quarta-feira, 11 de maio de 2016

A BARBÁRIE NA OUTRA ESQUINA

Inspirado no título do livro de Vargas Llhosa, “O paraíso na outra esquina”, onde o autor conta a sua maneira, a história do pintor Paul Gaugin e de sua avó, militante política, Flora Tristán. Onde em épocas distintas, ambos buscaram alternativas para a sociedade opressora em que viviam. Ela na política e ele no isolamento do Taiti na busca de uma sociedade alternativa, livre de preconceitos.
A troca do termo “paraíso” por “barbárie” se deve pelo meu entendimento que, apesar de não estarmos vivendo em nenhum paraíso, os tempos que se avistam vão nos levar a saudades dos dias de hoje. Por quê?
No ano de 2005, assistimos o início de um Golpe contra o governo brasileiro e sua população. Golpe planejado e pensado pelas grandes corporações, em especial as do petróleo, aliados à mídia nacional e uma camarilha de políticos locais. O ponto de largada foi quando o governo brasileiro anuncia a descoberta do pré-sal e sua disposição de colocar a Petrobras, como a responsável única por sua exploração.
Sua aplicação de fato teve início na farsa que foi o julgamento do mensalão (AP 470). Naquele momento, começamos a assistir o desmantelamento do Estado de Direito onde, Constituição e Leis, passaram a ser um mero detalhe. Ali foi o primeiro balão de ensaio para se testar a estratégia golpista. Como não houve a oposição esperada, nas ruas e no Congresso, os golpistas passaram para sua segunda e derradeira fase, a falácia da luta contra a corrupção. A operação Lava Jato, comandada por um juiz de 1ª Instância, simpático à pregação dos americanos do norte, coloca de vez a “pá de cal” em qualquer dos ensinamentos do Direito, difundidos em nossas Faculdades.
No mensalão foi a teoria do “domínio do fato”, com Barbosa à frente do STF. Hoje, temos a pérola aplicada na Lava Jato, “o Direito existe, mas não é absoluto”. Como bem colocou o ex-ministro do STF, Eros Graos, assistimos a volta à Idade Média, onde o cidadão volta a ser servo. Acredito, com grandes possibilidades de retorno da escravidão. Não aquela do chicote, mas daquela que não ouvirá a população em seus reclames, que considerará a mesma, apenas mais um dado para a manutenção do sistema. O “dado negativo”, que só representará custos. Os descartáveis. Lembro a então ministra do Collor, Zélia Cardoso, “o povo é só um detalhe”.
O país, que a partir do ano de 2002 experimentou novos ares. Onde houve distribuição de renda, de crescimento educacional, de sua infraestrutura, da busca ao respeito pelas minorias. Do respeito internacional, onde deixamos de ser um país que dizia “sim senhor” em vários idiomas, para dizermos “não” em um bom português. Hoje, se vê as voltas com o retorno de sua história, que nos colocará como antes, na situação de mais uma “República das Bananas”, as “Plantations”. Uma colônia, como na época do Império, onde suas riquezas, minerais ou vegetais, enquanto existirem servirão para atender as necessidades dos senhores da Metrópole. Um Golpe, feito pelas mãos daqueles que dependem da falta de justiça, para não serem encarcerados e/ou cassados em seus direitos políticos. Um Golpe, onde o STF reviverá sua triste e recente história do período da Ditadura. Um órgão, outra vez, complacente com os golpistas.
Enquanto Flora, em sua luta pela organização dos trabalhadores, e Gaugin, na procura de uma sociedade livre de preconceitos buscavam o paraíso na outra esquina. Nós, que buscávamos o paraíso aqui, na mesma rua, encontraremos a barbárie na outra esquina, onde só teremos deveres e nenhum direito.
Parabéns para aqueles que vestiram a camisa amarela e foram para as ruas pedirem por Cunha e Temer.
Sérgio Mesquita
Sec. Formação do PT-Maricá/RJ

“Se a ética não governar a razão, a razão desprezará a ética”.

José Saramago