quinta-feira, 27 de setembro de 2018

TERRITÓRIO X NÃO TERRITÓRIO – Maricá tem lado

Há poucos anos, cerca de trinta, mais ou menos, os neoliberais deslumbrados anunciavam o fim da História e o fim das fronteiras nacionais por conta das benesses da globalização. Manchetes, entrevistas e seminários anunciando o território único, “monetizado”. A alegria durou pouco. O mundo real bateu à porta e muitos dos propagandistas do fim, voltam à televisão e jornais para dizer: não é bem assim; pode-se virar uma terra arrasada; as fronteiras devem continuar a existir. Como existem ainda hoje.

Recentemente, nas andanças da tecnologia, participo da Rio Info 2018, ouço o mesmo discurso - o retorno do fim das fronteiras. Aconteceu um painel sobre “A dimensão ética em dados, algoritmos e aplicações: Uma agenda de prioridades para o Brasil”. Foi apresentado um novo mapa mundi, baseado na concentração/importância dos dados, onde no centro estão os EUA e a Europa de um lado, e com menos da metade do tamanho a China, e o Brasil menorzinho, do outro lado, dito “na periferia”. O mapa justificaria o fim das fronteiras nacionais, dos territórios.

Obviamente pedi a palavra e apresentei uma nova leitura do mapa, não baseado na importância, mas sim na concentração de poder. Lembrei os discursos dos anos 90, citados acima e ficava surpreso que, trinta anos depois, ele voltava com outra roupagem, ou melhor, sem roupagem, pois era digital. Principalmente depois de ouvir, em palestra anterior, que um dos problemas a ser resolvido, era a necessidade de aproximação das organizações de inovação com as organizações sociais, que a Internet e a Inovação passassem a visar menos as questões financeiras e passassem a tratar mais as sociais. Start ups para resolverem problemas do cotidiano da população, como explanei.

E Maricá com isso?

Hoje, 27.09, assisti um seminário do Banco Mumbuca, uma das ações do governo de Maricá para desenvolvimento do seu território, de suas fronteiras. Ações estas que já são referência no Brasil e no mundo, como ficou demonstrado recentemente em Recife. A palestra sobre o Mumbuca esvaziou as demais.

Escrevo isto provocado pela lembrança das palavras do Ladislaw Dowbor, em uma de suas palestras, quando coloca que a Alemanha e a Polônia passaram ao ”largo” na crise de 2008, por cada uma ter em seus territórios, 500 e 700 bancos respectivamente. Bancos privados de bairros, pequenos que não participaram da ciranda financeira, e existiam para financiar a economia e desenvolvimento de seu entorno. Eram bancos que emprestavam a juros, pequenas quantias para empreendedorismos locais e empréstimos a cidadãos, sem aplicar na ciranda e com juros diferenciados.

Em Maricá, o Banco Mumbuca vai emprestar dinheiro (digital) a juros zero, para empreendedorismo em Maricá e sua moeda só circula em nossas fronteiras, no nosso Território.

Parabéns Governo de Maricá, parabéns Secretarias envolvidas.

Sérgio Mesquita
Secretário de Ciência, Tecnologia e Comunicações de Maricá.