quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Recebidos entre palmas e sapateados

Aconteceu neste fim de semana (28 e 29.11), entre uma sexta e um sábado chuvosos, o 2 º Fórum de Cultura do Interior na cidade de Quissamã. Foi por si só uma proveitosa reunião onde gestores, parlamentares e fazedores de cultura trocaram ideias, receios e esperanças. Não as esperanças de Júlio Cortázar, apresentadas em seu livro “Histórias de Cronópios e Famas”, mas sim aquelas que nos levam a continuar na luta, a transgredir, colocar o pé para além da marca institucional na busca do bem comum. O encontro se deu no Centro Cultural Sobradinho, local aprazível que teria tudo para dar certo. E deu. O que não esperávamos eram as iguarias estéticas que nossa anfitriã, Marta Medeiros, Coordenadora de Cultura de Quissamã tinha preparado para aqueles que chegaram ainda na sexta-feira.

Fomos conhecer de perto, eu pela primeira vez, o Fado. Não o tradicional português, explorado com humor na música dos, infelizmente falecidos, Mamonas Assassinas. Conhecemos o Fado advindo da mãe África que, segundo Reinaldo Sant’Ana, é muito parecido com o de Cabo Verde. Um Fado onde os músicos pedem licença para adentrar ao ambiente antes da cantoria, sapateado e palmas. Em um ambiente tão rústico quanto rico em sabedoria e respeito às tradições. Moços, velhos e novos dividindo o prazer da dança em comunhão.

Uma viola de dez cordas e dois pandeiros feitos à mão e afinados ao fogo, literalmente. Essa simples formação fez a alegria de muitos. Conheci o mestre Antônio Morim, que, com uma das mãos tomava posse do pandeiro, e com a outra, ausente, tocava o instrumento, antes exposto na parede.

Humildemente, não deixava a “peteca cair”, acariciava seu pandeiro ao ritmo da alegria. Foi assim que conheci sua filha e neta, que, entre um “self” e outro, entrava na roda sem qualquer pudor, por conta de sua juventude e beleza. Até Marco De Dios, assessor da Secretaria de Cultura de Maricá, não resistiu e entrou na dança. Por outro lado, duro que sou, fiquei na admiração, emocionado por ver uma história que resiste à pasteurização global que nos impõem (peço desculpas ao Pasteur por utilizar de forma depreciativa seu nome). Assim começou o 2º Fórum, com muita energia e deixando claro que o dia seguinte seria ótimo, como foi. Obrigado Quissamã.
Te abraço.

Sérgio Mesquita