sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Impressões sobre o artigo do Washington Quaquá (Por um Partido Lulista, Burguês e , Reformista) e a entrevista de Lula para uma rádio em Pernambuco, disponibilizada nas redes sociais.

Confesso ter levado um susto inicialmente. Posteriormente, após conversas com companheiros mais próximos, o susto transformou-se em respeito pela honestidade do companheiro de longas caminhadas juntos, Quaquá. Quem o conhece sabe bem que, como coloca no texto, não tem a boca para guardar sua língua. E provoca.

O texto casa bem com a entrevista do Lula, que quando questionado sobre a manutenção de uma aliança que acabou trocando de lado e apoiando o Golpe, se o mesmo não poderia se repetir? E Lula banca com maestria o pragmatismo eleitoral. Com verdades que, muitas vezes, são ignoradas pela esquerda dita pura. Os fatos são colocados à mesa. Não existe vitória eleitoral sem as alianças. E mesmo que fosse possível, não existiria governo. Fica claro que, em nosso atual sistema de governo, a fala do Lula é só verdade.

Quaquá, que teve mais tempo para escrever seu artigo, fez uma rápida “mea” culpa (do partido) e aponta como uma das causas, que concordo, o abandono das organizações populares e termos perdido toda uma geração de militantes, que poderiam ir às ruas no combate ao Golpe. Pura verdade, mas não como muitos colocam, que a culpa está em nossa burocratização. A culpa está em nossa institucionalização! Acabamos por nos “patrimonializar”.

O problema que identifico, entre outros, está na questão do incentivo a imagem de um “herói da pátria”, com a criação de mais um “ismo”, como foi o getulismo e o brizolismo. Quando o sufixo perde sua raiz, é como tiro na água no jogo de batalha naval. Essa é uma das preocupações.

Outra preocupação está no como incluir as organizações civis e populares através da política, e não pelo clientelismo. Concordo quando é apontado o erro de não se ter preparado a grande massa de beneficiários dos programas sociais para o sentimento de pertencimento dos mesmos, e da política de afastamento das organizações civis e populares, para priorizar os acordos por cima. Na minha opinião, esse foi o grande motivo que nos levou a não ter a população nas ruas, para além do que sobrou da militância. Muitas das pessoas que hoje estão nas ruas, por onde passa a Caravana do Lula, podem não ter ido as ruas antes do leite ter derramado.

Lembro da primeira reunião de secretários do governo Fabiano Horta em Maricá, sucessor do Quaquá, quando em um exercício de Planejamento, ponderei como força externa negativa para o governo, o próprio sistema de governo, que privilegia a corrupção e os arranjos. Não apanhei, mas foram vários elogios ao sistema e duas adesões ao meu posicionamento. Meses depois, a continuação do golpe em Brasília ganhava força por conta do sistema.

O fato é que para podermos realizar as reformas que defendemos, inclusive a política, temos que ter o povo nas ruas, brigando e muito. Quando a PM tentou invadir a escola do MST, a Florestan Fernandes, seus integrantes e alunos foram para o enfrentamento e a PM recuou. As mesmas corporações que apoiaram o golpe aqui, tentam fazer o mesmo na Venezuela. O povo foi para as ruas e Maduro se mantém no governo. A estudantada em São Paulo atrasou o projeto do Alkmim em fechar as salas de aula. Não por serem formados na política, mas por entenderem que o modelo atual está esgotado e se faz necessário inventar um novo, fizeram as ocupações. Saramago, em 94 já questionava a fala de Churchill, acreditava que poderia existir algo melhor que a democracia, entendida hoje como o menos pior dos sistemas.

Na realidade, o que me põe em dúvida é o que apresentaremos de novidade, de maneira a poder ter alguma esperança e sentir o cheirinho da chuva em meio aos bolsões de calor, lembrando Ignácio de Loyola Brandão em seu livro “Zero”.

Essa preocupação não vejo em nenhum lado da dita esquerda brasileira, muito pelo contrário. Cada vez mais a citação do Yanis Varoufakis em seu livro “O Minotauro Global”: Os políticos que queriam fazer diferente perceberam que era tarde demais. E assim eles recuaram, preferindo manter-se vivos do que viverem mortos politicamente, faz sentido.

Sei bem como age o Quaquá e sei mais ainda o que foi feito em Maricá, mesmo que não muito ao modo petista de governar. A cidade cresceu, melhorou seus índices e, de fato, existe distribuição de renda e crescimento econômico, como aconteceu no Brasil no período petista em Brasília. Mas é preciso ter a clareza de que o que acontece com o país, não só vai refletir em Maricá, como também pode acontecer em Maricá, pois vivemos em um Estado de Exceção, golpista.

Tenho certeza que a solução não passa pela simples possibilidade de se vencer a eleição. Pois a mesma seria certa nas MCTP (mesmas condições de temperatura e pressão). O problema é que não temos como afirmar se ocorrerão e se ocorrerem, se Lula será candidato. Se for eleito, se conseguirá governar.

Não estamos discutindo como organizar a população e as organizações civis para nosso sustento nas ruas, e isso me preocupa. Pois estamos com o foco somente nas eleições. Se nada mudar, não adiantará criar um novo partido (reformista e burguês) ou acabar com o velho espírito petista. O poder continuará nas mãos deles.

Sérgio Mesquita

Secretário de Formação do PT-Maricá