quarta-feira, 4 de maio de 2016

A VIDA IMITA A ARTE MUITO MAIS QUE A ARTE IMITA A VIDA / PARTE II - JANOT

Ainda na linha Oscar Wilde, seguimos pelas coincidências (ou seriam inspirações?) da vida. Recentemente, morreu o grande escritor italiano, Umberto Eco. Antes de nos deixar para criar sua arte em outras paragens, escreveu “Número zero”, um romance que desnuda, ou denuncia como a mídia age.

O romance trata do lançamento futuro de um jornal de nome “Amanhã”. Segundo seu editor, no dia seguinte os jornais publicam o que todos já viram na televisão no dia anterior. Nada é novidade. A ideia é colocar uma publicação que, no dia seguinte, o amanhã, publicará especulações sobre o acontecido no dia anterior, que poderão acontecer no amanhã. Fará especulações sobre as possíveis consequências do fato noticiado. Mas não somente isso. Será um jornal que publicará a verdade doa a quem doer. Essa será a principal marca do jornal.

Vou apenas reproduzir um trecho, que tem tudo a ver com o título. Leiamos:

“...os americanos já não precisam dos partidos que podiam manobrar e os deixaram nas mãos dos magistrados, ou talvez, poderíamos arriscar, os magistrados estão seguindo um roteiro escrito pelos serviços secretos americanos, mas por enquanto não vamos exagerar... O ‘Amanhã’, porém, vai imaginar e fazer uma série de previsões. E esse artigo de hipóteses e insinuações eu confio ao senhor Lucidi, que precisará ser hábil para, dizendo ‘é possível’ e ‘talvez’, contar de fato o que depois de fato aconteceria. Com alguns nomes de políticos, bem distribuídos entre os vários partidos, ponha as esquerdas no meio também, dê a entender que o jornal está coletando outros documentos, e diga isso de um modo que faça morrer de medo aqueles que lerem nosso número 0/1”

Uma explicação, o primeiro número seria o zero, mas todos os números seguintes seriam zero “/” alguma coisa. Outra informação, o jornal nunca seria lançado. Seu dono, através do medo do que seria o número seguinte do “Amanhã”, na realidade, espera ser comprado pelos membros do Clube. Além de receber uma grana para não publicar o jornal, passaria a ser sócio do Clube... vale a leitura.

Voltando a nossa realidade. Alguma parecença com nossa mídia? Com os “supostamente”, “ouviu dizer”, “talvez”? Não é exatamente isso que nos é passado diuturnamente pelos meios de comunicação, especulações? Perceberam a última lista do Janot, o Procurador Geral? Os cursos nos EUA que nosso juizinho, aquele que gosta de uniformes de cor preta, andou fazendo?

Nesse caso, o que temos é a arte imitando a vida. Uma vez que Umberto Eco, na realidade denuncia uma prática internacional, usada pelos donos das corporações para dominar velhos e novos quintais, sem disparar tiros. Apoiados na mola mestra, o motor do capitalismo, a corrupção.

E tem gente que estuda para bater panela em apoio a Cunha e Temer.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá/RJ

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