É certo que a sociedade brasileira está saturada com toda
essa loucura que nos ronda, como o desrespeito à vida, a falta de ética e,
enfim, com o próprio ser humano.
Há muito o Brasil perdeu a característica de ser um povo
alegre e solidário. O individualismo disfarçado em meritocracia, o “meu pirão
primeiro” já apagou dos rostos nas ruas aqueles sorrisos despretensiosos e
sinceros. Agora é competir e tratar de si.
Um dos muitos exemplos que pode justificar o colocado acima
está na questão da discussão da maioridade penal. Em minha opinião um dos
maiores absurdos quando apresentado como solução para acabar a violência na
rua.
Sendo simplista,
aumentar a população carcerária sem que uma nova vaga se quer seja criada.
Ou seja, piorar o que hoje já é muito ruim. Para isso, um colunista yuppie de
uma revista em processo falimentar, recém-saído das fraldas, propõe que se
construam menos escolas e mais presídios, com certeza uma solução apoiada por
outros iguais a ele.
Mas sem simplismo, com um pouco mais de profundidade, vou me
ater em um único ponto, dentre os vários que poderiam ajudar no entendimento do
engano que é a redução da maioridade.
Tudo bem, não vamos tratá-los como crianças, àqueles que aos
dez anos já possuem uma arma e “barbarizam”, como colocam os defensores da
diminuição da idade. Mas não esqueçamos que, além de crianças que são, suas
vidas em nada se assemelham com as que estamos acostumados a ver entre nossos
iguais, por que não são nossos iguais, suas realidades estão aquém da
imaginação dos muitos que defendem a diminuição.
Fica mais fácil para a mídia, para os donos do tráfego, para
os donos das armas que são colocadas nas ruas, para os corruptos e corruptores,
atacarem o elo mais fraco da corrente, este só tem dez anos ou pouco mais e,
arrebenta fácil. Teremos uma maior rotatividade de mão de obra “bandida” e, os
verdadeiros criminosos continuarão escondidos nos bastidores reclamando da
falta de segurança para seus filhos.
Já pensou em atacar o elo mais forte? Sei que dará mais
trabalho, pois é como democracia, dá trabalho mantê-la e estar sempre
negociando as posições. Fácil é a ditadura, que não dá trabalho mais é tão
perversa como a ideia da diminuição da maioridade. Mata, prende sem provas e
costuma sumir com as pessoas. Ausência do estado de direito, da República.
Porque antes de sumir com os menores das ruas, não
processamos e prendemos aquele juiz corrupto, que vende a sentença, o habeas
corpus? Porque não prendemos aquele promotor corrupto, que só investiga o lado
que não lhe faz um agrado? Aquele delegado que negocia em sua Delegacia a
tipificação da ocorrência do crime cometido? Aquele advogado que atende ao
criminoso preso como um leva e trás, para que os negócios não se percam durante
as férias do mesmo – que tem o dinheiro para comprá-las? E o político? Aquele
que tem seus processos engavetados, nunca julgados ou investigados? Que recebe
das empresas para emperrar ou agilizar Leis de interesses de poucos?
Será que, com essa trabalheira toda, no final das contas,
com muito suor e medo de atentado contra sua saúde, a proposição acima não
acabe por tirar aquele menor, que hoje nos assusta, das ruas e o coloque nas
escolas, criadas a partir do dinheiro não desviado?
Na realidade somos uns covardes e como tais não nos
aventuramos em direção ao perigo, não lutamos contra o sistema. Não queremos sair do
conforto de nossos sofás. Sabemos que vivemos em um sistema corrupto, que
depende do crime para saciar sua fome de lucros e posses. É mais fácil, prender
o criminoso de "alta periculosidade" que tem dez anos, a incomodar aquele senhor
que vive dentro das grades de seu Condomínio de luxo.
Sérgio Mesquita
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