segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Direto ao ponto!

 Jamil Chade

Se Jair Bolsonaro causou constrangimento e indignação em sua participação na ONU, coube a uma mulher despontar como a antítese do presidente negacionista. Num discurso no mesmo púlpito que foi usado pelo brasileiro, a primeira-ministra de Barbados abandonou o texto que havia sido preparado por seu serviço diplomático e chacoalhou a Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Mia Amor Mottley subiu ao pódio, na sexta-feira, determinada a dizer o que líderes queriam evitar escutar. E imediatamente foi elevada a uma espécie de celebridade diplomática, com comentários de que, finalmente, o mundo tinha uma líder....

"Quem se levantará em nome de todos aqueles que morreram durante esta terrível pandemia? São milhões. Quem se levantará em nome de todos aqueles que morreram por causa da crise climática?", questionou.

"Quantas mais variantes do covid-19 devem chegar, quantas mais, antes que um plano de ação mundial de vacinação seja implementado"? disse Mottley. "Quantas mais mortes devem ocorrer antes que 1,7 bilhão de vacinas em excesso na posse dos países avançados do mundo sejam compartilhadas com aqueles que simplesmente não têm acesso?"

"Temos os meios para dar a cada criança deste planeta um comprimido. E temos os meios para dar a cada adulto uma vacina". E temos os meios para investir na proteção dos mais vulneráveis em nosso planeta contra uma mudança no clima. Mas optamos por não fazê-lo", disse a primeira-ministra. "Não é porque não temos o suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos".

A primeira-ministra ainda atacou líderes que usam da mentira como instrumento de poder. Segundo ela, se o mundo ataca as plataformas para garantir o pagamento de impostos, é inconcebível que não se toque na questão da fake news.

A primeira-ministra também alertou para a falta de ação no campo ambiental. "Quantos mais aumentos globais de temperatura devem ocorrer antes de acabarmos com a queima de combustíveis fósseis? E quanto mais o nível do mar deve subir em pequenos estados insulares antes que aqueles que lucraram com o armazenamento de gases de efeito estufa contribuam para as perdas e danos que ocasionaram, em vez de nos pedir que excluamos o espaço fiscal que temos para o desenvolvimento para curar os danos causados pela ganância de outros"?

Ela ainda completou: "se conseguirmos encontrar a vontade de enviar pessoas à lua e resolver a calvície masculina, poderemos resolver problemas simples como deixar nosso povo comer a preços acessíveis"."

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CURSO LINGUAGEM E EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO POLÍTICA DO PROFESSOR E MEIOS DE COMUNICAÇÃO

 

Resumo estendido da Aula 2: Direitos Humanos, Democracia e Comunicação

 

Sérgio Luiz de Oliveira Mesquita*[1]

 

 

Resumo

A partir da influência dos meios de comunicação e das redes sociais, a Aula 2 provoca uma discussão sobre como o profissional da Educação deve se preparar, em especial aquele que frequenta a sala de aula, para não cair nas armadilhas da mídia, das redes sociais e do retorno do “macarthismo”[i]. Mas, a partir do dia a dia, como apresentado nos textos e falas de vários autores e pensadores disponibilizados na Aula. Saindo do “quadrado” dos conceitos pré-definidos, no caso Direitos Humanos, Democracia e Comunicação, priorizando a vivência do dia a dia, da interpretação dos fatos e seus “links” com os conceitos existentes. Desmontando as novas conceituações fabricadas na mídia e nas redes sociais, no interesse das grandes corporações imperialistas, o que nos leva ao questionamento: vivemos em uma democracia?

 

 

Resumen

A partir de la influencia de los medios y las redes sociales, la Clase 2 provoca una discusión sobre cómo deben prepararse los profesionales de la Educación, especialmente los que asisten al aula, para no caer en las trampas de los medios, las redes sociales y el regreso de “Mcarthismo”. Pero desde la vida cotidiana, como se presenta en los textos y discursos de varios autores y pensadores disponibles en el Aula. Saliendo del "cuadrado" de conceptos predefinidos, en el caso de Derechos Humanos, Democracia y Comunicación, priorizando la vivencia diaria, la interpretación de los hechos y sus "vínculos" con los conceptos existentes. Desmantelando los nuevos conceptos fabricados en los medios y redes sociales, en interés de las grandes corporaciones imperialistas, lo que nos lleva a la pregunta: ¿Vivimos en democracia?

 

 

 

Introdução

Erik Hobsbawm[ii], em seu livro “Globalização, Democracia e Terrorismo”, publicado em 2007, pela Editora Companhia das Letras, abre discussão sobre o conceito de democracia e as democracias de fato “instaladas” no dito mundo ocidental, citando como exemplo as democracias colombiana, africana do sul e a ucraniana. A Colômbia, o único país do Cone Sul, essencialmente democrático, com alguns espasmos de caudilhismo e militarismo, segundo o autor. Mas, o país com o maior número de mortes e população desalojada na segunda metade do século XX. A África do Sul era uma democracia que excluía do processo democrático a sua população negra, imensa maioria. A Ucrânia se democratiza ao custo da perda de 2/3 de seu PIB, empobrecendo sua população. Recentemente, a perda da Criméia como pais filiado a Rússia (plebiscito em 2014), levou o presidente Obama a apoiar os neonazistas eleitos na Ucrânia[iii]. A partir destes exemplos, Hobsbawm passa a questionar a democracia (conceitualmente) no sistema capitalista como um todo.

 

Através da percepção apresentada pelo Hobsbawm, podemos identificar uma série de outros pensadores/autores, que pensaram ou pensam as questões ligadas aos Direitos Humanos, à Comunicação e à Democracia, na mesma linha do Hobsbawm. A Aula 2 trabalha apresentando alguns textos nesta linha, com foco em autores como Erik Hobsbawm e José Saramago[iv]. Também foram incluídos Eduardo Galeano, Umberto Eco, Ariano Suassuna, Hannah Arendt, Papa Francisco, entre outros, que somados a uma lista de filmes e documentários, justificam o questionamento colocado. Trazendo para a realidade brasileira, arrisco o seguinte questionamento: vivemos em uma democracia?

 

Argumento

O sistema capitalista, através de seus tentáculos, em especial àqueles ligados à Mídia e às Redes Sociais, deturpa conceitos enraizados, provocando questionamentos ou mesmo a inversão destes conceitos, em prol dos interesses financeiros e políticos (nesta ordem) dos grandes conglomerados. Hoje, o sistema passa por mais uma crise, que o leva a uma nova transição, esta do capitalismo financeiro para o da vigilância, segundo Agabem[v], em seu polêmico artigo “A Invenção da Pandemia”. Principalmente após a ONU abrir discussão sobre a implantação do “chip” de identificação digital - ID2020[vi]. Os governos “democráticos” ou não perceberam com o surgimento da pandemia da COVID-19, a facilidade com que os “lockdows” “enclausuraram” milhões de pessoas. Que se “chipadas” com o ID2020, adaptado em Passaporte e Carteira de Saúde (nomeando os fabricantes das vacinas – guerra comercial/ideológica), poderia ser uma grande ferramenta de controle das massas e de localização de indivíduos. Uma das facetas da vigilância, a outra, é o “macartismo” e as consequentes desconfianças e delações. Pais e alunos denunciando e ameaçando professores/as.

 

No caso do Brasil, assistimos a um processo de destruição massiva em relação à Educação, em especial à Educação Pública. Cortes de verbas, mudanças nas Leis Trabalhistas, achatamento salarial, pressões políticas aplicadas diretamente aos educadores e gestores, enfim uma guerra aberta e direta, sem intermediários, a favor do sucateamento da Educação. O “mote” está na possível incapacidade dos/das educadores/as e das metodologias aplicadas, com discursos inclusive a favor do fechamento de escolas. Defendem o ensino em casa através de tutoria, como se a maioria dos estudantes fossem filhos de lordes e reis. Movimentos como o “Escola sem partido”[vii], sem qualquer fundamento teórico que o justifique para além do político, apresentam um crescimento massivo, de “gado” e criam problemas para o conjunto de professores/as, com certo “carinho” para com os da área de humanas. Reproduzem em pleno século XXI, práticas da Idade das Trevas, da Idade Média, renegando a ciência a favor de seitas religiosas, combatendo a vacinação em meio a pandemia e estão convencidos que a Terra é plana. É neste contexto que nossos mestres/as e amantes da educação, iniciam e terminam seu dia de labuta, de aprendizado e troca de conhecimentos, sendo atacados pela mídia, pelas redes sociais e por um governo obscuro e incompetente para com a coisa pública.

 

Por outro lado, o processo que no Brasil parece mais desumano e perverso, não é único. Vários países no mundo estão passando pelo mesmo. Forças nazifascistas reaparecem na ultradireita e passam a conquistar espaços na sociedade, cadeiras nos parlamentos e na presidência, como citado anteriormente.

 

Outro problema está no “vício” de sermos muito bons para fazer análise e identificar problemas, e só apresentarmos soluções paliativas, que não mexem na engrenagem causadora dos mesmos. Recentemente, a antropóloga Valéria Brandini[viii] expõe esta situação em palestra do “HackInverno”, realizado pelo grupo RenaSCidade[ix], com o tema “O Brasil tem Futuro?”. Valéria nos fala que antes de pensarmos o futuro devemos conhecer bem a nossa história para não ficarmos rediscutindo problemas há muito identificados e não resolvidos a contento. Apresenta exemplos como: no final do século XIX, discutiu-se o desemprego por conta das máquinas a vapor, hoje repetimos a mesma discussão por conta dos robôs e da Inteligência Artificial – a Tecnologia avançou, as soluções não; há oitenta anos a Escola de Frankfurt[x], no pré Segunda Guerra, discutia a atuação da mídia na formação de Estados Totalitários, hoje, discutimos o mesmo problema com a inclusão das redes sociais; nos anos cinquenta, nos EUA, e setenta no Brasil, discutia-se a má influência da tela da televisão nas crianças, hoje é a tela do celular. Discute-se que o ensino nas universidades deve mudar, mas parece que a “tradição” é mais forte... No geral não se apresentaram ou tentaram resolver as raízes dos problemas, trabalhou-se em suas consequências, não nas causas. Mais ou menos o que acontece na área da Saúde e os interesses das “big farms”[xi]. Trata-se os sintomas da doença, seus alertas, não suas causas. O sistema agradece, os negócios da Educação agradecem e a vida degrada.

 

Para esperançar

No mesmo “HackInverno”, citado anteriormente, o Prof. Dr. Lawrence Koo[xii], atualmente na PUC-SP, nos fala que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de pessoas, tem tudo para ser um país líder em inovação. Hoje somos o segundo consumidor de inovação e estamos acima da sexagésima posição no “ranking” dos produtores de inovação. Historicamente uma Educação classificada como “bancária” e em processo de sucateamento. Mesmo assim, apesar de poucas pessoas com melhores condições de estudo e acesso à Universidade, criamos a EMBRAPA, a PETROBRAS e a EMBRAER, todas empresas líderes em seus ramos de atuação. Líderes nos negócios, mas, principalmente, na capacidade tecnológica e de inovação. Imaginem um Brasil, com muito mais pessoas desfrutando de uma Educação de qualidade, e com grande capacidade criativa – o brasileiro precisa ser estudado pela NASA, dito popular. De minha parte, incluo na lista do Prof. Lawrence a FIOCRUZ.

 

Em relação as universidades, existe um movimento, conhecido na UNICAMP como “Tecnociência”[xiii], onde cursos da área de “não humanas”, como burila o Prof. Dr. Renato Dagnino da UNICAMP, buscam a interdisciplinaridade com os cursos da área de “não exatas”. As Universidades Federais de Santa Maria-RS, Santa Catarina-SC, a Fluminense e a do Rio de Janeiro-RJ, a UNICAMP-SP e outras tantas, buscam a humanização de seus cursos e dos seus graduandos. Trazem para o interior de suas disciplinas o mundo real, as comunidades para além das áreas nobres. Uma estratégia que sofre ataques do sistema e da “tradição” da grade curricular. A insistência e resistência têm rendido bons resultados e avanços. Como exemplo, temos o curso de Medicina de Cuba, onde seus alunos passam parte de seu aprendizado nas comunidades e áreas rurais. Os exemplos acima poderiam ser muito bem adaptados aos cursos de formação de professores/as. Profissionais que, por essência são humanizados, não deveriam passar por resistências em relação à modificações nas grades dos cursos, mas elas existem.

 

Em relação ao Ensino Médio e Fundamental, a regra é a falência do ensino, as exceções são alguns municípios e estados com algum diferencial e algumas escolas municipais e estaduais também diferenciadas. Escolas comemoradas, premiadas, mas exceções a regra. Não faz parte do sistema uma educação pública, de qualidade e inclusiva. Basta ler as intervenções do atual Ministro de Educação para comprovar.

 

Maricá, no Estado do Rio de Janeiro, começa a despontar por conta de suas políticas sociais e a integração delas com a Educação, Esportes e o Trabalho. Mas mexer no currículo ainda é um tanto quanto tabu. O contraturno, por sua vez, está cada vez mais badalado e com resultados internos e externos importantes. Mas, por não estar incluso na grade, basta uma mudança de política e tudo pode se acabar.

 

Maricá, entre os vários projetos em execução, na minha opinião, o Mumbuca Futuro talvez seja o que mais vai de encontro a política da meritocracia e do individualismo, uma “ode” ao egoísmo. Crianças do Ensino Fundamental e Médio, por adesão, participam do projeto ligado à Secretaria de Direitos Humanos, que trabalha a Economia Solidária o Cooperativismo e a Solidariedade. Durante o curso, as crianças recebem cinquenta Mumbucas mensalmente (moeda social local, que só circula no Município), e a cada ano aprovado, mil Mumbucas depositadas em uma Caderneta de Poupança. Ao se formar no Ensino Médio, o agora adolescente tem a sua disposição uma verba para usar em seu curso universitário ou montar uma cooperativa. A essência do projeto pode ser resumida na vida em comunidade e solidária na busca da abundância. Na contramão do que prega o sistema capitalista é individual e depende da escassez para movimentar sua máquina. Outro projeto é o Novos Pesquisadores, da Ciência e Tecnologia em parceria com a Educação. Alunos/as do Fundamental (nono ano), do Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos, com a orientação de um professor/a ou Orientador/a Pedagógico/a ou Educacional, escreve um artigo sobre o município. Os três primeiros lugares de cada segmento (Fundamental e Médio), professor e aluno, recebem a mesma premiação, um “Notebook” turbinado. Um projeto de incentivo à pesquisa e ao pertencimento. O Passaporte para o Futuro, onde a Prefeitura financia até 100% de bolsa para que o munícipe curse uma faculdade, tem por objetivo a crescimento local e da formação de mão de obra para o futuro Parque Tecnológico e projetos como o Porto de Jaconé e outros. A Secretaria de Esportes também investe em projetos na Educação, atingindo bons resultados, inclusive com premiações internacionais.

 

As possibilidades de resistências são muitas e diversificadas. Pessoalmente, cada educador/a ou munícipe pode “dar” a sua parcela de contribuição, independente de sua área de atuação. Alguma leitura ou busca no “Google” e similares, podem nos fornecer muita munição para o “combate” às “fake news” e a mídia corporativa. Não é uma luta entre iguais, mas de guerrilha, uma vez que os financiadores do “armamento” deles (mídia, robôs, etc.) não nos querem vitoriosos. Hobsbawm, Saramago e os demais pensadores, apresentados na Aula 2, nos fornecem a ideia e a munição para a quebra de seus argumentos, bem como da falta deles.

 

Conclusão

Apesar da situação atual ter nos levados a descobrir que, o fundo do poço possui níveis de subsolo, não podemos deixar de esperançar, como nos ensinou Paulo Freire. Digo que, para retornamos à situação de 2014, tamanho o estrago até o momento, deveremos levar no mínimo uns vinte anos, para sair do poço. Somente depois, começar a recuperar o tempo perdido. Mas se não começarmos...

 

A história já conhecemos, se vamos repeti-la é outro problema, ou farsa, como nos ensinou Marx[xiv]. Valéria Brandini nos ensina que devemos parar de só pensar no futuro. Se queremos melhorar a vida das próximas gerações, que começamos agora a arrumar a casa. Pegar o problema de hoje resolvê-lo hoje, se não, melhorá-lo para que a próxima geração de continuidade. Caso contrário, continuaremos a discutir os malefícios da tela, o desemprego pela tecnologia e o fortalecimento dos Estados Totalitários, mais e mais vezes. Quando falo a jovens, os aconselho a darem como resposta a frase “vocês são o futuro do Brasil”, uma bela “banana” e a fazer a pergunta: “qual a herança vocês estão nos deixando?” Pois sem herança, sem um rastilho de caminho, de direção, o futuro não passará de uma data que virou um presente, uma farsa.

 

Délcio Teobaldo[xv] nos indica uma das estratégias para o hoje, que gosto de incluir nos textos e ter como prática: “Transformar em imperdoável o que hoje é aceitável”. Por que o negro é traficante e bandido, e o “play boy” da Classe Média é usuário e comete desvio de conduta? Por que em plena pandemia temos bares abertos até a madrugada com música ao vivo? Porque temos que importar gasolina em dólar, se temos condição de produzir as nossa? Por que Educação deixou de ser investimento e virou bem de consumo?

Apresentar questionamentos como esses, sabermos as respostas e os porquês delas, é a guerra de guerrilha, é lançar sementes para o amanhã, deixar heranças para nossos filhos e netos. À Luta.

 

Há braços.

 

 

 



* Subsecretário, Secretaria de Educação de Maricá-RJ, slomesquita@gmail.com



[i] Macarthismo: Termo criado após aprovação de Lei anticomunista pelo senador dos EUA, Joseph McCarthy (1908-1957), durante a Guerra Fria. Passou a denominar atos e práticas de delações infundadas e perseguições políticas;

[ii] Eric Hobsbawm (1917-2012): autor de vários livros, entre eles Globalização, Democracia e Terrorismo;

[iii] Bandeira, Luiz Alberto Moniz. A Desordem Mundial – o espectro da total dominação. Rio de janeiro. Civilização Brasileira 2018 (5ª Edição). Cap 17, p 305;

[iv] José Saramago (1922-2010): escritor português ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998;

[v] Giorgio Agabem, filósofo italiano estudioso do Estado de exceção;

[vi] ID2020 – Digital Identity Alliance: Consórcio Público Privado (ONG), que trabalha com a ONU na dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Busca a implantação de um “chip” de identidade em caráter mundial;

[vii] Escola sem Partido: movimento fundado em 2004, defende práticas macarthistas nas escolas, ataca Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, defende o ensino em casa em detrimento da escola;

[viii] Valéria Brandini: Graduada em Ciências Sociais, modalidade Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (1995), Mestre em Ciências da Comunicação com ênfase em Publicidade e Propaganda, na Linha de Pesquisa Arte Publicitária e Produção Simbólica, pela Universidade de São Paulo (1998), com Bolsa FAPESP, Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo com Bolsa FAPESP em convênio com a Universitá La Sapienza (pesquisa realizada com bolsa de doutorado sanduíche da FAPESP) (2003). Pós Doutorada em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, (2013 - 2015). Pesquisadora do Grupo GESC3, Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo, certificado pelo CNPq (2007);

[ix] RenaSCidade: Grupo criado em 2019, no HackTown de Santa Rita do Sapucaí-MG. Formado por um grupo de pessoas que adotam governança “holocrática” para repensar os modelos das cidades, criando e divulgando experiências e projetos.

[x] Escola de Frankfurt: Surgida após a Primeira Guerra foi uma escola de pensamento filosófico e sociológico, filiada ao Instituto de Pesquisa Social, que nasceu como um projeto de intelectuais vinculados à Universidade de Frankfurt, inovando na teoria marxista, sociológica e política;

[xi] “Big Farms”: Grandes indústrias e conglomerados da produção de remédios alopáticos, em sua maioria;

[xii] Laurende Koo: graduado em Engenharia Mecânica pelo ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1972), Mestrado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CAPES 5) - 2006, Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CAPES 5) - 2011, Pós-doutorado na ECA-USP no Programa de Pós-Doutorado Relações Públicas, Propaganda e Turismo - 2013, Pós-doutorando em Inteligência Artificial pelo Programa TIDD Tecnologia da Inteligência e Design Digital - PUCSP/SP, Pós-graduação Lato Sensu em Administração pela FGV/CEAG - 1978, Especialização em Marketing Analysis and Planning pelo The Wharton School -University of Pennsylvania – 1994;

[xiii] Seminário: Como incorporar a tecnociência solidária à política de inovação da Unicamp? Disponível em: <https://www.eco.unicamp.br/eventos/seminario-como-incorporar-a-tecnociencia-solidaria-a-politica-de-inovacao-da-unicamp>;

[xiv] Karl Marx (1818-1883): Sociólogo, Filósofo, Historiador e Economicista, autor do “O Capital” e a frase “A História acontece como tragédia e se repete como farsa”;

[xv] Delcio Teobaldo (1953 – 2021): mineiro de Ponte Nova radicado em Maricá, foi jornalista, escritor premiado, músico, roteirista, diretor de cinema e teatro premiado;

 

Referência Bibliográficas

 

AGUILLERA, Fernando Gómes. Palavras de Saramago. São Paulo: Companhia das Letras. 2010.

BANDEIRA, Luiz Alberto Muniz. A Desordem Mundial. São Paulo: Civilização Brasileira. 2016

HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras. 2007.

MESQUITA Sérgio. Conjuntura Brasileira a partir de uma visão Freiriana. In Paulo Freire e as Fake News. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2019. p. 267.

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Desordem Mundial – o espectro da total dominação. Rio de janeiro. Civilização Brasileira 2018 (5ª Edição).

 

 

Textos de apoio e vídeos

 


 

sábado, 14 de agosto de 2021

Nosso Fahrenheit 451

 Roberto Amaral

 

Escrita em 1953, no auge do macarthismo (1950-1957), protegida pelo disfarce da futurologia científica, a obra-prima de Ray Bradbury nos falava então e nos fala agora de um presente real, este no qual nos foi dado viver, dominado pela crise letal do que chamamos de civilização ocidental. Como Admirável mundo novo, e A Revolução dos bichos e 1984, os clássicos de Aldous Huxley e Georges Orwell, Fahrenheit 451 é ensaio que desconsidera os limites temporais para nos convidar a uma reflexão sobre a realidade política que governa nossas vidas. Trata-se de revisão quase sempre incômoda, porque a crise que se esbate sobre o futuro da civilização é a nossa tragédia de cada dia, e a tomada de consciência da realidade tem a força de romper com a alienação, transformando em desassossego a paz de espírito com que sonham os niilistas.

 

A crise da dita civilização ocidental – moral, ética, política, filosófica –, escamoteada pelos avanços da ciência e da tecnologia, parece renovar-se em ciclos de autoritarismo: nazismo, fascismo, salazarismo, franquismo, stalinismo, macarthismo. Os primeiros decênios do terceiro milênio prometem trazer de volta os fantasmas do século passado. Esta é a explicação plausível para, após tanta experiência histórica, vivermos a emergência de lideranças da estatura liliputiana de Donald Trump, Boris Johnson, Viktor Orban e do capitão que ocupa o terceiro andar do palácio do planalto, guardado pelas costas largas de seus generais de estimação.

 

Quem poderia supor que após as lições ensejadas pelo ciclo da ditadura militar viveríamos a insanidade do bolsonarismo?

 

Os bombeiros de Bradbury, observa Manuel da Costa Pinto no prefácio à tradução brasileira (Biblioteca Azul, 2012), “são agentes da higiene pública que queimam livros para evitar que suas quimeras perturbem o sono dos cidadãos honestos, cujas inquietações são cotidianamente sufocadas por doses maciças de comprimidos narcotizantes e pela onipresença da televisão”, e, acrescento, por doses maciças de doutrinamento evangélico, fake news.  a manipulação robótica das redes sociais e o unilateralismo ideológico dos grandes meios de comunicação. A fogueira de livros, uma presença em toda a história da humanidade, é simbólica da luta entre o saber que inquieta e a ignorância que abre caminho para a conformação do dominado.

 

A direita de todos os tempos e de todas as latitudes – como a assembleia que condenou Sócrates, os tribunais da santa inquisição, as depurações de Stálin e os julgamentos do macarthismo – detesta o saber, porque ele é a chave da liberdade; detesta a inteligência e a liberdade de pensamento, detesta os intelectuais, pois eles têm o vício de duvidar.  Nos idos de 1933, os nazistas alemães, como os fascistas italianos, queimavam livros em praça pública e aprisionavam escritores, a Espanha franquista matava poetas, o salazarismo os prendia ou exilava. O obscurantismo reinava nos dois lados do Atlântico. No Estado Novo (1937-1945), o DIP censurava a imprensa e muitos intelectuais e cientistas, como Nisi da Silveira, e escritores como Graciliano Ramos conheceram o cárcere. A ditadura instalada em 1º de abril de 1964, demitiu professores e cientistas, prendeu escritores e exilou nossos sábios, e decretou a censura geral e irrestrita à imprensa.  O general Ernesto Geisel impôs a censura prévia aos livros. Os nazistas atearam fogo, entre outros muitos, em livros de Marx, Kafka, Thomas Mann, Einstein e Freud. No governo do capitão, o pré-neandertal que assumiu a presidência da Fundação Palmares, para destruí-la, expele como indesejável a obra fotográfica de Sebastião Salgado e bane da biblioteca da instituição livros como Almas mortas, de Nikolai Gogol, Dicionário do folclore brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo e obras de autores como Marx, Engels, Weber, Caio Prado Jr., Eric Hobsbawn e Celso Furtado.

 

O impacto com que, assustado e impotente, acompanhei pela televisão o festival macabro das labaredas consumindo a memória nacional depositada na Cinemateca Brasileira, levou-me às primeiras páginas de Fahrenheit 451:

 

“Era um prazer especial ver as coisas serem devoradas, ver as coisas serem enegrecidas e alteradas. Empunhando o bocal de bronze, a grande víbora cuspindo seu querosene peçonhento sobre o mundo, o sangue latejava em sua cabeça e suas mãos eram as de um prodigioso maestro regendo todas as sinfonias de chamas e labaredas para derrubar os farrapos e as ruínas carbonizadas da história.  [...] A passos largos ele avançou em meio a um enxame de vaga-lumes. Como na velha brincadeira, o que ele mais desejava era levar à fornalha um marshmallow na ponta de uma vareta, enquanto os livros morriam num estertor de pombos na varanda e no gramado da casa. Enquanto os livros se consumiam em redemoinhos de fagulhas e se dissolviam no vento escurecido da fuligem”.

 

A alegoria de Bradbury é simbólica; e simbólicos de nossos tempos devem ser considerados tanto o incêndio premeditado da Cinemateca (pois fruto de planejado corte de verbas) quanto a destruição em chamas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, propositalmente desamparado de recursos de conservação.

 

O ainda presidente da república, parvo e pulha, porém, não se dá por satisfeito em destruir o passado, incinerando nossa memória. Tenta apagar o futuro. Destrói o ministério da cultura, reduzido a um apêndice do ministério do turismo, e entrega o ministério da educação a uma tríade de apedeutos; move tenaz perseguição aos institutos de ensino e pesquisa, como o INPE, reduz os recursos para a área da educação e tenta inviabilizar as universidades federais com a asfixia orçamentária. Os recursos dos principais fundos destinados ao apoio à pesquisa científica e tecnológica caíram, de R$ 13.971.751124 em 2015, para 4.401.561.381 em 2020 (dados do IPEA). No mesmo ano de 2015, os recursos destinados ao CNPq somavam 2,6 bilhões, reduzidos a  1,6 bilhão em 2019 (Fonte: SIOP/Ministério do Planejamento). É o garrote financeiro que visa a estrangular o ensino e a pesquisa, ao inviabilizar a formação de mestres e doutores.

 

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, criado em 1951 com o objetivo de promover o desenvolvimento da investigação cientifica e tecnológica, vive a pior crise de sua história de 70 anos de bons serviços prestados ao país. Administra a maior e mais importante plataforma científica do Brasil, reunindo toda a produção nacional, como projetos, pesquisas e trabalhos desenvolvidos por pesquisadores e universidades brasileiras, e ainda é responsável pelas bolsas a cientistas brasileiros.  Toda a sua base de dados está ameaçada porque, por falta de manutenção, derivada da rapina de recursos, sucateamento e obsolescência de equipamentos, o sistema de informática da instituição saiu do ar.

 

As bolsas estão congeladas desde 2012 em número e valor (R$ 4.100, no caso de pós-doutorado), o que estimula o êxodo de nossos melhores quadros: pobres, estamos formando pesquisadores para os EUA e a Europa. Daqui a pouco também para a China.

 

Na próxima sexta-feira (6/8) reunir-se-á o Conselho Diretor do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), quando apreciará a estapafúrdia proposta do governo que visa a carrear R$ 800 milhões a quatro ou cinco organizações sociais, cifra que corresponde ao dobro do que é destinado a mais de 200 universidades brasileiras. Este é o outro lado da política em vigor: malversação dos recursos públicos.

 

O quadro desolador da ciência e da tecnologia se soma à política de terra arrasada levada à cultura e à educação; não se trata, porém, pura e simplesmente, de uma política de descaso ou omissão: ao contrário, o projeto do governo é determinado, é consciente e obedece a um planejamento cujo objetivo é destruir quaisquer veleidades nacionais de soberania. A questão, é, pois, fundamentalmente política, e o arrocho financeiro não é operação autônoma. Deriva do projeto maior: nossa destinação ao papel de grande província do Império. Política, a ameaça de sucateamento de nossos laboratórios e esvaziamento do ensino e da pesquisa só será enfrentada se conseguirmos alterar a atual correlação de forças. Não há conciliação possível; recusar o combate é fortalecer o status quo.  O desafio diz que está mais do que na hora de as lideranças universitárias, por exemplo, procurarem a articulação com a sociedade, denunciando o projeto e explicando de forma clara os prejuízos que advirão, para o país, se a política do desmonte e alienação não for detida.

 

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Impressões sobre a Campus Party 2021 - Reboot the Word 2.1

 

A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego.

O diabo é que a economia moderna não consegue inventar

o consumo sem salário.

Hebert de Souza (Betinho)

 

Objetivos

Transmitir para as instâncias da Secretaria de Educação de Maricá um resumo das palestras assistidas durante a Campus Party, realizada entre as datas de 22 e 24 de julho do presente ano.

 Introdução

A Campus Party nasce no ano de 1998, na Espanha. De lá para cá, foram realizadas mais de 100 edições em vários países: “... a Campus Party é a maior experiência internacional baseada em inovação, pensamento disruptivo e criatividade. É o catalisador que reúne empresas visionárias, pessoas excepcionais, comunidades unidas, instituições públicas, privadas e de ensino, para formar uma única comunidade global.”[i]

Em 2008, na cidade de São Paulo, acontece a primeira edição no Brasil. Hoje acontecem edições anuais em vários Estados do Brasil e, a partir de 2020, por conta da pandemia, as edições passaram a ser virtuais. Na Edição de 2021, foram disponibilizadas 223 palestras/oficinas com os mais diversos temas, distribuídos nos três dias da Campus.

Deste universo, selecionei 22 palestras para acompanhar, de acordo com as áreas que tenho dedicado mais atenção. Abaixo, a listagem com minhas escolhas e as que realmente acompanhei:

1.      Oficina: Robótica Educacional a Distância  

2.      A revolução da educação na era da Inteligência Artificial 

3.      Empatia e transformação social na era digital 

4.      Tecnologia sem Inovação: Sociedades sem soluções 

5.      A Utilização de Ferramentas Digitais na Educação: Uma Perspectiva de Ensino Inovador 

6.      Educação do Futuro 

7.      Educação 4.0 - Descomplicando o processo de inovação 

8.      Oportunidades na Real: Como o Projeto Include by Campus Party, Jovens do Brasil e 1mio atuam 

9.      O papel da CT&I na Transformação Digital nos Municípios Brasileiros 

10.  Venha aprender Robótica com Sustentabilidade! 

11.  Infodemia, Infoxicação e Infocalipse: o excesso de informação também adoece 

12.  Liderança Humanizada 

13.  Ações e aprendizados para impacto e sustentabilidade 

14.  Imaginando ferramentas para rebootar o mundo 

15.  Acesso, inclusão e empoderamento digital em tempos de pandemia 

16.  Manifesto pelo Clima! Ativistas transformando o mundo 

17.  A rota do lixo eletrônico: Do celular quebrado à inclusão digital  

18.  Saber que somos humanos é a nossa principal proteção 

19.  O uso da Inteligência Artificial na Educação e a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados nos espaços públicos 

20.  Inovação centrada no Humano 

21.  Painel I.A e Afrofuturismo 

22.  Cidades Inteligentes consomem energia de forma inteligente 

 

Pelo exposto, fica claro que, em especial, as palestras do sábado não foram acompanhadas por mim. Havia esquecido que era aniversário do meu irmão caçula (50 e blau), e ele viria comemorar em Maricá, com nossa mãe. Eu era o churrasqueiro escalado.

  Metodologia

Para apresentação do relatório, agruparei as palestras em dois grupos distintos: Educação e Tecnologias e Humanidades, produzindo, assim, um texto com as minhas impressões, uma vez que algumas impressões ou situações foram comuns as palestras.

 Educação

Neste ponto, informalmente teremos algumas subdivisões como conjuntura, e a questão política (Estado e Educacional).

Conjuntura: o foco principal foi a pandemia e as transformações/aceleração na rotina da escola e seus impactos. O conflito de geração (em relação a afinidade com a tecnologia), a falta do treinamento e o atraso, na maioria dos casos, em relação ao uso das tecnologias internamente e no EAD. Problemas que perpassaram a esfera pública e privada, com poucas exceções em ambas as áreas. Em Santa Rita do Sapucaí, por exemplo, a Escola estadual Luiz Pinto, andou discutindo uma Escola dos Pais. Um espaço para capacitar os pais a acompanhar o aprendizado dos filhos no Ensino a Distância.

Política: Quase consenso em todas as palestras a questão da existência de uma política de sucateamento da Educação, somada a não continuidade dos projetos, o que acontece com certa constância, a cada mudança de governo. Discussão também quanto a questão pedagógica, confrontando a metodologia “bancária”, formação para o mercado e a freiriana, onde se discutiu a “ausência/retirada” das disciplinas de Humanas, na maioria dos currículos.

Educacional: Quase uma continuidade do ponto anterior, mais focado no dia a dia da escola. Situações como “professor/a x influenciador/a”; “exercícios problematizadores”; “o simples é o melhor”; “robótica com baixo custo (sucata)”; “trabalho em equipe”; “criança mais ativa”; “capacitação dos professores/as”; “incentivo a produção de artigos científicos pelos professores/as”, demonstrando os resultados dos projetos aplicados em sala; “a sala de aula não precisa ser ‘higthech’”; “priorizar o analógico nas aulas presenciais” – jogos, trabalho em grupo, gincanas...”; “portifólio x diploma”; “exercícios para resolução de problemas visíveis”, “cultura ‘maker’”, e uma infinidade de outros exemplos para aplicação nas escolas. Ações que colocadas em práticas, além de “prender” a atenção e a participação da criança, podem ajudar na diminuição do índice de evasão e ampliar o IDEB (não devem ser o foco, mas a consequência).

Uma frase me chamou a atenção e está intimamente ligada aos exemplos acima: “Darwinismo profissional”. A capacitação do/a profissional da Educação, técnica e pedagógica, será uma excelente ferramenta na luta contra automação acrítica do ensino, para a relevância do professor/a e na formação do aluno/a - na minha opinião.

Outro ponto colocado, que pode ser entendido como intrínseco com o ponto acima, está na questão da Inteligência Artificial, que veio para ficar. A discussão é como ficar! Não conhecemos 10% de nossa capacidade cerebral, temos uma leve ideia do como funciona (os 10%) e nenhuma ideia, de como seria se usássemos 20%. O fato é que estamos tentando reproduzir/transferir para a máquina, algo que desconhecemos o funcionamento, na busca de reproduzir um modelo de sociedade, no mínimo não consensual entre nós mesmos. Quais os impactos futuros, mantendo-se o modelo atual de sociedade? Possivelmente mais desemprego, fome e problemas climáticos (não só minha opinião, mas o tema foi abordado com outras palavras e/ou intensidade no evento).

Uma frase pode resumir um pouco o colocado as questões colocadas acima: “Capacitar para médio e longo prazo – o imediato não inova”. Podemos dizer que o imediato pode vir a ser um “cocô perfumado”, o Novo Normal.

 Tecnologia e humanidades

Neste agrupamento, apesar de diversidade das palestras, podemos apontar algumas ligas entre elas. Uma se destaca e praticamente perpassa por todo o conjunto. Trata-se da Empatia. Ser “empático”, não necessariamente é aceitar a ideia de fazer com os outros o que gostaria que fizessem com você ou se colocar em seu lugar. Erro primário, uma vez que o outro, não necessariamente gosta das mesmas coisas que você e sem uma contextualização profunda, dificilmente teremos condição de nos colocar no lugar de outem. Ser empático, é necessariamente escutar (dá-lhe Freire), e respeitar (pessoalmente, culturalmente, ...), o outro, entre outras ações/atitudes. A Empatia, é a liga entre a saúde, mente, bem-estar, estar em paz e uma infinidade de outras coisas, que vão te permitir ter relacionamentos pessoais e profissionais melhores. Neste ponto, identificamos algumas frases colocadas nas diversas palestras: É necessário espaço e tempo para entender o outro/a, para se conectar emocionalmente (afetividade), e cognitivamente (entender/enxergar); Inovação sem empatia é ideia vazia;  facilidade de acesso com a diversidade; Fortalece a visibilidade e trabalho de quem  merece; Influencia na direção da mudança e do bem comum; A felicidade é coletiva, não é individual; Tolerância x Intolerância, ter respeito, olhar o outro outra vez; Tecnologia como ferramenta de desenvolvimento pessoal; Ressignificar o olhar, como potencial para resolver desigualdades; Ressignificar a Inclusão, processo de mão dupla, onde o de cima deve conhecer a realidade do de baixo; Liderança não necessariamente é ser bonzinho, passa pelo respeito e justiça; Em vez de dar voz, dar local de fala.

Três pontos se destacaram, na minha opinião: Ressignificar a inclusão, a perda da identidade e a quantidade de informação disponibilizadas.

Comemoramos sempre os projetos que permitem a inclusão social, a mudança de estamento social. Mas nunca discutimos, se ao permitir que um pequeno número de pessoas mude de estamento social, qual o impacto desta mudança no imaginário das pessoas do estamento que está recebendo estes “inclusos”. É mais fácil o incluso ser assimilado pelo novo estamento, e passar a pensar como ele, do que os “originários” passarem a enxergar/entender os problemas e anseios do estamento de “baixo”. Ressignificar a inclusão, passa necessariamente por “incluir” no andar de baixo, os do andar de cima – conhecer as dificuldades. Isso feito, a empatia pode começar a mudar a cabeça daqueles que sequer enxergavam os de “baixo”, ao entenderem “como é ser pobre” – outra frase colocada.

Em relação a perda da identidade a frase “comunicação digital cria barreiras – ser humano x avatar” também bate forte. Primeiro enganam-se os que aceitam que a “rede” aproximou as pessoas. A rede facilitou a comunicação, mas o olho no olho está longe desse processo. Principalmente quando as pessoas renunciam a suas identidades para fazer parte de estereótipos, que em nada representam sua realidade. Segundo a antropóloga Valéria Brandini, quando você renuncia as suas diferenças para com o outro, para se tornar mais um de um ou vários grupos, você renuncia a sua identidade. É normal a depressão entre as pessoas que passam a viver uma “realidade” descolada da sua – ao acordar de manhã, não se reconhece no espelho devido à falta dos “filtros” digitais.

A velocidade e a quantidade de informações que temos disponíveis hoje, nos trazem problemas de ordem pessoais e políticas. Quando você passa a não ter tempo de ler tudo o que se apresenta, a consequência será a fragmentação da realidade e o possível uso criminoso da informação. Um bom exemplo do uso da tecnologia descolada das humanidades. Três termos foram adaptados devido a seriedade do assunto:

Infodemia: excesso de informações, precisas ou não, que acabam por dificultar o encontro de fontes idôneas e confiáveis (OMS)

Infoxicação: Excesso de informação digital que acaba dificultando sua “digestão” (Alfons Cornella) – você não tem tempo para entender o que está lendo.

Infocalipise: Crise de notícias falsa (Aviv Ovadya) – fragmentação da realidade

Como revertemos a questão?

 Projetos/Oficinas

Foram apresentados durante o evento alguns projetos em execução e uma oficina de Robótica.

1Mio (https://1mio.com.br/)

A iniciativa Um Milhão de Oportunidades é a maior articulação pela juventude do Brasil reunindo Nações Unidas, empresas, sociedade civil e governos para gerar um milhão de oportunidades de formação e acesso ao mundo do trabalho para adolescentes e jovens de 14 a 24 anos em situação de vulnerabilidade nos próximos dois anos. Nossos principais compromissos são:

- A garantia ao acesso à Educação de qualidade a todos os adolescentes e jovens;

- Oferta de oportunidades de trabalho decente, segundo o conceito da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com foco nos mais vulneráveis;

- Oferta de oportunidades de formação para o desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho e protagonismo juvenil;

- Ampla inclusão digital de adolescentes e jovens;

- Erradicação do trabalho infantil, trabalho escravo, trabalho precário e da discriminação de qualquer natureza.”

Números do 1Mio: mais de 10.600 oportunidades ao mundo do Trabalho, 11.300 oportunidade de acesso à Educação de qualidade, 22.800 oportunidades de formação para o mundo do Trabalho e 1000 oportunidade de conectividade e inclusão digital.

 

Laboratórios Include (https://institutocampusparty.org.br/include/)

O Include by Campus Party é um programa social que conta com parcerias para implantar ou viabilizar Laboratório de Tecnologia em comunidades de todo Brasil.

Oferecer qualificação aos jovens de 10 a 18 anos para o mercado de trabalho;

Propiciar protagonismo às comunidades na utilização da tecnologia como meio para a resolução dos seus problemas;
Identificar meninos e meninas com idade entre 10 e 18 anos com altas habilidades e encaminhá-los para escolas adequadas
.

São 50 laboratórios instalados (26 funcionando de forma híbrida durante a pandemia) e outros 50 previstos ainda este ano.

Maricá tem dois laboratórios engatilhados, em espera por conta da pandemia.

Oficina de Robótica (https://www.pje.ejrrobotica.com.br/)

EJR Robótica Educacional é uma empresa que disponibiliza produtos e serviços educacionais de Programação e Robótica.
Para atender a essa ideia de conhecimento utilitário na educação, oferecemos aulas de robótica, assessoria em tecnologias educacionais, desenvolvimento de robôs e projetos educacionais, bem como, organização de atividades e eventos
.”

PJE Nuvem é uma plataforma educacional de robótica, idealizada e desenvolvida pela EJR Robótica Educacional.
A plataforma foi inspirada no Projeto Jabuti Edu (www.jabutiedu.org), partindo de vivências com o ensino, percebeu-se a necessidade de um método diferenciado
.”

 Conclusão

Vivemos em uma sociedade baseada na “economia da escassez”, onde quanto menor a disponibilidade de um produto e/ou serviço, maior o seu valor e maior a concentração de renda. É com essa lógica dominante, que o mundo tecnológico e digital vem se construindo. Para que esse mundo continue girando, as necessidades e demandas são criadas aquém das nossas necessidades básicas e necessárias. São necessidades criadas a partir de um grande sistema de comunicação e marketing que nos isola socialmente, e nos convence ser mais importante trocar de celular, ser o “the best of the best”, do que aceitar que somos seres eminentemente sociáveis, que dependemos de uma vida em sociedade e solidária. É preciso entender que a Tecnologia pode e deve ser uma ferramenta do resgate deste sentimento humanizado e solidário. Eventos como a Campus, descortina essa “funcionalidade” que naturalmente está agregada às Tecnologias e nos é escondida.

Fica evidente que a diversidades de assuntos e seus impactos ainda não são compreendidos pela população e pela maioria dos gestores públicos ou privados, principalmente quando o assunto liga as inovações e tecnologias a questão humana.

O sistema, fruto dos conglomerados econômicos e suas elites, nos exige a individualização das nossas vidas e a falta de empatia para com o próximo, pois depende do egoísmo e de uma falsa meritocracia para seu sustento. Enquanto nós somos seres eminentemente sociais, que dependemos de uma vida em comunidade e solidária.

Eventos como a Campus Party, o Fórum Internacional de Softwares Livres, a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, entre outros[ii], devem ser priorizados pelas gestões públicas. São eventos intersetoriais e multidisciplinares de interesses coletivos, onde os governos municipais, em especial, deveriam dar mais atenção.

Como exemplo, cito o ocorrido na HackTowm de 2019, em Santa Rita do Sapucaí-MG, onde a diretora do Colégio Elvira Brandão, escola de classe média altíssima de São Paulo, segunda a mesma, nos falou que esteve presente no HackTowm de 2018, acompanhada de sua Assessora. Não conseguiram acompanhar o evento e nem repassar/implantar o que assistiram na escola. Retornou em 2019 com todo o seu “staf” (quase 30 pessoas), que se distribuíram nas várias palestras para, depois, em São Paulo, realizarem uma reunião para definir o que encaminhariam na escola e para os alunos. Um exemplo do andar de cima, que deve ser seguido pelos gestores públicos.

O fato acima aponta para duas proposições importantes. A primeira é a não existência de ilhas, a certeza da falácia do “cada um em seu quadrado”. Não importa o assunto ou a área de governo, nada será resolvido de forma isolada. Ou todos se unem na busca de soluções comuns ou não resolveremos os problemas que nos afligem. Estaremos sempre postergando e trabalhando soluções paliativas.

A segunda é o resgate do ser humano, do ser sociável e solidário. Não existe solução tecnológica (inovação sem empatia é ideia vazia), se ela não impactar positivamente na qualidade de vida das pessoas. Qualquer outra solução nos é “imposta” como necessidade pessoal pelo sistema e tem como prioridade a acumulação financeira.

Como nos ensinou John Lennon: “Imagine todas as pessoas partilhando todo o mundo”. A Tecnologia nos permite a realização deste sonho, é uma questão de prioridade. Qual é a sua prioridade? Qual é o papel da Educação no resgate de nossas humanidades, com o apoio das tecnologias?

Há braços,

Sérgio Mesquita
Função Gratificada na
Secretaria de Educação de Maricá-RJ

“Transformar em imperdoável o que hoje é aceitável”

Delcio Teobaldo

 



[i] https://brasil.campus-party.org/a-campus-party/

[ii] Outros eventos que participei com a mesma linha de ação: HackTown de Santa Rita do Sapucaí, Hack in Rio, IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, III e IV Seminário Internacional ESSE Mundo Digital, II Fórum Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis, PNUD: Curso de Territorialização e Aceleração dos Objetivos do Desenvolvimento sustentável.