampla de Esquerda, já com indicação de um nome para concorrer. Mesmo que saibamos que o nome do Lula será um nome consensual. Não é de bom tom. A segunda está na criação de mais um “ismo”, o “Lulismo”. A História nos mostra que todos os “ismos” quando personalizados, não tem vida longa. A exceção do Maxismo, por não tratar-se de um movimento criado por ele ou para ele, mas sim por sua obra. Quando personalizamos e a personalidade se ausenta, por qualquer motivo, o movimento fica órfão e tudo pode acontecer inclusive sua total descaracterização. O Brizolismo não nos deixa mentir.

A questão colocada na reunião e por Lula nacionalmente, de que devemos nos preocupar mais com os cargos legislativos em detrimento dos cargos executivos, me parece justa. Aqui em Maricá, o companheiro Rogerinho colocava que Jandira deveria ser uma candidata laranja – acabou um laranjão. A nossa candidatura a Prefeito do Rio, deveria usar de seu tempo para denunciar o golpe e fortalecer a necessidade de elegermos vereadores. Nem uma nem outra. Eleger deputados é sim importante, mas para manter o status quo do modo atual de fazer política, de nada nos adiantará. Pois no frigir dos ovos, quando acontece um golpe, de nada adianta ter ou não a maioria, golpe é golpe. Termos congressistas sem bases nas ruas, estaremos de novo participando de jantares e sendo chamados de ladrões. O Partido tem que se inventar (não adianta se reinventar), de modo que a população venha para dentro de suas instâncias de decisão. Não porque assim desejamos, mas porque a população entenderá, a partir de nossas ações, que o espaço é dela e para ela, nós somos só a ferramenta.

A vontade de escrever esse texto, teve “start” a partir de uma das primeiras falas na reunião, que apontou como um dos nossos erros, o Partido não ter discutido os papéis de Lula ou Dilma. Repito o colocado acima – personalismo. O erro foi o Partido não ter discutido qual o seu papel, e como Lula e Dilma se colocariam a partir desse papel.

Encerro, sem ter uma fórmula também, mas na certeza de entender que, como está não teremos existência efetiva. Um companheiro em Maricá me disse uma vez, “ocupamos um espaço feito para eles, pelas Leis feitas por eles, para atender as necessidades deles. Somos intrusos”. Acredito que só deixaremos de ser intrusos, se ao retomarmos o espaço, levarmos para as suas instâncias de decisão os movimentos sociais e a sociedade civil, a população. Mas para isso, é preciso inventar uma nova maneira de fazer política. A estudantada já nos mostrou por onde começar, primeiro com as quase 200 ocupações em São Paulo contra o desmanche das escolas. Hoje, com as mais de 1000 ocupações pelo Brasil contra a PEC da Maldade. Seja qual for o caminho, o começo nos é o mais difícil hoje, o caminho da horizontalidade nas decisões do Partido.

Sérgio Mesquita

Sec. de Formação de Maricá-RJ

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O HOMEM QUE SABIA ECONOMÊS

por André Araújo

No célebre conto O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS, o escritor Lima Barreto narra a trajetória de um homem que fez sua vida no Rio de Janeiro do começo do século passado, usando como gancho na sua  escalada um pretenso conhecimento do idioma de Java.
Como ninguém no Brasil daquela época tivesse conhecimento da língua de Java,  ninguém podia conferir o conhecimento do personagem do conto. Lima Barreto quis demonstrar como existem pessoas que se apresentam ao mundo como sábios que não são mas como ninguém se dá ao trabalho de conferir passam toda uma vida ostentando uma ficção de conhecimento.
A grande habilidade ou esperteza é não se deixar pegar em falso, mantendo sempre a aparência de sábio daquilo que não sabe, caso do personagem do conto.
O HOMEM QUE SABIA ECONOMÊS  - Na República dos Coqueiros surgiu um Ministro que se promoveu por todo lado como grande conhecedor de economia e enorme relacionamento no alto mundo financeiro internacional. O porte pomposo, a voz empostada, o discurso solene, transmitem laivos de sabedoria, experiência, seriedade. O papel lhe cai bem.
Ninguém verdadeiramente avaliou seus conhecimentos da ciência econômica como formulação de opções a partir de um amplo contexto social e político. Ninguém, por sua vez, sabe de sua visão de Estado nacional, do papel da República no mundo, da estratégia para que a República garanta sua posição no contexto geopolítico mundial.
Ninguém conhece porque nunca escreveu um livro expondo em linguagem de estilo sua visão de História, de economia, de política. Nada se sabe, mas consta que ele sabe muito.
Como nunca ninguém conferiu, nem aqui e nem nas rodas mais altas do poder financeiro mundial, se ele é o que parece fica valendo o que parece que é.
Grandes comandantes de economia de um País com as dimensões do Brasil, o Embaixador Roberto Campos, participante da Conferência de Bretton Woods, onde foi arquitetado o mundo econômico pós Segunda Guerra, legou enorme obra memorialística, seu LANTERNA NA POPA tem 1.450 páginas. Além dessa, mais oito livros. O Ministro Delfim Neto, professor catedrático de economia da USP, que tem a maior biblioteca particular do Brasil sobre economia, tem muitos livros publicados, o primeiro sobre café, uma de suas muitas especialidades.
O Professor Mário Henrique Simonsen, fundador da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas era também autor de boas obras. Uma é primorosa, a monografia sobre Oswaldo Aranha como Ministro da Fazenda nas suas duas fases, a de 1930 e a de 1950, onde Simonsen se aprofunda nas duas históricas gestões quando Aranha fez milagres com a dívida externa brasileira. Sua cultura não se restringia à economia, Simonsen era profundo conhecedor de ópera e barítono nas horas vagas.
Outro Ministro, da escola mais ortodoxa possível, fundador dos cursos de economia no País, Gudin tem sua obra clássica, PRINCÍPIOS DE ECONOMIA MONETÁRIA, verdadeiro manual que guiou os primeiros estudantes de economia do Pais.
Ministro da Fazenda precisa ter estofo intelectual, cultura de História, de História da Economia, de História do Pensamento Econômico, precisa ter intimidade com todos os grandes mestres do passado, de List a  Pareto, de Leontiev a Kaldor, refletir e elaborar sobre esses filósofos da economia porque eles nos dão as luzes da ciência no tempo histórico.
Fico pasmo com o pouco debate sobre a PEC de teto de gastos, má ciência e má política. Não há paralelo histórico, taxa de inflação não é um referencial fundamental para balizar como leme o orçamento. Quem dá tanta importância à taxa de inflação já está revelando sua linha de política econômica, que é a preferência da estabilidade sobre a prosperidade, uma visão anti-keynesiana, retrógrada e contra a tendência geral pós-Trump, onde a inflação se torna menos importante que o emprego. Trump já indica que não curte limite de gastos, muito pelo contrário, vem aí inflação em dólar, expansão monetária, tudo na contramão da PEC 55. O Brasil é o único País que está valorizando sua moeda contra o dólar, na contramão do mundo, vamos ser o novo Portugal de Salazar, moeda forte e povo faminto.
Na lógica, um limite de gastos no orçamento deveria ter como teto a arrecadação. É esse o parâmetro universal para controle da despesa nos orçamentos, não se pode gastar mais do que se arrecada, a receita fiscal deve ser o limite e nunca a inflação, pois poderemos chegar ao absurdo da receita subir 20%, a taxa de inflação ser 3% e a despesa estaria congelada em 3% mesmo com forte subida da receita. Está claríssimo que o objetivo da PEC não é administrar racionalmente o Orçamento Federal, é garantir sobra para os juros da dívida publica. Quem inventou essa PEC está pensando nos rentistas e não na população em geral.
Com em nenhum outro ciclo da História, o Brasil está entregando seu futuro econômico a um plano do fim do mundo, apocalíptico e sem projeto de execução, uma simples ideia de limite de orçamento como se isso fosse o total da economia e definidor das demais variáveis.
A função do Ministro da Fazenda no histórico dos 87 Ministros da Fazenda da República é cuidar da economia na sua totalidade e não só do orçamento. A economia no seu conjunto é muito maior do que o Orçamento Federal, cuidar da economia é ter clara visão dos problemas de conjuntura e da organização dos fatores para o médio prazo e para os alvos finais.
A maior distorção do Orçamento é a conta de juros, agora somada a outra conta da mesma origem, o custo dos seguros cambiais que o BC usa sem nenhuma preocupação com o que isso significa para as finanças públicas, custo esse que mantida a conta do primeiro semestre pode chegar a R$ 400 bilhões, somados aos juros da dívida de R$ 600 bilhões, chegaremos a R$ 1 trilhão em 2016, número jogado atrás do pano para se expor exclusivamente os gastos das despesas correntes. Estas necessitam de muitas correções sobre desperdícios evidentes mas não são elas a causa da recessão. O Brasil teve nos últimos 60 anos seguidos de déficits no orçamento federal mantendo ao mesmo tempo pujante crescimento econômico.
Os custos do seguro cambial oferecido pelo BC ao mercado financeiro impactam diretamente no gasto do Governo porque o BC manda essa conta para o Tesouro, se assim é porque o Congresso não estipula um LIMITE ao BC para gastar com seguro cambial?
Como está hoje o BC tem um limite em branco, pode gastar quanto quiser com essa mega despesa, SEM TETO, pode quebrar o Tesouro para segurar o câmbio, o BC faz aquilo que se quer impedir que o Governo faça, gastar sem limite e sem controle.
A recessão tem múltiplas causas, variáveis não virtuosas que levam a um "clima" de desconfiança da gestão econômica do País mas, especialmente, da política monetária, de crédito e  cambial, todas a cargo do Banco Central. BC que se faz passar por inocente passivo em relação ao Tesouro mas que é, na realidade, o grande maestro da política econômica e principal causa da recessão no País ao patrocinar uma política com dois efeitos perversos, juros muito acima do padrão internacional e conseqüente valorização do real, o que torna o País caro e em desalinho com os preços internacionais, algo que os brasileiros verificam quando viajam ao exterior. O viés monetarista do BC só se agravou com a nomeação de um ultra ortodoxo para sua Presidência, alguém que cultua um fetiche da moeda como fim último e não como instrumento para a prosperidade e bem estar da população.
A política econômica de um governo, certa ou errada, tem que ter amplitude, medidas de curto, médio e visão de longo prazo, precisa dar vislumbre de objetivos, não só de meios. O orçamento federal é apenas uma parte de um plano de política econômica, não é a totalidade dessa política. A atual equipe só tem um tema, que é o orçamento, onde estão os demais?
Política cambial, qual é? Política de crédito, qual é? Política de comércio exterior, qual é?
Qual é a política para sair da recessão e voltar a crescer? Qualquer política econômica digna desse nome tem que ter uma meta virtuosa, de criar prosperidade. Até o Plano Erhard, da Alemanha destruída pela Segunda Guerra, tinha uma meta de crescimento da economia. Um plano também é um portador de esperança sem a qual ninguém vive.
Política econômica é a OPERAÇÃO no dia a dia, no varejo e no atacado, dos instrumentos de manejo da economia. Reformas, no sentido de grandes rearranjos de regras e normas, são outra coisa. O Brasil precisa de muitas reformas, como a da previdência, mas essa plataforma não se confunde com política econômica. Esta se refere ao AQUI E AGORA, ao dia a dia. Essa separação ficou muito clara no Governo Castello Branco, quando o dia a dia ficou com o Ministro da fazenda Octavio Gouveia de Bulhões e as reformas com o Ministro do Planejamento Roberto Campos, separação perfeita, um cuida do dia a dia, do curto prazo e outro cuida do futuro.
Usar a desculpa das reformas para não fazer nada no AGORA é o que hoje se apresenta.
Tudo depende da PEC do teto dos gastos, tudo depende da reforma da previdência, então devemos esperar a PEC dos gastos ser aprovada, algo cujo efeito só se daria daqui a dois anos e depois a Reforma da Previdência, que só terá efeito real daqui a uma década, para então consertar a economia de hoje. Isso é PREGUIÇA de agir hoje para tirar o País da recessão, jogar algo aleatório no futuro para não fazer nada agora.
Mas a atual equipe econômica não tem objetivos, se tem não comunicou à população.
Teto de gastos é um MEIO, não é um objetivo. Qual são os demais instrumentos para a economia crescer?  Vai crescer pelas exportações? Delfim com sua engenhosidade criou o BEFIEX, plano que produziu notável crescimento das exportações de manufaturados.
Esta equipe tem uma ideia sobre exportação? Nenhuma.
Pela primeira vez, desde a fundação da República em 1889, o Brasil tem um governo que não tem um projeto econômico. Até o instável Governo João Goulart tinha seu plano econômico, o Plano Trienal de Celso Furtado. JK tinha seu Plano de Metas, 30 metas e Brasília. Os Governos militares tiveram os seus Planos Nacionais de Desenvolvimento a cada governo.
Reformas são projetos institucionais, não são planos econômicos.
A explicação pela ausência é simples, nenhum dos dois comandantes da política econômica, e são só dois porque o Ministro do Planejamento, que deveria ser parte integral de uma política econômica evidentemente não participa da torre de comando, a explicação vem da completa incapacidade dos dois comandantes de formular qualquer política econômica, seu único objetivo é reduzir os gastos de custeio para garantir o pagamento da dívida publica.
Só isso. Esse é o plano econômico do governo, não tem mais nada. A isso a que se resume a política econômica da dupla tanto porque essa é sua função no governo e  mesmo que quisessem não tem nenhum apetite para vôos mais altos, a noção de Brasil dos dois termina na sala de reuniões de um banco.
Mas mesmo que a política econômica ultra monetarista tivesse maior consistência, além de um corte de gastos, há a questão do tempo social e do tempo político para a execução desse roteiro ultra ortodoxo à la grega, que implica em aprofundamento da miséria.
Esse tempo não existe. Uma política econômica desse viés exige um período de governo mais longo e um imenso capital político, além de pleno apoio popular, fatores complicados em uma crise de sobrevivência de milhões de famílias.
Melhor seria para um governo de transição políticas de estímulo à produção e ao emprego.
A ciência econômica foi inventada para diminuir os custos e os sacrifícios que a natureza da economia exige. Através da ciência se pretende harmonizar melhor os fatores de produção para administrar a escassez da forma menos onerosa possível à população.
Se é para arrancar dentes a martelo e sem anestesia não é preciso existir dentistas.
Porque então um governo, cuja lógica universal é se manter no poder, opta pelo caminho mais pedregoso e fazendo a população sofrer colocando em risco sua capacidade de governar?
A explicação me parece ser óbvia: um gigantesco erro de diagnóstico vendido como verdade.
O erro vem do grupo de economistas ligados ao PSDB, que aparentemente tem carta patente de sabedoria econômica desde o Plano Real e que aparenta ter ascendência sobre o comando político do PMDB. A receita do corte de gastos tem o cheiro inconfundível desse grupo, uma visão exclusivamente monetarista "demodée" até na Universidade de Chicago, onde nasceu a Segunda Escola monetarista, a de Milton Friedman, hoje impopular na sua própria alma mater. O legado de Friedman passou para a Carnegie Mellon University de Pittsburgh, onde leciona seu herdeiro intelectual Alan Meltzler. 
Após a crise de 2008, cujas causas vem desse monetarismo a outrance de Friedman, ocorreu uma grande revisão do monetarismo cru e das premissas do neoliberalismo doutrinário de Hayek, Reagan e Thatcher, porque só se resolveu essa crise com fortíssima intervenção do Estado, através do programa TARP onde a salvação da economia americana veio do Tesouro e não do mercado. Políticas monetaristas e neoliberais puras já não são mais digeridas cruas. Aqui, como em tudo, as ondas revisionistas de qualquer coisa chegam muito atrasadas e os economistas de mercado continuam dando entrevistas pregando velhas receitas dos anos 80 e 90, quando o mundo a la Brexit e Trump indicam muito maior protecionismo e intervencionismo porque se viu que o mercado sem controle agrava problemas econômicos.
O desperdício e o aumento de gastos do Orçamento Federal é uma realidade sobre a qual aqui já escrevi incontáveis blogs. O Governo tem poder imediato sem PEC para intervir em grandes núcleos de gastos elevados como alugueis de prédios para órgãos públicos, contratos de terceirização de mão de obra e veículos, compra de tecnologia de informação, consultorias de todos os tipos, cursos de treinamento, equipamentos para hospitais, nada disso necessita PEC, basta agir. Tudo isso é necessário mas não é daí que vem a recessão. E consertando essas ilhas de desperdício não será porisso que o País volta a crescer.
E é chocante achar que a economia total de um País tem como único eixo o orçamento federal e nada tem a ver com políticas como a monetária, a de crédito, a cambial, a de comércio exterior. Então o diagnóstico desse grupo de economistas é limitado, viram um furúnculo mas existem muito mais a extirpar e pior que tudo, não conseguem enxergar que a política econômica pode, ao mesmo tempo em que pratica a austeridade, agir para estimular a economia produtiva e esta pelo aumento da arrecadação irá auxiliar o ajuste fiscal.
O diagnóstico desse grupo diz que a recessão brasileira é causada pelo excesso de gastos do orçamento federal. O excesso de gastos é real, mas ele não é a causa primeira da recessão. Esta vem de outros fatores, especialmente da péssima política monetária e cambial do BC, ao manter juros absurdamente altos e com isso valorizar o Real para conter a inflação a um custo incrivelmente alto para o conjunto da economia. Com o dólar a R$ 5 e juros 3% acima da inflação, a economia teria oxigênio para crescer ou, pelo menos, estabilizar.
Com o erro de diagnóstico vem o erro de solução. Pretende-se interferir exclusivamente no orçamento sem tocar nas políticas erradas do BC. O paciente tem câncer e resfriado e o médico está tratando só do resfriado, não lhe interessa o câncer. O paciente vai ficar bom do resfriado e morrer de câncer. É isso que faz o BC ao se concentrar exclusivamente na meta de inflação abandonando qualquer outro objetivo.
Sinal inequívoco nessa direção é o fechamento de quase 700 agencias do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal e a devolução de R$ 100 bilhões do BNDES para o Tesouro, que serão inteiramente direcionados para a dívida publica.
Essas duas medidas significam REDUZIR o papel dos bancos públicos em um momento em que eles são mais essenciais para sair da recessão. Tirar recursos do BNDES significa menos investimentos na economia. Fechar agências do Banco do Brasil em locais valiosos como em Fóruns (15 agencias) significa reduzir sua base de captação de depósitos e portanto sua capacidade de emprestar, tudo favorecendo o sistema privado, que vai obviamente suprir os Fóruns e Tribunais com suas agências e em detrimento do sistema público de crédito.
Todas as essas providências não são uma política, mas são um roteiro para diminuir o papel essencial do Estado no crescimento, que na História do Brasil sempre foi o maior agente de desenvolvimento e isso não mudará porque é parte da formação do País. Ao reduzir o papel do Estado está se condenando o Brasil a não crescer, ao contrário, a regredir a condições inferiores de economia primitiva sem  fontes de sobrevivência para dezenas de milhões de família, é o que os números mês a mês estão demonstrando. A cada período cai o emprego e fecham empresas em um círculo vicioso onde o desemprego e a falência de hoje são o motor de mais desempregos e mais falências no ano próximo. Não há NENHUM fator nesse roteiro que indique algum indutor de crescimento na economia.

Poucas vezes na História Econômica do Brasil se viu tal erro de diagnóstico e consequente erro de tratamento na economia do País. Períodos sim ocorreram de males difíceis como as altas inflações de certos períodos, mas os que cuidavam da economia tinham pleno domínio dos fatores e operavam dentro das possibilidades do terreno, não praticavam políticas econômicas de engano e desfoque como hoje, verdadeiros roteiros para o desastre.

sábado, 26 de novembro de 2016

FIDEL CASTRO

Meio que anestesiado. Todos sabiam que esse dia chegaria, pois a única certeza que temos em vida é que um dia a morte chega. Morte matada, morrida, sofrida ou em paz, no final, a mesma coisa para todos.

O que faz a diferença na morte, não é como ela se dá ou deu, mas sim em como se deu a vida. Mario Sérgio Cortella, em uma de suas palestras pergunta “quem é você?” E ele responde, perante o Universo, somos uma parcela de sub-nitrato do pó de nada. E é verdade. A diferença se dá em nossa morte, se dá na herança que você deixa ou deixará. Não aquela herança em propriedades e contas em bancos. A herança da esperança, de ter valido a pena as alegrias e sofrimentos por que passamos em vida. O que faz a diferença é o brilho no olhar, daquele que observa, não o indivíduo, mas as transformações que essa mesmo indivíduo ajudou construir.

Guimarães Rosa disse em seu livro Grandes Sertões Veredas que “viver é perigoso”. Eu acredito que só fazemos a diferença na vida de alguém ou de uma população, se em vida, você enfrentar o perigo de vivê-la. Acredito, que nesses quase sessenta anos da Revolução Cubana, ninguém viveu tanto os perigos da vida quanto Fidel Castro. Ninguém deixou tantos rastros de sua existência quanto Fidel.

Fidel continuará vivo nas mentes e corações de muita gente. Já aqueles que viveram para detrata-lo ou mesmo maquinando a sua morte, estarão literalmente mortos, sem qualquer herança a ser sentida. No máximo, uma lembrança em poucas linhas de algum livro, que contará a história do líder da Revolução Cubana. A história do soldado, que transformou uma ilha de cassinos e cabarés, em exemplo de Saúde Pública e Educação para o mundo.

Inté camarada. Hasta la victoria siempre!

Sérgio Mesquita

Sec. de Formação do PT-Maricá

terça-feira, 22 de novembro de 2016

“Estamos em um governo de leis ou de homens? A lei se aplica para todos ou não? “


Temos ouvido muito a pergunta que compõe o título desse texto. Normalmente atribuída aos “esquerdistas” que questionam as atitudes de alguns procuradores, promotores e juízes. Atitudes essas que ignoram Leis e preceito legais. Coisa de comunistas, segundo aqueles que saíram às ruas dizendo-se milhões de Cunhas. Pergunta quase sempre dirigida ao juiz Sérgio Moro por conta de suas atitudes na condução da Operação Lava Jato. Porém o título (pergunta) foi retirado exatamente de uma fala do próprio Juiz em uma entrevista a Revista Exame em agosto de 2015. Ele repete a pergunta que lhe é feita por muitos para que possa, no mínimo, tentar justificar seus atos. Somos nós perguntamos se a Lei vale para todos? O Direito está garantido para todos os cidadãos? Quem deveria responder era o juiz que pergunta.

Hoje, posso afirmar que a máxima, “aos amigos tudo, aos inimigos a Lei”, não vale no Brasil. Pois assistimos claramente que “aos amigos” vale tudo, mas e quanto aos inimigos? Está sendo aplicada ou ignorada a Lei? Porque somente no Brasil, quando diretores de uma empresa são pegos com a mão na “botija”, quem paga são os empregados que acabarão sem seus empregos? Onde no mundo a coisa funciona assim? Em São Paulo não funciona assim! As estrangeiras Alstom e Siemens, responsáveis pelas obras do Metro paulista, foram condenadas, pagaram multas e tiveram seus diretores, que pagaram propinas ao governo paulista (PSDB), afastados. Mas as obras continuaram. Do nosso lado é que a Justiça não fez nada, ninguém foi afastado por corrupção. Ao contrário, a nossa justiça, diferente da justiça suíça, chegou a conclusão que só houve um “cartelzinho” entre as empresas. Acontece que em São Paulo, como na Lava Jato, os que seriam os “inimigos”, que deveriam sofrer a aplicação da Lei, não o são e...a Lei não vale para eles.

O fato, que já repeti em vários outros textos, é que a Lava Jato e Moro não estão nem aí para com o combate à corrupção, ou mesmo, com o futuro do país. A função primordial da Lava Jato, não é impedir que Lula concorra em 2018, aliás nem sabemos estarem garantidas as eleições. Arrisco dizer que esse é o “alvo” secundário. O alvo primário é entregar as obras de infraestrutura do país, as empresas estrangeiras como as já citadas Alstom e Siemens, a Halliburton (também com diretores envolvidos em escândalos de corrupção pelo mundo), e outras de igual ética moral. Levar o Brasil ao desemprego e inflação, e entregar nossas riquezas loteando o país. Após o caos, um regime de força, de exceção e subserviente aos interesses financistas das grandes corporações e bancos. Acabar com esse desejo de ser potência emergente, de interferir nas questões mundiais como a paz no Oriente Médio, no desenvolvimento do continente africano e outras. As corporações não nos querem discutindo o mundo. Seus donos só nos aceitam no “clube”, como subservientes provedores de mão de obrar e matéria prima. Nada de submarino, nada de desenvolvimento tecnológico ou científico, somente esfregar o chão. É para isso que servem os Moros, os Temers, Serras e outros cucarachas. Servirem e serem consumidos.

Por outro lado, de novo, a afirmação que o atual modelo de fazer política está esgotado. Ou mudamos a maneira de fazer política ou terminaremos, de vez, de forma explícita, em um governo de total exceção, onde a idiotice prevalecerá. Saramago e Hobsbawm só não explicitaram que as eleições ocidentais, hoje, não passavam de mero folclore. Deixaram claro, que se não houvesse mudança na forma de fazer politica, nos restaria somente o folclore de poder votar.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá

Mas aí está precisamente o problema. O ideal da soberania do mercado não é um complemento à democracia liberal, e sim uma alternativa a ela. É, na verdade, uma alternativa a todos os tipos de política, pois nega a necessidade de decisões políticas, que são justamente aquelas relativas aos interesses comuns ou grupais que se distinguem da soma das escolhas, racionais ou não, dos indivíduos que buscam suas preferências pessoais. (...) A política, por conseguinte, continuará. Como continuaremos a viver em um mundo populista, em que os governos têm de levar em conta “o povo”, e o povo não pode viver sem os governos, as eleições democráticas também continuarão.  Hoje existe um reconhecimento praticamente universal de que elas dão legitimidade e proporcionam aos governos, paralelamente, um modo convincente de consultar “o povo” sem necessariamente assumir qualquer compromisso mais completo.
Eric Hosbsbawm - As perspectivas da democracia

Um dos dramas de nosso tempo é que há um poder – o único poder que existe no mundo, que é o financeiro – que não é democrático! E as pessoas não reparam nisto, apesar de estarem sempre a falar de democracia. Tanto mais que sabemos que os governos, indireta ou diretamente, estão ali para executar políticas que não são suas.
Fernando Gómes Aguillera – Palavras de Saramago

Falamos muito de democracia, mas o que é a democracia. Para os políticos, a democracia são as instituições, o parlamento, os partidos, os tribunais, coisa que funcionam com eleições e votos. Mas não nos damos conta de que no mesmo instante que coloca seu voto na urna o cidadão está realizando um ato de renúncia ao seu direito e ao seu dever de participar, delegando o seu poder a outras pessoas, que as vezes nem sabem quem são. A democracia pode ser apenas uma fachada sem nada por trás. Por isso, o cidadão deve fazer de sua participação uma obrigação. Não diria que a democracia não é o menos pior dos sistemas políticos, mas digo, sim, que não é o melhor. É preciso inventar alguma coisa melhor, e não nos contentarmos com isso.
Fernando Gómes Aguillera – Palavras de Saramago




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Por um PT mais participativo

Proposta para uma nova Linha de Ação
1.                Introdução
Apresentar ao PT, uma linha de pensamento e ações que possa resgatar a participação de seus militantes e sociedade civil.
2.                Objetivos
A partir de uma breve análise conjuntural do mundo, do Brasil, apresentar linhas de ações políticas e de pensamento a serem difundidas nos espaços de governo e sociedade civil. Abrir canais de comunicação e incentivo junto aos seus militantes, bem como junto à população, de maneira a incentivar suas participações nos espaços que já existem, internos e externos, como seus Núcleos,  os Conselhos Municipais, e nos espaços a serem criados, sazonais ou estruturais de acordo com a política partidária.
3.                Diagnóstico
Mundo: O governo dos EUA, a serviço das grandes corporações, vem de forma acintosa e inequívoca, a partir de incentivos a derrubadas de governo, a se colocar como um grande império no mundo. Mesmo que para tal reaviva a Guerra Fria e a ameaça de uma nova guerra mundial, essa de caráter nuclear, onde todos perdem – insanidade.
A fome pelo lucro imediato das grandes corporações ignora as consequências que advirão do total descaso com a vida humana (dos mais empobrecidos em especial), bem como a vida do próprio planeta, em consequência direta da exploração desenfreada de seus recursos naturais. A fome e a miséria crescem no mundo indistintamente. Países como o próprio EUA, Alemanha, França e Inglaterra, experimentam internamente os problemas causados por suas políticas econômicas, que visam somente o bem estar da classe dominante e de suas corporações. Os atuais problemas causados pela interferência americana e francesa na Síria e Líbia, bem como a americana na Ucrânia, demonstram bem esse problema. Hoje o governo americano, arma e financia grupos jihadistas para preparar o terreno para as corporações, no Oriente Médio e atacam os interesses da Rússia através de intervenções como as realizadas na Ucrânia. O fazem mesmo ciente que esses mesmos grupos, no futuro o estarão atacando. O descaso e despropósito com a vida humana e do planeta é tanto, que nos leva a pensar de que se trata de pessoas doentes mentalmente. Pessoas que ignoram estudos e conselhos e mantém a exploração humana e do planeta em níveis cada vez mais perigosos, como se já existissem os “Elysiuns” para recebê-los.

Como se não bastasse, já vivemos em um Estado de exceção, apesar da Globo e cumplices tentarem esconder, ainda temos a sinuca de bico das eleições americanas. Quem seria pior para o Brasil? O maluco do Donald Trump ou a cínica da Hillary Clinton.

Historicamente, os hipócritas religiosos do Partido Republicano - Bush filho foi aconselhado por Deus a invadir o Iraque e o Afeganistão, fizeram menos mal ao Brasil do que os Democratas. O Golpe de 64 teve início e total apoio do presidente democrata, John Kenedy, que falou ao então embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, “Tirem Goulard do Brasil”, segundo fitas gravadas na Casa Branca e exibidas no documentário “O Dia que Durou 21 Anos” do diretor, Camilo Galli Tavares.

Obama, que recebeu o Nobel da Paz em 2009, ultrapassou o Bush em mais do que o dobro em número de mortes através dos ataques de “drones”. A al-Qa’ida e suas “franchisings” terroristas, além do Boko Haran, do Da’ish (Estado islâmico) e outros grupos, nunca receberam tantos dólares e armas dos EUA, França e Inglaterra, via Turquia, como nos dias do governo democrata do Obama, que por sinal, não se manifesta quanto ao golpe no Brasil.

Hillary, a nova candidata dos democratas à presidência e Secretária de Estado de Obama, foi grande incentivadora dos ataques à Síria e Líbano. As corporações armamentistas e do petróleo agradecem e muito os esforços dos EUA em levar a democracia aos quatro cantos do mundo. Aliás, os EUA tenta tomar conta da Síria desde o final da década de 40, mas como não ganhou mais nenhuma guerra depois da II Guerra Mundial... só faz piorar a situação do povo onde eles tentam levar a “democracia”. Ou já se esqueceram do menino Aylan Kurdi que apareceu afogado em uma praia da Turquia?

O problema aqui no nosso terreninho, é que os cucarachas fingem acreditar na máxima do Juracy Magalhães (ARENA) que dizia “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Quando na verdade, nada do que é bom para os EUA, necessariamente é bom para o Brasil. Mas nosso atual governo, que é golpista sim, e aquele bando de pessoas que saíram de amarelo às ruas, ainda acreditam na máxima e sonham em serem humilhados em Miami. Sonham em morarem em guetos de luxo. Cuidado, se der Trunmp a vida pode ficar ruim lá... ou seria se der Hillary? Na realidade, nenhum deles será bom para nós. Vão continuar querendo nosso óleo, nossa água e minérios.

Brasil: Depois da decisão do governo Lula, em 2005 e 2006, deixar claro para o mundo que a exploração do óleo no Pré Sal, necessariamente deveria passar pela Petrobras, passamos a sofrer o mesmo processo de intervenção, por que passaram o Egito, Tunísia, Síria, Líbia, Iêmen e Barein, durante a Primavera Árabe e a Ucrânia. As fórmulas de intervenção variam de acordo com a situação de cada país. No Brasil, optou-se por um golpe jurídico-parlamentar, não sem antes tentarem uma Primavera em junho de 2013.
A partir do segundo mandato do presidente Lula, a mídia e uma parcela significante das classes política e jurídica, passam a atacar o governo e seus aliados, na busca de inviabilizar e derrubar o mesmo. Relegam a democracia e a Constituição Federal a um segundo ou terceiro plano. Mesmo que para isso, seja necessário devolver 40 milhões de brasileiros ao estado de miséria e fome.
Tudo para agradar as corporações do petróleo e financeiras, que não admitem qualquer projeto de distribuição de renda, que não seja para eles próprios, como os incentivos fiscais, por exemplo.
Por outro lado, o governo nacional erra em duas frentes capitais. A primeira, em não levar à população o porquê da existência de um Bolsa Família, um Luz para Todos, um Minha Casa Minha Vida, entre outros. Erra em não trazer para dentro das esferas de decisão essa mesma população. Ao contrário, afasta-se do povo, esvazia a participação da sociedade civil organizada e, em vez de politizar a população, prefere tutelá-la. A segunda foi a covardia em não brigar pela implantação das Reformas de Base, há muito necessárias para a sobrevivência e manutenção do projeto de governo. Pois sem as reformas, as manutenções desses projetos correriam risco de não continuidade.
Esses dois pontos, somados à crise financeira mundial iniciada em 2008 e ainda em curso, a ação parlamentar e eleitoral terem sido dominadas pelo pragmatismo político, pela manutenção dos espaços de poder e não pela busca de um projeto político-ideológico, facilitou o projeto golpista em atender os interesses das corporações estrangeiras, e os seus próprios. Mesmo que para isso, essa mesma classe venha a ter medo de sair às ruas por conta da miséria que tomará conta do país. Contentar-se-ão a estarem no fim da fila, para prestarem serviços à classe dominante em seus “Elysiuns” ainda inexistentes.
Encerrando esse ponto, apresentamos o pensamento de alguns intelectuais de fora e daqui, que ajudam no aprofundamento do que foi colocado acima:
Mas aí está precisamente o problema. O ideal da soberania do mercado não é um complemento à democracia liberal, e sim uma alternativa a ela. É, na verdade, uma alternativa a todos os tipos de política, pois nega a necessidade de decisões políticas, que são justamente aquelas relativas aos interesses comuns ou grupais que se distinguem da soma das escolhas, racionais ou não, dos indivíduos que buscam suas preferências pessoais. (...) A política, por conseguinte, continuará. Como continuaremos a viver em um mundo populista, em que os governos têm de levar em conta “o povo”, e o povo não pode viver sem os governos, as eleições democráticas também continuarão.  Hoje existe um reconhecimento praticamente universal de que elas dão legitimidade e proporcionam aos governos, paralelamente, um modo convincente de consultar “o povo” sem necessariamente assumir qualquer compromisso mais completo.
Eric Hosbsbawm - As perspectivas da democracia
Um dos dramas de nosso tempo é que há um poder – o único poder que existe no mundo, que é o financeiro – que não é democrático! E as pessoas não reparam nisto, apesar de estarem sempre a falar de democracia. Tanto mais que sabemos que os governos, indireta ou diretamente, estão ali para executar políticas que não são suas.
Fernando Gómes Aguillera – Palavras de Saramago
Falamos muito de democracia, mas o que é a democracia. Para os políticos, a democracia são as instituições, o parlamento, os partidos, os tribunais, coisa que funcionam com eleições e votos. Mas não nos damos conta de que no mesmo instante que coloca seu voto na urna o cidadão está realizando um ato de renúncia ao seu direito e ao seu dever de participar, delegando o seu poder a outras pessoas, que as vezes nem sabem quem são. A democracia pode ser apenas uma fachada sem nada por trás. Por isso, o cidadão deve fazer de sua participação uma obrigação. Não diria que a democracia não é o menos pior dos sistemas políticos, mas digo, sim, que não é o melhor. É preciso inventar alguma coisa melhor, e não nos contentarmos com isso.
Fernando Gómes Aguillera – Palavras de Saramago
Os Estados Unidos não são "o" império, como muitos pensam. É apenas o soldado do imperador, a interface do poder, a máscara com a qual é encenado o teatro farsesco da democracia e da liberdade. É também a espada de que nos alertava John Adams, com a qual é imposta a vontade absoluta dos reis a todos os países.
Márcio Valley – Os EUA por trás dos golpes: as garras da águia
Os Estados Unidos, como braço armado dos imperadores, submete a economia mundial à vontade do poder de quatro modos distintos: (a) corrompendo os governos nacionais, (b) mediante a concessão de empréstimos condicionados a exigências futuras virtualmente impossíveis de cumprir, concedidos por instituições como Banco Mundial e FMI, (c) assassinando políticos de países estrangeiros que incomodem ou (d) pelo velho, tradicional e eficaz método de invasão armada.
Márcio Valley – Os EUA por trás dos golpes: as garras da águia
Em qualquer agrupamento animal do tipo "cada um por si" é natural que os indivíduos menos favorecidos ataquem a caça dos mais favorecidos. Portanto, a opção por essa espécie de sociedade importa a ciência prévia de que haverá um certo incremento nos assaltos à propriedade privada.
Márcio Valley – Entre a prisão e o ócio remunerado, que sociedade desejamos
4.                Argumentação:
Iniciamos esse ponto, a partir do segundo texto do Saramago: “Não diria que a democracia não é o menos pior dos sistemas políticos, mas digo, sim, que não é o melhor. É preciso inventar alguma coisa melhor, e não nos contentarmos com isso.” Saramago escreveu esse texto em novembro de 1994. Muito, mas muito antes dos eventos de junho de 2013, vinte e dois anos antes. Até hoje, nos debates políticos, as manifestações de 2013 são lembradas como um alerta. Mas o que de fato foi realizado ou pensado, para que alguma coisa fosse mudada a partir do aprendizado de 2013? Arriscamos afirmar que, na realidade não houve aprendizado. Nem se ousou repetir Lampedusa, mudar para deixar tudo como está.
Assistimos, pelo contrário, uma onda conservadora que, com certeza, vai além do que a própria direita imaginou para se manter o sistema. Arriscamos que uma parcela da classe dominante, que quer a manutenção do sistema, também está preocupada com tantas loucuras e desatinos. Democracia e respeito às Leis e ao cidadão em queda livre, mais pela manutenção dos desvios de conduta do que pela manutenção da atual política neoliberal. “É preciso inventar alguma coisa melhor, e não nos contentarmos com isso.”, nos colocou Saramago. É nessa conjuntura que devemos repensar o PT. É a partir desse ponto, que acreditamos que o PT deve começar a se repensar.
O multi-artista, Délcio Teobaldo, de Maricá, quando fala do futuro, utiliza-se da metáfora da “atiradeira”, do estilingue. Nos fala que, quanto maior a pressão no elástico, quanto mais para trás ele for tensionado, mais conhecimento dos antepassados você obterá e mais impulso para frente você conseguirá. Acreditamos que essa deve ser a nova linha que devemos tomar para o PT. Não somente resgatar o “passado” de nossa história, enquanto PT, nas administrações por que já passamos. Mas sim, a partir de nosso conhecimento e aprendizado, pensar o “novo”, e não se acomodar com o atual. Qual a mensagem a juventude nos mandou em 2013? Acreditamos que, diferente de Lampedusa, devemos mudar o que está aí, mas não para deixar como está, como temos feito.
Como iremos tratar nossos aliados diretos? Como traremos a sociedade civil, organizada e desorganizada, para discutir com todos o que iremos inventar? Como será nossa relação com o Congresso, a partir do que já sabemos? Vamos manter o pragmatismo ou vamos, com eles, tentar mudar tudo? Repito a metáfora do Délcio, a partir de nosso elástico tensionado. É preciso procurar o novo, inventá-lo.
É capital, que esse “novo” PT implante no Brasil a participação popular em todos os espaços em que for possível. E onde não for, que pelo menos tentemos que seja. A partir desse resgate, poderemos pensar o novo, sem medo do erro. Pois esse erro será fruto de uma tentativa em comum, do governo e de sua população, que não só irá entender como se empenhará na correção e superação do problema. A população enxergará que as ações não foram frutos de “iluminados”.
Tarefa árdua que terá pela frente muita resistência, em especial daqueles que só se preocupam com seus umbigos, os “idiotas” segundo os gregos. O novo PT deverá fazer com que essas ações, as executadas e as por vir, façam com que o povo se sinta responsável por elas também. O paradigma foi “quebrado” nos últimos quinze anos, mas com ferramentas que hoje não nos servem mais - recado da juventude. O que devemos fazer é “criar” novas ferramentas que nos permitirão a manutenção e ampliação do que já existe, e do que existirá.
5.                Linhas de ação:
Nesse ponto, apresentamos duas linhas de ações. A primeira, talvez a mais importante, seria a definição de um fio condutor, uma estrela guia para todos os projetos de governo petista. A segunda linha de ação está na transparência e no incentivo à participação popular nos espaços existentes e por existir, do governo ou da sociedade civil.
Fio condutor: Podemos afirmar que o projeto de implantação capitalista existe há pelo menos 500 anos. Durante esse tempo, provocou várias crises econômicas e dependeu de guerras, fome, derrubadas de governo, assassinatos e processos golpistas, como o que acontece hoje no Brasil, para continuar sobrevivendo. Perpassou por três grandes fases, uma comercial, a segunda industrial e a terceira, em andamento, financeira. Independente da fase identificam-se duas características em comum, o caráter intervencionista e a incompatibilidade com a democracia.
O capitalismo nunca conseguiu superar suas crises, sempre as contornou. Brinca de Lampedusa, se reinventa para deixar tudo como está. E qual a razão de, quando tudo está por ruir, a população continua a apoiar e a defender suas politicas?
A grande sacada capitalista está na manutenção de uma política Cultural de anulação do indivíduo enquanto ser social, solidário. Trabalha na exaltação do indivíduo via o egoísmo. O egoísmo em detrimento da solidariedade. A Cultura do consumo, do se dar bem, da meritocracia, são algumas das facetas dessa dominação cultural. Hollywood e Rede Globo são alguns exemplos de ferramentas de disseminação dessa politica.
Enquanto os governos, e as ainda resistentes forças politicas de esquerda, não tomarem consciência dessa estratégia, vamos continuar a perder espaços na política. Faz-se necessária uma contra hegemonia cultural. Já não nos bastam bons projetos, distribuição e renda e outros benefícios. Os recentes resultados eleitorais e o Golpe em Brasília estão aí para confirmar. Então, como agir na busca de uma nova hegemonia?
A partir dos governos do PT foi criada a “figura” do Trabalho Social, embutida nos projetos a serem executados. Esse Trabalho tem por objetivo envolver a comunidade a ser atingida pelo projeto e o seu entorno. Busca o sentimento de “pertencimento” da comunidade para com os projetos. Minimamente, este Trabalho se resume em uma atuação do governo mais próxima das comunidades, são reuniões preparatórias, criações de comissões, cursos e outras ações, que levem o conhecimento e possibilidade de novos horizontes para as comunidades. O que fizemos em parte nos condomínios Carlos Marighella e Carlos Soares, e na Praça do CEU, aqui em Maricá, mas precisamos melhorar. Esse Trabalho é pensado a partir do projeto a ser executado. O que propomos é a construção de um Trabalho Social para todo o Brasil, para toda a sua população. O projeto é o Brasil. Um Trabalho que seja complementado pelos Trabalhos Sociais de cada projeto específico, seja municipal ou estadual a ser desenvolvido.
Propomos que o governo, a partir de seu posicionamento político-ideológico, defina a linha de um grande Trabalho Social, que foque o país como um todo. Esse Trabalho envolveria ações de formação e entretenimento em todo o país. Resgatar ações como os Centros Populares de Teatro, trabalhar a exibição de filmes com debates pós-exibições, cursos de Formação voltados para a população, Palestras, shows temáticos – como a Cultura, em Maricá, já fez com o projeto Sala Cult, e muitos outros eventos. Seria a nossa contra hegemonia. Levar à população o porquê da realização de cada projeto, e onde ele e a comunidade se inserem politicamente.
Nessa linha, podemos trabalhar a importância do funcionamento dos Conselhos Municipais, as criações de Fóruns temáticos, a importância das Audiências Públicas, sempre com uma visão de esquerda e democrática.
Participação popular: Não vamos aqui repetir as várias avaliações que tentam explicar o porquê do PT estar passando pelo o que passa, e sua influência em nossos governos. Todas levam a um denominador em comum, o afastamento das comunidades e das organizações civis. Podemos tentar reinventar o partido, pensar um novo, o que der na cabeça. Mas a única certeza que temos é que, o modelo atual de se fazer política está esgotado (recado da juventude), e devemos trazer para o partido e nossos governos, para dentro de suas instâncias de decisão, as orelhas e bocas das comunidades e das organizações civis, da população. Regatar o SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO, há muito esquecido por nossos políticos e governantes.
Na realidade propomos que seja incluído em todo e qualquer projeto, a obrigatoriedade do Trabalho Social, onde envolver ações nas comunidades. Vamos construir uma escola? Que a comunidade da área seja reunida antes, que se discutam as suas necessidades, o que esperar da escola, seu envolvimento futuro para com a comunidade e mais.
O PT e seus governos possuem entre seus quadros, pessoas que já passaram pela experiência de aplicar o Trabalho Social e/ou fizeram o curso disponível no sítio do Ministério das Cidades (gratuito e à distância). A Prefeitura e o Partido, cada um em sua área, podem inscrever turmas que possam fazer juntas, em um mesmo espaço, trocando ideias, o curso de Trabalho Social.
O treinamento de seus quadros e à aplicação do aprendizado nos projetos, não só irá qualificar a implantação dos mesmos, como trará para dentro do governo e do partido, uma gama, se não de militantes, de apoiadores do partido e do governo. A hegemonia sendo disputada.
Para encerrar, um último ponto que diz respeito aos detentores de cargos eletivos do PT.
Conselho Político: Consideramos crucial para o exercício de um bom mandato, que seja instituído um Conselho Político, nomeado pelo parlamentar. Composto por pessoas de sua inteira confiança, amigas. Pessoas de áreas distintas, que poderão em suas reuniões, com a mão no ombro do parlamentar, dizer-lhe “fez merda”, “vai dar merda” ou “vamos para o abraço”, sem o risco de ameaças e reprimendas.
Um Conselho de caráter consultivo, que permitirá ao parlamentar, ouvir outras opiniões, divergentes ou não, daquelas de seus assessores diretos (bajuladores em especial). Sem a influência do “querer agradar ao parlamentar”. Lula tinha o seu, como bem colocou o economista João Sicsú, em reunião no bairro do Retiro, aqui em Maricá, “podia até não seguir os conselhos, mas você podia falar”.
6.                Conclusão:
Certo, é que a classe dominante não nos quer mais, pois ocupamos espaços que foram criados por eles, pelas Leis feitas por eles, para usufruto deles. Somos intrusos! E só deixaremos de sê-lo, se trouxermos para esses mesmos espaços, a população, a sociedade civil e muita inovação. Fizemos o trabalho pela metade, quando atingimos o coração da população, mas esquecemos de suas mentes.
O trabalho no Brasil deverá ter como fim, o que aconteceu em Belém quando Edmilson foi Prefeito. O repórter fala a um morador, “O Prefeito construiu essa ponte”, e escuta como resposta, “Não, fomos nós através da discussão do orçamento”.
O PT, em seus inícios de governos, assim trabalhou. Depois esqueceu. Precisamos aprender com a História como colocou Marx. Que não repitamos os erros do passado, primeiro como farsa, depois como tragédia. Inovar significa o resgate de práticas exitosas e suas soma a novas práticas.
Até a vitória!
Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.
Machado de Assis
Sobre que bases se fará a Refundação do Brasil? Souza Lima nos diz que é sobre aquilo que de mais fecundo e original que temos: a cultura nacional tomada no seu sentido mais amplo que envolve o econômico, o politico e o especificamente cultural: ”É através de nossa cultura que o povo brasileiro passará a ver suas infinitas possibilidades históricas. É como se a cultura, impulsionada por um poderoso fluxo criativo, tivesse se constituído o suficiente para escapar dos constrangimentos estruturais da dependência, da subordinação e dos limites acanhados da estrutura socioeconômica e política da empresa Brasil e do Estado que ela criou só para si. A cultura brasileira então escapa da mediocridade da condição periférica e se propõe a si mesma com pari dignidade em relação a todas as culturas, apresentando ao mundo seus conteúdos e suas valências universais”.
Leonardo Boff - https://leonardoboff.wordpress.com/2016/11/11/os-estudantes-querem-um-outro-brasil-e-um-outro-tipo-de-politica/

Marcos de Dios Coelho
Rogério Antônio Almenteiro Gomes
Sérgio Luiz de Oliveira Mesquita