Há tempos venho levantando questões sobre o poder da
Internet. Em uma redação sobre o tema, escrevi que ninguém sabe a força real
desse meio de comunicação e informação. Um chinês põe a alma em leilão e o
subcomandante Marcos impede um massacre, pelo exército mexicano, com seu laptop
nas montanhas de Chiapas. Duas ações distintas utilizando a mesma ferramenta.
Mas a dinâmica da rede também pode ser utilizada em
favor de interesses pessoais ou de grupos econômicos/políticos. Assistimos a
isso agora com o ataque à Coreia do Norte, quando a isolaram do mundo ao
bloquearem seu acesso à rede. Agora não se tem mais dúvidas quanto ao poder de
quem tem o conhecimento e os equipamentos para tal exercício. Ou seja: basta,
literalmente, desligar o interruptor.
Essa discussão é alvo de intervenções minhas desde os
tempos “das privatarias” do FHC e seus cúmplices. Em especial quando entregou
todo o nosso sistema de comunicação ao mexicano Carlos Slim. Todos os nossos
dados bancários, de segurança, ou simples recados de amor, nas mãos de
estrangeiros que, se chateados ou incentivados por interesses econômicos, como
a água ou o pré-sal, nos tiram da rede. O que fazer? Perguntem ao FHC.
Ora, o Brasil ganhou notoriedade mundial por conta da
aprovação, um tanto quanto esquartejada, do Marco Civil da Internet, que, mesmo
levando-se em consideração a falta de alguns pedaços, ainda é uma grande Lei e
exemplo a ser seguido. Assim, o que aconteceu na Coreia (link ao final do
texto) estava “previsto” na Lei, como proposta para amenizar o problema.
Contudo, com o esquartejamento, promovido a serviço das Telcos (empresas de
telecomunicação como Vivo, TIM, Claro – do Slim e outras) por Eduardo Cunha,
essa cautela foi cortada. No texto original, existiam exigências de que os
provedores da rede tivessem seus servidores e storages em solo nacional, numa tentativa de “amenizar” a
espionagem estadunidense, tão ignorada por nossa mídia servil.
Eduardo Cunha venceu a batalha com apoio de seus pares
no Congresso e, logo após, por conta da espionagem estadunidense, França e
Alemanha anunciaram estudos para internalizar na Europa os seus servidores de
Internet, a fim de dar mais trabalho ao serviço de segurança dos EUA, o
National Security Agency (NSA), com o intuito de tornar mais difícil o acesso
os dados europeus. Todo o tráfego da rede mundial passa pelos EUA, e eles,
“democraticamente”, detêm o poder de acessar nossos bilhetinhos eletrônicos com
ou sem nossa permissão.
Escrevo isso devido à única discordância minha em relação
ao texto, quando diz que “pode acabar fortalecendo a tendência à
balcanização do universo digital com a criação de redes nacionais
independentes. Trata-se de uma ideia alimentada por regimes autoritários em
várias partes do mundo, porque lhes permite controlar o fluxo interno de
mensagens entre usuários da internet”. Discordo porque a conta vai somente
para os estados autoritários, quando o que testemunhamos recentemente foram
países democráticos como Inglaterra e França (à época de Sarkosy), discutirem e
defenderem a censura na rede. Enquanto isso, os EUA já o fazem abertamente,
espionando os seus e a nós.
A
Internet foi criada a partir de necessidade militar e, como quase todos os
avanços tecnológicos, acabam beneficiando uma pequeníssima parcela da sociedade
civil dos países que controlam o poder imperial no mundo. O mesmo se pode dizer
dos conhecimentos científicos, de onde derivam a tecnologia, que deveria estar
a serviço do bem estar social, e não do econômico/político, que é o que costuma
acontecer na prática. O que ocorreu com a Coreia pode nos levar à balcanização
do mundo sim, como bem alerta o texto, mas também não podemos ou devemos fechar
os olhos e fingir que nada acontece ou poderá acontecer conosco. O mundo da
fantasia só existe nas empresas de comunicação, que, de tanto fantasiarem,
trocaram a realidade pelo fantástico.
Te abraço
Te abraço
Sérgio
Mesquita